quinta-feira, 31 de outubro de 2019

PERDÃO x AFASTAMENTO

Tanto religiosos quanto psicólogos defendem que TODO E QUALQUER tipo de mal feito é passível de ser perdoado.
Ora, o automatismo no ato de perdoar só tende a favorecer aquele quer praticou o mal feito. Mas, dizem os psicólogos, o não-perdão pode gerar doenças - como um câncer, por exemplo.
Acho eu que este diagnóstico é um pouco impreciso e exagerado em se tratando de caso em que houve um AFASTAMENTO da vítima em relação ao praticante do mal feito.
Assim, a questão essencial não seria afastar um do outro, do que se preocupar em perdoar?... Até mesmo porque em ocorrendo o afastamento de um do outro (ou cessação do mal feito) não seria mais provável ocorrer o perdão?
Por outro lado, em caso de inimizade radical entre mal feitor e vítima fica muito difícil perdoar, tendo em vista que neste caso caso é mais provável que os dois apenas se afastem e se tolerem.

Brasília é "ilha da fantasia" cercada de miséria


Atlhetico, Coritiba e Paraná

Políticos deviam se envergonhar
 
A fartura vivida por servidores públicos, políticos e magistrados que habitam Brasília – uma espécie de “ilha da fantasia” no meio de tanta pobreza – está longe dos moradores da periferia de cidades dormitórios que ficam a apenas 30 quilômetros da capital federal, revela estudo da Frente Nacional de Prefeitos.

A entidade elaborou o g100, um ranking de cidades populosas com baixa receita per capita e alta vulnerabilidade socioeconômica. Boa parte delas estão no entorno de Brasília. Como Novo Gama (GO), a primeira colocada do ranking, que tem receita de R$ 909 por pessoa. Ali, apenas 23% dos habitantes está acima da linha da pobreza. Em oitiva lugar está Águas Lindas de Goiás (GO), uma das cidades mais violentas do entorno.

Mário Ricardo, vice-presidente da Frente de Prefeitos e coordenador do g100, afirma que os efeitos da recessão econômica são sentidos mais cedo nesses municípios, na forma de aumento vertiginoso na demanda por serviços de saúde pública, decorrente da redução do número de beneficiários dos planos de saúde suplementar arrolados no aumento do desemprego.

 

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O que aconteceria se toda a AMAZÔNIA virasse PASTO?

MEIO AMBIENTE

Modelo que roda em supercomputadores e ajuda ONU a estimar aquecimento global aponta que, com desmatamento total, temperatura da região subiria, e volume anual de chuvas cairia 800 mm, com impacto no Cerrado.

    

