quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

O que se sabe até agora sobre a nova estirpe do coronavírus?

Getty Images
Pouco se conhece sobre a nova mutação, mas as preocupações são muitas, principalmente devido ao maior contágio

“Era previsível que o genoma do Sars-CoV-2 sofresse uma mutação”, começa por explicar ao The Guardian Sharon Peacock, professora de Saúde Pública e de Microbiologia na Universidade de Cambridge. Nas últimas semanas, a nova estirpe, que foi detetada pela primeira vez em setembro no Reino Unido, tem-se espalhado pelo mundo e já chegou, inclusive, à região autónoma da Madeira. Aqui está o que se sabe até ao momento.

A nova variante do coronavírus está a preocupar a comunidade científica, em primeiro lugar porque se acredita que pode ser 70% mais contagiosa. Tratando-se de uma nova estirpe, ela está a substituir outras versões anteriores do vírus, possui mutações que afetam partes importantes das células e acredita-se que se pode espalhar mais rapidamente, avança a BBC. “O genoma do Sars-CoV-2 acumula cerca de uma ou duas mutações todos os meses à medida que circula”, continua Peacock, para contextualizar que a nova versão não é um caso isolado e exclusivo. 

Apesar de ser difícil calcular a propagação da nova variante, sabe-se que o primeiro caso foi detetado em setembro no Reino Unido e que, em novembro, um quarto dos infectados na cidade de Londres já teriam a nova estirpe. Este mês, os números já ascenderam aos dois terços e passou a dominar as testagens positivas. Em dezembro, Erik Volz, do Imperial College London, falava numa mutação 70% mais contagiosa: “É realmente muito cedo para dizer, mas pelo que vimos até agora, está a crescer muito rapidamente, está a crescer mais rápido do que [uma variante anterior] já cresceu, mas é importante ficar de olho”.

“A maioria das mutações não são preocupantes porque não resultam numa mudança num dos aminoácidos que geram as proteínas das quais o vírus é feito”, diz a professora da Universidade de Cambridge. No entanto, “o que parece cada vez mais provável é que esta linhagem seja mais transmissível” e, por si só, já é motivo de preocupação. Nas últimas semanas, muitos países fecharam ligações aéreas com o Reino Unido ou impuseram diferentes medidas de segurança aos britânicos que viajaram para as férias natalícias.

A nova versão segue a tendência de “atualização” do coronavírus: desde o primeiro caso de infecção no mundo que ele já não é o mesmo. A mutação D614G surgiu na Europa em fevereiro, por exemplo, e a versão A222V, que também se espalhou pelo Velho Continente, estava relacionada com as férias de verão em Espanha, explica o jornal britânico. Nesta nova versão, existem cerca de 17 alterações importantes, incluindo a da proteína spike, que é a chave de entrada nas células humanas.

Apesar de mais contagiosa, não se pode afirmar que a nova estirpe seja mais mortal ou que as vacinas terão de retomar novos estudos especificamente para esta versão. “Atualmente não há evidências de que cause doenças mais graves. Também não há razão para pensar que as vacinas que estão a ser lançadas ou em desenvolvimento serão menos eficazes contra ele”, diz Peacock. O maior perigo de contágio, no entanto, tem preocupado os profissionais de saúde, uma vez que é expectável que mais pessoas venham a precisar de apoio hospitalar e teme-se uma ruptura dos serviços de saúde.

De destacar que, apesar da eficácia da vacina, os olhos têm de estar postos no futuro. David Robertson, professor da Universidade de Glasgow, afirma, citado pela BBC, que “o vírus provavelmente será capaz de gerar mutações para escapar à vacina”. Se isso se vier a confirmar, o coronavírus pode passar a ocupar uma posição semelhante à da gripe sazonal, que precisa de atualização todos os anos. 

Até agora sabe-se pouco e os estudos em laboratório continuam na esperança de perceber melhor a origem e as consequências da mutação. Enquanto a ciência procura respostas, os especialistas concordam que não se pode ficar de braços cruzados. “Experiências de laboratório são necessárias, mas queremos esperar semanas ou meses [para ver os resultados e tomar medidas para limitar a propagação]? Provavelmente não nestas circunstâncias”, atira o professor Nick Loman, do Consórcio de Covid-19 do Reino Unido.

A mutação do vírus não é uma tendência exclusiva do Reino Unido. A África do Sul e a Nigéria também já confirmaram novas versões da doença depois de um aumento substancial dos casos confirmados nos países.



 

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