sexta-feira, 27 de outubro de 2017

"Cuidamos muito um do outro", diz adepto do poliamor que vive com duas mulheres

Por William Amorim | 26/10/2017
Tem vontade de viver fora da monogamia? Descubra o que é preciso para que uma relação assim dê certo com especialistas e praticantes do poliamor.
A maioria dos homens e mulheres vive em um regime de monogamia, no qual as pessoas se relacionam com apenas um cônjuge enquanto casadas. Muitos vivem bem assim, mas há quem não consegue se encaixar nesse modelo e tem receio de ser julgado por se adepto do poliamor.  Como em qualquer relacionamento, em uma vida com mais de duas pessoas é necessário cumplicidade para dar certo. Especialistas explicam sobre essa forma de amor e homem relata como é se relacionar com duas mulheres. 
Terapeutas garantem que poliamor é a forma de relacionamento ideal para o perfil da sociedade atual.

São muitas as pressões sociais que colocam a monogamia como o único modelo "certo" de relacionamento, mas as especialistas em sexualidade humana Denise Miranda de Figueiredo e Marina Simas de Lima, do Instituto do Casal, afirmam que há diversas formas de se relacionar e o poliamor é uma melhores delas levando em consideração o atual perfil da sociedade.
“Não podemos generalizar! Existem pessoas que ficariam mais satisfeitas e felizes se optassem por não viver na monogamia e outras que não conseguem nem ler sobre o assunto, pois consideram um tamanho desproposito. Tudo depende da pessoa e também da vivência estabelecida nessas relações”, afirma Denise.
Para as especialistas, as relações estão se transformando. As novas gerações amam de diferentes maneiras, por isso, a forma de amar está se reformulando. Elas acreditam que as pessoas estão livres para viver da forma como desejam e estão percebendo que o fundamental não é a quantidade de pessoas envolvidas, mas, sim, se existe respeito entre os envolvidos.
O que é o poliamor, afinal?
“O poliamor é uma opção ou modo de vida em que vários parceiros simultaneamente podem estar envolvidos de um modo responsável, em relações íntimas e profundas que podem ser eventuais ou duradouras”, fala Marina.  Resumindo, você pode amar a parceira fixa e outras pessoas que estabeleçam relações extra conjugais com você ou ter relações com vários outras mulheres (ou quem sabe homens) em que há sentimento de amor recíproco.
Será que funciona?
Os casais que optam por essa forma de se relacionar têm bastante transparência, honestidade e diálogos francos entre eles. “Vejo que é importante falar sobre os pontos com transparência e discutir os sentimentos e emoções caso apareçam e aflorem”, explica Marina.

Para especialistas, viver a três é a melhor forma de relacionamento.

Além das conversas francas, é indicado fazer um acordo detalhando o que será ou não permitido. “Os contratos devem ser feitos e refeitos de forma mais constante. Sempre precisa existir um combinado e um consenso e também um enorme cuidado para não magoar e enganar ninguém”, acrescenta.  
Traição x poliamor
Desejar se relacionar com mais de uma parceira é algo comum, e isso não justifica uma traição. “Geralmente, quando alguém trai está em busca de atenção, sexo e de preencher lacunas emocionais, pois isso, acaba formando vínculo com o amante”, fala Marina, que complementa dizendo que outros motivos que levam a traição são: tédio, solidão, vingança, sexo com mais intensidade ou repetição de um padrão de comportamento (aprendeu que isso é algo natural de se fazer).
“O principal é ter claro que nós somos incapazes de controlar as vontades e ações de nossos parceiros. Depois de vários relacionamentos em que a traição estava presente, alguns optam por viver o poliamor, tanto que esse modelo está se tornando o mais possível de dar certo na vida atual”, finaliza Denise.
Como é viver um relacionamento poliafetivo?
Há muitos anos, o mato-grossense Klinger de Souza deixou a monogamia para viver o poliamor. Em 2015, ele contou sua história ao Deles , mas de lá para cá muitas coisas mudaram. A primeira parceira dele, que sugeriu que outra mulher entrasse na relação, não quis mais viver dessa forma, porém ele e Angélica, a outra ponta do “trisal”, queriam manter essa forma de relacionamento.
Arquivo pessoal
Klinger e Angélia estão juntos há 5 anos e sempre optaram por viver o poliamor.