Foto aérea mostra trecho desmatado da Floresta Amazônica em território brasileiro, em setembro de 2017
Foto aérea mostra trecho desmatado da Floresta Amazônica em território brasileiro, em setembro de 2017
Na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, um centro de pesquisas se especializou em criar modelos matemáticos do clima no planeta Terra, a partir de inúmeras variáveis, como o Sol, as correntes marítimas, a superfície dos terrenos, a dinâmica de florestas tropicais e a emissão de gases por meio da atividade humana. O laboratório, conhecido pela sigla GFDL, desenvolveu as primeiras simulações numéricas da atmosfera e dos oceanos do mundo, e hoje ajuda a ONU a estimar o aquecimento global nas próximas décadas, além de prever trajetórias de furacões e outros fenômenos.
Stephen Pacala, professor de mudanças climáticas e sistemas ecológicos de Princeton, e Elena Shevliakova, especialista em modelagem climática, decidiram aplicar esse sistema sofisticado, que roda em supercomputadores com milhares de processadores simultâneos, para estimar como o desmatamento da floresta afetaria o clima da região amazônica e adjacências. Eles então programaram seu modelo para calcular o que ocorreria se toda a área da Amazônia virasse pasto – uma previsão drástica, mas que ajuda a esclarecer os efeitos do desmatamento.
Segundo o resultado, apresentado em um seminário em outubro, em Princeton,  a temperatura da região ficaria de 2 a 3 graus centígrados mais quente, além da alta já esperada em relação à era pré-industrial.
Além disso, o volume anual de chuvas seria reduzido em até 800 milímetros – 65% do que costuma chover em Porto Alegre num ano. Parte dos efeitos seria sentido também no bioma vizinho à Amazônia, o Cerrado, onde hoje se planta boa parte dos grãos exportados pelo Brasil, como a soja.
A conclusão do laboratório de Princeton confirmou estimativas feitas anos antes por outros cientistas, como a indiana Jayashri Shukla e o brasileiro Carlos Nobre, que usaram técnicas mais simples – um sinal de que o resultado é "muito robusto", disse Pacala em entrevista à DW Brasil, na qual ele detalha o sistema utilizado e os efeitos do desmatamento.
DW Brasil: Como funciona o modelo em se baseou sua projeção?
Stephen Pacala: É a mesma matemática que prevê as condições meteorológicas e de clima. Temos um modelo do planeta inteiro, que inclui a atmosfera, os oceanos, os terrenos, a geoquímica que controla os gases causadores do efeito estufa e diversos outros fatores. Basicamente, você inicia o modelo ligando o Sol, e então o clima, as correntes oceânicas, os fenômenos El Niño e La Niña e os ecossistemas do mundo emergem espontaneamente, a partir da lógica da matemática.
Quando você inclui no modelo fatores dos últimos 200 anos, como vulcões, mudança do uso da terra pelo homem, emissões de gases do efeito estufa pelo uso de combustíveis fósseis e localização das florestas, entre outros, ao chegarmos no dia de hoje, obtemos uma previsão com variação de apenas 1% em relação ao clima atual no mundo. E esse mesmo instrumento pode ser adaptado para prever a trajetória de furacões e outros fenômenos.
Para a simulação da Amazônia, quais variáveis vocês consideraram?
Todas as variáveis que controlam a troca de matéria e energia entre a superfície da terra e a atmosfera. Na Amazônia, por exemplo, incluímos o mecanismo pelo qual uma gota de chuva que cai é aquecida pelo sol ou se move por meio de uma árvore até chegar à atmosfera, e depois cai novamente durante a chuva da tarde. Há também os ventos chegando do oceano, carregando umidade, e também o vento que leva umidade da Amazônia para fora, além da circulação interna. Todas essa forças são incluídas.
Estamos em contato com cientistas brasileiros que monitoram o desmatamento e nosso modelo está equipado para considerar detalhes do uso da terra, incluindo toda a história de desmatamento da Amazônia até o presente. Como queríamos oferecer uma metáfora científica para o tema do seminário, fizemos a projeção mais simples: removemos metade e toda a floresta, e perguntamos o que aconteceria.
O que aconteceu com o volume de chuvas na região no cenário de toda a floresta ser substituída por pasto?
Houve uma redução da precipitação de 700 a 800 milímetros por ano. Esse número já estava no estudo de [Jayashri] Shukla, de Carlos Nobre e em diversos outros posteriores, e estava certo. Nossos resultados confirmaram o que já era conhecido.
Acrescentemos mais detalhes e processos, e deixamos o modelo mais próximo da realidade, mas o resultado não se alterou, se trata de uma conclusão bastante robusta. E é algo bastante significativo para a agricultura, especialmente se você combinar com a alta nas temperaturas, que faz a água deixar o solo mais rapidamente.
Como isso afetaria a temperatura na região?
Além do aumento de dois graus centígrados [comparado com a era pré-industrial], do qual o mundo está tentando ficar abaixo por meio do Acordo de Paris, a região teria um acréscimo extra de dois a três graus.
Por que substituir a Amazônia por pasto aumenta as temperaturas e reduz as chuvas?
Isso está ligado a como as árvores funcionam. As folhas são cobertas por pequenos poros, dentro dos quais está o interior úmido das folhas. Somadas, todas as folhas da floresta representam uma enorme superfície de evaporação. E as raízes têm contato com a água do solo. As árvores são muito eficientes para mover água do solo para a atmosfera, e essa evaporação tem um efeito de resfriamento, como num ar-condicionado. Depois que é injetada na atmosfera, a água sobe, e boa parte dela cai novamente como chuva na Amazônia.
Se você tira as árvores e as substitui por plantas menos eficientes em fazer isso, você tem uma redução das chuvas e um aumento da temperatura. Há menos resfriamento por meio da evaporação e menos reciclagem da chuva. Além disso, há efeitos mais complicados, a circulação global nos trópicos muda.
Como essa mudança na Amazônia afetaria as áreas cultivadas no Cerrado?
Estamos falando de uma área de interesse bem grande, e que repercute no Cerrado. Faremos uma análise geográfica ainda, e esse trabalho será continuado, vamos rodar novas simulações para termos uma amostra maior. Mas isso deve ser motivo de preocupação.
Existe um desejo de transformar a Amazônia em uma área agriculturável para aumentar a produção, mas o efeito vai na direção contrária se você fizer isso tirando a floresta, pois reduz as chuvas e o solo úmido que sustenta a agricultura. Você reduz a produtividade agrícola, e os efeitos serão extremos. É algo que os brasileiros e os outros países da região devem analisar seriamente, pelo seu próprio interesse.
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Professora recebe salário de concursada e decide ser prostituta para pagar as contas


