9 fev 2018 
                        
 Magistrados brasileiros em início de carreira ganham até o triplo de 
seus colegas alemães. Mesmo gastando mais, Brasil tem proporcionalmente 
menos juízes que o país europeu.O custo do Poder Judiciário brasileiro 
voltou aos holofotes após a revelação de que juízes da Operação Lava 
Jato recebem auxílio-moradia mesmo quando possuem imóveis nas cidades em
 que trabalham.
Foto: DW / Deutsche Welle
 Em 2017, o auxílio-moradia para juízes e procuradores custou 399 
milhões de reais aos cofres públicos. O valor, no entanto, empalidece 
quando comparado aos gastos totais do Judiciário: 84,8 bilhões de reais 
em 2016, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
 Os brasileiros pagam por um dos sistemas judiciários mais caros do 
mundo. O valor de 2016 representou 1,4% do PIB do país. No mesmo 
período, os gastos com a Justiça na Alemanha alcançaram apenas 0,4% do 
PIB. Ou seja, o Judiciário brasileiro é 3,5 vezes mais caro do que o 
alemão. A diferença é expressiva mesmo se for considerado que o PIB 
alemão é o dobro do brasileiro.
 Outras comparações também evidenciam como os brasileiros gastam mais. 
Em 2015, o Judiciário alemão custou em média 150 euros (cerca de 600 
reais) por habitante. No Brasil, a proporção foi de 413,51 reais no 
mesmo período. O valor mais alto na Alemanha não significa que seus 
habitantes pagaram proporcionalmente mais, já que a renda per capita dos
 alemães é quase cinco vezes a dos brasileiros.
 Salários, penduricalhos e início de carreira
 Na questão salarial, o Brasil também destoa da Alemanha, especialmente 
no pagamento aos juízes. Segundo dados do CNJ, cada juiz custou aos 
cofres públicos 47,7 mil reais em 2016. O valor supera claramente o teto
 constitucional de 33 mil reais.
 Para contornar o limite, salários são turbinados com extras, como o 
auxílio-moradia, auxílio-alimentação, auxílio-paletó, auxílio-educação, 
adicional mais alto nas férias, entre outros, que não são descontados no
 imposto de renda. Graças a esses penduricalhos, os magistrados ganham 
em média 572 mil reais por ano.
 Na Alemanha, os valores podem variar conforme o tribunal (instâncias 
superiores pagam mais), o cargo (posições de chefia têm salário maior), o
 tempo de serviço e o estado da Federação. Os maiores salários são pagos
 aos juízes das cortes federais superiores. A média na Alemanha é de 110
 mil euros anuais (442 mil reais) - consideravelmente inferior à dos 
juízes do Brasil.
 Nas cortes distritais, os valores são ainda mais baixos. Um juiz alemão
 experiente, com pelo menos 20 anos de carreira num tribunal distrital, 
pode almejar 77 mil euros anuais (310 mil reais) - quase a metade do 
salário dos ganhos médios dos juízes brasileiros.
 Para os juízes em início de carreira, os valores são ainda mais baixos.
 Em alguns tribunais estaduais, como em Baden-Württemberg, um magistrado
 em início de carreira recebe 3.347 euros (13.450 reais) por mês.
 Em média, quando consideradas as variações regionais, o salário inicial
 de um juiz é de 45 mil euros anuais (180.800 reais), segundo dados da 
Comissão Europeia para a Eficiência da Justiça - juízes brasileiros 
podem receber o triplo desse valor já no início da carreira, graças ao 
salário-base e os penduricalhos.
 Também não há extras comparáveis ao sistema brasileiro. Uma das raras 
benesses que os juízes alemães recebem é um auxílio para pagamento de 
despesas médicas. O mesmo vale para os procuradores.
 Na Europa em geral, o auxílio-moradia que causou discórdia no Brasil só
 existe em países como Portugal, Ucrânia, Rússia, Turquia e Montenegro, 
segundo dados da Comissão Europeia.
 Alguns estados alemães pagam um "bônus de Natal" para os servidores 
públicos (inclusive juízes), mas os valores não passam de algumas 
centenas de euros. Em Berlim, por exemplo, o bônus rendeu entre 640 e 
900 euros extras para os magistrados no final do ano passado.
 Tal como os juízes brasileiros, os alemães também costumam se queixar 
dos salários. Os ganhos iniciais de juízes estaduais e de instâncias 
superiores são menores do que em países vizinhos, como Áustria e 
Bélgica.
 Em 2014, um grupo de juízes e procuradores do estado alemão de 
Saxônia-Anhalt se queixou dos valores junto ao Tribunal Constitucional 
Federal. Meses depois, a corte avaliou que, de fato, os salários de 
início de carreira do estado estavam abaixo do necessário para a 
subsistência. Recentemente, juízes e procuradores da Baixa Saxônia 
apresentaram queixa similar.
 Segundo associações de juízes da Alemanha, tais salários desestimulam 
candidatos à magistratura, que acabam sendo levados a seguir a carreira 
advocatícia, onde os ganhos potenciais são maiores. Hoje há um déficit 
de 2 mil juízes nos tribunais estaduais do país, e os estados enfrentam 
dificuldades para preencher as vagas.
 Em média, os juízes alemães em início de carreira ganham apenas 16% a 
mais que a renda média do país. No Brasil, os juízes ganham em média 
2.100% a mais.
 Gastos com pessoal
 O contraste entre o sistema alemão e o brasileiro também ocorre no 
pessoal. Mesmo sendo mais caro até mesmo em valores absolutos (em 2015 o
 Judiciário alemão custou cerca de 50 bilhões de reais), o Brasil tem 
menos juízes do que o país europeu. São oito para cada grupo de 100 mil 
habitantes. Já a Alemanha tem cerca de 24 juízes por 100 mil habitantes.
 Em ambos os países, o grosso do orçamento vai para o pagamento de 
pessoal. Mas as semelhanças param por aí. No Brasil, a folha de 
pagamento consumiu 89,5% dos 84,8 bilhões em 2016. Só que a maior parte 
desse valor não foi destinada aos magistrados, mas aos servidores 
(ativos e inativos) e auxiliares (terceirizados, estagiários, entre 
outros). Na Alemanha, a percentagem de gasto com pessoal se manteve em 
70% do orçamento do Judiciário nos últimos anos.
 O quadro do Judiciário brasileiro contava com 424 mil pessoas em 2016, e
 a proporção alcançou 205 funcionários para cada grupo de 100 mil 
habitantes. Na Alemanha, mal alcança 67 para cada 100 mil habitantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário