A vacina chegou e com ela a esperança de podermos voltar a viver dias mais ligeiros, abraçar as pessoas de quem mais gostamos e ganhar um pouco mais de liberdade. No entanto, e ainda que os especialistas considerem o início da vacinação um marco no historial da pandemia em território europeu, levará ainda algum tempo até deixarmos de usar máscara, manter a distância de segurança, desinfetar as mãos ou seguir outras medidas de proteção individual.
“Esses hábitos têm de nos acompanhar, porque as vacinas foram concebidas e testadas para nos protegerem contra a Covid-19, mas ainda não há garantia que não possamos ser reinfectados, sem manifestar doença, e transmitir o vírus a terceiros”, explica o epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes, acrescentando, “além disso, as vacinas não têm 100% de eficácia e nunca sabemos se não fazemos parte daqueles 10% ou 15% que não ficaram protegidos”.
A informação disponibilizada no portal que a DGS criou, especialmente dedicado à vacina contra a Covid-19, confirma as palavras do especialista, incentivando a população a “continuar a observar todas as medidas preconizadas para a sua proteção e contenção da transmissão, incluindo o uso de máscara”, mesmo após ter sido vacinada.
Também o pneumologista Filipe Froes apela ao altruísmo dos portugueses e relembra que, “até haver imunidade de grupo é muito importante manter comportamentos de prevenção para proteger quem ainda não foi vacinado”.
Manuel Carmo Gomes assegura que o facto de não estarmos livres de ser reinfetados, ficando assintomáticos, mesmo tomando a vacina, “é algo comum em vírus respiratórios”. E explica, “ao contrário dos vírus do sarampo, da varicela ou da varíola, cuja capacidade de causar doença depende de uma multiplicação generalizada no sangue, os vírus respiratórios que, como o coronavírus, começam por infectar o trato respiratório superior, podem causar doença sem ter uma multiplicação no sangue”.
Ou seja, mesmo imunizados, nada nos garante que não possamos voltar a inalar o vírus, que ele infecte o trato respiratório superior e que, mesmo sem o ultrapassar nem causar doença, se mantenha lá e possa ser transmitido às outras pessoas.
Manuel Carmo Gomes revela ainda que a única farmacêutica a ter testado a possibilidade de a vacina evitar este processo de reinfecção assintomática foi a Astra Zeneca, chegando à conclusão que, usando o esquema de administração que tem mais eficácia (meia dose, uma dose), a vacina parece diminuir em 59% o risco de ser reinfectado e ser portador. “Mas isto são apenas resultados preliminares e eu não me admirava que estas vacinas não fossem muito eficazes a evitar que os vacinados possam ser portadores”, avisa o epidemiologista.
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