sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Estilo de vida determina longevidade, alertam médicos

Médicos alertam que estilo de vida determina longevidade. Público ouviu atento as dicas dos profissionais e fez perguntas sobre como melhorar hábitos no dia a dia. Público ouviu atento às dicas dos profissionais e fez perguntas sobre como melhorar hábitos no dia a dia. FREDY VIEIRA/JC Guilherme Kolling e Isabella Sander. Dormir bem, ter uma alimentação saudável, praticar exercícios, conviver com a família e cultivar amizades. São vários os fatores que podem auxiliar o ser humano a ter maior longevidade. E o estilo de vida do indivíduo é determinante para chegar à velhice com qualidade. A avaliação foi feita por quatro especialistas que participaram, nesta quarta-feira (18), do evento “Saúde e bem-estar: vivendo com qualidade”, realizado pelo Jornal do Comércio para marcar o Dia do Médico. Com mediação da editora de Cadernos Especiais e colunista do JC, Ana Fritsch, os convidados falaram sobre o tema a partir de suas experiências. Cardiologista no Hospital São Francisco da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Fernando Lucchese destacou que hoje não se fala mais em qualidade de vida, mas em estilo de vida, determinante para que, além da expectativa de vida, o tempo de vida saudável também aumente. “Nós, humanos, não fomos feitos para a longevidade. Por isso, temos que correr atrás”, avisou Lucchese. > No vídeo, as lições dos convidados no evento do Dia do Médico: Para Guilherme Rollin, endocrinologista no Hospital Moinhos de Vento, o principal objetivo das pessoas é viver mais e, junto com isso, viver bem. Em sua especialidade, o grande exemplo é a diabetes. “Entender a diabetes nos ajuda muito nisso, porque seu combate envolve conhecimento pelo paciente”, relata. “A prevenção é sempre mais positiva, e, neste quesito, o desafio de nós, médicos, é passarmos as informações para as pessoas.” O cardiologista do Hospital Moinhos de Vento Charles Stefani salientou que 30% dos brasileiros sofrem com hipertensão, e que não há um único remédio para o problema. A solução varia para cada paciente e segue o estilo de vida de cada um. “Alimentar-se adequadamente, fazer exercícios, ter um controle de peso e sono, tudo isso influencia. Mas talvez os melhores remédios do mundo sejam sorrir, olhar para o sol, observar a lua”, cita Stefani. Para o profissional, é importante pensar em como incorporar esses hábitos no dia a dia. O psiquiatra do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) Marco Antônio Pacheco destacou que a sociedade vive, atualmente, uma mudança de paradigma. “O grande anseio hoje é ser feliz. Saímos da era judaico-cristã, na qual as pessoas aceitavam sofrer na Terra porque entendiam que seriam recompensadas depois da morte”, explica o psiquiatra. "Agora, as pessoas vivem mais e querem ter uma existência feliz", pontua Pacheco. Durante o evento, o diretor de operações do Jornal do Comércio, Giovanni Tumelero, entregou uma placa em homenagem aos 90 anos do Hospital Moinhos de Vento. A distinção foi recebida pelo superintendente financeiro da instituição de saúde, Reimbran Kolling Pinheiro. O público, que lotou o salão de eventos na sede do JC, ouviu atento as dicas dos especialistas e demonstrou grande interesse, com perguntas sobre maneiras de mudar hábitos, além de fazer relatos de casos bem sucedidos. Para a realização da palestra, o JC contou com o apoio da Porto Sabor Eventos e da Andorra Máquinas de Café, que forneceram os serviços de alimentação. Todos receberam o caderno especial do Dia do Médico, encartado na edição desta quarta-feira do jornal e disponível na edição on line. O debate foi transmitido ao vivo pelo www.facebook.com/jornaldocomercio. As pessoas devem aprender a respirar, aponta psiquiatra Marco Antônio Pacheco vê mudança de paradigma e diz que as pessoas buscam uma existência feliz Pacheco vê mudança de paradigma e diz que as pessoas buscam uma existência feliz FREDY VIEIRA/JC O psiquiatra do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) Marco Antônio Pacheco destacou que a sociedade vive, atualmente, uma mudança de paradigma. Em vez de "ser infeliz na Terra para ser recompensado no céu", Pacheco observa que as pessoas buscam