Publicado em Magistério
O baixo salário de professora, mesmo concursada, foi o motivo apontado por Celine (nome fictício) para se tornar prostituta, em São Paulo. Numa quinta-feira de 2018, quando recebeu os R$ 2 mil mensais, a professora, que hoje tem 35 anos e é mãe solteira de uma criança autista, afirmou que viu que o dinheiro não daria para cobrir as contas. Pensou uma, duas, três vezes. Até, finalmente, tomar a decisão.
Depois da escola, a professora foi para casa, tomou banho, vestiu a melhor roupa, usou um bom perfume e seguiu para a noite na Rua Augusta, no centro da cidade. Numa casa noturna, ela pediu uma bebida, puxou conversa com o gerente e conseguiu os primeiros programas, que lhe renderam cerca de R$ 600.
“Não tive medo nem pudor de ser prostituta. Se professor é profissão, por que puta não pode ser. […] Eu não estava arrependida. Tinha certeza do que faria a partir daquele instante. O único problema é que eu me sentia suja. Muito suja,” contou ao Yahoo! Notícias.
Ao voltar para casa, correu para o banheiro e tomou um longo banho. Usou shampoo, sabonete e até detergente. Pegou uma esponja para limpar o corpo e esfregou a pele até sair sangue. Chorou em silêncio para não acordar os pais e o filho.

Dupla jornada

Hoje, Celine vive uma dupla jornada. Professora concursada de uma escola da rede estadual de ensino de São Paulo de dia, e à noite é garota de programa. “Ganho aproximadamente R$ 2 mil por mês. Não consigo manter a minha família. Sou mãe solteira com um filho autista, de seis anos. Tenho que pagar escola, plano de saúde e as contas da casa. O salário de professor é uma miséria,” explica Celine.
A professora diz que as duas realidades não se misturam. Na sala de aula, é linha dura com os alunos, de 15 a 18 anos. Não permite baderna e exige respeito no ambiente escolar. “Às vezes, fico muito cansada. Mesmo assim, nunca faltei ao trabalho. Sou uma mulher responsável,” diz.
A professora, que é apaixonada pelo ofício, sabe que ensinar, no Brasil, é uma tarefa difícil. Para ela, além do baixo salário, o docente tem de enfrentar a falta de infraestrutura nas unidades de ensino e a violência, tão frequente na sala de aula.
Mas a crise econômica também chegou ao novo ramo de Celine. A clientela diminuiu nos últimos anos e a região ficou decadente, o que fez com que as prostitutas tivessem que rever o preço dos programas. “Muitos homens falam que estão sem dinheiro, que perderam o emprego ou tiveram o salário reduzido. E a gente é quem sofre as conseqüências.” Atualmente ela cobra R$ 150 por uma hora de encontro.

