A poupança na China pode ultrapassar os 50% do PIB do país em 2017, um valor muito alto que chega a ser 26% maior que a média de poupança global. Esse fato se repete em outros países asiáticos como Japão por exemplo, porém o nível mostrado para a poupança chinesa impressiona. Ao ver esse dado uma pergunta me veio à mente: O que será que vem levando os chineses a terem um comportamento de poupança tão acentuado? Será que eles teriam uma propensão maior ao autocontrole? Antes de discutir o perfil de consumo dos chineses, compartilho o gráfico referente à evolução da poupança na china. Nele mostra como comparação o Japão que historicamente tem comportamento de poupança bem estabelecido e o Brasil.
Pelo visto, o período que vai de 1960 aos anos 2000 consolidou um perfil de consumo com base nos anos turbulentos do ambiente político, social e econômico chinês. Como é possível ver no gráfico, a partir dos anos 2000 os níveis de poupança apresentam um crescimento intenso. Este crescimento na poupança se deve ao perfil das de consumo dos chineses que nasceram e cresceram na transição do modelo político-econômico. Melhorando a renda nos anos 2000, estes consumidores apresentam comportamento muito conservador, fruto de anos de restrições orçamentárias, tendendo a apresentar forte presença de alguns vieses cognitivos como:
 Prova Social: Tendência dos indivíduos em apresentarem comportamentos com base na influência exercida por pelos outros. No caso chinês esse comportamento vem do fato de que a maior parte da sociedade chinesa ainda é oriunda de tempos pré e imediatamente pós Revolução Cultural. Isso certamente deixa muito evidentes comportamentos mais conservadores onde a austeridade é muito presente.
Viés do status quo: evidenciado quando pessoas preferem que as coisas permaneçam como estão, não adotando comportamentos diferentes mesmo quando o ambiente ou sua situação pessoal se altera. Novamente vemos que para o caso da China ainda é muito forte a presença do comportamento de compra austero que se concentra basicamente em necessidades básicas. Esse comportamento é determinado pelo grande número de pessoas acima dos 30 anos que representa quase 60 % da população chinesa. Vale ainda considerar o expressivo montante de migrantes do campo, que na cidade ganham baixos salários e seguem comportamentos de austeridade elevada.
 Outro ponto interessante, que pode explicar o nível elevado de poupança, é que na China já existem mais de 1 milhão de pessoas com patrimônio acima de US$1,5 milhão de dólares. Essa parte da população certamente apresenta perfil de consumo mais sofisticado e contribui para aumento da poupança por terem renda excedente ao seu perfil de consumo. Abaixo para finalizar segue gráfico onde é possível ver a China, comparada aos demais países do mundo. Nele temos o eixo y mostrando o percentual de consumo e o eixo x o percentual de poupança, ambos percentuais comparados em relação ao PIB.
Para quem quiser um bônus, selecionei a pirâmide etária chinesa em dois momentos diferentes nos anos 2000, ano em que os níveis de poupança iniciaram o aumento mais vigoroso na série histórica e também o ano de 2017 que mostra a alteração na pirâmide. Essa alteração pode apresentar a grande mudança no perfil de consumo na China. As novas gerações de chineses estão: mais ocidentalizadas, já demonstrando comportamento de consumo sofisticado, realizando mais compras pela internet, sendo mais exigentes quanto à qualidade daquilo que consomem e usando produtos e perfil de consumo como reforçadores de sua identidade pessoal. Vamos então aos gráficos de pirâmides etárias.
Anderson Mattozinhos é escritor e bookaholic