Ciência
Por Mayara
Rozário - iG São Paulo | 01/08/2018
Reportagem do iG listou algumas falsas informações
sobre o espaço em conversa com astrofísico Thiago Signorini, que tira dúvida
dos leitores; veja
Reprodução/Shutterstock
Terra
plana, Mercúrico como planeta escaldante e experiência espacial sem gravidade
são mitos sobre o universo
"Humanos
entram em combustão no espaço". "A Terra é plana, e não
redonda". "O homem nunca pisou na Lua, é invenção da Agência Espacial
Norte-Americana (Nasa)". Você já deve ter lido ou ouvido alguma das
afirmações acima, afinal, há muitas teorias sobre esses assuntos na internet e
elas se propagam de forma rápida. Desse modo, será que conseguimos identificar
mitos sobre o universo em meio a tantas informações e descobertas científicas
com eficácia?
Segundo
pesquisadores que se apresentaram no 1º Fórum de Pós-Graduação Einstein:
Pesquisa para a Vida, realizado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital
Israelita Albert Einstein, as fake news e os mitos sobre o universo
no meio online se tornaram cada vez mais comuns e têm impactado negativamente o
trabalho prestado pela comunidade cientifica à população.
Dados
publicados pela Agência Brasil revelaram que a rapidez com que as
notícias se espalham pelas redes é positiva e potencializa um maior alcance de
indivíduos, no entanto, também atrapalha, se considerada a alta propagação
de teses não embasadas, que tendem a confundir indivíduos que não costumam
fazer pesquisas mais aprofundadas sobre temáticas de interesse.
Pensando
nisso, e em como facilitar a busca do leitor em relação a
curiosidades sobre o campo da ciência, a reportagem do iG
conversou com Thiago Signorini Gonçalves, doutor e professor de Astrofísica na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e destrinchou oito mitos
sobre astronomia que viralizaram nas redes nos últimos anos. Confira!
Mito 1: O homem não pisou na Lua
Reprodução/Nasa
Mitos
sobre o universo englobam até a ideia de que a chegada do homem na Lua seja uma
mentira
Sim, o
homem foi à Lua. A ideia de que isso seja mentira teria iniciado
por desconfianças acerca dos dados divulgados pelo governo dos Estados
Unidos e por agências cientificas, como as provas coletadas durante a missão
Apollo 11, em julho de 1969.
Segundo
algumas " teorias da conspiração ", a missão ao satélite
natural da Terra não só é uma farsa como teria sido filmada pelo cineasta
Stanley Kubrick em um deserto norte-americano, quando teriam sido forjadas
pegadas bem desenhadas na terra para que as pessoas pensassem que astronautas
estiveram na Lua.
Entretanto,
o astrofísico garante que há muitas provas que confirmam a 'visita' humana em
solo lunar décadas atrás, como é o caso de imagens atuais das regiões da Lua
onde as missões aterrissaram que revelam os mesmos detalhes que as fotografias
tiradas por astronautas.
Além
disso, há espelhos colocados em solo lunar pelos astronautas do programa
Apollo, que são utilizados até hoje para medir a distância entre a Terra e a
Lua por meio de lasers emitidos daqui. Por fim, existem rochas
lunares que foram examinadas por cientistas de vários países, incluindo a União
Soviética antes do fim da Guerra Fria.
Mito 2: A Terra é plana
Reprodução/Shutterstock
Mitos
sobre o universo: a Terra é plana; terraplanistas acreditam que agências
científicas escondem real formato da Terra
Há uma
quantidade significativa de pessoas que acreditam que o planeta Terra não é
redondo, e sim plano. Os chamados 'terraplanistas' sustentam suas teorias por
meio de motivações políticas e sociológicas e 'têm certeza' de que a ideia de
que o planeta é um globo "não passa de um 'plano conspiratório' criado por
líderes mundiais e sociedades secretas".
Apesar de
estar em maior evidência atualmente, a afirmação que a Terra é achatada existe
há séculos. Astrônomos de grandes civilizações antigas, como a Grécia e a
Índia, defendiam o padrão, que passou a ser questionado depois de estudos do
filósofo Pitágoras, no século 6 a.C.
Para os
‘terraplanistas’, o mapa correto é o da Projeção Azimutal, que mostra o Polo
Norte ocupando o centro. Segundo esses teóricos autônomos, o emblema da
Organização das Nações Unidas (ONU) seria uma evidência ‘incontestável’
sobre o conhecimento de autoridades sobre o “real formato terrestre”.
Contudo,
há uma série de argumentos que derrubam a teoria sustentada por eles. "A
teoria da Terra Plana é muito simples de ser contestada. Eratóstenes, um
estudioso grego do século III a.C., foi capaz de medir o tamanho da Terra há
mais de dois mil anos, ao observar o tamanho da sombra de uma vareta em
diferentes regiões do globo; e ao fazer cálculos geométricos simples. Diversas
outras observações básicas demonstram o mesmo resultado”, aponta Signorini.
