Meio ambiente
Em 50 anos, um terço da população mundial poderá sofrer
 com o aumento da temperatura global se emissões de gases poluentes não 
forem reduzidas, alertam cientistas. Regiões quentes do planeta deverão 
aumentar até 19%. 
Daqui a 50 anos, até 3,5 bilhões de pessoas poderão estar vivendo em 
zonas de calor extremo ao redor do mundo se as emissões globais de gases
 de efeito estufa não forem reduzidas, diz um estudo da universidade 
holandesa de Wageningen divulgado nesta segunda-feira (04/05). 
Até
 2070, estima-se que a população mundial seja de 10 bilhões de pessoas. 
Nesse período, na pior das hipóteses, um terço da população mundial 
deverá viver em áreas onde se prevê que a temperatura média anual subirá
 para acima de 29ºC, apontam os especialistas no estudo publicado pela 
Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Quantas pessoas 
exatamente acabarão vivendo sob risco dependerá da redução das emissões 
de gases poluentes na atmosfera e da velocidade de crescimento da 
população.
Atualmente, entre 20 e 25 milhões de pessoas vivem nas
 regiões mais quentes do planeta, concentradas principalmente no deserto
 do Saara. Em 2070, as áreas mais afetadas pelo calor extremo deverão 
ser América do Sul, África, Índia, Sudeste da Ásia e norte da Austrália.
 Apenas na Índia, o clima mais quente deverá afetar mais de um bilhão de
 pessoas. Na Nigéria, no Paquistão, na Índia e no Sudão, mais de 100 
milhões de habitantes sofrerão as consequências do calor extremo.
"O
 coronavírus mudou o mundo de uma forma difícil de imaginar há alguns 
meses. Nossos resultados mostram como as mudanças climáticas poderiam 
causar algo similar", afirmou Marten Scheffer, que liderou o estudo.
Segundo
 o estudo, as mudanças climáticas não ocorrerão tão rapidamente quanto 
as causadas pela pandemia da covid-19, mas, ao contrário do cenário 
atual, o mundo não teria uma perspectiva de alívio num futuro imediato. 
Para
 o estudo, os cientistas adotaram uma abordagem incomum das mudanças 
climáticas e avaliaram os seres humanos como fazem com ursos, pássaros e
 abelhas, para saber em que "nicho climático" civilizações florescem.
Parte
 das conclusões dos pesquisadores foram baseadas em análises de dados 
passados, em que compararam condições climáticas das regiões onde os 
seres humanos mais se estabeleceram. A densidade populacional teve picos
 em áreas onde as temperaturas médias anuais ficavam em torno de 11 e 
15ºC. Um segundo pico de densidade, mais baixo que o primeiro, ocorreu 
em regiões com temperaturas entre 20 e 25ºC. Como a distribuição 
populacional quase não se alterou nos últimos 6 mil anos, os 
pesquisadores chamaram esse intervalo de temperatura de "nicho ecológico
 humano". 
Quanto mais a temperatura se afasta desse nicho, mais 
difícil é a sobrevivência de seres humanos numa determinada área.  De 
acordo Scheffer, os habitantes das futuras regiões de calor extremo 
habitarão áreas fora do "nicho climático" ocupado por seres humanos nos 
últimos 6 mil anos.
Para prognósticos de cenários futuros, os 
cientistas usaram uma previsão climática do quinto relatório de análise 
do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações
 Unidas como base. Esse relatório prevê que a concentração de gases de 
efeito estufa na atmosfera continuará se expandindo desenfreadamente – 
assim como ocorreu nas últimas décadas –, levando a aumentos 
equivalentes de temperatura em todo o planeta.
Usando as 
projeções internacionais da terceira Via Socioeconômica Compartilhada 
(SSP3), que prevê um futuro marcado por rivalidades regionais, os 
pesquisadores calcularam um modelo em que comparam a população mundial 
prevista com a alta das temperaturas. 
Eles descobriram que a 
área continental com uma temperatura média anual de mais de 29ºC vai se 
ampliar de 0,8% (que, atualmente, se localiza principalmente no deserto 
do Saara) para 19% em 2070. "Isso também dificultaria a gestão de crises
 futuras como novas pandemias pelas sociedades", enfatizou Scheffer. 
O
 especialista preferiu não prever migrações em massa a partir das 
regiões mais afetadas, dizendo que esses movimentos têm gatilhos 
complexos. Mas ele disse esperar que o estudo seja visto como um alerta 
urgente à comunidade global para reduzir velozmente as emissões de gases
 poluentes na atmosfera.
RK/dpa/ap/ots
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