* As informações são do Yahoo! Notícias 

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CHARGE O TEMPO 12/04/2019

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terça-feira, 29 de outubro de 2019

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"O MODELO ULTRALIBERAL CHILENO se esgotou"

  Home 1Política  “O modelo [ultraliberal] chileno se esgotou”
 

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Onda de protestos expõe a insatisfação popular com as condições de vida no país, diz Carla Alberti,professora da Universidade Católica do Chile    (Gabriel Bonis, de Berlim)   
O Chile enfrenta há dez dias intensos protestos, com saques a supermercados, incêndios e ataques a estabelecimentos públicos, em uma onda de violência que já deixou 20 mortos. Em Santiago, os danos causados a estações do metrô passam de 1,2 bilhão de reais.
A crise começou após o governo anunciar um aumento de 30 pesos no valor das passagens de metrô. Estudantes passaram a pular as catracas. Em pouco tempo a situação tomou proporções muito maiores, com protestos questionando a desigualdade social no país e alta no preço da eletricidade.
“Esta crise é o reflexo de um sentimento de descontentamento bastante difundido entre a população. Há uma insatisfação com o padrão de vida, especificamente devido a baixas pensões, sistema de saúde, educação, aumento das contas de serviços básicos, transporte público, conluio comercial, e desigualdade, em um nível mais geral”, explica Carla Alberti, professora de Ciência Política na Universidade Católica do Chile.
O presidente Sebastián Piñera declarou estado de emergência e chegou a enviar militares para os protestos, mas precisou recuar. O líder chileno se desculpou pela “falta de visão” e cancelou um aumento de 9,2% nas contas de eletricidade, além de prometer reajustes em aposentadorias, pensões e no salário mínimo.   
Nesta segunda-feira 28, Piñera anunciou uma ampla reforma em seu gabinete com a troca de oito ministros, incluindo o questionado titular da pasta do Interior, Andrés Chadwick. O mandatário chileno optou por substitutos jovens, entre 30 e 46 anos, mais liberais e com visões sociais mais amplas. 
Os protestos contra o governo, contudo, seguem a todo vapor. 
“O modelo ultraliberal chileno permitiu ao país crescer e reduzir a pobreza em altas porcentagens. No entanto, é um sistema com um componente de seguridade social muito precário, que levou à falta de proteção de setores importantes da população, como aposentados, e ao endividamento excessivo de outros, como estudantes. Portanto, a percepção é de que o modelo em seu estado atual se esgotou”, diz Alberti.
Politike: Qual é a razão dessa crise?

Carla Alberti: Ela é o reflexo de um sentimento de descontentamento bastante difundido entre a população. Embora o gatilho da crise tenha sido o aumento das passagens do metrô, suas causas são muito mais profundas. Por um lado, há uma insatisfação com o padrão de vida, especificamente devido a baixas pensões, sistema de saúde, educação, aumento das contas de serviços básicos (como eletricidade), transporte público, conluio comercial, e desigualdade, em um nível mais geral.
Por outro lado, o sistema político e institucional é percebido como não representativo, desconectado das demandas dos cidadãos e capturado por certos grupos econômicos, o que gerou uma mobilização contra o atual governo, mas também contra a classe política como um todo. A combinação dos dois descontentamentos gerou uma série de mobilizações principalmente nos setores mais desfavorecidos e da classe média, em Santiago e em outras cidades do país.
Politike: O que está acontecendo com o modelo ultraliberal chileno, considerado bem-sucedido e um exemplo para a América Latina por governantes como Jair Bolsonaro?

