Todo mundo sabe da importância de se fazer terapia. Muita gente procura esse tipo de ajuda principalmente em momentos difíceis, “como em doenças somáticas e sofrimento psíquico relacionado a conflitos, frustrações ou perdas”, como explica Rosane Granzotto, do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Mas esse recurso é ótimo também para o autoconhecimento, que evita problemas futuros.
E quando você decide partir para a terapia, vem a dúvida: qual vertente do tratamento terapêutico escolher? São muitas as linhas, cada uma é trabalhada de um jeito e tem uma finalidade. Já a duração depende muito da necessidade do paciente, podendo variar de semanas a anos.
Para te ajudar nessa importante decisão, conversamos com especialistas que listam algumas das principais abordagens:
Psicanálise
Criada por Sigmund Freud (por isso também conhecida como freudiana), a psicanálise tem como proposta trazer à tona pensamentos, sentimentos e lembranças inconscientes. Seu objetivo é, por meio do autoconhecimento, resolver os problemas com raízes no passado.
Para ficar mais claro, a psicanalista Camila Morais cita como exemplo: “quando uma pessoa diz que está triste, mas não sabe o porquê; ou quando alguém refere que se sente angustiado ou tem uma crise de pânico e não consegue identificar o que pode ter sido desencadeante. O processo de análise entra justamente para ajudar aquela pessoa a trazer para a consciência o que é da ordem do inconsciente e, a partir disso, modificar o seu modo de lidar com determinadas situações que interferem em suas relações e em seu cotidiano”.
Um dos pontos mais importantes dessa forma de terapia é o fato do paciente ter total liberdade de fala, sem interrupções do terapeuta. A técnica do divã também é bastante utilizada, apesar de isso não ser regra para a psicanálise. Nela, o paciente permanece deitado durante a sessão e não mantém nenhum contato visual com o profissional, tendo mais liberdade para falar o que vier à cabeça e sem sofrer influências das reações do outro.
Quem deve fazer: a psicanálise é ideal para quem lida com situações crônicas ou busca se conhecer profundamente.
Lacaniana
Uma herdeira da psicanálise freudiana, a análise lacaniana tem como maior ferramenta a escuta. Nela, o terapeuta presta atenção em cada detalhe da linguagem do paciente, podendo fazer algumas poucas interrupções quando achar necessário. O maior diferencial desse tipo de terapia é o tempo das sessões: enquanto a psicanálise tem um horário fixo de duração, as sessões lacanianas são bastante flexíveis e podem ser até mesmo de dez minutos ou durar duas horas.
Quem deve fazer: o estilo pouco convencional se adapta melhor a pessoas que não necessitam de uma resposta urgente, podendo ser não ser muito adequada a quem sofre de distúrbios psicológicos de grau moderado a alto.
Junguiana
A terapia analítica, também conhecida como junguiana, por se basear nas ideias de Carl Gustav Jung (discípulo de Freud), faz a compreensão do inconsciente por meio de trabalhos com sonhos, simbologia, imaginação ativa e expressões artísticas.
Quem deve fazer: assim como acontece com a psicanálise, apesar desta ser bem mais aprofundada, a pessoa que procura esse tipo de terapia está em busca do autoconhecimento.
Gestalt
Com o foco no presente, a gestalt-terapia tem como base a criação de uma boa relação entre o terapeuta e o paciente. Durante a sessão, o terapeuta gestaltiano ficará atento à postura, voz e expressões faciais do paciente, que será “analisado em relação ao meio que vive, a sua socialização e quais são as atitudes relacionado a isso”, explica a psicóloga Eliane Oliveira. Seu objetivo é, através da valorização do momento presente, entender quais são os meios para mudar o que incomoda.
Quem deve fazer: pessoas que não estão satisfeitas com sua situação atual, seja porque se sentem estagnadas ou não conseguem resolver os dilemas de seu dia a dia.
Reichiana
Já essa é uma terapia corporal. Conforme aponta Eliane, especializada na vertente, a terapia reichiana busca obter a consciência do corpo e a percepção das sensações, principalmente por meio do trabalho com energias. “A pessoa traz para o espaço terapêutico as suas emoções, boas e ruins, que muitas vezes que são reprimidas.
O objetivo disso é mobilizar a energias corporais, desencadear o desbloqueio muscular e liberação de conteúdo emocional, proporcionando o alivio da angustia”, diz.
Entre as técnicas mais comuns da terapia reichiana estão o uso de relaxamento, bloqueio energético, respiração e massagens estimulantes dos campos energéticos do corpo.
