Índice de Progresso Social, divulgado pinta uma imagem cinza: houve piora de direitos individuais, e minorias estão enfrentando "extrema volatilidade", ao mesmo tempo que cresce acesso à internet e ensino superior.
25 jun 2017
Com tantas más notícias nas manchetes nos últimos anos, cresceu a
percepção de que o mundo está se tornando um lugar mais intolerante e
hostil.
Essa percepção é reforçada pela edição de 2017 do Índice de Progresso
Social (SPI), um estudo publicado nesta semana pela ONG americana Social
Progress Imperative e que observa tendências globais em uma amostra que
cobre quase 98% da população mundial.
Sua conclusão é dura - embora tenham ocorrido melhoras individuais,
muitos países experimentaram uma piora dos direitos individuais de seus
cidadãos.
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O SPI é compilado por acadêmicos da Harvard Business School e do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), duas das mais
importantes instituições acadêmicas do mundo, e usa critérios como
liberdade de expressão e reunião, além de direito à propriedade privada e
direitos políticos para definir direitos individuais.
Altos e baixos
Nos últimos três anos, o índice registrou piora em direitos pessoais em
46 países. O declínio foi "rápido e amplo" em 14 deles, incluindo
Tailândia, Turquia, Tajiquistão, Hungria, Lesoto e Burundi.
O relatório analisa 12 indicadores que se dividem por três grandes
áreas: necessidades humanas básicas, fundamentos do bem-estar e
oportunidades. O Brasil aparece em 73º lugar no ranking geral de 128
países.
O pior indicador brasileiro é em segurança pessoal, na área de
necessidades básicas, no qual o país está na 121ª posição. Enquanto
isso, a melhor colocação brasileira é no item tolerância e inclusão, em
22º lugar - uma medição que pode surpreender alguns.
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Outras nações que apresentaram rápida piora são Líbia, Iêmen, Rússia,
El Salvador, Azerbaijão, Nicarágua e Angola. Apenas 18 países na lista
do ano mostraram sinais de melhora nesta área, e no topo estão Tunísia,
Madagascar, Sri Lanka, Guiné-Bissau e Cuba.
No caso tolerância e inclusão, o relatório também conclui que o
panorama geral está piorando, especialmente em vários países europeus.
Nos últimos dois anos, Dinamarca, Espanha, França, Croácia, Grécia,
Lituânia, Macedônia e Rússia começaram a mostrar sinais de tendência
para baixo.
Em várias partes do mundo, diz o relatório, as pessoas estão
experimentando uma "volatilidade extrema" com intolerância contra
imigrantes, homossexuais e grupos religiosos.
Quarenta e quatro países pioraram em termos de tolerância contra
minorias - entre eles Letônia, Eslováquia, Moçambique, República
Centro-Africana, El Salvador, Hungria, Camarões, Ucrânia e Estados
Unidos.
"Alguns desses resultados são preocupantes", diz Michael Green, diretor
da Social Progress Imperative. "Eles mostram que estamos andando para
trás. E isso está ocorrendo em países inesperados também".
Ele cita os Estados Unidos como um exemplo marcante, onde o progresso parece ter estacionado.
"Os dados mostram claramente que nos últimos três anos o país tem tido
resultados abaixo do esperado em termos de avanço social em geral, em
especial uma redução em tolerância e inclusão", disse Green à BBC.
"Os cidadãos devem sentir que o país não tem suprido o necessário, embora não esteja indo mal em termos de PIB."
Nem tudo é ruim
Mas o SPI também ressalta algumas tendências animadoras. Para começar, o
fato de que, apesar de vários obstáculos e quedas, o mundo como um todo
está progredindo.
O número de usuários de internet aumentou para 43% na população mundial
como um todo. O acesso ao celular também se expandiu "expressivamente",
e agora 95% da população vive em uma área com rede de telefonia móvel.
E há outro indicador-chave que ajuda a aumentar os índices - o acesso à
educação superior. O número de universidades aumentou bastante: 89
países têm pelo menos uma unidade, contra 75 em 2014.
Pontuação global
Afinal, como o mundo de maneira geral está no SPI?
A pontuação do progresso mundial subiu de 63,19 pontos (de uma escala até 100) em 2014 para 64,85, em 2017.
"Esta pontuação é a melhor desde que começamos a acompanhar o acesso ao
conhecimento básico, cuidados médicos e de nutrição", diz Green. "Mas
há recursos para fazer muito melhor."
Se o mundo fosse um país, então a pontuação geral o colocaria abaixo da
média no ranking de 2017 - na 80ª posição entre os 128 países medidos,
entre a Indonésia e Botswana.
O que esse número diz é que, enquanto existem fatos positivos e algum
progresso acontecendo, os negativos estão afetando o progresso geral.
Como o índice é feito?
O SPI é um índice agregado que observa as condições de um país através
de resultados sociais e do meio ambiente, em vez de por meio de
indicadores mais tradicionais, como PIB e renda per capita.
O índice foi criado pelos pesquisadores Michael Porter, da Harvard
Business School, e Scott Stern, do MIT, e segue os princípios
desenvolvidos pelo economista Joseph Stiglitz, ganhador do prêmio Nobel,
sobre como o bem-estar em uma sociedade pode ser mais bem compreendido.
Ele agrupa indicadores de três áreas: necessidades básicas (nutrição,
água e moradia), bem-estar (acesso a conhecimento básico,
telecomunicações, condições de meio ambiente) e oportunidades (direitos
políticos, liberdades, tolerâncias e discriminação, educação superior).
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Com dados de uma série de fontes, ele avalia 128 países em 50 indicadores e 61 países adicionais com resultados parciais.
A principal crítica que a metodologia levanta é que todos os
indicadores têm o mesmo peso: ter acesso a saneamento, por exemplo, é
tão importante quanto ter o direito à propriedade.
Mas alguns especialistas argumentam que "medir igualmente todas as
coisas que importam para uma boa vida é a decisão menos controversa"
para refletir tendências atuais na pesquisa sociológica.
Mais rico (nem sempre) é melhor
Se a pontuação no índice do SPI é relacionada com o PIB do país, ela
revela que ser rico nem sempre é melhor quando se trata de alcançar o
progresso.
"A Arábia Saudita (com mau desempenho em saneamento), e até a Rússia
tomaram decisões que não são boas em termos de como os benefícios de um
PIB alto pode estimular o progresso social", diz Green, mencionando dois
integrantes do G20, o grupo das nações mais industrializadas do mundo.
De fato, o SPI mostra que o G7 e os países da OCDE são lentos em fazer
grande progresso, com exceção de Noruega, Japão e Espanha. Alguns países
em desenvolvimento com PIBs menores estão entre os países com mais
avanço.
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