quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

O que se sabe sobre a ligação entre o consumo de álcool e a demência


Pesquisa francesa divulgada recentemente reforçou tese de que ingestão excessiva de bebidas alcoólicas é forte fator de risco para desenvolvimento da síndrome.

28 fev 2018 

Há uma série de razões pelas quais beber muito álcool regularmente não é uma boa ideia. Isso pode gerar danos ao fígado, ao coração e ao cérebro e é ruim para a saúde em geral, por isso a recomendação de médicos britânicos é que não sejam consumidas mais do que 14 unidades de álcool por semana - o equivalente a quase dez latas de cerveja ou sete taças de vinho.
Mas as pesquisas, incluindo uma divulgada recentemente, apontam que beber em excesso pode ter outro malefício: aumentar o risco de uma pessoa desenvolver demência.
Diversos estudos já mapearam os efeitos do consumo moderado e excessivo de álcool para a saúde
Diversos estudos já mapearam os efeitos do consumo moderado e excessivo de álcool para a saúde
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
O novo estudo foi publicado no periódico científico Lancet Public Health e realizado na França com mais de 1 milhão de adultos que têm esse problema. Os pesquisadores descobriram que ser hospitalizado por alcoolismo ou outros problemas de saúde decorrentes do consumo excessivo de bebidas é um forte fator de risco para a progressão da demência, especialmente no surgimento precoce dos sintomas, antes dos 65 anos.
Neste grupo, o risco de surgimento da demência era três vezes maior na comparação com outras pessoas.
Mas é difícil definir se essa é uma associação direta ou apenas um dos fatores entre muitos. Pessoas que bebem de forma excessiva têm maior tendência a fumar, ter depressão e levar vidas pouco saudáveis - fatores que aumentam o risco da demência.
A demência é considerada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma síndrome - um conjunto de sintomas que podem ter causas diversas, como doenças e outros danos. Ela leva à deterioração da memória e de funções cognitivas, tendo também impactos psicológicos e sociais.
Quanto os envolvidos no estudo beberam?
Ninguém sabe ao certo. O que é conhecido é que as pessoas estudadas tinham distúrbios relacionados ao álcool, o que significa que esse consumo abusivo estava levando a graves problemas de saúde.
Mas sabe-se que beber dessa forma aumenta o risco de pressão alta, diabetes, AVC e insuficiência cardíaca.
A demência afeta a memória e funções cognitivas do cérebro - e, segundo um estudo recente, o consumo excessivo de álcool pode intensificar esses efeitos
A demência afeta a memória e funções cognitivas do cérebro - e, segundo um estudo recente, o consumo excessivo de álcool pode intensificar esses efeitos
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
Pessoas que bebem moderadamente devem se preocupar?
A maior parte das pesquisas sugere que beber de uma a duas unidades de álcool por dia - especialmente uma pequena taça de vinho tinto - pode trazer benefícios ao cérebro.
Mas o conselho não é mais incisivo porque alguns estudos também já mostraram que, mesmo moderado, o consumo de álcool pode aumentar o risco de demência.
No entanto, há uma grande diferença nos impactos para a saúde entre o consumo baixo ou moderado de álcool e o excessivo.
Segundo autoridades de saúde do Reino Unido, não devemos ultrapassar mais de 14 unidades de álcool por semana - de acordo com o governo, uma "unidade" equivale a 10 mililitros de álcool puro.
Isso mantém os riscos à saúde em um nível seguro.
O que dizem os especialistas?
Reconhecer que o consumo excessivo e dependente de álcool aumenta o risco da demência é importante, dizem os pesquisadores.
Tara Spires-Jones, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, diz: "Está muito claro que o abuso no consumo de álcool é ruim para o cérebro".
Mas também há a concordância de que mais estudos são necessários para entender o papel do volume consumido versus a frequência do consumo.
Segundo estudiosos, é clara a relação entre consumo excessivo de álcool e danos ao cérebro
Segundo estudiosos, é clara a relação entre consumo excessivo de álcool e danos ao cérebro
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
A maior parte dos casos de Alzheimer, a causa mais importante da demência, acontece depois dos 65 e aumenta de forma mais acelerada com o envelhecimento. Descobrir formas de prevenção seria particularmente útil.
Doug Brown, pesquisador da Sociedade do Alzheimer, diz que "o abuso no consumo de álcool pode ser responsável por mais casos de demência precoce do que se pensava anteriormente".
Mas ele destaca que a pesquisa publicada no Lancet não muda as recomendações atuais e não sugere que o consumo moderado de álcool possa causar o surgimento precoce da demência.
Entretanto, a doutora Sara Imarisio, líder de um centro de pesquisas sobre Alzheimer no Reino Unido, faz um alerta.
"As pessoas não deveriam ficar com a impressão que apenas beber ao ponto de precisar ser hospitalizado apresenta um risco."
Segundo Imarisio, há uma série de recomendações que podem ser seguidas por todos para melhorar a saúde do cérebro.
"Embora não haja nenhuma maneira segura de prevenir completamente a demência, as melhores evidências atualmente recomendam, além de beber com moderação, permanecer fisica e mentalmente ativo, ter uma dieta saudável e equilibrada, não fumar e manter o peso e controlar o colesterol e a pressão sanguínea".

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

O capitalismo no divã

O capitalismo no divã
Desigualdade: crise ou na prosperidade, os mais ricos sempre ficam mais ricos e, por seu lado, os mais pobres seguem ainda mais pobres

Ao final de mais uma edição do Fórum Econômico Mundial, em Davos, fica a sensação de que as lideranças globais do capitalismo passaram por mais uma sessão de terapia coletiva. Falaram de seus desafios, previsões de que o futuro será melhor, mas, de fato, desviaram ou seguiram na lenta aproximação dos problemas centrais da nossa vida ou, digamos, da nossa coexistência em sociedade.
O esforço persistente da ONG Oxfam em demonstrar, nos últimos anos, o progressivo, insustentável e imoral crescimento da desigualdade econômica é uma provocação em busca de uma crise de consciência dos líderes do capitalismo global, mas a estratégia ainda não surtiu efeito.
Como parece já não causar mais espanto o fato de 1% da população mundial deter a mesma riqueza que os 99% restantes, a Oxfam desdobrou a análise para a realidade local. Assim, tomamos conhecimento que os 5 brasileiros mais ricos possuem o mesmo que os 100 milhões mais pobres do país, ou seja, metade da população.
E a Oxfam revelou mais: enquanto o patrimônio da metade mais pobre da população diminuiu para apenas 2% do total nacional, a parcela dos bilionários brasileiros cresceu 13% em 2017. Explicita-se, assim, o lado mais perverso de nosso atual modelo de desenvolvimento. Faça chuva ou faça sol, na crise ou na prosperidade, os mais ricos sempre ficam mais ricos e, por seu lado, os mais pobres seguem ainda mais pobres.
Quem foi a Davos, constatou que o tema da desigualdade ganha força. “Houve vários debates importantes em torno das dimensões das desigualdades: de renda, de gênero, de acesso a educação, entre outras”, conta o cientista político Leandro Machado, da agência Cause.
“Mas acredito que, dentre todas as dimensões, a questão da desigualdade entre homens e mulheres foi a dominante, visto que o próprio Fórum Econômico Mundial teve somente mulheres como anfitriãs do evento, pela primeira vez em quase 50 anos de história”, completa.
A meritória e bem-vinda iniciativa do Fórum de tomar uma atitude afirmativa em torno da questão de igualdade de gênero é também reveladora: demonstra ser mais palatável neste momento abrir espaço para o necessário equilíbrio de oportunidade, remuneração e representatividade entre homens e mulheres do que discutir mecanismos que limitem ou reduzam a concentração de riqueza.
Num paralelo a um processo de autoanálise, o primeiro passo é a negação, o que parece já não ser mais possível com as recorrentes evidências apresentadas ano a ano. Depois, vem a discussão de sintomas periféricos, como redividir o bolo dos salários ou dos benefícios dos aposentados. Qualquer semelhança com os debates atuais não é mera coincidência. Podem ser medidas necessárias para resolver distorções, mas não resolvem o problema.
Mais para frente, e pode demorar muitos anos de divã, aceita-se discutir o centro da questão. No caso da desigualdade econômica, como evitar ou limitar essa transferência permanente de capital para poucas mãos.
Não será possível contar com o nível de consciência de cada bilionário. Nem todos terão a mesma grandeza do sueco Ingvar Kamprad, fundador da rede de móveis Ikea, que faleceu no sábado 27 de janeiro, aos 91 anos.
Kamprad, que parecia não gostar de fazer parte das listas de bilionários, decidiu doar toda a sua fortuna para uma fundação e chegar ao fim da vida da mesma maneira que começou: pobre na pequena cidade em que nasceu no interior da Suécia.

