Ao usar tecnologia para melhorar processos e automatizar análise de dados, profissional de saúde tem mais tempo para estar mais próximo do paciente; startup Cloudia ajuda com assistente virtual inteligente
Maure Pessanha
21 de maio de 2020 | 13h15
21 de maio de 2020 | 13h15
No livro Inteligência Artificial, o ex-presidente da Google China, Kai-Fu Lee – um dos maiores especialistas globais em inovação tecnológica
–, descreve como o diagnóstico de um câncer em estágio avançado, em
2013, o guiou em uma jornada de profundo questionamento sobre a “ética
quase fanática” que norteava a própria relação com o trabalho, pensou sobre o legado que deixaria e os rumos da inteligência artificial em um futuro próximo.
Nessa reflexão, ele se perguntou sobre como a tecnologia poderia ser utilizada para resolver alguns dos maiores problemas sociais: a desigualdade, a miséria e a dificuldade de acesso equânime à educação
de qualidade. As epifanias desencadeadas com esse confronto pessoal
trouxeram novas percepções de como os seres humanos podem coexistir com
os avanços tecnológicos, como a aplicação da IA na saúde, por exemplo, pode levar o setor a um outro patamar.
Um
dos indícios desse potencial está expresso nos resultados da pesquisa
conduzida pelo MIT Technology Review Insights em parceria com GE
Healthcare – com mais de 900 profissionais de instituições de
assistência médica dos Estados Unidos e Reino Unido. O levantamento The AI effect: How artificial intelligence is making health care more human
(O efeito IA: como a inteligência artificial está fazendo os cuidados
com a saúde serem mais humanos, em livre tradução) aponta que a
inteligência artificial está tornando os cuidados de saúde mais humanos à
medida que os profissionais da área estão usando a tecnologia para
melhorar processos, além de automatizar a análise de dados e o
aprimoramento de diagnósticos e do fluxo hospitalar.
Entre
os entrevistados, a maioria afirmou que, por ter um gerenciamento de
cronograma otimizado por essa tecnologia, sobra mais tempo do dia para
se tornar um profissional mais eficiente, as máquinas criam
oportunidades para desenvolver um trabalho mais próximo do paciente.
Diante da pandemia do novo coronavírus,
que atinge de maneira desigual e devastadora a população de menor
renda, como a inteligência artificial pode ser um instrumento acessível
de apoio ao combate à disseminação da doença? Uma das empresas que têm
respondido ao desafio ao apoiar organizações com essa tecnologia é a Cloudia, que tem oferecido apoio gratuito a ONGs e entidades médicas filantrópicas.
Na prática, a healthtech desenvolveu uma assistente virtual inteligente – um chatbot
– para consultórios, clínicas e hospitais. A ferramenta automatiza o
atendimento a pacientes (para marcar consultas, tirar dúvidas e enviar
lembretes). Em tempos de pandemia, o negócio disponibilizou um chat que
esclarece dúvidas da população sobre o novo coronavírus, baseado nas
informações oficiais fornecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Um
conteúdo adicional da Cloudia compartilha dicas sobre o que fazer na
quarentena com materiais gratuitos sobre cursos, séries de exercícios
físicos, receitas, brincadeiras para fazer com as crianças, meditação, orientações sobre onde buscar ajuda psicológica, entre outros. Liderado por Felipe Miranda Costa, a empresa é uma das parceiras das startups Colab e Epitrack na iniciativa Brasil sem Corona,
movimento criado para diminuir a disseminação da covid-19 nas cidades,
mapeando os casos e as regiões com maior risco de surtos.
Para
finalizar, remonto, novamente, a Kai-Fu Lee: “Apesar de todo o poder do
mercado privado e das boas intenções dos empreendedores sociais, muitas
pessoas ainda vão cair pelas rachaduras. Não precisamos procurar além da
enorme desigualdade e da pobreza indigentes em grande parte do mundo de
hoje para reconhecer que os mercados e os imperativos morais não são
suficientes”.
No momento em que vivemos, é preciso que os governos sejam ágeis e impulsionem inovações – como a telemedicina –, colocando as reais necessidades da sociedade em primeiro lugar.
*
Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia,
organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto
social no Brasil.
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