Excesso reduziria a taxa de crescimento cerebral, de acordo com pesquisa feita com macacos; consequências ainda não estão completamente mapeadas
RIO - O consumo excessivo de álcool durante a adolescência reduz significativamente a taxa de crescimento do cérebro, com consequências cognitivas ainda não completamente mapeadas. O alerta vem de um novo estudo da Sociedade de Neurociência dos Estados Unidos, publicado na revista científica eNeuro.
A pesquisa foi feita com macacos, no Centro Nacional de Pesquisas com Primatas de Oregon, mas, segundo especialistas, os resultados se aplicam a seres humanos. O trabalho estabeleceu que entre os animais que mais consumiram álcool a taxa de redução do crescimento do cérebro era de 0,25 milímetros por ano para cada grama de álcool consumido. Em termos humanos, isso seria o equivalente a beber quatro cervejas por dia.
Estudos anteriores já haviam ligado o consumo excessivo de álcool a um volume cerebral reduzido tanto em roedores quanto em humanos. Um trabalho da Universidade de Oxford que acompanhou indivíduos por mais de 30 anos já havia demonstrado que o encolhimento de áreas do cérebro estava diretamente relacionado ao volume de álcool consumido.
Por exemplo, os que bebiam quatro ou mais drinques por dia tinham um risco aumentado em até seis vezes de redução da área do hipocampo - uma região crítica para a memória.
"O álcool é uma substância tóxica, que produz a desidratação das células; ou seja, as células perdem mais água do que deveriam perder", explicou Jorge Jaber, da Associação Brasileira de Psiquiatria, especialista em dependência química pela Universidade de Harvard. "Quando a pessoa bebe muito as células vão definhando, encolhendo, e tendem a morrer. É o que acontece no fígado, no caso da cirrose, e também no cérebro."
Para investigar mais de perto como o álcool afeta o cérebro, o novo estudo acompanhou macacos no fim da adolescência e no início da idade adulta. O trabalho revelou que diferentes níveis de consumo de álcool impactam o crescimento do cérebro de maneiras diferentes. Os cientistas notaram que o consumo excessivo compromete particularmente algumas áreas do cérebro, relacionadas ao aprendizado.
Os pesquisadores analisaram o desenvolvimento do cérebro de 71 macacos por meio de exames de ressonância magnética. Eles validam os resultados já obtidos em humanos.
"Os estudos humanos são muitas vezes baseados nas informações prestadas pelos menores de idade", ressalvou o co-autor do trabalho Christopher Kroenke, da divisião de neurociência do Centro. "As nossas medições mostram o impacto direto no crescimento do cérebro."
O novo estudo é também o primeiro a caracterizar a taxa normal de crescimento do cérebro em um milímetro a cada 1,8 ano, nos macacos no final da adolescência e início da idade adulta. A pesquisa mostra a redução dessa taxa em razão do consumo de álcool.
Principal autora do trabalho, Tatiana Shnitko ressalva que as células cerebrais conseguem se recuperar ao menos parcialmente, quando o consumo de álcool é interrompido. Mas, quando isso não acontece, a tendência é que fiquem permanentemente prejudicadas.
"Na criança, no adolescente, o cérebro está em formação", aponta Jaber. "Quanto mais cedo elas entram em contato com o álcool, mais chance de não conseguir um desenvolvimento pleno do raciocínio subjetivo."
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