quinta-feira, 30 de junho de 2022

Fósseis humanos da África alteram linha do tempo da humanidade

Nova datação indica que os achados em Sterkfontein são 1 milhão de anos mais antigos do que se pensava inicialmente

Roberta Jansen, O Estado de S.Paulo

30 de junho de 2022 

Fósseis de antigos ancestrais humanos descobertos há quase um século em uma caverna na África do Sul são 1 milhão de anos mais antigos do que se imaginava, atesta um novo estudo publicado esta semana na PNAS. A nova datação altera a linha do tempo da Humanidade.

A nova análise dos fósseis encontrados nas Grutas de Sterkfontein, em Johannesburgo, revelou que eles têm entre 3,4 e 3,6 milhões de anos. A descoberta sugere que hominídeos já existiam no Sul da África ao mesmo tempo que andavam também pela África Oriental – caso de Lucy, o australopiteco de 3,2 milhões de anos, considerado até agora o mais antigo já encontrado, descoberto na Etiópia, em 1974. Já há algum tempo, a África Oriental era considerada o mais provável local de origem dos humanos modernos. O novo estudo reacende o debate.

Fósseis encontrados na África do Sul
Achados indicam que África têm 1 milhão de anos a mais do que se pensava. Foto: Jason Heaton e Ronald Clarke em cooperação com Museu de História Natural Ditsong

Grutas

Centenas de fósseis de australopitecos foram encontrados nas Grutas de Sterkfontein; um sítio arqueológico considerado patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e conhecido como “berço da Humanidade”. Neste lugar, explorado desde 1936, foram achados os primeiros fósseis adultos de australopitecos. Entre eles os de Mrs. Ples e Little Foot (pé pequeno).

As grutas têm mais fósseis de australopitecos do que qualquer outro sítio conhecido, segundo Darryl Granger, da Universidade de Purdue, principal autor do novo estudo. No entanto, diz ele, é difícil conseguir uma boa datação dos ossos fossilizados dos ancestrais humanos, justamente “porque são muito mais velhos do que imaginávamos originalmente”.

Medição

Desta vez, os pesquisadores conseguiram medir a queda dos níveis de radioatividade de alguns isótopos raros nas rochas enterradas nas mesmas camadas geológicas dos fósseis. Anteriormente, os fósseis haviam sido datados com base em depósitos de calcita – uma técnica menos precisa. Ao que tudo indica, esses depósitos teriam se formado depois da fossilização dos ossos.

Importância

A nova datação dos fósseis ajuda os cientistas a compreender como e onde os humanos modernos surgiram, como se adaptaram aos ecossistemas dominantes e quem eram seus parentes mais próximos. “Essa nova datação comprova que alguns dos mais interessantes fósseis da evolução humana, entre eles um dos mais icônicos da África, o de Mrs. Ples, são 1 milhão de anos mais antigos; ou seja, da mesma época de um outro fóssil igualmente icônico, o de Lucy”, afirmou o pesquisador Dominic Stratford, diretor de pesquisa das cavernas e um dos autores do novo estudo.

 

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