Não são só nossas commodities correm riscos
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Um exemplo dessa complementaridade é a venda de soja brasileira para a China, que cresceu 8% na comparação entre janeiro a novembro de 2020 e o mesmo período do ano passado. A soma chega a US$ 20,9 bilhões. Em volume, foram 10% a mais, ou 60 milhões de toneladas.
Ainda que praticamente todo o agro siga o mesmo fluxo de exportação, a chave dessa equação não é o comércio. As exportações de minério de ferro também se beneficiam com a China, onde a economia já dá sinais robustos de recuperação – e onde o coronavírus, diuturnamente combatido, está efetivamente controlado.
Qualquer reação chinesa provocaria uma debacle nas exportações brasileiras. Ainda assim, repito, o comércio não deve ser o centro das estratégias ante os chineses.
A China hoje lidera a corrida por uma vacina eficiente contra a Covid-19 e pela implantação de redes 5G da Huawei. Desta última, aliás, só outras duas empresas no mundo detém tecnologia: a finlandesa Nokia e a sueca Ericsson. Nas vacinas, há um pouco mais de fornecedores já aptos.
Na saúde e tecnologia, o Brasil tem grandes necessidades. E como um país continental, seria inteligente olharmos para a China com mais respeito e método.
Isso não inclui ordem do presidente para que seus ministros não recebam o Embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, como noticiado no final de semana, ou negociações para que o edital do 5G termine excluindo a Huawei do leilão previsto para 2021.
Na pior pandemia do século, a vacina ajuda a resolver um problema de saúde pública. A tecnologia 5G pode trazer mais agilidade e reduzir custos na implementação das redes – os resultados serão também importantes para o aumento de produtividade e da competitividade da indústria brasileira. Hoje, a Huawei é responsável por mais de 40% dos equipamentos das redes 3G e 4G no Brasil, e que são necessárias como apoio à futura 5G.
Neste cenário, não são só nossas commodities correm riscos caso o maior comprador de produtos brasileiros resolva congelar pedidos ou retaliar o Brasil. Isso talvez nem aconteça. Trata-se, no entanto, de perder a oportunidade de repensar as relações com um país em desenvolvimento, cujos feitos até aqui podem servir inclusive de inspiração para o Brasil.
A China comemorou nesta semana a erradicação da pobreza extrema, alcançando a meta de retirar 100 milhões de pessoas desta condição nos últimos anos. Esta é uma missão que o Brasil ainda precisa cumprir. O exemplo chinês, que em 40 anos retirou quase 800 milhões desta condição, poderia balizar políticas públicas por aqui.
Para completar, a China é um importante investidor no Brasil, principalmente em setores como infraestrutura e energia. De 2007 a 2018, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China, os chineses investiram US$ 58 bilhões no País. Mais recentemente, em novembro, um consórcio formado pelas empresas China Communications Construction Company e China Railway 20 Bureau Group Corporation firmou contrato para construir a ponte Salvador-Itaparica por R$ 7,7 bilhões em Parceria Público-Privada – o governo da Bahia arcará com R$ 1,5 bilhão. Com 12,4 quilômetros, a ponte sobre a lâmina d’água será a maior da América Latina, superando a Rio-Niterói. A entrega está prevista para 2025.
Quando se pensa em investimento, aliás, é preciso olhar para a China como motor de nova arquitetura financeira global, capitaneada por bancos cujos projetos o país lidera, como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura e o Novo Banco de Desenvolvimento, ou Banco dos BRICS.
Há muitos outros bons exemplos. Para quem olha para tecnologia e economia digital, a China é a nova meca. Um Vale do Silício algo semelhante ao Brasil, com desigualdade de renda desigual e uso massivo de celulares, redes sociais e internet.
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