RIO - O país perde R$ 214 bilhões por ano por deixar 17,5% dos jovens
sem concluir o ensino médio. Significa dizer que o país tem hoje 575
mil adolescentes de 16 anos que não vão completar a educação básica, se
nada mudar, mostra o estudo “Consequências da violação do direito à
educação”, fruto da parceria entre a Fundação Roberto Marinho e o
Insper.
Míriam Leitão:A desigualdade piora na pandemia
A
perda para cada adolescente que não completa o ensino médio é de R$ 372
mil por ano. “Esse é o custo de não fazer nada”, alerta Wilson Risolia,
secretário-geral da Fundação Roberto Marinho. A conta considerou o
impacto econômico da queda da empregabilidade e de remuneração dos
jovens, os efeitos dessa renda mais baixa para a sociedade e a
longevidade menor.
Além do aspecto financeiro, o adolescente que
abandona os estudos vive, em média, quatro anos menos. Como jovens com
mais ensino formal se envolvem menos em atividades criminosas, há efeito
da educação nos indicadores de violência. Pelo estudo, cada ponto
percentual de queda na evasão escolar evita 550 homicídios por ano. Sem
abandono, seriam 10 mil mortes a menos.
—
Educação é um dos grandes instrumentos da promoção da cultura da paz. A
escola ensina a apreciar a diversidade mais que qualquer outro lugar —
afirma Ricardo Paes de Barros, professor do Insper e autor do estudo.
Renda 25% menor
E
a situação se agravou na pandemia, alerta Risolia, que já foi
secretário estadual de Educação do Rio. Outra pesquisa feita pela
Fundação sobre jovens na pandemia mostrou que 28% deles pensam em não
voltar à escola e 49% querem desistir do Enem:
—
O custo de não fazer nada será muito agravado com a crise. Não é uma
hipótese, já estamos vendo isso. Escolas privadas fechando, alunos que
vão migrar para rede pública. Isso vai exigir mais esforço fiscal dos
governos. Tem um grupo que não vai estudar. O ônus fica maior do que já
é.
Paes de Barros diz que o governo gasta R$ 90 mil por aluno
mantido por todo o ciclo básico e perde R$ 372 mil por não impedir a
evasão, quatro vezes o custo de investir na educação desse jovem:
—
É um valor muito grande. Nenhum jovem deixa de concluir a educação
básica sem ter frequentado pelo menos dez anos na escola. É como
construir 90% de uma estação de metrô extremamente útil para a população
e não terminá-la.
O pesquisador estimou que o adolescente que não consegue terminar o
ensino médio vai ganhar de 20% a 25% menos do que quem tiver completado o
ciclo. Isso pode representar perda ao longo da vida de R$ 159 mil, e
eles ficarão menos tempo empregados em ocupações formais.
Na conta também entra a perda de produtividade da economia com mão de obra menos escolarizada, o que afeta toda a sociedade.
—
É um custo gigante, que compromete o crescimento do país, compromete
todo o futuro. Fizemos questão de fazer o estudo para ter outra visão
sobre o problema. Se as pessoas não se convencem pelo coração, pelas
mazelas, quem sabe mostrando o custo de não fazer nada tenha algum
resultado — afirma Risolia.
Desigualdade regional
A
situação é pior no Norte e Nordeste. No Pará, a taxa de evasão chega a
28%. O número do impacto econômico é média nacional, mas há
desigualdades, diz Paes de Barros:
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—Evidentemente,
se for de uma família negra, com pais de baixa escolaridade, na área
rural do Nordeste, a incidência é muito mais alta e o custo, maior.
Segundo o economista, a repetência e o déficit de aprendizado são as principais causas da evasão:
—
O aluno vai acumulando déficit de aprendizado, há reprovação e
abandono. Parece indicar que é importante evitar reprovação nos anos
iniciais e finais.
Risolia completa que não há no Brasil a prática de disseminar experiências bem-sucedidas:
— O poder público anseia por coisa nova, ter o bônus do inédito, do
fui eu que fiz. Com isso, perde-se tempo e dinheiro. Pode criar com a
precisão do diagnóstico para planejar as ações, criar políticas por
achismo ou não fazer nada. Nessa inércia, chegamos onde estamos hoje.
O
estudo será apresentado nesta terça-feira, em seminário virtual, com o
presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, Risolia, Paes de
Barros e o presidente do Insper, Marcos Lisboa, e mediação da colunista
do GLOBO, Míriam Leitão.
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