O meu blog é HOLÍSTICO, ou seja, está aberto a todo tipo de publicação (desde que seja interessante, útil para os leitores). Além disso, trata de divulgar meu trabalho como economista, escritor e compositor. Assim, tem postagens sobre saúde, religião, psicologia, ecologia, astronomia, filosofia, política, sexualidade, economia, música (tanto minhas composições quanto um player que toca músicas de primeira qualidade), comportamento, educação, nutrição, esportes: bom p/ redação Enem
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
Diretora de Meio Ambiente da OMS: "70% dos últimos surtos epidêmicos começaram com o desmatamento"
María
Neira, diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, explica como
os vírus do ebola, Sars e HIV saltaram dos animais para os humanos
depois da destruição maciça de florestas tropicais
María Neira, diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, durante um ato em Istambul (Turquia).Abdullah Coskun (Getty Images) Juan Miguel Hernández Bonilla
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A médica espanhola María Neira, diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial da Saúde (OMS),
afirma que a pandemia do coronavírus é mais uma prova da perigosa
relação entre os vírus e as pressões do ser humano sobre o meio
ambiente. Do seu escritório em Genebra, na Suíça, Neira explica como os
vírus do ebola, sars e HIV,
entre outros, saltaram de animais para seres humanos depois da
destruição de florestas tropicais. Neira (Astúrias, 59 anos) insiste na
necessidade de que Governos e indivíduos compreendam que a mudança
climática é um problema de saúde pública,
não uma questão de ecologia ou ativismo. A cientista, mestra em saúde
pública e nutrição, propõe uma revolução saudável, positiva e verde, que
tenha como pilar fundamental a rápida transição na direção de energias
limpas. Segundo ela, países que decidirem trocar o petróleo e o carvão
pela energia solar e eólica acelerarão seu crescimento e reduzirão a pobreza e a desigualdade.
Pergunta. No prólogo do livro Viral, de Juan Fueyo,
você adverte sobre a perigosa relação entre os vírus e as pressões do
ser humano sobre o meio ambiente, sobretudo o desmatamento. No que
consiste essa relação? Como ela funciona?
Resposta. As práticas de desmatamento intenso,
feitas sempre em nome da economia de curto prazo, têm efeitos
devastadores para o futuro da humanidade. Ao derrubar a floresta para
substituí-la por agricultura intensiva e poluente, os animais que vivem
nesses lugares nos quais o homem não havia entrado sofrem profundas
transformações. Aparecem espécies com as que não estávamos em contato e
que podem nos transmitir doenças. Passar de uma floresta tropical para um cultivo,
com adubos e pesticidas que nunca tinham entrado nesse ecossistema,
altera o tipo de vetores capazes de transmitir os vírus. O desmatamento é
uma forma de derrubar essa barreira ambiental entre espécies que nos
protege de forma natural.
P. Pode contar um caso específico?
R. Um exemplo claro deste fenômeno é o vírus do ebola,
que saltou dos morcegos frugívoros das florestas da África ocidental
para os humanos e desatou o contágio. O grave é que aconteceu o mesmo
com a aids e a sars. Cerca de 70% dos últimos surtos epidêmicos que sofremos tem sua origem no desmatamento e nessa ruptura violenta com os ecossistemas e suas espécies.
P. O que se pode fazer para prevenir isto?
R. Temos que entender que é necessário estar em equilíbrio com o meio ambiente,
que é o que nos dá todos os recursos para sobreviver. É preciso
aproveitá-los, mas não podemos destruir e poluir tudo o que tocamos,
como está acontecendo neste momento. O oceano, por exemplo, está nos
dando de comer. Milhões de pessoas se alimentam com as reservas de
pesca, mas estamos enchendo o mar com milhões de toneladas de plástico.
Estamos indo contra nós mesmos. É importante que as pessoas entendam que
a mudança climática não é uma questão de ecologia ou ativismo, mas de saúde pública.
P. Quer dizer que o aquecimento global não só derrete as geleiras, ou deixa os ursos polares em perigo, como também produz muitas mortes de seres humanos?
R.