Quem deve fazer: pessoas que sofrem de irritabilidade, depressão, baixa autoestima ou que vivem se sentindo doentes e cansadas podem se beneficiar bastante desse tratamento terapêutico, uma vez que ele promove, além do autoconhecimento, melhora na qualidade de vida e transformações positivas no paciente.
Sistêmica
O foco da análise sistêmica está na dinâmica e conflitos dos relacionamentos do paciente. O indivíduo é tratado como parte de sistemas de relações e os problemas são vistos por meio dessa perspectiva.
Quem deve fazer: a terapia sistêmica e comumente associada à terapia familiar ou de casal, mas também existem os atendimentos individuais, para pessoas que sentem dificuldades em se relacionar com outros ou até com si mesmo.
Psicodrama
A terapia psicodrama é normalmente executada em grupo. Ela tem como base a exposição dos problemas de maneira teatral, como uma encenação, seguida da análise do ocorrido pelo profissional e outros participantes.
Quem deve fazer: o psicodrama é ideal para aqueles que têm dificuldade de expressar seus sentimentos ou que sofrem de timidez, pois ajuda a explorar a criatividade, a espontaneidade e liberação de emoções.
EMDR
A técnica consiste na estimulação das regiões cerebrais onde estão armazenadas as lembranças dolorosas. O nome EMDR é uma sigla vinda do inglês e pode ser traduzido como Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares.
Durante a sessão, quando o paciente relembra de algum evento traumático, o terapeuta ensina determinados movimentos dos olhos para provocar o reprocessamento da memória, que passa a ser menos dolorosa.
Quem deve fazer: os pacientes que melhor se adaptam à terapia EMDR sofrem de transtorno de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, fobias, síndrome do pânico ou dependência química.
Analítico-comportamental
Também conhecida como behaviorismo, a abordagem já é definida pelo seu próprio nome. Tomando como base que o ambiente em que vivemos é o grande responsável pelo modo como nos comportamos, o terapeuta irá auxiliar o paciente a perceber quais aspectos de seu comportamento são prejudiciais e como alterá-los.
Quem deve fazer: a terapia analítico-comportamental é mais indicada para quem sofre de depressão, transtornos de ansiedade, fobia social e transtornos de humor.
Cognitivo-comportamental
Assim como no caso da behaviorista, a terapia cognitivo-comportamental busca alcançar mudanças no comportamento do paciente. Mas o método é diferente: em vez de modificar diretamente as ações, o foco está na alteração de pensamentos.
“É um treino de substituir o pensamento disfuncional, como aqueles de autocrítica, para um pensamento funcional. É treinar para não repetir mais, por exemplo: ‘Eu não faço nada direito’ e, em vez disso, falar: ‘Dessa vez eu não fiz direito, mas na outra vez eu acertei'”, explica a terapeuta Eliane Oliveira.
Quem deve fazer: esse tipo de terapia é recomendado para o tratamento defobias, transtorno compulsivo possessivo, depressão, ansiedade e fobias.
Aliada do tratamento psiquiátrico
Nem todo mundo que faz terapia precisa de remédios receitados por psiquiatra, algo que acontece apenas em casos mais graves dos distúrbios psicológicos. Mas todos que estão em tratamento psiquiátrico devem buscar a psicoterapia.
“A terapia é um importante instrumento para que o indivíduo compreenda de onde vêm suas angústias e descubra novas formas para lidar com aquilo que lhe faz sofrer. A medicação age sobre os sintomas, mas não modifica a psicodinâmica de uma pessoa – o modo como ela age e lida com aquilo que faz sofrer”, conta a psicóloga Camila Morais.
Vamos escolher?
Em primeiro lugar, você deve lembrar que todas as formas de terapia são efetivas. Apesar de existirem aquelas que têm mais afinidade com o tratamento de determinados transtornos, o que vai definir se a abordagem terapêutica é boa ou não para o seu caso é o que você sente.
“Todo trabalho psicoterápico é complexo e exige grande participação da pessoa que está sendo tratada. O que mais conta aqui é o vínculo que se estabelece entre a pessoa que busca atendimento e o terapeuta. O método, seja qual for, vai ter sua efetividade e seus limites também. O paciente deve se questionar se seu tratamento está trazendo novos questionamentos e caminhos de transformação”, orienta Rosane Granzotto psicóloga membro do CFP.
Não tenha medo de experimentar! Se você não gostar do terapeuta ou do método, troque e tente outro até chegar ao que te traga o que você procura.
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