Desmatamento na Amazônia está prestes a atingir limite irreversível

Agência FAPESPElton Alisson
O desmatamento da Amazônia está prestes a atingir um determinado limite a partir do qual regiões da floresta tropical podem passar por mudanças irreversíveis, em que suas paisagens podem se tornar semelhantes às de cerrado, mas degradadas, com vegetação rala e esparsa e baixa biodiversidade.
O alerta foi feito em um editorial publicado nesta quarta-feira (21/02) na revista Science Advances. O artigo é assinado por Thomas Lovejoy, professor da George Mason University, nos Estados Unidos, e Carlos Nobre, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas – um dos INCTs apoiados pela FAPESP no Estado de São Paulo em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – e pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“O sistema amazônico está prestes a atingir um ponto de inflexão”, disse Lovejoy à Agência FAPESP. De acordo com os autores, desde a década de 1970, quando estudos realizados pelo professor Eneas Salati demonstraram que a Amazônia gera aproximadamente metade de suas próprias chuvas, levantou-se a questão de qual seria o nível de desmatamento a partir do qual o ciclo hidrológico amazônico se degradaria ao ponto de não poder apoiar mais a existência dos ecossistemas da floresta tropical.
Os primeiros modelos elaborados para responder a essa questão mostraram que esse ponto de inflexão seria atingido se o desmatamento da floresta amazônica atingisse 40%. Nesse cenário, as regiões Central, Sul e Leste da Amazônia passariam a registrar menos chuvas e ter estação seca mais longa. Além disso, a vegetação das regiões Sul e Leste poderiam se tornar semelhantes à de savanas.
Nas últimas décadas, outros fatores além do desmatamento começaram a impactar o ciclo hidrológico amazônico, como as mudanças climáticas e o uso indiscriminado do fogo por agropecuaristas durante períodos secos – com o objetivo de eliminar árvores derrubadas e limpar áreas para transformá-las em lavouras ou pastagens.
A combinação desses três fatores indica que o novo ponto de inflexão a partir do qual ecossistemas na Amazônia oriental, Sul e Central podem deixar de ser floresta seria atingido se o desmatamento alcançar entre 20% e 25% da floresta original, ressaltam os pesquisadores.
O cálculo é derivado de um estudo realizado por Nobre e outros pesquisadores do Inpe, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e da Universidade de Brasília (UnB), publicado em 2016 na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
“Apesar de não sabermos o ponto de inflexão exato, estimamos que a Amazônia está muito próxima de atingir esse limite irreversível. A Amazônia já tem 20% de área desmatada, equivalente a 1 milhão de quilômetros quadrados, ainda que 15% dessa área [150 mil km2] esteja em recuperação”, ressaltou Nobre.
Margem de segurança
Segundo os pesquisadores, as megassecas registradas na Amazônia em 2005, 2010 e entre 2015 e 2016, podem ser os primeiros indícios de que esse ponto de inflexão está próximo de ser atingido.
Esses eventos, juntamente com as inundações severas na região em 2009, 2012 e 2014, sugerem que todo o sistema amazônico está oscilando. “A ação humana potencializa essas perturbações que temos observados no ciclo hidrológico da Amazônia”, disse Nobre.
“Se não tivesse atividade humana na Amazônia, uma megasseca causaria a perda de um determinado número de árvores, que voltariam a crescer em um ano que chove muito e, dessa forma, a floresta atingiria o equilíbrio. Mas quando se tem uma megasseca combinada com o uso generalizado do fogo, a capacidade de regeneração da floresta diminui”, explicou o pesquisador.
A fim de evitar que a Amazônia atinja um limite irreversível, os pesquisadores sugerem a necessidade de não apenar controlar o desmatamento da região, mas também construir uma margem de segurança ao reduzir a área desmatada para menos de 20%.
Para isso, na avaliação de Nobre, será preciso zerar o desmatamento na Amazônia e o Brasil cumprir o compromisso assumido no Acordo Climático de Paris, em 2015, de reflorestar 12 milhões de hectares de áreas desmatadas no país, das quais 50 mil km2 são da Amazônia.
“Se for zerado o desmatamento na Amazônia e o Brasil cumprir seu compromisso de reflorestamento, em 2030 as áreas totalmente desmatadas na Amazônia estariam em torno de 16% a 17%”, calculou Nobre.
“Dessa forma, estaríamos no limite, mas ainda seguro, para que o desmatamento, por si só, não faça com que o bioma atinja um ponto irreversível”, disse
O editorial Amazon tipping point (doi: 10.1126/sciadv.aat2340), assinado por Thomas Lovejoy e Carlos Nobre, pode ser lido na revista Science Advances.
O artigo Land-use and climate change risks in the Amazon and the need of a novel sustainable development paradigm (doi: 10.1073/pnas.1605516113), de Carlos Nobre, Gilvan Sampaio, Laura Borma, Juan Carlos Castilla-Rubio, José Silva e Manoel Cardoso, pode ser lido na revista PNAS em http://www.pnas.org/content/113/39/10759.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Previdência social britânica e alemã

