12 nov 2017
São essas as questões sobre as quais se debruça uma equipe de cientistas na Universidade de Tecnologia Lappeenranta (LUT), na Finlândia. A equipe, liderada pelo professor Christian Breyer, processou inúmeros dados em todas as regiões do mundo sobre consumo de energia, desenvolvimento populacional e clima.
"Uma descarbonização completa do setor elétrico até 2050 é viável - e mais econômica do que o sistema elétrico de hoje. A transição energética não é mais uma questão de viabilidade tecnológica ou rentabilidade econômica, mas uma questão de vontade política", disse Breyer, na apresentação do estudo, na conferência do clima em Bonn, Alemanha.
Segundo Breyer, a queda brusca dos custos fará com que a energia fotovoltaica e o armazenamento de baterias se tornem os principais pilares do fornecimento de energia a longo prazo. A equipe finlandesa calcula que a participação da energia fotovoltaica no mix energético global aumentará de 37% em 2030 para 69% em 2050, passando assim a representar mais de um terço da eletricidade global.
Em regiões de muito vento e pouco sol, como o norte da Europa e o norte da Ásia, as perspectivas de mix energético são logicamente diferentes daquelas da África, onde o peso da energia solar é muito maior.
Para um fornecimento elétrico seguro 24h, é preciso armazenamento. De acordo com uma simulação feita pela equipe de pesquisa finlandesa, cerca 31% da demanda de energia será coberta por instalações de armazenamento até 2050. Disso, 95% virão de baterias. Elas servem, sobretudo, para compensar as flutuações diárias. Outra tecnologia de armazenamento para compensar tais variações sazonais é o gás produzido sinteticamente a partir de fontes de energia renováveis.
Os autores do estudo estimam que, até 2050, a população mundial terá aumentado para quase 9,7 bilhões de pessoas. Em comparação com hoje, o mundo vai consumir o dobro de energia elétrica. A chamada "virada energética" também tem vantagens para empresas e consumidores. Comparados com o presente, os custos de geração de eletricidade (incluindo rede e armazenamento) caem aproximadamente 25%.
A transição global para fontes de energia sustentáveis também tem um impacto no mercado de trabalho. Atualmente, cerca de 19 milhões de pessoas em todo o mundo têm empregos no setor elétrico, metade delas só na indústria do carvão.
Os empregos na indústria carbonífera já sofreram perdas no mundo todo. Por outro lado, estimativas apontam que dobrará a quantidade de postos de trabalho no setor de geração de energia renovável, principalmente na área da energia solar, tecnologia de baterias e energia eólica.
Na cúpula mundial do clima, discute-se intensamente sobre as medidas necessárias para reduzir os gases de efeito estufa, com o objetivo de manter o aquecimento global abaixo de dois graus em relação aos níveis pré-industriais.
Atualmente, a geração de energia global é responsável por cerca de 20% da poluição atmosférica com gases do efeito estufa, sobretudo devido ao carvão. Se a geração de energia fosse convertida conforme a simulação de Breyer e sua equipe, as emissões de usinas elétricas poderiam cair em mais de 60% até 2025 e em mais de 80% até 2030. Com isso, uma parcela significativa da redução de gases de efeito estufa seria alcançada.
"Eu acho tal cenário totalmente realista, pois a energia renovável fica cada vez mais barata", disse a economista do clima Claudia Kemfert, do instituto alemão DIW, durante a apresentação do estudo. "Vimos, no passado, que todos os estudos subestimaram a expansão das energias renováveis".
Kemfert acredita ser possível a migração para uma eletricidade 100% renovável em três décadas.
O presidente do Grupo Energy Watch, Hans Josef Fell, compartilha esse ponto de vista e fala de uma aceleração dinâmica, que agora é impulsionada principalmente pelo grande setor financeiro.
"As instituições financeiras veem os investimentos em carvão, energia nuclear, petróleo e gás natural como arriscados e os abandonam", pondera.
Stefan Gsänger, da Associação Mundial Eólica, também vê as perspectivas do estudo como realistas, mas, ao mesmo tempo, adverte contra o excesso de otimismo: o sucesso de tal cenário não depende só do mercado. Precisa de apoio político. "Espero que haja pressão pública suficiente sobre os tomadores de decisão do mundo todo."
Nenhum comentário:
Postar um comentário