Klinger e Angélica seguiram juntos até encontrar outra mulher. Após um ano, essa terceira pessoa pediu para tornar o relacionamento aberto, como não aceitaram, houve outra separação. Atualmente, o casal segue em um poliamor fechado com outra mulher que conheceram há seis meses e os três acreditam que esse é o melhor relacionado poliafetivo que viveram até hoje.
“Angélica e eu estamos juntos há cinco anos, nesse tempo mudaram as pessoas do relacionamento, nos conhecemos mais como pessoas e amadurecemos muito sobre o que é nosso relacionamento”, afirma o mato-grossense.
Para dar certo, o “trisal” sempre presa pela verdade - um precisa ser sincero com o outro. “Não temos nenhum contrato, o único acordo é que devemos polifidelidade, ou seja, nos relacionamos só entre a gente. Qualquer relação fora é traição. Somos muito cúmplices”, conta Klinger. “Cuidamos muito um do outro. Desde carinho até obrigações financeiras e domésticas”, completa.
Sexo a três e também a dois
Ele afirma que não existe ciúmes entre os três e diz que a relação é muito estruturada, até mesmo na hora do sexo. As relações sexuais só acontecem entre os três, juntos ou separadamente.
“Nesse atual relacionamento, a relação sexual ente elas além de ser maior é muito mais natural. Assim como comigo. Coisa que não acontecia nos demais relacionamentos que tivemos”, aponta Klinger. “Inclusive achamos extremante importe ter relações sexuais separadas e não só os três, pois todos devem ter sua independência e individualidade respeitada”, acrescenta.
Aceitação e exposição
A família deles aceita bem a forma como o "trisal" se relaciona. “Respeitam e tratam todos nós muito bem. Até por que veem uma verdade e respeito muito grande em nosso relacionamento”, fala o rapaz. Porém, nem todos veem isso como algo natural. “Quando nos conhecem, algumas pessoas têm preconceito, outros não. Os ataques geralmente acontecem pelas redes socais”, relata.

O único acordo que possuem é que só podem se relacionar entre eles, pois poliamor não é relacionamento aberto.

Para compartilhar um pouco mais sobre como é viver de forma poliafetiva, eles fizeram uma página no Facebook. Entretanto, com a correria do dia-a-dia não estão conseguindo ter tempo para fazer as postagens e responder as mais de 20 mensagens diárias que recebem por inbox com dúvidas. Por conta disso, decidiram que vão encerrar a página no final deste ano e garantem que essa é a última entrevista que darão sobre o assunto.
“Achamos que já cumprimos com nosso papel de desmistificar essa forma de relacionamento e esperamos que outras pessoas a partir de agora assumam esse papel de ajudar e explicar o que é o poliamor. Precisamos dar foco em nossa vida pessoal e profissional”, expõe Klinger.
Filhos em breve 
O "trisal" também planeja ter filhos em breve. Tanto Angélica quanto a outra mulher da relação desejam ser mãe, por isso, pensam em ter duas crianças. Eles querem que esse momento seja especial e que todos estejam juntos na concepção. “Queremos e vamos registrar nossos dois filhos os três. Isso já é possível e iremos fazer dessa forma”, diz Klinger.
Por fim, ele indica que as pessoas só vivam esse tipo de relacionamento se realmente acreditam nessa forma de amor e não usem isso para tentar salvar um casamento ou colocar uma amante na relação. “Antes de se abrirem para o poliamor, devem estar cientes que existirá mais pessoas no relacionamento e todos devem ter o mesmo poder de decisão independe de dois terem mais tempo de relacionamento. Todos devem ser iguais”, conclui.

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