Sistemas de seguridade da Alemanha e Reino Unido têm origens comuns, mas se diferenciaram no pós-guerra. Hoje, ambos estão em dificuldades, e o preço pode ser colapso da coesão social e conflitos de classes.
Protestos contra cortes do NHS, em março de 2017, Londres Protestos contra cortes do NHS, em março de 2017, Londres
O mundo já está mais ou menos acostumado às tiradas do presidente americano, Donald Trump, contra tudo e contra todos. Ainda assim, foi uma dupla surpresa, quando, em 5 de fevereiro, ele achou por bem tuitar seu desagrado com o estado do pilar do sistema de saúde do Reino Unido, o National Health Service (NHS).
"Os democratas [dos Estados Unidos] estão pressionando pelo Universal Health Care, enquanto milhares de pessoas saem em passeata no Reino Unido porque o sistema universal delas está falindo e não funciona. Democratas querem subir muito os impostos em troca de assistência médica bem ruim e impessoal. Não, obrigado!"
Em primeiro lugar, possivelmente houve uma certa perplexidade por ele sequer ter ouvido falar do NHS. Em segundo, terá gerado consternação a perspicácia de Trump ao descrever essa situação.
Isso porque, de acordo com diversos observadores, o serviço nacional de saúde britânico está, de fato, "falido" e "sem funcionar". Como provas disso, estão seu crônico subfinanciamento, operações canceladas e pacientes atentidos nos corredores dos hospitais ou em ambulâncias, devido à falta de leitos.
Sistema ternário britânico
Porém não foi sempre assim. Criado em 1948 pelo então ministro da Saúde Nye Bevan, um paladino da justiça social e dos direitos dos trabalhadores, o NHS era igualitário e independente de contribuições, sendo diretamente financiado pelas arrecadações tributárias. No entanto é uma abordagem cara, por cobrir a todos, não só os trabalhadores.
"No Reino Unido, há um sistema ternário, composto pelo indivíduo, o empregador e o Estado", explica Chris Renwick, catedrático de História Moderna da Universidade de York e autor de Bread for all: The origins of the welfare state  (Pão para todos: As origens do Estado previdenciário).
"Então há uma noção de que ou se encontra um modo de reformar a base tributária, de modo a pagar pelo sistema dentro da economia que se tem; ou é preciso que explorar um modo separado de pagá-lo através de um modelo de seguridade. Senão, a alternativa é abandonar a ideia de que o NHS seja uma modelo de assistência universal."
Costuma-se a atribuir grande parte do sucesso do NHS no Estado previdenciário do pós-guerra ao comprometimento da classe média com o sistema, diz Renwick. Isso explicaria a continuada relutância em mexer com ele.
"Se você introduz um sistema em que se espera que a classe média contribua para a assistência de saúde, numa espécie de esquema transacional, há um temor de que isso represente uma falência do contrato social, em relação a certas coisas."
Na Alemanha, governo de fora da saúde
A Alemanha, por sua vez, tem um sistema dual de diversos pagadores, obrigatório para todos que vivem no país. De acordo com a renda e o estatuto empregatício, os cidadãos escolhem entre a seguridade pública, provida por caixas de saúde não governamentais, e seguradoras privadas.
 
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Imagens de um dia de fúria na Argentina

As contribuições se baseiam ou numa percentagem da renda (público) ou na idade e risco (privado). O Estado, nos diversos níveis administrativos, não desempenha praticamente nenhum papel no financiamento da assistência de saúde.
Segundo Renwick, "do ponto de vista histórico, o sistema alemão é um importante ponto de comparação. A estrutura bismarckiana do fim do século 19, que estabeleceu o primeiro serviço de saúde universal, foi, de diversos modos, uma espécie de inspiração para determinados aspectos do sistema britânico no fim do século 19 e início do 20."
Seguro-desemprego: procurar trabalho ou não?
Tradicionalmente, a Alemanha sempre manteve um quadro bem mais generoso de benefícios previdenciários. Isso se aplicava especialmente ao seguro-desemprego, segundo o qual o trabalhador tinha direito a uma percentagem bastante alta de seus últimos vencimentos, durante um ano.
"Assim, como docente universitária, por exemplo, eu seria paga 80% do meu salário atual, estaria muito bem e não teria muito incentivo para voltar ao local de trabalho", comenta Patricia Hogwood, professora associada de Política Europeia na Universidade de Westminster, com especialização na política e sistema previdenciário alemães.
Em 2003, o governo de coalizão entre social-democratas e verdes introduziu as reformas da previdência conhecidas como Hartz IV, que endureceram as condições para os desempregados, tornando-se profundamente impopulares. Em contrapartida, os assalariados do Reino Unido têm sempre em mente que, caso percam o emprego, sua renda será cortada inteiramente. Isso funciona como incentivo para que se encontre trabalho o mais rápido possível.
A Alemanha basicamente serviu como modelo para os britânicos até meados do século 20, quando os sistemas passaram a divergir. O Reino Unido "opta por uma versão peculiar do sistema de contribuição para a seguridade nacional", diz Renwick. Este se define pela adoção de taxas fixas, tanto para as contribuições como para os benefícios: "Se você tiver pagado por 20 anos, recebe a mesma quantia do que se contribuiu seis meses."
Hogwood frisa que o modelo anglo-irlandês sempre teve como finalidade prover cobertura de emergência e total. "Ele não foi realmente concebido para substituir a renda em caso de necessidade. Para quem tivesse um emprego bem pago, não daria nem para cobrir as despesas a que está acostumado; para os baixos assalariados, ficaria bem parecido com o que a pessoa estava acostumada. E os pagamentos eram por um prazo breve, pois se partia do princípio que se encontraria emprego relativamente rápido."
Sem legitimidade, colapso da coesão e conflito social
A época atual, de mudanças estruturais e econômicas, está encarecendo muito a manutenção dos sistemas de previdência, e os legisladores se esforçam para encarar o desafio, diz Patricia Hogwood.
"Os governos acham que não têm como manter esses velhos sistemas, mas ainda querem reter o elemento de legitimidade que o sistema previdenciário gerava para eles. Pois, se não se preserva isso, o que se tem é um colapso da coesão social, é o conflito entre os grupos sociais que estamos vendo agora."
Os governos tanto do Reino Unido quanto da Alemanha têm procurado "dar um jeitinhos", com emendas ao Estado previdenciário, a fim de torná-lo mais eficaz e economicamente viável. Contudo o consenso parece ser que é necessária uma reforma radical do sistema, da base até o topo.
"Acho que a mensagem final é que, apesar das diferentes abordagens adotadas tradicionalmente, ambos os sistemas estão indo pelo mesmo caminho, pois os dois adotaram o curso neoliberal de priorizar a flexibilidade da mão de obra e a competitividade da economia, na frente do que o bem-estar."
"Eles querem cortar os benefícios previdenciários, mas ambos enfrentam o desafio de como evitar conflito social e como manter a legitimidade do governo, com as pessoas assim tão zangadas", analisa Hogwood. "Gradualmente forma-se uma classe social que fica de fora por simplesmente não poder pagar os custos suplementares."

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O brilho do Carnaval é uma ameaça para o meio ambiente

