Especialistas também estão preocupados com outros fenômenos, como incêndios florestais, que se propagarão à medida que o planeta se tornar mais quente e seco
8 ago 2018
TAMPA, EUA - O planeta precisa urgentemente de uma
transição para uma economia verde, pois a contaminação por combustíveis
fósseis ameaça empurrar a Terrapara um duradouro e perigoso estado de
efeito estufa, alertaram pesquisadores na segunda-feira, 6.
Se o gelo polar continuar derretendo, as florestas
encolhendo e os gases de efeito estufa aumentando - como acontece a cada
ano -, a Terra chegará a um "ponto de inflexão", isto é, de dano
irreversível.
Cruzar este limiar "garante um clima de 4ºC a 5ºC
superior à era pré-industrial, e níveis do mar entre 10 e 60 metros mais
altos do que os de hoje", advertiram cientistas nas Atas da Academia
Nacional de Ciências. E isso "poderia acontecer em apenas algumas
décadas", alertaram eles.
'Terra estufa'
"É provável que uma 'Terra estufa' seja incontrolável e
perigosa para muitos", afirma o artigo escrito por cientistas da
Universidade de Copenhague, da Universidade Nacional da Austrália e do
Instituto de Pesquisas de Efeitos Climáticos de Potsdam, na Alemanha.
Ao final do século ou até mesmo antes, os rios
transbordariam, as tempestades causariam estragos nas comunidades
costeiras e os recifes de coral desapareceriam.
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A média das temperaturas globais poderia exceder a de
qualquer período interglacial - isto é, nas épocas mais quentes entre as
Eras do Gelo - do último 1,2 milhão de anos.
O degelo polar levaria a níveis do mar dramaticamente
mais altos, inundando as terras costeiras onde vivem centenas de milhões
de pessoas. "Lugares na Terra se tornarão inabitáveis se a 'Terra
estufa' virar realidade", disse o coautor do estudo Johan Rockstrom,
diretor-executivo do Stockholm Resilience Center.
Ponto de inflexão
Os pesquisadores sugerem que o ponto de inflexão poderia
acontecer quando o aquecimento da Terra se situar 2°C acima dos níveis
pré-industriais. O planeta já aqueceu 1°C em relação à era
pré-industrial e continua esquentando à velocidade de 0,17°C por década.
"Um aquecimento de 2°C poderia ativar elementos de
inflexão importantes, elevando ainda mais a temperatura para ativar
outros elementos de inflexão em um efeito dominó, que poderia fazer a
temperatura do sistema da Terra aumentar", destaca o relatório.
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Essa cascata "poderia inclinar todo o sistema da Terra
para um novo modo de operação", disse o coautor Hans Joachim
Schellnhuber, diretor do Instituto de Pesquisas de Efeitos Climáticos de
Potsdam.
Os especialistas também estão preocupados com outros
fenômenos, como incêndios florestais, que se propagarão à medida que o
planeta se tornar mais quente e seco e têm o potencial de acelerar o
acúmulo de dióxido de carbono e o aquecimento global.
Cálculo
O artigo, intitulado "Perspectiva", se baseia em estudos
publicados previamente sobre pontos de inflexão da Terra. Os cientistas
também examinaram condições que o planeta experimentou no passado
remoto, como no Plioceno, há 5 milhões de anos, quando o gás carbônico
(CO²) estava em 400 partes por milhão (ppm), como hoje.
No Cretáceo, era dos dinossauros há 100 milhões de anos,
os níveis de CO² eram ainda mais elevados, atingindo as 1.000 ppm, em
grande parte em razão da atividade vulcânica.
Afirmar que 2°C é um ponto sem retorno "é novo", disse
Martin Siegert, codiretor do Instituto Gratham no Imperial College de
Londres, que não participou do estudo.
Os autores do relatório "coletaram ideias e teorias
previamente publicadas para apresentar uma narração sobre como
aconteceria o cruzamento do limiar", disse. "É bastante seletivo, mas
não absurdo."
Como evitar
Segundo os cientistas, as pessoas devem mudar
imediatamente seus estilos de vida. Os combustíveis fósseis precisam ser
substituídos por fontes de energia com emissões baixas ou nulas, e
devem ser criadas mais estratégias para absorver as emissões de carbono,
como acabar com o desmatamento e plantar árvores para absorver o
dióxido de carbono. Na lista de ações está a gestão do solo, melhoria
das práticas agrícolas, conservação de terras e costas, e implementação
de tecnologias de captura de carbono.
No entanto, se os humanos deixassem agora de emitir
gases de efeito estufa, a tendência atual de aquecimento poderia
desencadear outros processos do sistema Terra, chamados de
retroalimentações, que levariam a um aquecimento ainda maior. Isto
inclui o degelo do permafrost (tipo de solo encontrado na região do
Ártico), o desmatamento, a perda da camada de neve do hemisfério norte,
do gelo marinho e do gelo polar.
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Os cientistas dizem que não é certo que a Terra possa
permanecer estável. "O que ainda não sabemos é se o sistema climático
pode 'estacionar' de forma segura cerca de 2°C acima dos níveis
pré-industriais, como prevê o Acordo de Paris", disse Schellnhuber. / AFP
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