a longevidade e uma existência feliz. A principal queixa agora é sobre depressão, que o psiquiatra chama de “a doença do milênio”. O remédio para esse mal, no entanto, também pode estar na mudança de hábitos. “Quando vocês inspiram, a barriga fica maior ou menor?”, provocou para a plateia. “Para a maioria, fica menor. As pessoas não sabem respirar. Muita gente chega ao hospital achando que está tendo um infarto, mas, na verdade, está tendo um ataque de ansiedade, muito porque não está respirando direito.” Nesses casos, os médicos costumam oferecer um saco de papel para o paciente, que passará a respirar adequadamente. “Cada respiração é uma unidade funcional de vida. Se respirarmos com calma, a vida ficará mais tranquila”, opina o palestrante. Em casos extremos de depressão, tem sido detectada a Síndrome de Burnout. “Quando a pessoa se envolve muito com o trabalho, em atividades como as de médicos, jornalistas, professores, enfim, profissionais que precisam falar muito com outras pessoas, ela gradualmente começa a se estressar”, relata Pacheco. Como o organismo atual é o mesmo da Idade das Cavernas, quando uma pessoa está estressada, o corpo prevê que o indivíduo participará, em breve, de uma luta, e libera uma substância chamada cortisol, que enrijece os músculos. “Como o cortisol é liberado e a luta não vem, isso é prejudicial.” Ao longo dos anos, essa pode ser uma causa de problemas na saúde, como a depressão e a Síndrome de Burnout. A solução para o problema é quebrar este ciclo, valorizando a família, o convívio com os amigos, o relaxamento, o que inclui exercícios físicos, apostando em uma vida mais equilibrada e em um estilo de vida mais saudável. Pouca cama, pouca mesa e muita sola, ensina Lucchese Cardiologista Fernando Lucchese defendeu que as pessoas devem ser inconformadas e buscar sempre melhorar Lucchese defendeu que as pessoas devem ser inconformadas e buscar sempre melhorar FREDY VIEIRA/JC Cardiologista no Hospital São Francisco da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Fernando Lucchese encerrou sua palestra com um provérbio catalão, que aprendeu com um padre jesuíta que andava sempre de batina pelas ruas de Porto Alegre. “Um dia ele me encontrou e disse: 'Doutor Lucchese, só tem uma solução para viver muito: pouca cama, pouca mesa, muita sola'." Assim, Lucchese diz que o padre resumiu alguns dos quesitos que determinam um bom estilo de vida: cuidados físicos, psíquicos, familiares, financeiros, profissionais e espirituais. “A equação disso tudo aponta o nosso estilo de vida, que equivale à nossa saúde e, por que não, à nossa felicidade. É isso que leva à longevidade”, aponta o cardiologista. Lucchese ainda deu uma dica: estar inconformado e tentar melhorar sempre. “A informação do que fazer, todos nós já temos. É preciso não se conformar”, aponta. O médico lembrou da bióloga molecular Elizabeth Blackburn, que ganhou o Nobel em 2009 por descobrir os telômeros - estruturas constituídas por fileiras repetitivas de proteínas e DNA não codificante, que formam as extremidades dos cromossomos e mostram a capacidade de longevidade da pessoa. “Quem tem um melhor estilo de vida tem um telômero mais longo e, quem tem um pior, mais curto. Descobrimos os motivos do encurtamento da vida”, relata. Exercícios físicos, por exemplo, causam o alongamento do telômero. Inflamações, por outro lado, encurtam. “Uma pesquisa feita por Elizabeth mostrou que até mesmo uma percepção positiva sobre a velhice prolonga a vida por, em média, cinco anos”, citou. “Aliás, isso é muito importante. E a valorização dos idosos é fundamental para uma sociedade viver muito.” Lucchese também mostrou um mapa do globo com as chamadas zonas azuis nas quais há mais centenários. Há algumas semelhanças de comportamento nesses locais, como o consumo maior de azeite e grãos, pouca ingestão de açúcar e sal, alimentação à base de peixe e aves, consumo regular de vinho e a prática de exercícios. Em uma das regiões destacadas, as refeições da população eram 90% de origem vegetal e 10% de origem animal, apesar de não haver vínculo entre vegetarianismo e longevidade. Mas há baixa ingestão de produtos industrializados. O número de amigos por idoso também é um indicador importante, quanto maior, melhor. Enquanto