O Acordo de Paris foi um dos
grandes assuntos da cimeira do G7, em que se reuniram os chefes de
Estado de Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido e, claro,
dos Estados Unidos. No coro de vozes que se juntaram, a desafinação em
matéria ambiental foi de Donald Trump, que teimou em não assumir o
compromisso norte-americano com o Acordo de Paris. "Os Estados Unidos
estão atualmente a reavaliar a política climática" foi a frase lacónica
que resumiu o assunto no final da cimeira. A notícia da retirada dos
Estados Unidos deste acordo não tardou a chegar.
O
Acordo de Paris é uma proposta insuficiente para a redução dos gases
com efeito de estufa. A própria ONU dizia que este acordo é demasiado
pouco e chega demasiado tarde. A proposta é a de limitar o aquecimento
global a um aumento de 2° C acima dos níveis pré-industriais. Se esta
meta for alcançada, não evitará a subida do nível do mar e o aumento de
situações de seca, com particular impacto nos Estados insulares e países
mais pobres. Contudo, mesmo este objetivo tímido obriga a uma alteração
relevante e a cortes mais drásticos nas emissões globais com origem no
carvão, petróleo e gás. Se o Acordo de Paris não for cumprido, os
cientistas dizem que a subida da temperatura média global será de 4º C, o
que terá resultados devastadores. Se o acordo é mau, não haver
cumprimento do acordo é um desastre.
O
caminho de Trump não tinha deixado grandes dúvidas sobre as suas
intenções. Começou por negar a existência de alterações climáticas
dizendo que é "mentira global muito cara" e acusou os cientistas que se
dedicam ao tema de serem "impostores". O alinhamento com vários dos
falcões da indústria petrolífera é clara e entre os seus primeiros
decretos executivos estão a garantia e a continuação de dois oleodutos
(Keystone e Dakota), isentando-os de avaliação de impacto ambiental e
reduzindo os requisitos legais. O resultado está à vista: já há fugas
reportadas e comunidades afetadas por estes derrames.
A
escolha de Scott Pruitt para a Agência de Proteção Ambiental (EPA),
profundamente alinhado com os interesses da indústria petrolífera, foi
mais um marco da (in)sensibilidade ambiental de Trump: O novo chefe da
EPA é o autor da frase: "Não concordo que [o dióxido de carbono] seja o
responsável pelo aquecimento global." Esta terraplanagem dos factos
científicos, que descredibilizou os próprios técnicos da agência
ambiental que lidera, é a marca da sua visão ambiental. Não estranha
portanto que uma das suas primeiras medidas tenha sido o corte em mais
de 30% no orçamento da EPA, eliminando programas de eficiência
energética e de produção limpa de energia.
O
passo seguinte de Trump foi dar a ordem para rever os limites dos
parques naturais federais e o enquadramento legal para permitir a
prospeção de petróleo, eliminando igualmente uma moratória para a
extração de carvão em terras federais. E, last but not the least, é
claro que o sonho antigo das petrolíferas para explorarem as reservas no
Alasca também está a ser atendido e o processo está em curso. Os
milhões que as petrolíferas investiram na campanha de Trump estão
rapidamente a ser pagos com juros elevados.
A
ideia de Trump resume-se facilmente: as preocupações ambientais são um
empecilho ao seu modelo económico. Porquê? Porque a América great again é
uma declaração de guerra ao planeta, sem preocupações ambientais (ou
laborais, já agora), que pretende a pilhagem rápida dos recursos
naturais e nega as alterações climáticas. O quero, posso e mando é o
lema. Conclusão: o projeto de Trump é uma ameaça ao nosso presente e ao
nosso futuro.
Os Estados
Unidos são a maior economia do mundo e o segundo país com mais emissões
de gases com efeitos de estufa. Só a China lhes passa à frente na
emissão destes gases nocivos. A saída dos Estados Unidos do Acordo de
Paris não é só uma questão de egoísmo nacional ou saudosismo
produtivista, é um ataque a todos nós.
As
alterações climáticas já estão a afetar a maior parte da vida na Terra,
tendo já impacto em 82% de todos os ecossistemas. O tempo está a
esgotar-se para impedir uma situação irreversível e garantir a salvação
da biodiversidade e dos ecossistemas. Exige-se uma ação mundial
concertada para fazer frente ao desrespeito ambiental da liderança
norte-americana. Não vamos deixar Donald Trump mandar no planeta!
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