Vaivém das Commodities
A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.
Para Conab, queda pressiona preços tanto no Brasil como nos países importadores de alimentos
As mudanças climáticas provocaram uma redução de produção de 41 milhões de toneladas de grãos nas últimas duas safras brasileiras, em relação ao potencial produtivo do país.
Seca, geadas e excesso de chuvas foram responsáveis por uma quebra de 18,1 milhões de toneladas em 2021. Neste ano, as condições climáticas adversas se repetem, e as estimativas, por ora, já indicam quebra de 22,9 milhões de toneladas.
A região Sul vem sendo a mais afetada. Após uma perda de produção de 18% no ano passado, em relação ao potencial inicial, a safra de grãos desta região deverá ser 25% menor neste ano, em relação ao que se previa inicialmente.
Com isso, a safra nacional de grãos, prevista para um volume recorde, e próximo de 291 milhões de toneladas, será de apenas 268,2 milhões de toneladas.
A forte seca que atingiu a região Sul afetou exatamente os três carros-chefes da produção nacional: arroz, milho e soja. Juntos eles somam 93% da produção de grãos do Brasil.
Conforme dados apurados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) entre os dias 23 e 29 de janeiro, a safra de grãos do Sul, estimada em 90,2 milhões de toneladas em dezembro, deverá ficar em apenas 68,1 milhões neste ano.
A produção do Paraná recua para 33,5 milhões de toneladas, 22% a menos do que se previa em dezembro. No Rio Grande do Sul, a queda é ainda maior, atingindo 28%, e o estado terá uma produção de apenas 39,9 milhões de toneladas de grãos.
"Os números são impactantes, e perdemos a safra por questões climatológicas", diz Sergio De Zen, diretor da Conab. Na avaliação dele, esses números ainda não são definitivos, e a perda de safra não é problema apenas para o Brasil, mas para todos que dependem da produção de grãos do país.
Enquanto as perdas do ano passado se concentraram no milho, as deste ano recaem sobre a soja. Prevista inicialmente em 141 milhões de toneladas pelo órgão oficial, a safra da oleaginosa deverá recuar para 125 milhões.
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Essa redução traz efeitos para toda a economia, segundo De Zen. A soja é essencial tanto no abastecimento de óleo para cozinha como para combustível, além do peso na composição da ração animal.
Na avaliação do diretor da Conab, é um momento delicado, e essa quebra de safra na produção de soja na América do Sul impacta não apenas no Brasil, mas na inflação do mundo todo.
Os produtores podem ter benefícios temporários com a volatilidade, mas a oscilação de preços dificulta as tomadas de decisões de indústrias e de agentes de mercado, afirma De Zen.
Apesar da situação complicada na produção de grãos no Sul, as demais regiões vão manter crescimento em relação ao ano passado, conforme os dados da Conab.
A região Centro-Oeste, a maior produtora nacional, terá uma safra de 134,5 milhões de toneladas, com avanço de 15% em relação ao volume do ano passado. A quebra no Sul é de 13%, considerado o mesmo período.
A produção de milho recua para 112,3 milhões de toneladas nesta safra, 4% a menos do que o previsto inicialmente. Já a de arroz cai para 10,6 milhões, com redução de 8%.
Apesar da queda da safra total de grãos neste ano, o volume ainda supera em 5% o do ano passado.
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