quinta-feira, 8 de agosto de 2019

A ricos e aliados, tudo

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COLUNISTA
Eliane Cantanhêde

Bolsonaro e os ‘direitos’ dos ricos e poderosos contra os ‘deveres’ de 

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Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
06 de agosto de 2019 | 03h00
O presidente Jair Bolsonaro confirma, dia sim, outro também, sua 
visão peculiar e sectária do que sejam direitos. Diz a Constituição 
que “todos são iguais perante a lei”. Dizem as democracias que os 
direitos e deveres são iguais para todos. Para Bolsonaro, não. No 
seu governo, como na sua fala, uns têm mais direitos do que 
outros: os ricos, donos do capital.
Num país campeão de desigualdade social, com milhões de pessoas 
sem direito a emprego, educação, saúde, moradia, transporte, 
igualdades de condições e respeito, o presidente jamais usa a 
palavra “social” e está preocupado é com os direitos dos 
empresários, que chama de “heróis”: “É horrível ser patrão 
no Brasil”, prega. Bem pior, presidente, é ser pobre.
JAIR BOLSONARO
Presidente Jair Bolsonaro Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
Assim, Bolsonaro defende trabalho infantil, produz frases dúbias 
sobre trabalho escravo e estuda devolver terras desapropriadas. E 
corta, ops!, contingencia verbas do Ministério do Desenvolvimento 
Social e da Educação.
Entre a proteção da Amazônia e a ganância de madeireiros ilegais, 
adivinhem quem ele defende? Em desacordo com a lei, impediu a 
destruição de caminhões que derrubavam árvores, criminosamente, 
na floresta.
Entre o direito ancestral dos índios e o desejo de “tarados” 
americanos de explorar minérios em terras indígenas, adivinhem 
o que ele prefere? E a ideia de liberar Angra dos Reis para 
empresários criarem “uma Cancún”?
Entre o Coaf, que identifica movimentações financeiras atípicas, e 
o interesse do filho Flávio Bolsonaro, cujo gabinete no Rio foi um 
dos flagrados, adivinhem o que ele faz? O chefe do Coaf cai, o filho 
Flávio fica feliz da vida. Aliás, cadê o Queiroz?
Sempre crítico à política, Bolsonaro se deu o direito de estar nela 
há 29 anos e garantir mandatos não só para Flávio, mas também 
para o “02”, Carlos, e o “03”, Eduardo. Por que será? Essa pergunta, 
que nunca quis calar, pode estar sendo respondida pelo jornal 
O Globo, que identificou 286 assessores do clã nessas três décadas, 
102 da família Bolsonaro ou de famílias amigas. Alguns receberam 
a média de R$ 7,3 mil, ou R$ 10,7 mil, durante 14, 15 anos, sem 
dar as caras no trabalho. Uma era oficialmente “do lar”, outra 
declarou-se “babá” na Justiça e vai por aí afora. Será que os 
salários não eram para elas? E qual o direito dos Bolsonaro de 
fazer isso?
Há também os cartões corporativos: a sociedade tem o direito de 
saber como são gastas as verbas oficiais, mas Bolsonaro mantém 
o “direito” de gastar sem dizer onde, para quê, com quem. E não 
é pouco dinheiro, não.
Quem, por ofício, checa diariamente a agenda do presidente sabe 
os que têm acesso a Bolsonaro e para quem ele está efetivamente 
governando. Ele vai a toda e qualquer solenidade militar, frequenta 
cultos e despacha com pastores evangélicos, leva ministros a 
estádios de futebol e abre as portas do gabinete a multinacionais, 
grandes empresários, ruralistas, políticos aliados, a “bancada 
da bala”. Aos aliados e ao capital, enfim.
Onde ficam as outras religiões, os ambientalistas, as comunidades 
LGBT, os professores, os defensores de direitos humanos, os 
cientistas, os cineastas, os escritores, os artistas, os intelectuais, 
os índios, os quilombolas, os especialistas em trânsito e em 
desarmamento? E os representantes de trabalhadores?
No mundo de Bolsonaro, o capital tem todos os direitos, o 
trabalho e as minorias só têm deveres. A uns, a defesa. Aos 
outros, a cobrança. Mais ou menos como no caso dos Estados: 
aos governadores aliados, tudo; aos nordestinos, as migalhas.
Entra aí o “direito” do jovem deputado Eduardo de ser embaixador 
na mais importante embaixada do planeta, a dos EUA. “Indicado 
tem de ser filho de alguém. Por que não meu?”, indagou papai 
Bolsonaro. O que responder, minha gente?!

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