CA: O modelo chileno permitiu ao país crescer e reduzir a pobreza em altas porcentagens. No entanto, é um sistema com um componente de seguridade social muito precário, que levou à falta de proteção de setores importantes da população, como aposentados, e ao endividamento excessivo de outros, como estudantes. Portanto, a percepção é de que o modelo em seu estado atual se esgotou. A demanda dos cidadãos é que esse modelo é tendencioso para grupos privilegiados, alguns dos quais conspiraram para aumentar os preços de produtos básicos, como medicamentos, e que o componente redistributivo do mesmo seja fortalecido para reduzir a lacuna social.
Politike: Bolsonaro sugeriu que esses protestos se originam no final da ditadura no Chile. O que a senhora acha deste comentário?

CA: Acredito que qualquer opinião que defenda uma ditadura é infeliz. Não surpreende, de qualquer forma, uma declaração desse tipo, dado o apoio repetido que Jair Bolsonaro mostrou à ditadura chilena. No entanto, é um comentário que revela a falta de entendimento sobre as causas da atual crise no Chile e apenas contribui para promover a polarização política.
Politike: A senhora vê alguma semelhança entre o movimento que ocorre agora no Chile e o que se passou no Brasil em 2013?

CA: Existem semelhanças óbvias entre os protestos no Brasil em 2013 e as atuais mobilizações no Chile. Embora ambos tenham começado com o aumento do preço do transporte público, as demandas são muito mais amplas e profundas. Nos dois casos, os cidadãos se mobilizaram contra as elites políticas, exigindo menos corrupção, melhorias na saúde e na educação e padrões de vida mais altos. Tanto no Brasil como no Chile, as manifestações são transversais, dirigidas por jovens e com alta participação da classe média. A rejeição da classe política em geral é uma constante nas duas mobilizações. No Brasil, isso permitiu o surgimento de um líder populista, enquanto no Chile resta saber qual setor político pode capitalizar esse descontentamento.
FOTO: Pedro UGARTE / AFP

MADEIREIROS ILEGAIS seguem destruindo a Amazônia e ameaçando assentados

Caminhão com madeira ilegal (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)
CAMINHÃO COM MADEIRA ILEGAL (FOTO: FERNANDO MARTINHO/REPÓRTER BRASIL)

Reportagem flagrou caminhões carregados com toras 

retiradas de área proibida; sucessão de assassinatos e 

ameaças marcam vida de lideranças

*Por Daniel Camargos, de Novo Progresso (PA)

Com uma cuia de chimarrão em uma mão e um rádio-transmissor na outra, um 
senhor passa os dias sentado em uma cadeira de praia em Cachoeira da Serra 
(190 km de Novo Progresso, no Pará), na beira da BR-163, avisando os madeireiros 
sobre a chegada de veículos de órgãos de fiscalização ambiental. A 150 quilômetros 
dali, a Repórter Brasil flagrou dois caminhões carregados de toras de madeira roubadas 
da área do assentamento Terra Nossa indo em direção à rodovia, cujas margens estão 
repletas de serrarias ilegais.
A cena mostra que, mesmo após o ‘Dia do Fogo’ ter aumentado em 196% o número 
de focos de incêndio na Amazônia em agosto, a destruição da floresta segue inalterada 
em Novo Progresso. A cidade está cercada pela Floresta Nacional (Flona) do 
Jamanxim, a terceira área de proteção mais desmatada da Amazônia, segundo 
o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O roubo de madeira, como o flagrado pela reportagem em 27 de setembro, é apenas 
uma das ameaças sofridas pelas 350 famílias de pequenos produtores rurais que 
vivem no Terra Nossa. Isso porque o Projeto de Desenvolvimento Sustentável 
(PDS) Terra Nossa foi concebido sob um conceito de reforma agrária que prevê 
a preservação da floresta – o que contraria o interesse dos madeireiros e grileiros. 
Nesta região do Pará não há manejo de madeira autorizado, o que evidencia a 
ilegalidade das serrarias e da extração das toras.
Foi por defender esse modelo de reforma agrária e preservação ambiental que a 
freira missionária norte-americana Dorothy Stang foi assassinada em 2005, em 
Anapu. Como Dorothy, uma das lideranças do PDS, Maria Márcia Elpídia de Melo, 
vem sofrendo ameaças desde que outras duas lideranças do Terra Nossa foram 
assassinadas no ano passado. “Eu não quero confusão. Quero apenas defender os 
pequenos agricultores e a floresta”, afirma.

