Imagem: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Sabe-se que planos de governo são, em regra, cumprimento de formalidades eleitorais ou, quando melhor trabalhados, meras peças de campanha. Ocorre que, diante do atual quadro eleitoral, no qual o líder das pesquisas no cenário mais factível é um candidato cujas idéias conhecidas são assumidamente próximas do autoritarismo, o estudo de seu plano de governo faz-se importante. Se o senso comum diz que no mandato o presidente eleito não consegue aplicar o que promete durante a campanha, após ler o plano de governo do candidato Jair Bolsonaro, a esperança é que, caso eleito, o capitão da reserva não desminta essa ideia.
O jornalista José Roberto de Toledo publicou na página eletrônica da revista Piauí* um artigo em que aponta o fato da palavra Deus constar 82 vezes no plano de governo bolsonarista. Muito embora possa estar conforme o preâmbulo do texto constitucional, com a infeliz menção a deus inserida pelo constituinte, não coaduna com o conteúdo da Constituição Federal, cujo texto destaca a laicidade do Estado. Sobre o conteúdo do programa, o referido jornalista destaca que o texto fora metade escrito por aquele alçado a uma espécie do primeiro ministro de eventual governo, o economista Paulo Guedes, enquanto a outra metade teria, pelas características, sido escrito pelo próprio Bolsonaro.
No entanto, enquanto esta última metade, escrita supostamente por Bolsonaro, revela-se antidemocrática por seu conteúdo, a metade referente ao programa econômico é problemática pelo seu pressuposto antidemocrático.
Na primeira parte, afora certa visão segmentada da realidade, com menções um tanto quanto ilusórias sobre a cor da bandeira brasileira ou a relação entre o número de homicídios no País e as supostas reuniões do Foro de São Paulo, o plano apresenta propostas que partem de premissas falsas ou apresentam soluções contraditórias com o próprio ideário do candidato.
Segurança pública
Para a segurança pública o candidato promete acabar com as progressões de regime e saídas temporárias durante o cumprimento de pena de prisão, o que já foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em ocasiões anteriores. Portanto, trata-se de uma proposta com pouca probabilidade de aplicação.
Ademais, promete garantir ao policial, no exercício da função, o excludente da ilicitude. Ora, a não ser que o candidato esteja a sugerir licença para cometer crimes, os policiais já são beneficiados, quando no exercício da função, pelo excludente da ilicitude pelo atual Código Penal. Assim sendo, trata-se de uma proposta inócua, eis que visa estabelecer algo já estabelecido.
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Por fim, misturando alhos com bugalhos, promete, ainda no tópico da segurança pública, retirar qualquer restrição à propriedade privada. Fica a pergunta se Bolsonaro também excluiria a possibilidade de desapropriação de terras utilizadas para plantação de psicotrópicos já prevista na Constituição Federal ou o candidato apoiaria o tráfico como forma de garantir a propriedade privada?
Vê-se que para a segurança pública, o candidato possui promessas inconstitucionais. Sejam inócuas por prometer algo que já existe ou contraditórias com seus próprios posicionamentos.
Educação
Para a educação, além da já conhecida verborragia sobre doutrinação e afins, sugere o incremento da modalidade de educação à distância e o não “veto dogmático”. Mostra-se desatualizado ante as recentes alterações normativas que, muito ao contrário de realizarem veto dogmático, tem flexibilizado bastante as regras para esta modalidade educacional.
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