quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Potências nucleares se comprometem a evitar conflito atômico

Política Global
 
4 de janeiro de 2022

Em meio ao agravamento das tensões políticas e econômicas, declaração conjunta assinada por EUA, Rússia, China, Reino Unido e França traz mensagem pacífica e afirma que "não há vencedores em uma guerra nuclear".      

As cinco maiores potências nucleares, em uma rara demonstração de unidade, se comprometeram nesta segunda-feira (03/22) a evitar a disseminação de armas atômicas e um possível conflito nuclear.

Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França deixaram de lado as tensões diplomáticas, políticas e econômicas para reafirmarem seus comprometimentos com um futuro, ao menos, mais seguro em relação às armas nucleares.

A declaração conjunta foi divulgada pelos cinco países signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), válido desde 1970, após o anúncio do adiamento, em razão da pandemia de covid-19, do processo de revisão do acordo, que estava marcado para o dia de 4 de janeiro.

As cinco nações – chamadas de P5 ou N5 – também são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Apesar de Rússia e China estarem em oposição a seus parceiros ocidentais em uma variedade de temas – que vão desde questões de economia a direitos humanos – as potências nucleares afirmaram em conjunto que "uma guerra nuclear não pode ser vencida e jamais deve ser travada".

Evitar "uso não autorizado" das armas

Segundo a declaração, as cinco nações consideram que "evitar a guerra entre os Estados com poder nuclear e a redução de riscos estratégicos são nossas responsabilidades primordiais".

"Pretendemos manter e, mais além, reforçar nossas medidas nacionais para evitar o uso não autorizado ou não proposital das armas nucleares."

Na declaração, os países prometem cumprir um artigo fundamental do TNP, sob o qual os Estados se comprometem com o total desarmamento no futuro das armas nucleares.

"Nos manteremos comprometidos com nossas obrigações para com o TNP, incluindo as previstas no Artigo 6º", que estabelece o desarmamento completo sob rígido controle.

Segundo a ONU, 191 países assinaram o tratado, que prevê em suas cláusulas uma revisão de suas operações a cada cinco anos.

A declaração surge em um momento em que as tensões entre a Rússia e os EUA atingem o ponto mais alto desde o fim da Guerra Fria, impulsionadas pelas ameaças russas à Ucrânia. Moscou, por sua vez, teme a possibilidade de uma expansão da Otan para o Leste Europeu.

Ao mesmo tempo, crescem as preocupações em relação ao desentendimento entre a China e os EUA envolvendo o domínio de Pequim sobre Taiwan.

A declaração também vem em um momento em que as potências mundiais tentam reavivar o acordo nuclear de 2015 com o Irã, do qual os EUA se afastaram durante a presidência do republicano Donald Trump, em 2018.

Países modernizam arsenais nucleares

O conceito de que não haveria vencedores em uma guerra nuclear foi inicialmente evocado pelo líder soviético Mikhail Gorbachev e pelo presidente americano Ronald Reagan em 1985, mas esta é a primeira vez que foi utilizado por estas cinco nações, observa Marc Finaud, diretor para estudos de proliferação de armas do Centro de Políticas de Segurança de Genebra.

Jean-Marie Collin seção francesa da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican), considerou positiva a declaração conjunta, mas observou que "o fato de que, ao mesmo tempo, todos estão modernizando e renovando seus arsenais nucleares, compromete [a iniciativa]".

O TNP reconhece essas cinco nações como potências nucleares, mas não inclui a Índia e o Paquistão, que também desenvolveram esses armamentos. Muitos observadores acreditam que Israel também já possua armas nucleares, embora o país jamais tenha reconhecido isso.

Esses três países não são signatários do TNP. A Coreia do Norte, que reconhecidamente já desenvolveu armas nucleares, abandonou o acordo em 2003.

rc (AFP, DPA)

 

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