POR Kim Severson
Setembro 21, 2017
BERKELEY, Califórnia – Alice Waters
experimentou LSD uma única vez, e passou a maior parte da noite
flutuando, chegando quase no teto, ignorando as moléculas se movendo no
piso de madeira.
A droga foi trazida por um visitante francês que a adquiriu de Owsley Stanley, de Grateful Dead, que produzia LSD em grande quantidade, antes de se tornar um comércio ilegal.
“Seu produto era o que Ken Kesey, os Neatles e Timothy Leary usavam”, escreve Alice Waters em seu livro de memórias “Coming to My Senses: The Making of a Counterculture Cook”. (Caindo na realidade - O processo de criação de uma chefe de cozinha da contracultura)
Naturalmente tinha de ser o melhor. Afinal, trata-se de Alice Waters, para quem a origem de tudo que se coloca na boca é da máxima importância.
O livro, seu primeiro relato bastante pessoal dos primórdios da sua vida, tem início em um bairro de classe média baixa em Nova Jersey, ao lado da mãe que inseriu nela o hábito de ingerir vitaminas diariamente, e o pai conservador e muito esforçado. Ambos ajudaram Alice a financiar e organizar o Chez Panisse, restaurante em Berkely inaugurado em 1971, que lançou o movimento chamado “da fazenda para a mesa”.
Alice relutou em escrever o livro. Este é o último dos três que ela se comprometeu a produzir por contrato há mais de dez anos. Salpicado de fotos, o livro traça os anos em que ela viveu com mochila nas costas na Europa, apaixonada pela França, e depois como a jovem radical cozinhando para a inteligência antiguerra na Bay Area em San Francisco. E termina quando a empolgada chefe, defensora radical da cozinha orgânica, abriu seu pequeno restaurante francês com refeições a preço fixo.
“Estava tranquila quanto ao conteúdo porque foi o que vivenciei”, diz Alice Waters, 73 anos, que ainda perambula pela cozinha do Chez Panisse, provando lascas de presunto cru. “Não conseguiria não ser honesta”, diz ela.
Pelos padrões dos chefes famosos, Alice não é rica. Os bens mais valiosos que acrescentou ao seu bangalô estilo Craftsman, de 1908, onde vive há 34 anos, são uma lareira na cozinha e prateleiras de livros com coleções notáveis sobre comida, natureza, arte e cinema.
“Nunca pensei em ganhar dinheiro. Jamais foi meu objetivo”.
Alice não coloca o pé num mercado convencional há 25 anos. Continua devotada à ideia de que todo alimento tem de ser orgânico, bonito e desfrutado comunitariamente. Esse enfoque, que antes parecia estridente e economicamente espantoso, penetrou na cultura alimentar cotidiana.
“Ela é uma gigante entre os chefes míticos deste país”, disse Diego Galicia, proprietário do Mixtle, restaurante progressivo mexicano de San Antonio, Texas. “Todos os caminhos levam a Alice Waters. Você puxa o fio e tudo se desenrola”.
Alice é a razão pela qual os restaurantes começaram a nomear as fazendas de cultivo nos cardápios e a servir saladas de folhas verdes misturadas, ou queijo de cabra de produção americana.
Mas ela continua firme em suas convicções que, no decorrer dos anos, se mostraram convincentes. Jamais expandiu o Chez Panisse para outras cidades, nem procurou se tornar uma celebridade para promover seu trabalho. Por outro lado, tenta persuadir todo político que encontra.
Em 1995 escreveu uma carta ao presidente Bill Clinton e ao vice-presidente Al Gore propondo uma horta orgânica na Casa Branca e um currículo escolar nacional baseado na agricultura sustentável. A equipe encarregada na Casa Branca criou uma pequena horta e passou a comprar mais produtos locais e orgânicos para a cozinha.
Michelle Obama fez do aprimoramento da refeição escolar e da nutrição infantil o emblema da sua passagem por Washington, influenciada pelo Edible Schoolyard na Martin Luther King Jr. Middle School em Berkeley. O projeto se propagou chegando a mais de 5,5 mil programas de hortas escolares desde que Alice Waters e o diretor da escola o lançaram em 1995.
Alice continua excepcionalmente focada na questão de se oferecer uma alimentação orgânica nas escolas. “Alimentar as crianças é uma questão ética”, disse. Segundo ela, as pessoas têm de parar de esperar que o governo federal faça as coisas acontecerem: a política pública está muito comprometida com os interesses dos grandes conglomerados do setor alimentício.
“Qualquer coisa que fizermos tem de ser feito fora do governo e da pirâmide. Temos de atravessar as portas que estão abertas, não as fechadas”.
Com este objetivo, ela vem analisando novas maneiras de arrecadar dinheiro por meio de impostos ou junto a investidores como Jeff Bezos. “Estamos escrevendo uma carta para ele”, disse ela.
Alice vê paralelos entre a situação da política atual e as batalhas ocorridas há 50 anos, mas sua estratégia não é o combate direto.