Claro. Erramos na narrativa a respeito da mudança climática nestes
últimos anos. Acho que se falou muito de como o nível do mar está
subindo ou como a camada de ozônio é afetada,
mas faltou explicarmos como tudo isso no fundo tem um impacto tremendo
sobre a nossa saúde. Às vezes, de forma arrogante, dizemos que é preciso
salvar o planeta. Mas não. Temos que salvar a nós mesmos. O planeta nós
o estamos destruindo, mas ele vai encontrar uma maneira de sobreviver;
os humanos, não.
P. Em uma recente conferência, você dizia que na luta contra o meio ambiente os seres humanos sempre perdem. Por quê?
R.
Se destruirmos a fonte da qual vivemos, os prejudicados seremos nós
mesmos. Vemos com cada vez mais frequência como o ser humano é muito
vulnerável frente aos fenômenos meteorológicos
que a mudança climática está desatando, como tsunamis ou furacões. Há
alguns dias houve uma nevasca muito dura na Espanha e nos paralisou
imediatamente. No final, quem sairá perdendo seremos nós.
P. Quais são as medidas mais urgentes que a OMS recomenda para evitar a deterioração do meio ambiente e da saúde pública?
R.
Uma muito importante é o conhecimento. Temos que ganhar mais adeptos
para a causa. O objetivo é que muita gente entenda a relação entre
mudança climática e saúde; que entenda, por exemplo, que seus pulmões,
seu sistema cardiovascular e seu cérebro estão em risco por causa da
poluição. Segundo, temos que fazer a transição para energias limpas e
renováveis o mais rapidamente possível. Os combustíveis fósseis estão nos matando. Há sete milhões de mortes prematuras causadas pela poluição atmosférica que
poderiam ser reduzidas deixando de gerar eletricidade com carvão e
petróleo. Acelerar essa transição para as energias limpas vai gerar uma
economia que nos ajudará a sair desta crise que o coronavírus desatou.
P. Como é a relação entre energias limpas e desenvolvimento econômico?
R.
Um dólar investido em energias renováveis vai gerar quatro vezes mais
trabalho que um dólar investido em energias fósseis. Acredito que, se os
países mais pobres começarem a investir em energia solar e eólica, eles
podem acelerar seu crescimento. Esta pode ser uma estratégia contra a desigualdade que se agravou com a pandemia.
Outra recomendação importante é o planejamento das cidades pensando na
saúde do ser humano. É preciso tirar os carros dos centros urbanos, ter
um sistema de transporte público sustentável e limpo, e sobretudo não
ter cidades superpopulosas como as de agora, que são inabitáveis.
P. Como a densidade populacional das cidades afeta a transmissão dos vírus?
R.
Em 20 anos, 70% da população estará vivendo em centros urbanos. Será
preciso tornar essa situação saudável e equitativa. Podemos ter cidades
que nos ofereçam muitos benefícios, mas que não atentem contra nossa
saúde. Hoje as capitais de vários países têm muita densidade
populacional. Isso contribui para uma transmissão mais rápida e
eficiente de qualquer vírus ou bactéria. O mau planejamento das cidades
também nos leva a ter uma vida sedentária,
que a poluição termine em nossos pulmões e inclusive que haja um
problema grave de saúde mental porque não se facilita a interação
social.
P. O que fazer então?
R. É preciso criar cidades com zero emissão de carbono,
cidades verdes e com economia circular. O CO2 que for produzido tem que
ser eliminado. Essas cidades já são possíveis, a tecnologia permite
isso, e a economia vai nesse sentido. Acredito que esta mudança seja
irreversível.
P. No prólogo do livro de Fueyo,
você propõe uma “revolução saudável, positiva, verde e economicamente
sustentável”. Em que consiste?
R. Em que as
decisões estratégicas que definem para onde um país deve avançar têm que
pôr a saúde e o meio ambiente em primeiro lugar. É preciso investir em
energias limpas. Essa decisão combate, ao mesmo tempo, a mudança
climática e as doenças que esta gera. Além disso, é preciso reduzir o desmatamento e adotar práticas agrícolas mais sustentáveis.
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