MARIA MÁRCIA, PROJETO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (PDS) TERRA NOSSA (FOTO: FERNANDO MARTINHO/REPÓRTER BRASIL)
Quem a ameaça, segundo Maria Márcia, são pessoas poderosas da cidade, que 
estariam relacionadas ao ‘Dia do Fogo’ – articulação feita por fazendeiros e 
empresários de Novo Progresso para queimar a floresta nos dias 10 e 11 de agosto, 
conforme revelou a Repórter Brasil na terça-feira (22) com base em entrevistas 
com os investigadores.
Os responsáveis pelo ataque se organizaram em um grupo de WhatsApp, racharam 
os custos do combustível usado para alimentar o fogo e contrataram motoqueiros 
para espalhar as chamas – um dos alvos foi o assentamento, que apenas nesse final 
de semana de agosto teve 197 focos de incêndio em seu território, segundo dados da 
Agência Pública.
Um dos poderosos que, segundo Maria Márcia, já a ameaçou de morte é o vice-prefeito 
de Novo Progresso, Gelson Dill (MDB). Além de ocupar o segundo cargo do poder 
Executivo da cidade, Dill também é vice-presidente do sindicato dos produtores rurais, 
cujo presidente, Agamenon Menezes, foi alvo de uma operação da Polícia Federal nesta
terça (22), é suspeito de ser um dos organizadores do ‘Dia do Fogo’.
Repórter Brasil teve acesso a um áudio de WhatsApp que indica como se deram 
as combinações para se incendiar parte da floresta. Na gravação, um homem não 
identificado confirma que estaria cumprindo um combinado feito com o vice-prefeito 
Dill, sobre uma queimada que ocorreria no domingo, 11 de agosto. “Ô Gilson [Gelson], 
estou avisando o pessoal para todo mundo ir para aí no domingo para queimar esse 
negócio aí, beleza?”, diz o homem.
Dill nega que tenha recebido o áudio. “Essa história do ‘Dia do Fogo’ é uma fantasia. 
Agosto sempre teve queimada e esse ano foi mais seco”, afirma ele, que planeja ser 
candidato a prefeito de Novo Progresso no ano que vem.
Dill já foi multado duas vezes por desmatamento ilegal na região de Novo Progresso. 
Em um dos episódios, recebeu multa de 288 mil reais do Ibama. Seu irmão, Evandro 
Carlos Dill, também foi multado por extração ilegal de madeira dentro da Flona 
Jamanxim. Os dois atuavam como madeireiros e tinham uma serraria em Novo 
Progresso, segundo entrevista de Dill à Repórter Brasil, em que se queixou do 
fechamento dessa madeireira após a criação da Flona do Jamanxim, em 2006.   