A Eco Glitter Fun vende brilhos biodegradáveis, uma solução amiga do meio ambiente
Usadas para fazer brilhar o corpo, a roupa, os acessórios e os trabalhos manuais, as purpurinas, feitas com microplásticos, acabam no mar, prejudicando a vida marítima
É difícil imaginar o Carnaval sem purpurinas. Do corpo à roupa, passando pelo rosto e o cabelo, o brilho parece ser indispensável para a folia. Mas não será tão inofensivo como parece. Depois de uma rede de creches britânica ter proibido o uso de purpurinas e glitter, várias vozes se levantaram exigindo uma proibição a nível mundial, devido às consequências negativas que estes produtos podem ter nos ecossistemas. Atentas ao debate, algumas empresas estão a apresentar soluções biodegradáveis.
Regra geral, as purpurinas são feitas com pequenos pedaços de plástico (polietileno tereftalato - PET) e alumínio. "Estamos a falar de microplásticos [partículas inferiores a cinco milímetros]. A única maneira de saírem do corpo é no banho e não há nada que as retenha. Vão parar aos oceanos, tal como aquelas que são atiradas para o ar acabam por ir", explicou ao DN Carla Rodrigues Lourenço, bióloga marinha e responsável pela Straw Patrol, um projeto de sensibilização ambiental, que alerta para a problemática do lixo marinho.
Trisia Farrelly, antropóloga do meio ambiente na Universidade Massey na Nova Zelândia, foi uma das vozes que sugeriram o fim destes brilhantes: "As purpurinas deviam ser proibidas, porque são microplásticos e todos os microplásticos acabam no meio ambiente." Ao DN, Carla Graça, vice-presidente da Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável, defendeu também que, tratando-se de "produtos fúteis", devem ser banidos. "Não vemos qualquer utilidade em usar um produto tóxico, com consequências muito negativas para o meio ambiente e para a saúde pública, já que a sua recolha e reciclagem são praticamente impossíveis. Isto vem ao encontro do que temos vindo a pedir: é importante banir os produtos de uso único e optar-se por produtos reutilizáveis ou que tenham garantia de biodegradabilidade e segurança em termos de toxicidade", disse a responsável.
Em novembro, 19 creches da cadeia britânica Tops Day proibiram o uso de purpurinas e glitter nos trabalhos manuais das suas salas, intensificando a discussão. Para Carla Lourenço, proibir pode não ser a solução indicada, "já que quando se usa esta palavra muita gente acha mal". "Mas penso que é boa ideia", frisou a bióloga, destacando que "há a possibilidade de ter purpurinas de forma natural, a partir de folhas secas das árvores, por exemplo".
Quando chegam aos oceanos, explicou a especialista, as purpurinas e o glitter, "que já têm químicos na sua composição, agem como esponjas e absorvem químicos, poluentes da água do mar". Como são muito pequenas, "são ingeridas pelos organismos mais pequenos, como o zooplâncton, e a partir daí vão escalando, acabando por entrar na alimentação humana". Por exemplo: "O zooplâncton é ingerido por sardinhas, que são comidas por peixes maiores, que depois são capturados. E os microplásticos chegam, assim, aos pratos das pessoas. Isto não é raro. Já acontece em Portugal." Um estudo recente, prosseguiu, demonstrou que um em cada cinco peixes com interesse comercial tem microplásticos no estômago.
Até ao momento, ainda não se sabe ao certo qual o impacto que estas partículas têm na saúde do ser humano. "Mas sabe-se que os plásticos têm químicos que provocam alterações no organismo ao nível das hormonas e que podem levar ao desenvolvimento de doenças, portanto é provável que possa haver um impacto direto na saúde humana", destacou a responsável pela Straw Patrol.
Além do plástico que vai parar ao oceano, Carla Graça lembra que as estações de tratamento de águas residuais "não estão adaptadas para tratar os microplásticos". Muitos vão parar também aos rios e a aos lagos. Por isso, insiste, "é necessário que haja pressão da opinião pública e dos governos para que a indústria dê um passo em frente e altere as suas práticas, no sentido de encontrar soluções mais sustentáveis".
Alternativas ecológicas
Várias empresas têm vindo a desenvolver purpurinas e glitter biodegradáveis. No Brasil, por exemplo, as marcas Viva Purpurina Biodegradável e a Glitter Ecológico estão a comercializar produtos não tóxicos, que não prejudicam os ecossistemas. Assim como a EcoStarDust, uma empresa cuja missão é aumentar a consciencialização sobre questões ambientais, através da venda de brilho ecológico.
Este não é, contudo, um problema exclusivo das purpurinas. "Há muita cosmética que usa microplásticos, por exemplo", lembrou Carla Lourenço. Nos últimos anos, alguns países proibiram o uso destas pequenas partículas de plástico em cosmética e produtos de higiene, nomeadamente em geles de banho, esfoliantes e maquilhagem. Primeiro foram alguns estados nos Estados Unidos, em 2015, e depois o Reino Unido, já neste ano, cumprindo uma promessa feita no ano passado. Para já está proibido o fabrico de cosméticos e produtos de higiene pessoal com microplásticos e, em julho, é proibida a venda dos mesmos.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Como e quando falar sobre sexualidade com as crianças

Segundo sexólogos, é importante 'aposentar a cegonha' e começar a educá-las sobre o tema, aos poucos, antes dos dez anos - tanto para evitar problemas como gravidez na adolescência como para ensinar a identificar o que é abuso.

