Estudo organizado pela OMS aponta que maior proporção
de procedimentos seguros de interrupção de gravidez ocorre em países com
leis menos restritivas. Quase 50 mil mulheres morrem a cada ano devido a
abortos fracassados.
Cerca de metade dos 55,7 milhões de abortos realizados por ano no
mundo são inseguros e colocam a vida das mulheres em risco, aponta um
novo estudo organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Publicado nesta quarta-feira (27/09), o documento defende maior acesso a
contraceptivos e aborto seguro.Liderada pela OMS e pelo Instituto Guttmacher de Nova York, a pesquisa constatou que 25,5 milhões de abortos anuais foram executados fora do sistema de saúde formal ou usando meios tradicionais invasivos.
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A maioria dos casos – 97% – ocorre na África, Ásia e América Latina, afetando 24 milhões de mulheres, segundo o estudo, publicado na revista médica The Lancet. Em muitos países africanos, menos de 15% dos procedimentos para encerrar uma gravidez foram executados sob padrões médicos mínimos.
O estudo foi baseado em dados que abrangem o período de 2010 a 2014. As descobertas evidenciam uma forte conexão entre leis de aborto e segurança.
"As maiores proporções de abortos seguros foram observadas em países com leis menos restritivas, com alto desenvolvimento econômico e infraestruturas bem desenvolvidas", afirmou Bela Ganatra, pesquisadora da OMS e principal autora do estudo.
"Aumentar a disponibilidade, viabilidade e acessibilidade a contraceptivos pode reduzir a incidência de gestações indesejadas e, consequentemente, de abortos", afirmou Ganatra. "Mas é essencial combinar essa estratégia com intervenções para garantir o acesso a abortos seguros."
O estudo concluiu que quase nove em cada dez abortos em países desenvolvidos foram realizados de foram segura, o que significa que eles foram conduzidos por um especialista treinado e usando um método recomendado pela OMS. Na América do Norte, 99% dos abortos foram classificados como seguros, seguida por norte da Europa (98%), Europa ocidental (94%) e sul da Europa (91%).
Nos 57 países onde o aborto está disponível mediante solicitação, quase 90% dos procedimentos foram seguros. Já nos 62 países onde as intervenções de interrupção de gravidez são banidas ou somente permitidas se a vida ou a saúde da mulher estiverem em risco, apenas 25% dos abortos foram seguros.
Os abortos considerados "pouco seguros" – que representam 30,7% do total mundo afora – incluem aqueles induzidos com o medicamento misoprostol, sem o suporte de profissionais de saúde, ou aqueles realizados por meio de métodos desatualizados, como raspar o revestimento do útero com um utensílio cirúrgico. Mais de oito milhões de abortos (14,4%) caíram na categorização de "os menos seguros" – feitos por pessoas sem especialização usando métodos perigosos e invasivos.
De acordo com a OMS, cerca de 47 mil mulheres morrem devido a abortos fracassados a cada ano, representando quase 13% das mortes maternas em todo o mundo.
PV/rtr/afp