Participação de companhias dos EUA no total de investimento direto feito no Brasil passou de 15,7% no ano passado para 6,6%
1 ago 2018
A nova política tributária do governo de Donald Trump, somada ao
cenário eleitoral incerto no Brasil, tem levado multinacionais
americanas a investirem menos no mercado brasileiro. Dados do Banco
Central mostram que o fluxo de investimentos dos EUA para o País caiu ao
menor patamar em quase duas décadas. A participação das companhias
americanas no total de recursos aplicados no Brasil passou de 15,7% no
ano passado para 6,6% no primeiro semestre. Essa fatia já foi de 30% em
2005.
No fim do ano passado, a maior economia do mundo reduziu o Imposto de
Renda (IR) das empresas de 35% para 21%. No Brasil, a alíquota se mantém
em 34% - a mais alta entre os países do G-20 e do Brics. A média global
é de 22,96%, segundo a consultoria EY.
Um estudo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (Unctad) avalia que as mudanças nos EUA podem fazer com
que empresas americanas repatriem até US$ 1,9 trilhão que estão em
outros países.
As multinacionais americanas sempre lideraram com folga o ranking dos
maiores investidores na economia brasileira. Segundo o BC, 22% de todo o
estoque de empreendimentos e projetos internacionais no Brasil têm
origem nos EUA. São mais de US$ 100 bilhões alocados na economia
brasileira, sendo US$ 38 bilhões no setor financeiro, US$ 16 bilhões na
indústria de transformação e US$ 5,2 bilhões no comércio de veículos.
No primeiro semestre deste ano, no entanto, quem liderou o ranking de
investimentos foi a Holanda, com o dobro de recursos trazidos pelas
empresas americanas, que entre janeiro e junho aportaram US$ 1,9 bilhão
no Brasil.
"A reforma tributária levou a uma revisão completa das estratégias
globais de empresas americanas. O Brasil também é vítima dessa mudança",
diz a presidente executiva da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos
(Amcham), Deborah Vieitas.
Além da redução da alíquota de Imposto de Renda, a nova legislação
americana também permite que as multinacionais repatriem recursos sem
ter de pagar impostos adicionais. Antes da reforma de Trump, uma
companhia americana que estava no Brasil pagava 35% de imposto para
levar seu lucro de volta para os EUA, o que fazia com que ela acabasse
deixando o dinheiro aqui e reinvestisse no País. Agora, a mesma empresa
tem isenção para repatriar os dividendos. "Com esse benefício, ela pode
levar o dinheiro de volta e investir em outros países", diz o advogado
Christiano Chagas, do escritório Demarest.
Apesar de reconhecer a influência dessas mudanças sobre o fluxo de
investimento direto, a presidente da Amcham afirma que as incertezas
domésticas também pesaram. "Empresas estão muito cautelosas pelo cenário
eleitoral, há preocupação com as reformas e tivemos redução grande das
concessões e privatizações", diz Deborah.
Pesquisa da Amcham perguntou a 130 empresários as razões para a recente
queda do investimento direto no Brasil. Entre os ouvidos, 62%
mencionaram a incerteza das eleições e um grupo menor, de 34%, mencionou
as novas regras tributárias nos EUA.
A redução na alíquota do imposto por Trump, no entanto, tem levado a
uma mudança global do fluxo de investimentos. Um estudo da Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que o fluxo de
investimento direto pelo mundo caiu 44% no primeiro trimestre de 2018
na comparação com o mesmo período do ano passado. A entidade atribui a
queda à mudança dos investimentos de empresas americanas.
Dados da OCDE mostram que o fluxo de investimento direto das
multinacionais americanas foi negativo em US$ 145 bilhões no primeiro
trimestre. Isso quer dizer que essas companhias levaram de volta à sede
recursos que estavam em filiais pelo mundo. O fenômeno do fluxo negativo
não era visto desde o fim de 2005. O risco, alertam economistas da
entidade, é que a reforma tributária resulte em redução estrutural dos
investimentos nas filiais das multinacionais dos EUA. /COLABOROU LUCIANA DYNIEWICZ
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