14 fev 2018 

O filho da empresária Nathália Paschoalli, Enrico, tem apenas cinco anos, mas já faz inúmeras perguntas sobre sexualidade desde muito pequeno.
"Assim que começou a formular frases, o Enrico perguntava porque a mamãe era diferente do papai, por que o 'pipi' dele era menor que o do papai, por que ele não tinha pelos no corpo etc.", conta a empresária.
Em vez de inventar histórias, é preciso explicar com naturalidade como funciona a reprodução
Em vez de inventar histórias, é preciso explicar com naturalidade como funciona a reprodução
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
As perguntas do pequeno começaram a ficar mais complexas desde que ele fez quatro anos. "Enrico agora tem pedido a nós um irmãozinho e pediu se podia ele carregar o irmão na barriga. Aí teve o drama de descobrir que meninos não podem engravidar."
A naturalidade com que Nathália e o marido tentam explicar as questões de sexualidade para o filho vem da criação que a empresária recebeu da família. Filha de enfermeira e professora de enfermagem, Nathália conta que sempre acompanhava a mãe em palestras sobre Aids e doenças sexualmente transmissíveis.
"A educação sexual que recebi dos meus pais foi muito prática, informativa e pouco romantizada", lembra.
Nem toda pessoa, contudo, recebe educação sexual durante a infância. Para muitas famílias, o tema ainda é tabu dentro de casa.
A curiosidade da criança deve ser a medida para saber quando conversar sobre o assunto | Foto: Arquivo Pessoal
A curiosidade da criança deve ser a medida para saber quando conversar sobre o assunto | Foto: Arquivo Pessoal
Foto: BBCBrasil.com
Para o médico Jairo Bouer, educador e pesquisador sobre educação sexual, a falta de informação sobre sexualidade entre os jovens no Brasil contribui para que sejam altos os números de transmissão do HIV, o vírus causador da Aids, e gravidez precoce entre eles, mesmo com a pílula do dia seguinte e inúmeros meios contraceptivos disponíveis à população.
"Hoje, crianças e adolescentes podem pesquisar suas dúvidas na internet ao invés de perguntar aos pais. Por isso, de modo geral, vejo que as crianças se deparam mais cedo com o tema da sexualidade. O problema não é buscar a informação, e sim se deparar com informações erradas e inadequadas para cada fase de desenvolvimento da criança", diz Bouer.
O último relatório da Unaids, programa das Nações Unidas contra a Aids, mostrou que o Brasil é responsável por 40% das novas infecções por HIV na América Latina.
Dados de 2017 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostraram que uma em cada cinco crianças no Brasil é filha de mãe adolescente, sendo que 58% dessas adolescentes não estudavam quando engravidaram.
Segundo dados de 2006 a 2015 da UNFPA, órgão da ONU responsável por questões populacionais, o país tem a 7ª maior taxa de gravidez na adolescência na América do Sul.
"A educação sexual deve começar antes dos dez anos", defende Bouer. "Somente com informação correta aos adolescentes, sem tabus e julgamentos, iremos reduzir os altos números de sexo sem segurança e gravidez na adolescência na adolescência."
Desenvolvendo a identidade sexual
O primeiro contato que temos com a sexualidade, de acordo com Cláudia Bonfim, doutora em Educação e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Sexualidade do Ministério da Educação e autora do livro Educação Sexual e Formação de Professores: da Educação Sexual que Temos à que Queremos , é durante a amamentação.
"A sexualidade nos é apresentada de maneira não verbal: pelo toque dos pais, pelo modo como a mãe amamenta, como o bebê é embalado no colo, como o olham, se o amam etc.", explica a educadora. "Ou seja, a educação sexual nessa fase se dá especialmente por meio dos comportamentos e experiências afetivas-sexuais que o bebê vivencia através da sexualidade dos pais e do meio em que ele vive."
As crianças começam a sentir curiosidade pelo próprio corpo desde cedo
As crianças começam a sentir curiosidade pelo próprio corpo desde cedo
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
A descoberta do próprio corpo se dá após os 18 meses de idade, quando a criança vivencia a fase anal, que vai até os três anos e meio.
"A fase anal trata de um momento em que a criança começa a obter controle dos esfíncteres anais e da bexiga, controlando a micção e a evacuação. Aprender a ter o controle das suas necessidades fisiológicas significa uma nova forma de prazer e gratificação, inclusive pela atenção que lhes é dedicada e dos elogios que recebe quando passam a ir sozinhas no banheiro", explica Bonfim.
É nesse momento que a criança descobre que tem um órgão sexual, pois é quando começa a manipular estes órgãos, principalmente quando vai ao banheiro. Por isso, a fase anal pode marcar muito a sexualidade da criança, principalmente nos meninos, por terem o órgão sexual externo.
"É importante que os pais a ajudem a criança a reconhecer o corpo nesta fase com naturalidade, sem reprimir suas atitudes, pois o caráter da criança nessa etapa é de reconhecimento corporal, e não erótico", orienta e educadora.
Bouer explica que também é nessa fase que surgem as dúvidas dos pais sobre como agir diante de comportamentos dos filhos com o próprio corpo.
"Atendo mães que costumam reclamar que o filho fica com a mão no pênis o dia todo. A maior aflição delas é não saber como agir: deveriam conversar com o filho ou fingir que não estão vendo? Eu defendo que deve haver uma conversa com a criança de maneira natural e nunca ignorar o comportamento", defende o médico.
Nathália vivenciou essa fase com Enrico - sua primeira reação foi pedir orientação ao médico do menino.
"Estávamos na sala e o Enrico passou por cima de um brinquedo enquanto engatinhava. Ele tinha pouco mais de um ano. Sentiu alguma coisa ali e voltou, num movimento repetitivo. Relatamos ao pediatra e fomos orientados a não tratarmos aquilo como tabu, nem dar a ele a impressão de que masturbação era errado ou proibido", conta a mãe.
A solução encontrada pela empresária e pelo marido foi tentar distrair Enrico da ação, propondo uma atividade que desviasse a atenção do órgão sexual.
"Depois, com ele maior, explicamos que tocar no próprio pênis é gostoso, não tem problema, mas que não é legal fazer na frente das pessoas por ser um momento privado dele com o corpo dele", relata ela.
Quando conversar
"Em um primeiro momento, cabe aos pais ajudar a criança a construir sua sexualidade de maneira positiva", afirma Bonfim.
Mas o que e quando conversar? Para o doutor Bouer, a curiosidade de cada criança deve ser o termômetro dos pais para saber sobre o que e quando falar.
"As curiosidades sobre o corpo são naturais desde muito cedo, e os pais devem sempre responder as perguntas, mas não acho que nessa fase seja necessário dar uma aula para abordar o tema", explica o médico. "Os pais devem ficar atentos às curiosidades que forem surgindo e sempre explicar dentro da capacidade da criança de entender aquela conversa", completa.
Os pais também devem considerar que cada criança tem uma personalidade e entender o tempo de cada uma de descobrir o mundo a sua volta.
Enrico começou a demonstrar curiosidade desde muito cedo | Foto: Arquivo Pessoal
Enrico começou a demonstrar curiosidade desde muito cedo | Foto: Arquivo Pessoal
Foto: BBCBrasil.com
"Tem crianças mais curiosas, que perguntam sobre tudo; tem as mais tímidas, que provavelmente terão medo de tocar no assunto. De maneira geral, a criança que convive com outras mais velhas que ela começará a perceber seu corpo e o corpo do outro mais cedo que crianças que convivem somente com adultos", explica o doutor.
Independente de cada caso, para Bouer, o ideal é que conversas sobre sexualidade comecem antes dos dez anos, tanto em casa como na escola. Assim, quando chegarem na adolescência, questões mais complexas, como virgindade, sexo seguro, gravidez etc., serão tratadas com atenção e naturalidade pelo adolescente.
"Se as conversas sobre sexualidade não ocorreram até os dez anos, os pais não deverão escolher estratégias muito invasivas para introduzir conversas sobre sexualidade quando os filhos se tornarem adolescentes, uma vez que eles não foram naturalizados com esse tema na infância", afirma o médico.
Aposentar a cegonha
Muitos pais se questionam se podem ficar nus na frente dos filhos pequenos e se podem tomar banho juntos.
Para Bonfim, a dica é entender que a maneira como os pais lidam com o corpo refletirá no modo como a criança e o adolescente lidarão com o próprio corpo e o do outro.
"Se os pais sempre tomam banho junto com a criança, geralmente esta fase é bem mais tranquila, pois essas diferenças corporais foram sendo internalizadas com naturalidade, sem a curiosidade de tirar a roupa do outro para ver como é, por exemplo", explica a educadora sexual.
Nathália conta que ela e o marido sempre tomaram banho com Enrico, e que a primeira pergunta dele sobre sexualidade foi durante um deles.
"Primeiro ele percebeu que eu era diferente dele e não tinha pênis. Depois, me perguntou: 'Cadê seu pipi, mamãe?'", lembra a empresária.
E como responder tal pergunta a uma criança?
Segundo doutor Bouer, muitos pais e até professores recorrem a metáforas para explicar temas sobre sexualidade, mas nem sempre essa é uma boa estratégia.
"Se a metáfora ajudar a criança a entender o que está sendo falado, sem gerar mais dúvidas na cabeça dela, é válido. Porém, não vale usar uma metáfora para inventar uma situação que não existe no mundo real, como a história da cegonha que trouxe o bebê", adverte o médico". "Precisamos enterrar a história da cegonha."
A mãe de Enrico conta que tenta simplificar as palavras para explicar de um modo que o filho entenda, dentro do contexto da idade e da experiência de mundo que o menino tem.
"O que nunca fizemos foi contar estórias de cegonha, repolho, ou coisas do tipo. Também somos objetivos: explicamos pontualmente o que satisfaz a curiosidade dele e não avançamos", conta a mãe.
"Já aconteceu de uma mãe grávida de uma amiguinha de classe do Enrico tentar explicar para eles que o bebê na barriga dela era uma 'pérola' que o papai plantou com um beijo e o Enrico dizer: 'Não é não, tia. O papai planta a sementinha com o 'pipi'."
É mais difícil conversar com adolescentes sobre sexo se o assunto não foi tratado com naturalidade na infância
É mais difícil conversar com adolescentes sobre sexo se o assunto não foi tratado com naturalidade na infância
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
Não diferenciar objetos, cores e comportamentos "permitidos" para meninos e meninas, como forçar as meninas a cruzar as pernas quando sentam ou estimular os meninos a serem agressivos nas brincadeiras, por exemplo, também faz parte de uma educação sexual saudável física e emocionalmente.
"Não ter preconceitos e tabus sexuais começa dentro de casa e na infância. Os pais não devem fazer distinção quanto à utilização de cores e brinquedos entre meninos e meninas. É provado que estes objetos e cores não determinam nossa sexualidade, mas podem interferir na maneira como vemos e respeitamos o sexo oposto e o diferente de nós", afirma Bonfim.
"O maior problema da ideia da fragilidade feminina e da mulher como um ser mais sensível e do homem como um ser que deve reprimir seus sentimentos e ser forte é que geramos mulheres fragilizadas e submissas e homens insensíveis, brutos e com dificuldades de demonstrar seu afeto", completa a educadora.
O mais importante de uma educação sexual consciente para crianças é ensinar o que é amar, se relacionar, o que é afeto e privacidade, assim como identificar o que é abuso. Ou seja, a reconhecer, respeitar e defender o próprio corpo e o corpo do outro.
"Por meio da educação sexual, é possível ensinar a criança a não deixar que nenhuma outra pessoa tire sua roupa, toque em seu corpo e em suas partes íntimas. Também deve-se orientar desde pequeno que, caso essas situações ocorram, ela nunca deve ter vergonha e escondê-las, devem comunicar imediatamente os pais", alerta Bonfim.
"Isso é fundamental para que a criança possa prevenir um abuso ou violência sexual, pois ela saberá diferenciar carinho, afeto, privacidade, de abuso e violência."