Mito 3: O planeta Nibiru existe
shutterstock
Mitos
sobre o universo: planeta Nibiru existe; numerólogos creem que 'planeta'
esmagará a Terra
O
polêmico planeta Nibiru... De tempos em tempos, previsões sobre o fim do mundo
surgem trazendo "notícias" do apelidado “Planeta da Morte”, já que
muitos numerólogos acreditam que ele será o responsável por esmagar a Terra e
exterminar a espécie humana.
Mencionado
pela primeira vez em 1976 no livro “O Décimo Segundo Planeta”, de Zecharia
Sitchin, Nibiru também é reconhecido por teóricos da conspiração como a “casa
de alienígenas do passado”, chamados Annunaki, os criadores da raça humana.
Outro
fator que ajudou o falso ‘planeta’ a tomar proporção foi o depoimento de uma
mulher chamada Nancy Lieder, que diz ter recebido mensagens extraterrestres
sobre o apocalipse que teriam ligação com o Nibiru.
Sobre
todas as teorias relacionadas ao tema, o professor alerta: nenhuma
delas tem qualquer fundamento científico. Além disso, trazem algumas
problemáticas para a ciência, sendo uma delas a confusão entre planetas
inventados e planetas adicionais. “A possível descoberta de planetas adicionais
no Sistema Solar, a partir de análises do movimento dos outros corpos no
sistema, é algo científico, mas hoje em dia está sendo usado a favor de
conspiradores que deturpam informações para propagar suas teorias”, ressalta.
Mito 4: Asteroide Apophis vai destruir a
Terra
Reprodução/Nasa
Mitos
sobre o universo: asteroide Apophis esmagará a Terra; astrofísico comenta que
chances de colisão são quase nulas
Não tem
jeito, é secular o medo de que asteroides atinjam o planeta. Muitas pessoas
creem que rochas espaciais de tamanhos variados são "verdadeiras armas
destrutivas para a vida terrestre", por isso até mesmo datam o ano de
passagem desses corpos como sendo aquele que será o último da existência
humana.
O
asteroide Apophis, que ficou conhecido por ter potencial de causar um impacto
maior do que qualquer bomba atômica existente, é um clássico exemplo
disso. Chamado de 99942, ele foi descoberto em 2004 pela Nasa, e, de
início, gerou uma mobilização online por causa de estimativas que previam uma
chance de 2,7% de se chocar com a Terra.
A
informação, contudo, foi corrigida, depois de cientistas realizarem cálculos da
órbita e outras observações, chegando à conclusão de que seria quase nula a
possibilidade de colisão com a Terra.
Atualmente,
estima-se que Apophis chegue a pouco mais de 30 mil quilômetros de
distância do ‘Planeta Azul’ no ano de 2029, e a dezenas de milhões de
quilômetros em 2036. “Se ainda se fala em colisão, é por puro alarmismo e não
por ciência”, frisa Thiago.
Mito 5: Duas luas aparecem no céu em agosto
Reprodução/Twitter
Mitos
sobre o universo: Lua dupla em agosto; Marte se aproxima da Terra, porém não é
visto do mesmo tamanho que a Lua
Em agosto
de 2003, uma mensagem chegou a diferentes endereços de e-mail afirmando que
Marte estaria tão perto da Terra que seria possível observá-lo de nosso planeta
como se fosse a Lua. O falso evento astronômico tratado na mensagem foi nomeado
de "as duas luas de agosto" e viralizou na internet.
A
explicação para o surgimento desse mito está relacionada às órbitas de ambos os
planetas, já que, por causa disso, a cada dois anos e dois meses, Marte se
aproxima do planeta Terra. Porém, engana-se quem pensa que o 'gigante vermelho'
se transforma "em uma Lua" por conta disso.
O
astrofísico alega que sim, é verdade que quando Terra e Marte estão mais
próximos, Marte pode parecer um pouco mais brilhante no céu. Mas é só um pouco.
Mas, vale lembrar que o tamanho dos corpos não sofre alteração realmente.
“A Lua
ainda é maior que Marte no céu devido à sua proximidade, mesmo durante as
oposições. Nunca veremos Marte do mesmo tamanho que a Lua”, expõe Signorini.
Vale
mencionar que, nessa terça-feira (31), a Nasa informou que Marte estará a 57,6
milhões de quilômetros da Terra e ficará visível por toda a noite a olho nu.
Com o ocorrido, o planeta atingirá o ponto mais próximo da Terra em 15 anos, já
que, em 2003, a distância foi de 56 milhões de quilômetros entre ambos os
planetas.
Os
cientistas da agência americana afirmaram que, na prática, Marte vai parecer
uma estrela brilhante vermelha, assim como na noite do eclipse ‘ Lua de
Sangue ’, que ocorreu na última sexta-feira (27). A Nasa ainda estima que
outra aproximação de Marte e Terra aconteça em 6 de outubro de 2020.
