Estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil apontam, até o momento, uma quebra de 25,2 milhões de toneladas na produção de grãos no Sul e Mato Grosso do Sul por causa da estiagem
15 de fevereiro de 2022
A forte seca que atingiu nos últimos meses os três estados do Sul e o Mato Grosso do Sul, bem como a chuva torrencial no Nordeste começaram a apresentar a conta. Estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apontam, até o momento, uma quebra de 25,2 milhões de toneladas na produção de grãos nessas regiões por causa da estiagem. Neste pacote, estão soja, arroz e as primeiras safras de milho e feijão semeadas nos três Estados do Sul (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) e no Mato Grosso do Sul.
A oferta mais apertada de alimentos já bateu nos preços ao produtor e começa a chegar no prato do brasileiro e nos índices de inflação. Em janeiro, a alta dos alimentos respondeu sozinha por 43% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 0,54%, a medida oficial de inflação. Também em janeiro, o valor da cesta básica de alimentos apurada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) subiu em 16 de 17 capitais.
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“Alimentos poderão ser de novo uma surpresa negativa na inflação deste ano”, alerta o economista-chefe da consultoria MB associados, Sergio Vale. Ele revisou em mais de um ponto porcentual, de 4,7% para 5,8%, o IPCA de 2022, em razão dos preços da comida e da gasolina.
André Braz, coordenador dos índices de preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também subiu em cerca de um ponto, de 5% para quase 6%, a expectativa de inflação para este ano. “Metade desse aumento é por conta da alimentação e o restante é petróleo e tarifas.”
De dezembro para janeiro, Braz já constatou um salto nos preços ao produtor do milho e da soja. O milho, que tinha encerrado 2021 com recuo de 0,02% ao produtor, aumentou 8,40% em janeiro. Na soja, a alta de preço, que havia sido de 0,89% em dezembro, foi para 5,55% no mês passado. Também o preço do farelo de soja fechou janeiro com aumento de 14,17%, depois de ter aumentado 2,14% no mês anterior.
Efeito cascata
A disparada das cotações do milho, da soja e do farelo provavelmente devem ter desdobramentos nos preços ao consumidor das carnes de suínos e aves e do leite nos próximos meses já que esses insumos são a base da criação dos animais, observa Braz.
“É muito prematuro dizer que há pressão inflacionária”, contesta o diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) do Ministério da Agricultura, Sergio De Zen. Ele admite que os danos causados pela estiagem afetaram a primeira safra de milho, mas argumenta que a segunda safra, que responde por 80% da produção brasileira do grão, ainda está sendo plantada. "A segunda safra de milho pode ser muito grande”, pondera.
No caso da soja, De Zen observa que está chovendo em algumas regiões, o que aumenta a produtividade das lavouras. Além disso, a área plantada com soja cresceu neste ano, o que pode compensar as quebras com a estiagem.
O efeito dos eventos climáticos extremos preocupa, porque os fenômenos tendem a se tornar cada vez mais frequentes. Além disso, as secas, os episódios de calor extremo e as chuvas em excesso estão também ficando mais intensos por causa das mudanças climáticas e do aquecimento global.
Perdas
Estimativas da CNA feitas com base na mais recente projeção de safra da Conab de fevereiro e em dados fornecidos pelas federações estaduais de agricultura apontam que o maior impacto da seca é na soja, com uma perda de 19 milhões de toneladas nos três estados do Sul e no Mato Grosso do Sul.
Em seguida vem o milho da primeira safra, com 5,2 milhões de toneladas, o arroz com quase um milhão de toneladas e o feijão da primeira safra, com 125 mil toneladas. Apesar de irrigado, o cultivo do arroz no Rio Grande do Sul depende da água dos rios que estão afetados pela estiagem.
De acordo com a estimativa da Conab, a safra total de grãos do País para este ano deve atingir 268,2 milhões de toneladas. Serão 22,8 milhões de toneladas a menos do que as projeções iniciais de dezembro, de 291 milhões de toneladas. Mas, mesmo assim, um volume maior do que a safra do ano passado, de 252,7 milhões de toneladas.
O coordenador de Produção Agrícola da CNA, Maciel Silva, responsável pelas projeções de quebra da safra, ressalta que, apesar das perdas provocadas pela seca nos quatro estados, houve aumentos no potencial de produção das lavouras de outros estados Centro-Oeste e Sudeste que amenizaram as perdas. Com isso, a quebra no volume total de produção do País será menor. “Mas, ainda assim, são perdas expressivas e impactantes nas safras do Sul e no Mato Grosso”, ressalta Silva.
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