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

COMPOSIÇÃO 36

CORAÇÃO DO MUNDO

O coração é inconstante
Mas não é insensível
Diante de quadro tão terrível
Diante de quadro contrastante e preocupante

O coração tem sensibilidade à flor da pele
E pode se quebrar num instante
Não há o que ele não revele
Ele não é indiferente

E o que o coração revela sobre o mundo?
Revela que o mesmo está moribundo
Que o mundo está adoentado
Ajoelhado, ajoelhado, ajoelhado

O mundo revela que está aos pedaços
Sem os seus cadarços
Para fechar suas chagas e seus inchaços
Inchaços, inchaços, inchaços
(Refrão)

Ferido e inchado pela superpopulação
Ferido e inchado pelo endividamento
Ferido pelo desmatamento
Ferido e inchado pelo predatório desenvolvimento
Ferido e inchado pela poluição

Ferido e inchado
Dá para andar preocupado
Com o resultado
Do seu estado já muito desgastado

Coração do mundo
Do mundo inteiro
Do mundo fronteiriço
Simplesmente está à beira do precipício
Do precipício que pode ser o derradeiro
O derradeiro funeral do moribundo
(Refrão)


Mundo forjado a fogo e ferro
Mundo que está mais para inferno
Mundo quebrado, só lamento
Quem pode lhe dar um unguento?
Mundo quebrado, só lamento

Mundo movido a carvão
Dá-lhe sofrida respiração
Mundo indócil
Movido a combustível fóssil

Mundo com instinto animal
Da abismal distância profana
Entre o que tem o pobre e o bacana
Coisa sacana, coisa sacana, coisa sacana
(Refrão)

Mundo de extremos
Pois falemos
Das graves mudanças climáticas
Das mudanças dramáticas

Das mudanças que podem trazer muitas desgraças
Apesar de que ignorantes delas achem graça
E o pior é que não estão cheios de cachaça na moleira
Mas são apenas mensageiros da elite financeira

O coração é inconstante
Mas não é insensível
Diante de quadro tão terrível
Diante de quadro contrastante e preocupante

O coração tem sensibilidade à flor da pele
E pode se quebrar num instante
Não há o que ele não revele
Ele não é indiferente

E o que o coração revela sobre o mundo?
Revela que o mesmo está moribundo
Que o mundo está adoentado
Ajoelhado, ajoelhado, ajoelhado

O mundo revela que está aos pedaços
Sem os seus cadarços
Para fechar suas chagas e seus inchaços
Inchaços, inchaços, inchaços
(Refrão)

Ferido e inchado pela superpopulação
Ferido e inchado pelo endividamento
Ferido pelo desmatamento
Ferido e inchado pelo predatório desenvolvimento
Ferido e inchado pela poluição

Ferido e inchado
Dá para andar preocupado
Com o resultado
Do seu estado já muito desgastado

Coração do mundo
Do mundo inteiro
Do mundo fronteiriço
Simplesmente está à beira do precipício
Do precipício que pode ser o derradeiro
O derradeiro funeral do moribundo
(Refrão)


Mundo forjado a fogo e ferro
Mundo que está mais para inferno
Mundo quebrado, só lamento
Quem pode lhe dar um unguento?
Mundo quebrado, só lamento

Mundo movido a carvão
Dá-lhe sofrida respiração
Mundo indócil
Movido a combustível fóssil

Mundo com instinto animal
Da abismal distância profana
Entre o que tem o pobre e o bacana
Coisa sacana, coisa sacana, coisa sacana
(Refrão)

Mundo de extremos
Pois falemos
Das graves mudanças climáticas
Das mudanças dramáticas

Das mudanças que podem trazer muitas desgraças
Apesar de que ignorantes delas achem graça
E o pior é que não estão cheios de cachaça na moleira
Mas são apenas mensageiros da elite financeira

Pobre mundo, mundo pobre
Veja se descobre
A saída para a encrenca em que se meteu
A missão é de todos: você e eu
Você e eu, você e eu, você e eu


Mundo amado
Tome cuidado
Siga para outro lado
E a saída terá achado
Achado, achado, achado
(Refrãos finais)

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Judiciário brasileiro é 3,5 vezes mais caro que o alemão