nos Estados Unidos os idosos têm, em média, 1,5 amigo, no Japão as pessoas de mesma faixa etária têm seis. E os orientais vivem mais. Não adianta aumentar expectativa de vida sem qualidade, diz Rollin Endocrinologista salientou a importância do conhecimento e da prevenção Endocrinologista salientou a importância do conhecimento e da prevenção FREDY VIEIRA/JC “As pessoas querem viver mais, mas viver bem. Não adianta aumentar a expectativa de vida com má qualidade”, observa o endocrinologista no Hospital Moinhos de Vento Guilherme Rollin. Para isso, Rollin defende duas palavras-chave: prevenção e conhecimento. O endocrinologista destacou os cuidados com a diabetes como um bom exemplo de como hábitos e comportamentos podem gerar complicações. O estilo de vida moderno, mais sedentário, segundo o médico, gerou um aumento no número de obesos e, em consequência, houve acréscimo na incidência da diabetes. A praticidade aportada pelos alimentos industrializados acabou gerando como efeito colateral pessoas acima do peso, agravante da diabetes. Ao melhorar o estilo de vida com uma alimentação saudável e exercícios, reduz-se a obesidade e se previne doenças. "Mas para prevenir, tenho que conhecer. Sempre dou um exemplo. Se uma pessoa quebra o braço, sente dor e, por isso, procura atendimento. O difícil na minha área é que a pessoa, mesmo estando com índices glicêmicos altos, não sente nada, então, não se conscientiza de que precisa mudar seus hábitos. Por isso, é tão importante procurar conhecimento e se cuidar”, adverte Rollin. Normalmente, o diabético só faz mudanças significativas quando já sofre com alguma complicação, como problemas nos olhos e lesões nos rins, que são danos irreversíveis. “É mais fácil tomar um comprimido do que mudar de hábitos. Só que aí vem o efeito colateral do remédio. ‘Não estou sentindo melhora e ainda fiquei com azia, náusea. Não vou tomar esse remédio’ (diz o paciente). O benefício não é perceptível, mas acontece. Por isso, a importância do conhecimento.” Só assim para convencer a pessoa que não está sentindo nada de que, realmente, é importante fazer exercício, ter uma alimentação saudável, evitando complicações. “Para incentivar uma mudança no estilo de vida, a fim de se obter um benefício, é necessário entender como funciona.” Cardiologista ressalva: 'não existe receita de bolo pronta' Charles Stefani afirma que sorrir e olhar para o sol ou a lua podem ser bons remédios Stefani diz que os melhores remédios são boa alimentação, sono, descanso e convívio com familiares FREDY VIEIRA/JC “Não existe o melhor remédio para pressão arterial. Não existe uma receita de bolo para resolver as doenças cardiovasculares.” A afirmação é do cardiologista do Hospital Moinhos de Vento Charles Stefani, que explica melhor: "não há apenas um remédio para o problema, e a solução varia de acordo com cada paciente". Atualmente, cerca de 30% dos brasileiros sofrem com hipertensão, o que é muito influenciado pelo estilo de vida. Para evitar o mal, há várias medidas. “Alimentar-se adequadamente, fazer exercícios, ter um controle de peso e de sono. Tudo isso influencia. Mas talvez os melhores remédios do mundo sejam sorrir, olhar para o sol, observar a lua”, lista Stefani. Para o médico, é importante pensar em como incorporar esses hábitos no dia a dia. Sempre respeitando a individualidade. “Para cada indivíduo tem um remédio específico.” O cardiologista reitera que é fundamental viver bem consigo mesmo e com o meio, que inclui a família, os amigos etc. Na alimentação, a dica é a moderação. “Qual o sal devemos usar? O sal do Himalaia? O sal negro? O sal marinho? As pesquisas não mostram uma evidência de um melhor tipo”, previne o médico. Mas, de novo, o conselho é uma certa restrição ao uso do sal. O médico citou o comediante, ator e diretor de cinema Charles Chaplin, ao observar que os problemas do dia a dia vão embora. “O pior dia é aquele em que não sorrimos.” E defendeu que os melhores remédios são mesmo a alimentação adequada, sono de qualidade, descanso e conviver bem com a família e os amigos. “Temos que incorporar isso no dia dia. Parece mais fácil ter uma pílula mágica. Mas esses detalhes são muito importantes”, concluiu.

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