Na terça-feira, o Reino Unido começou a vacinar sua população contra a Covid-19. No mesmo dia, o nosso ministro da Saúde anunciou que o registro da Anvisa — que parece ser muito mais rigorosa do que a agência britânica de saúde — pode levar até 60 dias. A rigorosíssima Food and Drug Administration americana vai anunciar nos próximos dias a aprovação da vacina da Pfizer. Já a Anvisa vai precisar de dois meses. Por quê, ninguém sabe. Ou sabe, mas não diz.
Como o ministro não se constrangeu em dizer, manda quem pode e obedece quem tem juízo: só vale o que Bolsonaro quiser. E o que ele quer, retardando a vacina, além de sabotar João Doria à custa de milhares de mortes? Agora ele diz que sempre esteve certo, contra a máscara e o isolamento e a favor da cloroquina. É como Trump dizendo que ganhou a eleição americana, é como viver numa realidade paralela. Patologia psiquiátrica misturada com prepotência, ignorância e desprezo pela inteligência alheia.
Assim como o soldado Pazuello, o capitão aguarda ordens de Trump para reconhecer a vitória de Biden. Ele e Kim Jong-un. Como um delirante Nero de subúrbio, com uma Bic como harpa, ele canta vitória sobre o vírus: “Foi o país que teve melhor desempenho na pandemia”. Na perfeita analogia entre Bolsonaro e Odorico Paraguaçu feita por Bernardo Mello Franco sobre a inauguração da “instalação” de vidro e neon com seu paletó e o vestido de Michelle na posse, só faltam a Bolsonaro o humor e a ironia de Odorico.
Se o general Pazuello for em logística como é em saúde pública, vai ter muita vacina para pouca seringa, vão faltar transporte, armazenamento e gente para aplicar, lotes de vacinas apodrecerão em depósitos, o governo não vai comprar freezers. A depender dele, começaremos em março, talvez, se o chefe mandar. Seremos um dos últimos países do mundo a vacinar sua população, como fomos o último a abolir a escravidão.
Poucas vezes em nossa história inglória, a vida humana foi tão desprezada e aviltada por um governo eleito.
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