9 fev 2018 

Magistrados brasileiros em início de carreira ganham até o triplo de seus colegas alemães. Mesmo gastando mais, Brasil tem proporcionalmente menos juízes que o país europeu.O custo do Poder Judiciário brasileiro voltou aos holofotes após a revelação de que juízes da Operação Lava Jato recebem auxílio-moradia mesmo quando possuem imóveis nas cidades em que trabalham.
Foto: DW / Deutsche Welle
Em 2017, o auxílio-moradia para juízes e procuradores custou 399 milhões de reais aos cofres públicos. O valor, no entanto, empalidece quando comparado aos gastos totais do Judiciário: 84,8 bilhões de reais em 2016, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Os brasileiros pagam por um dos sistemas judiciários mais caros do mundo. O valor de 2016 representou 1,4% do PIB do país. No mesmo período, os gastos com a Justiça na Alemanha alcançaram apenas 0,4% do PIB. Ou seja, o Judiciário brasileiro é 3,5 vezes mais caro do que o alemão. A diferença é expressiva mesmo se for considerado que o PIB alemão é o dobro do brasileiro.
Outras comparações também evidenciam como os brasileiros gastam mais. Em 2015, o Judiciário alemão custou em média 150 euros (cerca de 600 reais) por habitante. No Brasil, a proporção foi de 413,51 reais no mesmo período. O valor mais alto na Alemanha não significa que seus habitantes pagaram proporcionalmente mais, já que a renda per capita dos alemães é quase cinco vezes a dos brasileiros.
Salários, penduricalhos e início de carreira
Na questão salarial, o Brasil também destoa da Alemanha, especialmente no pagamento aos juízes. Segundo dados do CNJ, cada juiz custou aos cofres públicos 47,7 mil reais em 2016. O valor supera claramente o teto constitucional de 33 mil reais.
Para contornar o limite, salários são turbinados com extras, como o auxílio-moradia, auxílio-alimentação, auxílio-paletó, auxílio-educação, adicional mais alto nas férias, entre outros, que não são descontados no imposto de renda. Graças a esses penduricalhos, os magistrados ganham em média 572 mil reais por ano.
Na Alemanha, os valores podem variar conforme o tribunal (instâncias superiores pagam mais), o cargo (posições de chefia têm salário maior), o tempo de serviço e o estado da Federação. Os maiores salários são pagos aos juízes das cortes federais superiores. A média na Alemanha é de 110 mil euros anuais (442 mil reais) - consideravelmente inferior à dos juízes do Brasil.
Nas cortes distritais, os valores são ainda mais baixos. Um juiz alemão experiente, com pelo menos 20 anos de carreira num tribunal distrital, pode almejar 77 mil euros anuais (310 mil reais) - quase a metade do salário dos ganhos médios dos juízes brasileiros.
Para os juízes em início de carreira, os valores são ainda mais baixos. Em alguns tribunais estaduais, como em Baden-Württemberg, um magistrado em início de carreira recebe 3.347 euros (13.450 reais) por mês.
Em média, quando consideradas as variações regionais, o salário inicial de um juiz é de 45 mil euros anuais (180.800 reais), segundo dados da Comissão Europeia para a Eficiência da Justiça - juízes brasileiros podem receber o triplo desse valor já no início da carreira, graças ao salário-base e os penduricalhos.
Também não há extras comparáveis ao sistema brasileiro. Uma das raras benesses que os juízes alemães recebem é um auxílio para pagamento de despesas médicas. O mesmo vale para os procuradores.
Na Europa em geral, o auxílio-moradia que causou discórdia no Brasil só existe em países como Portugal, Ucrânia, Rússia, Turquia e Montenegro, segundo dados da Comissão Europeia.
Alguns estados alemães pagam um "bônus de Natal" para os servidores públicos (inclusive juízes), mas os valores não passam de algumas centenas de euros. Em Berlim, por exemplo, o bônus rendeu entre 640 e 900 euros extras para os magistrados no final do ano passado.
Tal como os juízes brasileiros, os alemães também costumam se queixar dos salários. Os ganhos iniciais de juízes estaduais e de instâncias superiores são menores do que em países vizinhos, como Áustria e Bélgica.
Em 2014, um grupo de juízes e procuradores do estado alemão de Saxônia-Anhalt se queixou dos valores junto ao Tribunal Constitucional Federal. Meses depois, a corte avaliou que, de fato, os salários de início de carreira do estado estavam abaixo do necessário para a subsistência. Recentemente, juízes e procuradores da Baixa Saxônia apresentaram queixa similar.
Segundo associações de juízes da Alemanha, tais salários desestimulam candidatos à magistratura, que acabam sendo levados a seguir a carreira advocatícia, onde os ganhos potenciais são maiores. Hoje há um déficit de 2 mil juízes nos tribunais estaduais do país, e os estados enfrentam dificuldades para preencher as vagas.
Em média, os juízes alemães em início de carreira ganham apenas 16% a mais que a renda média do país. No Brasil, os juízes ganham em média 2.100% a mais.
Gastos com pessoal
O contraste entre o sistema alemão e o brasileiro também ocorre no pessoal. Mesmo sendo mais caro até mesmo em valores absolutos (em 2015 o Judiciário alemão custou cerca de 50 bilhões de reais), o Brasil tem menos juízes do que o país europeu. São oito para cada grupo de 100 mil habitantes. Já a Alemanha tem cerca de 24 juízes por 100 mil habitantes.
Em ambos os países, o grosso do orçamento vai para o pagamento de pessoal. Mas as semelhanças param por aí. No Brasil, a folha de pagamento consumiu 89,5% dos 84,8 bilhões em 2016. Só que a maior parte desse valor não foi destinada aos magistrados, mas aos servidores (ativos e inativos) e auxiliares (terceirizados, estagiários, entre outros). Na Alemanha, a percentagem de gasto com pessoal se manteve em 70% do orçamento do Judiciário nos últimos anos.
O quadro do Judiciário brasileiro contava com 424 mil pessoas em 2016, e a proporção alcançou 205 funcionários para cada grupo de 100 mil habitantes. Na Alemanha, mal alcança 67 para cada 100 mil habitantes.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Guerra contra o uso abusivo de açúcar por parte das empresas

É seu aniversário e não quer fazer seu bolo. Pensando em comprar um de uma empresa do ramo? Esqueça! Você não vai comprar um bolo, mas um monte de açúcar. Não será um bolo de morango, por exemplo, mas de açúcar. Quer comprar um chocolate? Esqueça! É tanto açúcar que chega a ficar repugnante, enjoativo. Refrigerante, suco de frutas não concentrado, pão doce, bolachas, por exemplo? É só açúcar. É impressionante como as empresas são tão irresponsáveis ao exagerar na dose de açúcar, visando maximizar os lucros - e, com isso, jogando o consumidor na vala da obesidade, do diabetes, etc. O que se pode fazer corretivamente para solucionar o problema? Aumentar o imposto sobre o açúcar? Definir um limite máximo de açúcar por grama de produto? São apenas duas sugestões, mas o poder público tem que fazer algo corretivo em nome da saúde pública da população - que tem sido negligenciada em nome da maximização dos lucros empresariais.

10 coisas que todo homem precisa fazer para ter um relacionamento feliz

Saiba o que fazer para fazer para ter um relacionamento feliz e saudável

Muitos homens que recentemente se viram amarrados por alguém, isto é, apaixonados, sofrem um pouco no início para se adaptar a rotina de um relacionamento comum. Não porque é ruim ou mesmo estranho, mas sim porque, em muitos casos, o cara passou meses, se não anos, curtindo a vida de solteiro – e consequentemente pensando no próprio umbigo. 

Por esta razão, muitos não sabem lidar com determinadas situações em casal, e veem dificuldade para manter um relacionamento com a mesma pessoa durante meses ou anos, ou o mesmo comprometimento do início, sem deixar que a rotina ou brigas acabe afastando os pombinhos. 

Se você é do time que se preocupa com o futuro saudável da sua vida a dois (as mulheres agradecem), ou está procurando respostas para fazer com que o seu relacionamento saia de uma crise brava, fique tranquilo. Selecionamos algumas dicas simples e funcionais de coisas que homens podem (e precisam) fazer para ter um relacionamento feliz e saudável. Confira!

