Com a pandemia, quantidade estimada de menores nessa faixa etária que não foram alfabetizados aumentou de 1,43 milhão, em 2019, para 2,39 milhões no ano passado
08 de fevereiro de 2022
O número de crianças de 6 a 7 anos que não sabem ler e escrever cresceu 66,3% no Brasil em dois anos. Com a pandemia, a quantidade das que não foram alfabetizadas subiu de 1,43 milhão, em 2019, para 2,39 milhões, em 2021. Conforme o levantamento do Todos Pela Educação, com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, entre as crianças com menos condições, o porcentual das que não sabiam ler e escrever saltou de 33,6% para 51% entre 2019 e 2021. Entre as mais ricas, o aumento foi de 11,4% para 16,6%.
“O grande problema está na equidade. Considerando que os mais pobres, os mais afetados, estão nas escolas públicas, é fundamental que se priorize o investimento para dar as condições para essas crianças”, diz Luiz Miguel Garcia, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
O levantamento aponta que o porcentual de crianças de 6 e 7 anos que, segundo seus responsáveis, não sabiam ler e escrever foi de 25,1% para 40,8% em dois anos. É o maior patamar do indicador desde o início da série histórica, em 2012. O impacto da pandemia também reforçou a diferença na alfabetização entre crianças brancas e pretas e pardas. Os porcentuais de pretas e pardas que não sabiam ler e escrever passaram de, respectivamente, 28,8% e 28,2% em 2019, para 47,4% e 44,5% em 2021. Entre as brancas, o crescimento foi de 20,3% para 35,1% no período.
“Com o retorno às atividades presenciais no ano passado, ficou bastante nítido que havia uma defasagem muito grande. Os dados confirmam essa sensação”, diz Garcia.
“Tenho uma visão relativamente otimista de que é possível fazer um processo de recuperação (de aprendizado). Mas deve haver inserção de novas metodologias”, reforça ele. “Se a gente conseguir construir essas bases, com envolvimento maior da família, ampliando os investimentos, há uma melhor perspectiva.”
Em nota, o Ministério da Educação informou que “a crise de aprendizagem era uma realidade diagnosticada em escala mundial já em 2018”. “No caso brasileiro, ela já havia sido apontada em 2003, por meio do relatório 'Alfabetização Infantil: os novos caminhos', elaborado por um grupo de trabalho convocado pela Câmara dos Deputados”, diz.
“Em 2019, esse relatório e diversos estudos internacionais serviram de subsídio para formular a Política Nacional de Alfabetização.” Segundo a pasta, com a pandemia da covid, no entanto, as ações que já haviam sido desenhadas foram direcionadas à mitigação dos impactos decorrentes da suspensão das aulas.
O desempregado Jailson Cerqueira, de 43 anos, se diz insatisfeito com o desempenho escolar da filha Júlia Cerqueira, de 8 anos. Desde o início da pandemia do coronavírus, a menina, matriculada em uma escola da rede pública municipal, no bairro de Pituaçu, orla de Salvador, Bahia, está sem aula presencial e também praticamente sem acesso aos conteúdos escolares via internet.
Com isso, Jailson diz que a filha regrediu nos estudos. “Ela lê, mas com dificuldade. Quando estou em casa, ainda me esforço para ajudá-la, tento estimulá-la, mas fica muito a desejar. E acho que esse papel é da escola.” / COLABOROU HELIANA FRAZÃO, ESPECIAL PARA O ESTADÃO
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