Brasil
Anualmente, ONG alemã categoriza países pelo que fazem pelo clima, com base na avaliação de mais de cem especialistas. Em 2020, como nos anos anteriores, o Brasil caiu. O principal motivo apontado é o desmatamento.
O desmatamento na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020 atingiu o maior patamar em mais de uma década
O Brasil despencou no ranking global de desempenho climático elaborado anualmente pela ONG alemã Germanwatch. A principal razão para a piora do país no estudo de 2020, divulgado nesta segunda-feira (07/2020), é o aumento do desmatamento sob o governo Jair Bolsonaro.
O chamado Índice de Desempenho perante as Mudanças Climáticas (CCPI, na sigla em inglês) analisou, comparou e ranqueou o status da proteção climática nos 57 países com maior taxas de emissões no planeta. Os Estados-membros da União Europeia são listados também como bloco.
Ele divide os países entre as notas "muito bom", "bom", "médio", "ruim" e "muito ruim". Como comparação, no ranking de 2017, o Brasil chegou a aparecer na posição 19 - ou primeiro entre os medianos. Desde então, foi caindo. Em 2019 apareceu em 21°, e agora está em 25º. E a tendência, segundos os autores do estudo, é "muito negativa".
"O problema do Brasil é o forte aumento do desmatamento. E a Amazônia não é relevante apenas para as emissões de gases de efeito estufa, mas para todo o clima global", diz o pesquisador climático alemão Niklas Höhne, um dos autores do estudo.
Se a Floresta Amazônica for desmatada em excesso, afirma ele, poderá haver um ponto de guinada, porque o clima está mudando em toda a região - com consequências de longo prazo para o fornecimento de água potável e para o clima do planeta como um todo.
"A floresta tropical não poderá então ser mais uma floresta tropical, e podem ocorrer secas e incêndios. Isso seria catastrófico. É por isso que ela é tão importante, não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro. É uma tendência muito, muito negativa", comenta o pesquisador à DW.
O desmatamento na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020 atingiu o maior patamar em mais de uma década. Foram 11.088 km² de devastação, a maior taxa registrada desde 2008, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os números superaram o já alto índice registrado no período anterior, que havia sido de 10.129 km², e representam um aumento de 9,5% em relação aos dados consolidados pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) entre agosto de 2018 e julho de 2019.
Política climática "muito ruim"
Para estabelecer o ranking, o relatório considera quatro critérios: redução de CO2, uso de energias renováveis, consumo de energia e políticas de proteção climática.
Assim como nos anos anteriores, o Brasil aparece bem no uso de energias renováveis (11º lugar) e consumo de energia (9º) e ocupa posição mediana em emissões (22º). É em relação à proteção climática, e às políticas que adota para tal, que o país tem o pior desempenho.
No ranking de proteção climática, o Brasil aparece no atual relatório na pouco honrosa 56ª posição, à frente apenas de Rússia, Turquia, Argélia, Austrália e Estados Unidos. Nesse critério, lideram Finlândia, Suécia e Portugal.
A posição marca mais uma queda do Brasil, que em 2019 apareceu em 50º, e em 2018, em 28º, bem à frente. E coincide com a chegada de Bolsonaro à presidência.
Segundo o relatório, nenhum país está no caminho para conseguir alcançar as metas fixadas pelo Acordo Climático de Paris. Por isso, não há nenhum com a nota "muito bom".
O ranking começa na quarta posição, com a Suécia como o primeiro país de nota "bom", seguido por Reino Unido e Dinamarca. Estados Unidos e Arábia Saudita são os lanternas da lista. A Alemanha ocupa a 19ª posição.
UE melhora significativamente
Mais de 100 especialistas nos países examinaram as emissões de CO2, o consumo de energia por pessoa, e as respectivas estratégias para reduzi-las. Eles também avaliaram a participação das energias renováveis na matriz energética, a rapidez com que a expansão está progredindo e também o que os políticos estão fazendo para implementar o acordo climático em casa e internacionalmente.
"O progresso é lento em quase todas as áreas. É muito lento e não corresponde à urgência que seria necessária para a segurança de nosso clima", diz Höhne. "Uma coisa que se destaca é que a UE melhorou significativamente. A UE está tentando fazer avançar a política com uma meta de longo prazo, com uma nova meta de curto prazo, e está tentando puxar outros países junto com ela", complementa o especialista.
Graças a uma política climática mais incisiva, o bloco europeu subiu seis posições, para 16º na classificação geral, e recebeu a classificação geral de "bom".
Isso coloca a UE bem à frente dos outros grandes emissores, como EUA e China, no ranking. Como no ano anterior, os Estados Unidos ficaram em último lugar (61º). A China ficou em 33º com nota "média" (após 30º no ano anterior). Os estados petrolíferos Arábia Saudita (60º) e Irã (59º) também ficaram entre os últimos lugares no ranking.
Do norte, os bons exemplos
De acordo com o Índice de Proteção Climática, a Suécia é, pelo quarto ano consecutivo, o modelo internacional. Embora a Suécia também não seja um "país modelo climático" e ainda não esteja a caminho de atingir as metas climáticas de Paris, o país está estabelecendo padrões nas áreas de emissões de CO2, energias renováveis e política climática.
Por exemplo, a última central elétrica a carvão da Suécia foi desativada neste ano. E o país está estabelecendo padrões globais com uma elevada taxa sobre CO2, equivalente a 115 euros por tonelada, oferecendo assim incentivos para desenvolver alternativas ao carvão, petróleo e gás. Foi devido ao alto consumo alto de energia por habitante que o país não obteve uma classificação ainda melhor.
A Suécia é seguida pela Reino Unido, Dinamarca, Marrocos, Noruega, Chile e Índia com a classificação "bom" em ordem de importância. Finlândia, Malta, Letônia, Suíça, Lituânia e Portugal também foram classificados no grupo de nota "bom".
RPR/DW/dpa/ots
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