Cada empresário cresce a seu modo, e o avicultor Leandro Pinto, que tinha 30 mil galinhas em 1987, hoje tem 13 milhões. Nessas três décadas e meia ele montou na Mantiqueira Brasil, em Itanhandu (MG), com o sócio Carlos Cunha, um complexo de 2.500 colaboradores, uma frota de entrega para todo o Brasil e criou outra empresa, a N.Ovo, para ter uma alternativa vegetal (plant-based). Nela, incorporou uma linha de maioneses e congelados no que chama de “granjas mais tecnificadas” do País.
Nesta conversa com Cenários, o empresário avisa que a sustentabilidade chegou de vez, para ficar. “Você não terá a quem vender os produtos se não tiver os requisitos da sustentabilidade.”
A seguir, os principais trechos da conversa.
Como vocês chegaram a ter 8% da produção do mercado brasileiro?
Em outubro completamos 35 anos. Começamos numa granja no interior de Minas com 30 mil galinhas. Hoje são mais de 13 milhões, produzindo um ovo a cada 26 horas. Com a entrada do Carlos Cunha como sócio em 2000, aceleramos o crescimento – ele veio do setor supermercadista. Brinco dizendo que ele era meu cliente, virou amigo, irmão, e depois sócio.
Já pensaram em profissionalizar a empresa?
Sim e já o fizemos. Temos um time de primeira linha na diretoria e na gerência executiva, mas a cultura implantada por nós, donos, continua forte. Montamos um projeto que é familiar mas tem toda a governança de uma organização de grande porte.
Nunca pensaram em abrir o capital? Captar recursos do mercado, do BNDES?
Quando você pensa na abertura de capital para crescer é preciso cuidado para não perder a essência, o DNA dos donos. Nos últimos quatro anos o mundo viveu uma euforia de IPOs (abertura de capital na Bolsa). Digo que a Mantiqueira é uma casa construída para morar e não para alugar. Acredito em processos de longo prazo.
Vocês estão presentes em quantos Estados?
Hoje são cinco: Minas, São Paulo, Paraná, Goiás e Mato Grosso. Com cinco lojas próprias, quatro em São Paulo e uma no Rio, além dos carros de ovos. Também estamos nas Ceasas do Rio, de Uberlândia, São Paulo e São José dos Campos. Empregamos 2.500 pessoas. A Mantiqueira entrega hoje 30 ovos na casa do comprador, numa assinatura semanal, através de um plug de assinaturas.
Qual o faturamento?
Em 2021, R$ 1,4 bilhão, juntando a parte da pecuária, agricultura e ovos, ou seja, da holding Grupo Mantiqueira. Este ano devemos chegar a R$ 2 bi. Já a Mantiqueira Brasil, produtora de ovos, faturou R$ 1,080 bi ano passado e deve chegar a R$1,4 bi em 2022. Criou-se uma demanda maior que a oferta e os preços subiram.
Como a pandemia impactou a empresa e o setor?
Comparados à maioria ao nosso redor, não sofremos. Tivemos um time trabalhando diuturnamente, cortando o País entregando os produtos. E, junto com a família Diniz, fizemos uma doação de 12 milhões de ovos com a Cufa (Central Única das Favelas).
Há projetos de expansão?
Estamos construindo em Lorena e Formosa as granjas mais tecnificadas no Brasil. O consumo no Brasil hoje é de 257 ovos per capita – a média mundial é 230. De vilão do colesterol, o ovo passou a queridinho de nutricionistas e cardiologistas.
Fale um pouco sobre a divisão de food tech do grupo, o N.Ovo.
Em 2018 minha filha Amanda esteve no Vale do Silício e viu que a plant-based era uma tendência. Fomos os primeiros no País a ter um produto vegetal próximo do animal. Além dos ovos, a N.Ovo faz nuggets, coxinha de galinha, filé de frango, carne de porco.
O Brasil continuará sendo um celeiro do mundo? Os produtos artificiais vão substituir os de verdade? Não acho, a oferta será um mix, mesmo porque há muita fome no mundo.
E a sustentabilidade?
Olha, o que fazem com o Brasil, com o produtor rural, é uma covardia. Não tem escolha, a gente tem de ser sustentável. Sempre tem gente que faz coisas erradas, mas é a minoria. Por todo lado, Goiás, Mato Grosso, tem matas e nascentes protegidas. Você não terá a quem vender os produtos se não tiver os requisitos da sustentabilidade.
Alguma dependência de decisões dos governos?
A gente não pode depender do governo. A Mantiqueira nunca teve convênio, nunca forneceu nada a ele. Governo é para cuidar de segurança, saúde, educação. Se fizer isso bem, a gente consegue mudar o País.
Olhando paro futuro, você acha importante, para a iniciativa privada, quem ganhar a eleição em outubro?
Olha, eu sou apolítico. Mas vejo o Brasil como um elefante amarrado num pé de alface. A hora em que ele quiser andar, ninguém segura. Precisamos é de um governo que ajude a industrializar o País. E quero deixar uma mensagem de otimismo. Espero que meus netos, daqui a 40 anos, não sejam pessoas frustradas, quero que vivam esse país do futuro.
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