quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Como o Chile conseguiu vacinar 16% da sua população contra o coronavírus em três semanas

Uma economia aberta, a lógica empresarial do presidente e a força do sistema de saúde pública explicam em parte o sucesso de uma campanha que já alcançou mais de três milhões de pessoas

Uma mulher recebe uma dose da vacina chinesa Coronavac em um posto de saúde de Santiago, em 15 de fevereiro.
Uma mulher recebe uma dose da vacina chinesa Coronavac em um posto de saúde de Santiago, em 15 de fevereiro.MARTIN BERNETTI / AFP 
Rocío Montes
Santiago - 24 fev 202

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O Chile começou a vacinar sua população contra a covid-19 em 3 de fevereiro e na última terça-feira, menos de 21 dias depois, mais de três milhões de pessoas já receberam pelo menos uma dose, o que equivale a 16% da população do país. A percentagem não só supera amplamente os seus vizinhos maiores, como a Argentina (1,65%) e o Brasil (3,43%), como também está acima de países como a Espanha (9,59% da população vacinada) e muito perto dos Estados Unidos (19,44%). A quantidade de vacinas disponíveis e a velocidade da operação, com pelo menos 1.300 postos de atendimento no seu longo território, faz do país sul-americano um exemplo regional e mundial.

México, Colômbia, Peru, Uruguai e Paraguai já pediram ajuda às autoridades chilenas, segundo fontes da Chancelaria local. O sucesso da estratégia combina elementos históricos e outros conjunturais: a força do sistema de atendimento primário de saúde pública, que remonta à década de 1950, a musculatura comercial de uma das economias mais abertas do mundo e o olfato negociador do próprio presidente, Sebastián Piñera, um poderoso empresário. Como resultado, seu Governo (2018-2022) espera vacinar 15 milhões de pessoas neste primeiro semestre e, com isso, alcançar a imunidade da população chilena até o final de junho.

Em maio do ano passado, Piñera ordenou ao subsecretário de Relações Econômicas Internacionais, o advogado Rodrigo Yáñez, que se dedicasse exclusivamente a fechar acordos com os laboratórios. Yáñez liderou as negociações desde então, mantendo contato direto com o presidente. Por exemplo, pouco antes da chegada das primeiras doses da chinesa Coronavac, produzida pela Sinovac, no final de dezembro, Piñera falou diretamente com o seu colega chinês, Xi Jinping, para apressar a burocracia. Apesar dos sérios problemas políticos que enfrentou neste seu segundo mandato, o presidente chileno continua sendo reconhecido por sua capacidade de gestão, como a que permitiu o midiático resgate dos 33 mineiros presos no subsolo em 2010.

O centro da estratégia chilena tem sido o pragmatismo e a diversidade de laboratórios com os quais negociou paralelamente e por diferentes caminhos. A existência de planos alternativos foi especialmente benéfica, considerando-se os atrasos nas entregas ocorridos em todo o mundo. O Governo tem um lema: o perfeito é inimigo do bom, e é preciso chegar a acordos rapidamente, porque outros países estão na lista de espera para selar as negociações.

No Chile, por exemplo, não houve ensaios clínicos da norte-americana Pfizer, mas eram desse laboratório as primeiras 20.000 doses que desembarcaram no país, em 24 de dezembro. Com elas foram vacinados os funcionários da saúde que atuam nas chamadas unidades de pacientes críticos (UPCs). Foram prometidas além disso outras 10 milhões de doses, cuja entrega se concentrará sobretudo neste primeiro semestre. Diferentemente do que ocorre em outros países da região, o Chile conseguiu um bom calendário, com um crescimento exponencial.

 

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