A Terra é o
nosso recurso mais precioso. Ainda assim, muitas vezes não o tratamos
com a devida atenção e valor que merece. A tragédia dos incêndios
florestais que abalou o país neste verão veio alertar mais uma vez para
as alterações climáticas e para a necessidade de se operar em todos nós
uma mudança de mentalidade que leve a uma transformação do nosso
comportamento, contribuindo para proteger o nosso planeta. A redução das
emissões de gases com efeito de estufa é o tema que, de resto, vai
dominar a 23.ª Conferência da Convenção das Nações Unidas sobre
Alterações Climáticas, que está a decorrer em Bona, na Alemanha, e onde
se espera que sejam dados passos importantes para estabelecer novas
metas de mitigação dos efeitos do aquecimento global.
Este
é um objetivo cada vez mais premente, tendo em conta que a economia
mundial tem sido construída assente num modelo linear de negócios -
extrair-transformar-usar-rejeitar - que está em risco devido à
disponibilidade limitada de recursos. Esta preocupação ganha força
quando se estima que, em 2050, se possa consumir 186 mil milhões de
toneladas de recursos para sustentar uma economia global com nove mil
milhões de pessoas. Consumimos mais recursos do que o planeta consegue
produzir. E, por essa razão, se todos os países tivessem a mesma pegada
ecológica que Portugal, seria necessário o equivalente a 2,3 planetas.
Por
outro lado, existe ainda um elevado potencial de crescimento da
reciclagem e de reaproveitamento de muitos materiais, reduzindo o
desperdício. Por exemplo, a produção de madeira plástica é algo
relativamente recente em Portugal e trouxe para o nosso país a
capacidade de reciclagem de determinado tipo de plásticos, anteriormente
"desperdício" das estações de triagem da recolha seletiva, incorporando
no nosso quotidiano diferentes exemplos de produtos finais nomeadamente
ao nível do mobiliário urbano.
Mas há
muitos outros exemplos. Quando mais de metade das emissões de gases com
efeito de estufa a nível global estão relacionadas com a gestão de
materiais e recursos, não ficam dúvidas sobre a necessidade de melhorar
substancialmente a eficiência e a produtividade dos materiais, medidas
essenciais para alcançar o Acordo de Paris.
É
preciso pensar numa economia cada vez mais circular, com menor produção
de resíduos e melhor aproveitamento do valor dos bens produzidos. A
indústria 4.0, considerada por muitos a 4.ª revolução industrial, pode
dar um importante contributo. Por exemplo, o design e a
engenharia do produto assumem um papel preponderante enquanto
impulsionadores do desenvolvimento de produtos inovadores com base em
resíduos ou permitirá a sua mais fácil reciclagem. Esta é uma revolução
silenciosa que pode beneficiar em muito do conhecimento científico, do
desenvolvimento tecnológico e da inovação empresarial. Se a primeira
revolução industrial veio de certa maneira contribuir para gerar uma
quantidade de resíduos sem precedentes, esta nova revolução tem o poder
de os eliminar ou reduzir e ao mesmo tempo criar valor para a economia
do país. Está nas nossas mãos.
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