Sucessão de assassinatos

Maria Márcia vive com a sensação de que vai ser assassinada a qualquer momento 
por conta das ameaças e das denúncias que faz. A violência se intensificou no 
assentamento no último ano, quando outra liderança do assentamento foi morta. 
Quem exigiu a punição dos responsáveis também foi assassinado.
Segundo Maria Márcia, além de Dill, outras três pessoas influentes de Novo 
Progresso a ameaçam: o presidente do sindicato dos trabalhadores na agricultura 
familiar (Sintraf) de Novo Progresso, Raimundo Barros Cardoso (conhecido como Dico); 
o chefe do departamento de Regularização Fundiária da prefeitura, Roberto Aparecido 
de Passos e o fazendeiro Messias Floriano Ferreira.

MADEIRA ILEGAL (FOTO: FERNANDO MARTINHO/REPÓRTER BRASIL)
Os três foram presos em 10 de outubro, mais de um ano após o desaparecimento 
de Antônio Rodrigues dos Santos, o Bigode. Ex-liderança do Terra Nossa, Bigode 
desapareceu quando denunciava extração ilegal de madeira dentro de seu lote. 
Roberto e Messias já foram libertados e apenas Dico permanece preso. Os três 
são investigados pela morte de Bigode.
Dill afirma que nunca ameaçou Maria Márcia. “Ela inventou isso para me 
prejudicar politicamente”, diz. O vice-prefeito  registrou uma queixa acusando 
Márcia de calúnia. Os advogados de Messias e Roberto disseram que eles não 
tiveram participação na morte de Bigode e que não têm conhecimento das ameaças. 
A reportagem enviou as perguntas para o advogado de Raimundo, mas não obteve 
respostas.
Após o assassinato de Bigode, o presidente de outro Sintraf – o de Castelo dos 
Sonhos-, Aluísio Sampaio (conhecido como Alenquer), passou a exigir publicamente 
investigação do crime. Também foi assassinado. Antes de morrer, gravou um vídeo 
denunciando os responsáveis pelas ameaças que sofria – , dentre eles, o Dico, que há 
onze anos foi indiciado pela morte de outra uma liderança rural de Marabá.
O PDS Terra Nossa tem o mesmo tamanho da cidade de São Paulo e, além dos 
assentados, há 76 fazendas ilegais  (fruto de grilagem de terra). Os fazendeiros 
pressionam o Incra e os pequenos produtores para que aconteça uma redução na 
área do assentamento e uma regularização de um número maior de grandes 
propriedades.

Floresta sob pressão

A pressão que ocorre no PDS é corriqueira na região.A Floresta do Jamanxim é 
dominada por conflitos agrários, grilagem de terras, garimpos e extração de madeira 
ilegal desde que área de proteção ambiental foi criada, em 2006, pela então ministra 
do Meio Ambiente Marina Silva. Produtores rurais argumentam que a Flona do 
Jamanxim foi estabelecida em áreas que já estavam sendo exploradas comercialmente 
com criação de gado e extração de madeira.
“Criaram a Flona do Jamanxim, em 2006, onde nós já trabalhávamos e passamos a 
ficar na ilegalidade de um dia para o outro”, reclama o vice-prefeito em entrevista à 
Repórter Brasil. O ICMBio, entretanto, estima que 67% dos ocupantes da Flona 
entraram pouco antes ou logo após a criação da área.  
Com área equivalente à da Irlanda do Norte (1,3 milhão de hectares), a Flona está 
sob pressão não apenas dos produtores locais, mas também de políticos ligados à 
bancada ruralista, que articularam durante o governo de Michel Temer uma redução 
da área protegida. Depois de pressão de ambientalistas e de uma campanha que 
contou com a participação de celebridades como a modelo Gisele Bündchen, Temer 
vetou a medida.
Após o veto, o Planalto tentou reduzir novamente a Flona, desta vez por meio de um 
projeto de lei enviado ao Congresso. Foi um aceno à bancada ruralista, já que o então 
presidente precisava dos votos desses parlamentares para se livrar de pedidos de 
impeachment (feitos após escândalo envolvendo os irmãos Wesley e Joesley Batista, 
da JBS). 
O projeto aguarda a criação de uma comissão temporária para analisar a proposta.