Mito 6: Humanos podem explodir ou ter o
sangue evaporado no espaço
Reprodução/Shutterstock
Mitos
sobre o universo: pessoas explodem no espaço; dado é falso, pessoas tendem a
sufocar se não trajadas de forma certa
Vai dizer
que você nunca assistiu a um filme no qual o astronauta acaba exposto "aos
riscos do universo" e começa a inchar até explodir como um ‘arroto’ de
buraco negro após devorar algumas estrelas? Pois bem, apesar de não haver
dúvidas de que humanos não conseguem sobreviver vagando pelo espaço, as cenas
trágicas de produções hollywoodianas podem confundir e causar uma ideia
deturpada sobre como seria a morte em ambiente extraterrestre.
A fim de
tirar dúvidas de espectadores de ficção científica, estudos foram feitos para
mostrar o que ocorreria ao ser humano caso fosse exposto a condições rigorosas
no espaço. Segundo a Nasa, pessoas suportam cerca de meio minuto de exposição
ao vácuo sem sofrer danos permanentes. Mas, depois desse curto período, é
provável que venham a óbito.
O motivo?
Não tem nada a ver com combustão espontânea, congelamento ou pela evaporação de
sangue, e sim pela falta de oxigênio circulando no traje espacial.
Os
especialistas ainda afirmam que um fim trágico com certeza se concretizaria se
alguém resolvesse segurar a respiração no espaço sem a roupa adequada, por
exemplo, já que o ar no corpo do indivíduo se expandiria a ponto de
provocar a ruptura dos pulmões.
“Acredito
que grande parte desses mitos venham do cinema, Hollywood gosta de exagerar a
ciência para efeito dramático. O que acontece, na verdade, é que uma pessoa
provavelmente morreria sufocada rapidamente, se não fosse resgatada a tempo”,
explica o astrofísico.
Mito 7: Mercúrio é o planeta mais quente do Sistema
Solar
Reprodução/Astronoo
Mitos
sobre o universo: Mercúrio é o planeta mais quente; professor explica que Vênus
é o planeta com maior temperatura
Mercúrio
é o planeta mais próximo do Sol. Por isso, há confusão quanto a sua
temperatura, que muitos alegam ser extremamente escaldante. Entretanto, estudos
provam que, ao contrário do que se imagina, o menor planeta do Sistema Solar
não é tão quente assim!
De acordo
com Thiago, para afirmar que um planeta "é o mais quente", seria
necessário considerar a superfície e a atmosfera do mesmo, e não sua
proximidade em relação ao Sol.
Com isso,
Mercúrio não pode ser o planeta de maior temperatura. O posto seria, na
verdade, passado a Vênus, que ‘rompe’ a regra da escala de proximidade e mantém
temperaturas bastante altas devido a uma grossa camada de nuvens.
“Vênus
definitivamente quebra essa regra porque tem uma grossa camada de nuvens que,
por meio do efeito estufa, mantém o planeta a incríveis 460 °C. E a gente ainda
tem coragem de reclamar do verão carioca”, brinca o especialista.
Mito 8: A experiência no espaço é 100% livre de
gravidade
Reprodução/Nasa
Mitos
sobre o universo: experiência no espaço é livre de gravidade; professor diz que
afirmação se deu por má interpretação
A
afirmação de que a experiência espacial é completamente livre de gravidade é e
não é um mito. Para o professor, uma interpretação equivocada vem do termo
usado para esse caso.
Astronautas
na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), por exemplo,
experimentam uma gravidade um pouco mais fraca do que a sentida na Terra, pois
a gravidade cai com o quadrado da distância. Mas, ainda assim, se a ISS
estivesse parada, o seu peso seria aproximadamente 90% do original.
Signorini
explica que a impressão de gravidade zero vem do fato de que a estação
espacial esteja essencialmente em queda livre. Ela não se choca com a Terra
porque também se move rapidamente e horizontalmente, o que faz com que a queda
livre se transforme em uma órbita circular ao redor da Terra.
“Você
pode ter essa experiência em uma montanha russa quando está despencando e
sente aquele frio na barriga”, destaca. Nesse caso, é possível sentir que a
gravidade não deixou de existir, mas você está em queda livre e o seu corpo não
está sendo sustentado pelo chão ou pelo carrinho do brinquedo, assim como o seu
estômago, que não está sendo sustentado pelo resto do corpo, já que todos estão
caindo juntos. Entendeu?
Para
aqueles que ainda defendem mitos sobre o universo como o de que
a gravidade existe no espaço e também para quem diz ao contrário, é
possível recriar a experiência de microgravidade em um avião em queda livre por
20 a 30 segundos. A Nasa, por exemplo, é adepta do experimento e o utiliza para
o treinamento de astronautas que serão enviados em missões futuras. De resto, é
tentar não compartilhar falsas informações. Ponto para a ciência.
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