O esforço persistente da ONG Oxfam em demonstrar, nos últimos anos, o progressivo, insustentável e imoral crescimento da desigualdade econômica é uma provocação em busca de uma crise de consciência dos líderes do capitalismo global, mas a estratégia ainda não surtiu efeito.
Como parece já não causar mais espanto o fato de 1% da população mundial deter a mesma riqueza que os 99% restantes, a Oxfam desdobrou a análise para a realidade local. Assim, tomamos conhecimento que os 5 brasileiros mais ricos possuem o mesmo que os 100 milhões mais pobres do país, ou seja, metade da população.
Quem foi a Davos, constatou que o tema da desigualdade ganha força. “Houve vários debates importantes em torno das dimensões das desigualdades: de renda, de gênero, de acesso a educação, entre outras”, conta o cientista político Leandro Machado, da agência Cause.
“Mas acredito que, dentre todas as dimensões, a questão da desigualdade entre homens e mulheres foi a dominante, visto que o próprio Fórum Econômico Mundial teve somente mulheres como anfitriãs do evento, pela primeira vez em quase 50 anos de história”, completa.
Num paralelo a um processo de autoanálise, o primeiro passo é a negação, o que parece já não ser mais possível com as recorrentes evidências apresentadas ano a ano. Depois, vem a discussão de sintomas periféricos, como redividir o bolo dos salários ou dos benefícios dos aposentados. Qualquer semelhança com os debates atuais não é mera coincidência. Podem ser medidas necessárias para resolver distorções, mas não resolvem o problema.
Mais para frente, e pode demorar muitos anos de divã, aceita-se discutir o centro da questão. No caso da desigualdade econômica, como evitar ou limitar essa transferência permanente de capital para poucas mãos.
Kamprad, que parecia não gostar de fazer parte das listas de bilionários, decidiu doar toda a sua fortuna para uma fundação e chegar ao fim da vida da mesma maneira que começou: pobre na pequena cidade em que nasceu no interior da Suécia.
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