Redação do Diário da Saúde
"Não se trata de patologias individuais. Trata-se de histórias e
circunstâncias sociais patológicas," diz o professor Craig Haney.
[Imagem: Melissa De Witte]
[Imagem: Melissa De Witte]
Origens da criminalidade
Quarenta anos atrás, Craig Haney era um jovem professor de psicologia
na Universidade da Califórnia de Santa Cruz (EUA) quando ele começou a
se interessar sobre as verdadeiras causas dos crimes.
Ao trabalhar com condenados em uma prisão, ele começou a verificar um
padrão: a maioria dos criminosos apresentava um histórico de sofrimento
na primeira infância, com experiências de trauma, abuso e maus-tratos.
Ele então se colocou a questão: E se o comportamento criminoso mais
violento não for fruto de nenhum traço específico de personalidade, ou
mesmo de eventos circunstanciais, mas estiver enraizado nesse sofrimento
da primeira infância?
O então jovem pesquisador apresentou essa hipótese aos seus
professores, que se mostraram céticos: Não havia muita literatura para
sugerir que um trauma precoce pudesse moldar tão profundamente o
comportamento adulto, e certamente não o comportamento criminoso adulto.
Haney então resolveu dedicar sua carreira para suprir essa falta de
estudos. Nesses anos, ele publicou seus resultados, levou a discussão a
congressos científicos e conseguiu dados concretos que fizeram com que
muitos outros psicólogos começassem a pesquisar o assunto.
Agora, Haney reuniu todo esse corpo de pesquisa - suas e de outros -
em um livro, que traz uma análise abrangente e aprofundada das causas do
comportamento criminoso.
Injustiça social
O livro traz conclusões sobre o papel preponderante dos traumas
evitáveis e da injustiça estrutural na sociedade sobre a criminalidade,
um saber suficiente para justificar uma reforma real no sistema de
justiça criminal.
"A narrativa dominante sobre o crime é que ele é cometido por pessoas
más que escolhem livremente tomar más decisões, pessoas que são
fundamentalmente diferentes do resto de nós," disse Haney. "Mas a única
coisa que é fundamentalmente diferente sobre eles é a vida que eles
viveram e os impedimentos estruturais que eles enfrentaram".
Milhares de estudos publicados nessas últimas quatro décadas
estabelecem claramente que as pessoas que mais correm risco de
comportamento criminoso são aquelas que foram expostas a inúmeros
traumas ou "fatores de risco" em suas vidas, geralmente começando na
infância.
O impacto a longo prazo do abuso e da negligência é frequentemente
agravado por maus-tratos adicionais nas mãos das próprias instituições
encarregadas de proteger essas pessoas, incluindo escolas, o sistema de
assistência social e o sistema de justiça juvenil, diz Haney.
Além disso, ele argumenta que a pobreza e o racismo são fatores estruturais preponderantes que contribuem para o crime.
O livro do professor Haney ainda não possui tradução em português.
[Imagem: Melissa De Witte]
[Imagem: Melissa De Witte]
Origem dos crimes: Pobreza e desigualdade
A pobreza é um fator de risco que expõe as pessoas a outras formas de
trauma, garante uma gama de necessidades não atendidas e pode
restringir oportunidades ao longo de uma vida inteira, cita Haney:
"Noventa por cento das pessoas na prisão são pobres, e a maioria são
pessoas de cor."
Como raça e pobreza estão tão profundamente entrelaçadas em nossa
sociedade, as pessoas de cor são mais propensas a enfrentar esses
desafios. Esse fato, e seu tratamento diferenciado nas mãos do sistema
de justiça criminal, explicam sua super-representação nas prisões.
Se as injustiças sociais, econômicas e raciais são as verdadeiras
causas do comportamento criminoso, argumenta Haney, o único caminho real
para reduzir o crime é lidar com elas de forma séria.
"A reforma fundamental da justiça criminal exigirá que mudemos nossas
concepções de quem comete crime e por quê," propõe Haney. "Não se trata
de patologias individuais. Trata-se de histórias e circunstâncias
sociais patológicas. Nós sabemos disso não porque é politicamente
liberal ou progressista dizer isso. Sabemos disso porque há uma montanha
de dados nos dizendo que é verdade".
"Lidar com as terríveis consequências da pobreza e da desigualdade
econômica é importante por si só, mas também deve ser visto como um
avanço na meta de prevenção ao crime. Reduzir o crime e a pobreza fazem
parte da mesma agenda de justiça social," concluiu o pesquisador.
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