SEMPRE SEJA SINCERO
Muitas vezes queremos parecer melhores do que somos na realidade, e por isso ocultamos histórias desagradáveis e erros que cometemos. Mas, acredite, alguém que te ama de verdade não vai ligar para o seu passado. Por isso, não tenha medo de revelar seus sentimentos a sua parceira, pois ela é a pessoa mais próxima a você. Se tem algo lhe preocupando ou faltando para você, converse sobre isso tranquilamente. Ninguém sabe ler pensamentos, e o primeiro passo para resolver um problema é falar sobre ele.
APOIE SUA PARCEIRA
Todos nós vivemos alguns fracassos que afetam nosso ânimo e autoestima. Se alguma coisa deixar sua parceira abatida, como ficar desempregada, por exemplo, faça com que ela sinta o seu apoio e compreensão. Assim, tudo fica mais fácil e ela irá se sentir muito melhor; Dê também atenção aos desejos e necessidades de quem está ao seu lado. Você deve aceitar que o outro não é um reflexo seu nem sua propriedade. Trate os desejos dela com compreensão, ainda que sejam diferentes dos seus.
DEMONSTRE SEUS SENTIMENTOS
Sabe aquela história de quem não dá assistência abre concorrência? Pois é. É muito importante lembrar a sua parceira que você a admira pelo que ela é ou pelo que faz. Não tenha vergonha de dar amor e carinho, pois isso é fundamental para criar um vínculo forte entre os dois. Faça com que ela saiba o quanto é especial para você.
ENTENDA QUE CADA UM TEM SEU ESPAÇO
Duas pessoas não podem e não devem estar juntas 24 horas por dia. Não se oponha, então, aos interesses da sua amada e também não renuncie aos seus hobbies. Vocês se apaixonaram um pelo outro assim como são, com todos os hábitos e interesses. Não se deve sacrificar as próprias vontades em nome de uma relação forte. Ninguém valoriza este tipo de coisa. Além disso, sua parceira não quer ser a causa dos seus sacrifícios. Nem ouvir frases como "Por sua causa, eu...". Seu relacionamento deve agregar algo novo aos dois, e não retirar aquilo que já possuem.
ACEITE SUA COMPANHEIRA DO JEITO QUE ELA É
Não brigue pelos hábitos que ela tiver. E, caso você veja que tem um hábito ruim e que uma mudança seria positiva, é sempre possível conversar tranquilamente e corrigir pequenas coisas. Além disso, perdoe os seus defeitos. Não fique reprovando sua amada por determinadas coisas, é melhor sempre focar nos pontos positivos. 
NÃO DEIXE QUE O CIÚME ATRAPALHE VOCÊS
Tente não sentir ciúmes. Com isso, você enfrenta o seu medo de ser abandonado, seus complexos e a falta da confiança em si mesmo. A desconfiança, em muitos casos, machuca seu amor e ainda acaba provocando justamente os pensamentos que você quer evitar. 
CRIE LEMBRANÇAS A DOIS
Não há nada capaz de unir mais você e sua parceira do que as experiências e lembranças em comum. Viagens, aulas de dança, idas ao cinema, participação em concursos, festas em família... façam juntos tudo aquilo que acham interessante e divertido. 
A IMPORTÂNCIA DO RESPEITO MÚTUO SEMPRE
É preciso respeitar a opinião e as decisões do outro, mesmo que você não concorde com elas. Não esqueça da importância do respeito até mesmo durante uma briga, por exemplo. As discussões geralmente trazem reprovações mútuas, por isso, tenha cuidado com as palavras que usar. A irritação passa, mas é difícil desfazer as ofensas. Não importa quantas vezes você peça perdão após uma briga, as palavras duras deixam cicatrizes profundas. 
SURPREENDER FAZ PARTE DO RELACIONAMENTO
Nenhum casal merece entrar na rotina e não fazer nada para sair dela. Deixe os dias de vocês mais emocionantes e superem juntos os dias difíceis. Leve-a para jantar, vá ao cinema juntos, acompanhe naquela comédia romântica que ela tanto gosta ou mesmo compre chocolates e pequenos presentes fora de datas comemorativas. Seja imprevisível (no bom sentido, é claro).
SEJA POSITIVO SOBRE VOCÊS
Pessoas alegres emanam felicidade e boas energias. Dá vontade de estar o tempo todo ao lado de gente assim. Por outro lado, as queixas e reclamações constantes dão lugar a emoções negativas, pioram o humor e os relacionamentos. Por esta razão, estimule a atitude positiva perante a vida e a sua parceira, e não deixe que ela desanime. Seja otimista, pois independentemente do que aconteça vocês têm um ao outro. 

Nathalia Marques
Sobre Nathalia Marques
Curiosa e heavy user de internet, sempre amou tudo que envolve o universo do jornalismo. Nas horas vagas é fotógrafa, mãe de cachorro e leitora compulsiva.
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Envelhecimento, uma realidade que urge enfrentar

O envelhecimento da população mundial é hoje uma realidade. Portugal é um dos países europeus onde o envelhecimento da população tem uma expressão mais significativa. De acordo com dados do INE, Portugal tinha, em 2015, 2,1 milhões de idosos, número que tenderá a crescer de forma exponencial e que representa um dos maiores crescimentos numa Europa a 28.
A Organização das Nações Unidas adotou um conjunto de princípios relativos à proteção das pessoas idosas através da Resolução n.º 46, de 16 de dezembro de 1991, e mais recentemente a Assembleia Geral de Nova Iorque, realizada em 30 de março de 2007, adotou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, também abrangendo os idosos, que vão precisamente nesse sentido.
Dando execução a esta nova visão, o atual governo assumiu uma clara mudança de paradigma relativamente à forma de enfrentar este problema, o qual é de natureza transversal e que convoca respostas em diferentes vertentes.
Esta nova abordagem assenta em medidas muito concretas, como por exemplo: a Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-2025, que já se encontra em inquérito público; o denominado Estatuto do Cuidador Informal, pelo qual se procura responder a um problema gravíssimo, que passa pela criação de condições para quem tem a seu cargo idosos e cujo projeto foi já apresentado ao Ministério da Saúde; e a necessária revisão do Código Civil e demais legislação conexa, que permitirá alterar o paradigma estabelecido no Código Civil de 1966, no que respeita ao instituto das incapacidades e ao seu suprimento, cujo anteprojeto de reforma já foi apresentado e que assenta no princípio da primazia da autonomia do visado e cuja vontade deve ser respeitada e aproveitada até aos limites do possível, ou seja a figura do "maior acompanhado" versus o interdito/ inabilitado.
Este é o momento de prosseguir o caminho que muitos dos sistemas inspiradores do nosso ordenamento jurídico já fizeram nas últimas duas décadas e estruturar o nosso ordenamento jurídico-civil com base nos princípios da preservação máxima da capacidade, da necessidade e da proporcionalidade, orientados sempre em função do interesse e da necessidade da pessoa que se pretende proteger, criando um novo regime de suprimento das denominadas incapacidades dos maiores.
Estas respostas estão na antítese da ideia que a solução dos problemas emergentes do envelhecimento e da proteção dos idosos e das pessoas especialmente vulneráveis passa por uma resposta no plano criminal ou pela manutenção do quadro vigente do suprimento das incapacidades, ainda que com algumas soluções de cosmética, como as que estão consubstanciadas nas propostas que alguns partidos apresentaram na Assembleia da República e que serão objeto de debate nesta semana.
A grave situação em que vivem muitos dos idosos portugueses, sem qualquer apoio, em situação de exclusão social e de completo isolamento, exige que toda e qualquer conduta que possa ser nefasta e contrária ao interesse dos idosos e a quem deles se pretenda aproveitar, deverá merecer a inerente censura social e ser sancionada, quando a mesma se enquadrar em tipo penal legalmente previsto.
Temos, porém, de ter a consciência de que é precisamente nos grupos de mais baixa condição económica que, na maior parte dos casos, as alegadas situações de abandono ocorrem, pois tanto os cuidadores como o idoso vivem em condições abaixo do limiar da pobreza e, portanto, com maiores dificuldades em prestar um apoio e uma mais cuidada assistência.
Esta realidade exige do legislador que não ceda à tentação de fazer leis que visem incriminar e sancionar quem não tem recursos, reconduzindo tudo a uma questão de condição económica, sem a inerente resposta social, que é exigida do Estado.
Desvalorizar a falta de resposta social, como transparece de alguns setores de opinião que assumem um discurso público de resposta no plano criminal, não é o caminho certo.
Soluções estribadas na criminalização de comportamentos, ou no agravamento das sanções penais, padecem da incapacidade em perceber a dimensão social da questão, assim como tentativas de alteração do Código Civil, modificando o regime das incapacidades e o seu suprimento e de adequação da legislação avulsa a este novo regime, que não assentem na primazia da autonomia do visado, respeitando a sua vontade, capacidade e autonomia, correm contra os ventos do tempo.

Deputado eleito pelo PS

Acréscimos deste blogueiro: a questão do envelhecimento populacional, que levou recentemente o governo inglês a criar o ministério da solidão, tem a unir tal questão com a inteligência artificial e o pagamento público de servidores imbuídos de prestar serviços aos idosos que se encontram em situação de solidão e necessitam de cuidados subvencionados pelo Estado, sendo parte dos recursos provenientes da taxação da empresas de Inteligência Artificial. Assim, encaixa-se a panela à sua tampa e tenta-se equacionar os dilemas do envelhecimento crescente das sociedades modernas.