“Não é o momento. Passamos informações uns para os outros. Mas logo haverá alguma coisa, um evento e então nos reuniremos todos e aparecemos. Ninguém sabe como somos poderosos. Estamos vigilantes”.
A droga foi trazida por um visitante francês que a adquiriu de Owsley Stanley, de Grateful Dead, que produzia LSD em grande quantidade, antes de se tornar um comércio ilegal.
“Seu produto era o que Ken Kesey, os Neatles e Timothy Leary usavam”, escreve Alice Waters em seu livro de memórias “Coming to My Senses: The Making of a Counterculture Cook”. (Caindo na realidade - O processo de criação de uma chefe de cozinha da contracultura)
Naturalmente tinha de ser o melhor. Afinal, trata-se de Alice Waters, para quem a origem de tudo que se coloca na boca é da máxima importância.
O livro, seu primeiro relato bastante pessoal dos primórdios da sua vida, tem início em um bairro de classe média baixa em Nova Jersey, ao lado da mãe que inseriu nela o hábito de ingerir vitaminas diariamente, e o pai conservador e muito esforçado. Ambos ajudaram Alice a financiar e organizar o Chez Panisse, restaurante em Berkely inaugurado em 1971, que lançou o movimento chamado “da fazenda para a mesa”.
Alice relutou em escrever o livro. Este é o último dos três que ela se comprometeu a produzir por contrato há mais de dez anos. Salpicado de fotos, o livro traça os anos em que ela viveu com mochila nas costas na Europa, apaixonada pela França, e depois como a jovem radical cozinhando para a inteligência antiguerra na Bay Area em San Francisco. E termina quando a empolgada chefe, defensora radical da cozinha orgânica, abriu seu pequeno restaurante francês com refeições a preço fixo.
“Estava tranquila quanto ao conteúdo porque foi o que vivenciei”, diz Alice Waters, 73 anos, que ainda perambula pela cozinha do Chez Panisse, provando lascas de presunto cru. “Não conseguiria não ser honesta”, diz ela.
Pelos padrões dos chefes famosos, Alice não é rica. Os bens mais valiosos que acrescentou ao seu bangalô estilo Craftsman, de 1908, onde vive há 34 anos, são uma lareira na cozinha e prateleiras de livros com coleções notáveis sobre comida, natureza, arte e cinema.
“Nunca pensei em ganhar dinheiro. Jamais foi meu objetivo”.
Alice não coloca o pé num mercado convencional há 25 anos. Continua devotada à ideia de que todo alimento tem de ser orgânico, bonito e desfrutado comunitariamente. Esse enfoque, que antes parecia estridente e economicamente espantoso, penetrou na cultura alimentar cotidiana.
“Ela é uma gigante entre os chefes míticos deste país”, disse Diego Galicia, proprietário do Mixtle, restaurante progressivo mexicano de San Antonio, Texas. “Todos os caminhos levam a Alice Waters. Você puxa o fio e tudo se desenrola”.
Alice é a razão pela qual os restaurantes começaram a nomear as fazendas de cultivo nos cardápios e a servir saladas de folhas verdes misturadas, ou queijo de cabra de produção americana.
Mas ela continua firme em suas convicções que, no decorrer dos anos, se mostraram convincentes. Jamais expandiu o Chez Panisse para outras cidades, nem procurou se tornar uma celebridade para promover seu trabalho. Por outro lado, tenta persuadir todo político que encontra.
Em 1995 escreveu uma carta ao presidente Bill Clinton e ao vice-presidente Al Gore propondo uma horta orgânica na Casa Branca e um currículo escolar nacional baseado na agricultura sustentável. A equipe encarregada na Casa Branca criou uma pequena horta e passou a comprar mais produtos locais e orgânicos para a cozinha.
Michelle Obama fez do aprimoramento da refeição escolar e da nutrição infantil o emblema da sua passagem por Washington, influenciada pelo Edible Schoolyard na Martin Luther King Jr. Middle School em Berkeley. O projeto se propagou chegando a mais de 5,5 mil programas de hortas escolares desde que Alice Waters e o diretor da escola o lançaram em 1995.
Alice continua excepcionalmente focada na questão de se oferecer uma alimentação orgânica nas escolas. “Alimentar as crianças é uma questão ética”, disse. Segundo ela, as pessoas têm de parar de esperar que o governo federal faça as coisas acontecerem: a política pública está muito comprometida com os interesses dos grandes conglomerados do setor alimentício.
“Qualquer coisa que fizermos tem de ser feito fora do governo e da pirâmide. Temos de atravessar as portas que estão abertas, não as fechadas”.
Com este objetivo, ela vem analisando novas maneiras de arrecadar dinheiro por meio de impostos ou junto a investidores como Jeff Bezos. “Estamos escrevendo uma carta para ele”, disse ela.
Alice vê paralelos entre a situação da política atual e as batalhas ocorridas há 50 anos, mas sua estratégia não é o combate direto.
“Não é o momento. Passamos informações uns para os outros. Mas logo haverá alguma coisa, um evento e então nos reuniremos todos e aparecemos. Ninguém sabe como somos poderosos. Estamos vigilantes”.
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