MEIO AMBIENTE
Derretimento em região ao norte da Groenlândia com a camada de gelo mais antiga do Hemisfério Norte assusta comunidade científica. Acreditava-se que o local fosse ser o último a sucumbir ao aquecimento global.
A camada de gelo mais antiga e espessa do Ártico costuma estar congelada mesmo durante as estações mais quentes do ano
A recente onda de calor no Hemisfério Norte resultou no rompimento da camada de gelo mais antiga e espessa do Ártico, abrindo passagens ao norte da Groenlândia que costumam estar congeladas mesmo durante as estações mais quentes do ano.
Até agora, os cientistas presumiam que essa região fosse ser a última ao norte do globo que iria sucumbir aos efeitos do aquecimento global, motivo pelo qual ela ficou conhecida como a "última área de gelo".
O fenômeno inédito ocorreu duas vezes neste ano devido aos ventos de ar quente e ondas de calor desviadas para o norte do hemisfério em razão das mudanças climáticas, aponta reportagem do jornal britânico The Guardian.
Temperaturas acima do normal foram registradas na região em fevereiro e no início deste mês, deixando a região vulnerável às massas de ar quente, que aumentaram a pressão sobre o gelo em locais mais distantes da costa desde o início dos registros de satélite nos anos 1970.
Nos meses de fevereiro, costumam-se registrar -20ºC na região, mas este ano, as temperaturas se mantiveram durante dez dias acima da temperatura de congelamento, o que, juntamente com ventos quentes, fez com que o gelo se desprendesse da costa.
Na semana passada, foi registrada brevemente uma temperatura recorde de 17ºC, com ventos fortes de até 20 quilômetros por hora vindos do sul. Especialistas acreditam a região deverá voltar a se congelar, ainda que num período mais tardio do que o normal. A tendência de aquecimento na região vem acelerando nos últimos 15 anos.
"O afinamento do gelo atinge até a parte mais fria do Ártico, de gelo mais espesso. Esta é uma indicação dramática da transformação no gelo e do clima no Mar do Ártico", afirmou Walt Meie, pesquisador do Centro Nacional de Dados sobre Gelo e Neve dos Estados Unidos, ao The Guardian.
O cientista Thomas Lavergne, do Instituto Meteorológico Norueguês, afirmou que a visão da água penetrando no gelo e expondo a costa da Groenlândia é algo "assustador".
Na região, o gelo tem, em média, 4 metros de espessura e pode se acumular em montes de gelo compacto de 20 metros de altura ou mais, difíceis de serem quebrados.
"Quase todo o gelo ao norte da Groenlândia está bastante estilhaçado ou quebrado e, portanto, mais móvel", afirmou a meteorologista Ruth Mottran, do Instituto Meteorológico Dinamarquês. "Passagens na água na costa norte da Groenlândia são incomuns", disse, acrescentando que o degelo sugere que a "última área de gelo" deve estar localizada mais a oeste.
Dados recentes do Serviço Norueguês do Gelo indicam que a cobertura de gelo no arquipélago de Svalbard, ao norte do país, está 40% abaixo da média histórica para esta época do ano. Esses números podem reforçar a previsão de que o Oceano Ártico passará a não ter mais gelo durante o verão em algum momento entre os anos 2030 e 2050.
Peter Wadhams, físico da Universidade de Cambridge, alertou à emissora Sky News que o derretimento do gelo poderá causar impactos severos para a população de ursos polares.
"A costa norte da Groenlândia, com seus penhascos bastante íngremes, é uma área de refúgio para ursos polares. Eles cavam buracos na neve, de donde saem na primavera para caçar", afirmou.
"Mas se a camada de gelo se move para fora da costa, eles acabam ficando sem uma área de caça quando voltam da hibernação", alertou, acrescentando que os ursos polares não conseguem nadar grandes distâncias.
RC/ots
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