Com informações da Agência Fapesp
Vários fatores explicam o aumento da obesidade no Brasil, dos alimentos ultraprocessados a não dormir bem.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]
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Obesogênico
Se o ritmo atual de crescimento da obesidade no Brasil for mantido, o país poderá apresentar em 2020 uma tendência de prevalência semelhante à dos Estados Unidos e do México - 35% da população com excesso de peso.
A prevalência da obesidade no Brasil intensificou-se a partir dos anos 2000 e mudanças no padrão alimentar da população contribuem para a escalada do problema. Esse problema de saúde tem sido registrado em todas as faixas etárias e níveis de renda e em maior proporção nas mulheres do que nos homens.
"Houve uma intensificação de um ambiente alimentar obesogênico [que causa obesidade] que influenciou o estilo de vida e contribuiu para o aumento do problema no país," disse a professora Patrícia Constante Jaime, da Universidade de São Paulo (USP), referindo-se à substituição de alimentos tradicionais, como arroz, feijão e salada, por preparações ultraprocessadas.
Para entender melhor a relação do aumento da prevalência da obesidade com a alimentação, a equipe de Patrícia foi buscar explicações no padrão alimentar do brasileiro, registrado pela Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE. De acordo com a mais recente Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo órgão, 20,8% da população adulta brasileira - 26 milhões de pessoas - está obesa.
Alimentos ultraprocessados
Os dados indicam que o brasileiro tem consumido menos arroz, feijão, carne, leite, açúcar, óleos e gorduras, em troca de mais pães, biscoitos, refrigerantes e outros grupos de alimentos. Mas a constatação de que tem diminuído o consumo de açúcar, óleos e gorduras - nutrientes relacionados ao desenvolvimento da obesidade - intrigou os pesquisadores.
"Se tem diminuído o consumo desses nutrientes e a obesidade no Brasil está aumentando, algo não fazia sentido na interpretação desse fenômeno," disse Patrícia.
Os pesquisadores passaram a analisar a alimentação a partir do paradigma do nível de processamento dos alimentos e não mais de nutrientes. A análise da dieta por esse ponto de vista indicou diminuição no consumo de alimentos básicos e aumento no de ultraprocessados.
Ultraprocessados são formulações industriais com ingredientes derivados de alimentos, como proteína texturizada da soja, adicionada com aditivos para conferir mais sabor, textura e aroma. Esses produtos já respondem por 20% das calorias totais da dieta dos brasileiros.
"Os produtos alimentícios ultraprocessados não são alimentos industrializados, mas formulações industriais. Eles passam por uma série de processos que fazem com que não seja possível identificar sua matriz alimentar e contribuem mais para o aumento do consumo de açúcar e gorduras, saturadas e trans," disse Patrícia.
Os produtos alimentícios ultraprocessados, segundo a pesquisadora, são hiperpalatáveis - concentram sabores que são agradáveis e os tornam irresistíveis -, promovem a adição de consumo de ingredientes como o açúcar e alteram o processo natural de controle da saciedade.
Gordura afeta neurônios da saciedade
E não é à toa que os alimentos ultraprocessados se tornam "irresistíveis".
De fato, pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), confirmaram que uma dieta rica em gordura saturada é capaz de danificar circuitos neuronais relacionados à saciedade. Gorduras saturadas (como o ácido esteárico) provocam a morte de um grupo de neurônios existente no hipotálamo (região do cérebro), conhecidos como neurônios POMC.
Essas células são sensores de nutrientes e têm a função de avisar para o corpo que está na hora de parar de comer e que há energia disponível para gastar. Após a perda desses sensores, os indivíduos passam a sentir cada vez mais necessidade de consumir alimentos ricos em gordura e açúcar. Por outro lado, ficam com o metabolismo mais lento e armazenam grande parte da energia fornecida pela dieta desbalanceada.
Além de mudanças no padrão alimentar, outros fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da obesidade são distúrbios no sono, nos ritmos biológicos e na produção de melatonina, conforme constatou José Cipolla Neto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Esses três fatores são responsáveis pela regulação do balanço energético e do peso corpóreo. Regulam também a síntese de secreção da insulina e de outros hormônios importantes para o organismo.
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