Além de acalmar a criança, estreita o vínculo entre mãe e filho e aperfeiçoa o aprendizado da linguagem
Fonte: Revista Crescer
É perto dos oito meses que seu bebê vai
falar as primeiras palavras, mas você sabia que mesmo antes de o bebê
nascer, ele já começa a aprender noções de linguagem? De acordo com o
neuropediatra Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São Paulo, por
volta da 26ª semana de gravidez da gestante, o feto já está com o
sistema neurológico e de audição totalmente formado e pronto para
atender aos estímulos do mundo de cá. Aqui, você confere cinco bons
motivos para bater um papo bem gostoso com bebê ainda dentro da barriga.
1) Primeiro contato com a linguagem
Muitos estudos já foram feitos para
descobrir o momento em que começam as primeiras experiências de
linguagem e aprendizado de uma criança. O mais recente deles, feito pelo
Instituto Nacional de Saúde e pelo Hospital da Criança de Estocolmo,
com 40 recém-nascidos americanos e 40 suíços, todos com menos de 30
horas de vida, mostrou que os bebês prestam mais atenção à língua
nativa.
Para chegar a esse resultado, os bebês
receberam mamadeiras que monitoravam a intensidade do movimento de suas
bocas e mandavam a mensagem a um computador. Enquanto os bebês sugavam
as mamadeiras, as mães pronunciavam algumas vogais.
Os pesquisadores perceberam que quando
as vogais eram pronunciadas na linguagem nativa do bebê, os batimentos
cardíacos se aceleravam e ele parava de sugar o leite, como se estivesse
prestando atenção. Já quando o som lhe era desconhecido, ou seja, as
vogais de uma língua estrangeira, ele parecia não ouvir e continuava a
mamar tranquilamente.
2) Ambiente seguro
Outro estudo, realizado pela
Universidade de Brasília, testou a capacidade do recém-nascido de
reconhecer a voz da mãe. Usando aparelhos de medição de respiração e
frequência cardíaca, especialistas conseguiram observar as reações dos
bebês ao ouvir música em três momentos: uma canção de ritmo acelerado
cantada por uma voz masculina, uma de rimo lento cantada por outra voz
masculina e a mesma música lenta, só que cantada pela mãe da criança.
“Quando era a mãe que cantava a canção, a
frequência cardíaca e a movimentação do bebê ficavam mais tranquilas, a
atenção era maior também”, notou a terapeuta ocupacional Mônica Lemos,
uma das líderes da pesquisa,. “Quanto mais precoce for esse contato da
mãe com o bebê, mais seguro ele vai se desenvolver. E uma criança segura
aprende mais fácil, se relaciona melhor, é mais aberta”, completa a
pesquisadora.
3) Estreitamento de vínculo
Quando nós ouvimos a voz de alguém ou
uma música, guardamos aquele som na memória e conseguimos identificar o
autor, cantar trechos da música e até resgatar situações associadas ao
que estávamos fazendo enquanto ouvíamos aquele som. Com os bebês, porém,
o processo funciona um pouco diferente.
“Tudo o que o bebê escuta é organizado
em áreas mais emocionais do cérebro, ou seja, ele não tem uma memória
consciente, mas resgata os sons por meio de sentimentos e sensações”,
explica o neuropediatra Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São
Paulo. Isso significa que tudo o que a criança sentir está intimamente
relacionado aos sentimentos da mãe. Com a música é a mesma coisa. Quando
a mãe escuta ou canta uma música que ela gosta, isso desperta no feto
uma reação de bem-estar e vice-versa. “Quem seleciona o que a criança
gosta ou não é o próprio sistema afetivo emocional da mãe. Aquilo que a
ajuda a relaxar, aquilo que traz alegria ou aquilo que a deixa irritada
vai ser transmitido para a criança através dos sentimentos”, finaliza o
neuropediatra.
4) Ajuda na adaptação do novo mundo
O útero é um lugar escuro e quentinho,
onde o bebê se sente calmo, seguro e protegido. Quando ele nasce, tudo
muda. “Com o parto, a criança passa por um período de adaptação ao
toque, aos sons e às luzes. É muita coisa de uma vez só”, explica o
professor de neurologia da Universidade de Brasília e membro da
Sociedade Brasileira de Pediatria, Carlos Nogueira Aucelio. Já sabendo
disso, se a mãe começar a conversar bastante com a criança e, mais do
que isso, aprender a colocar sempre algum tipo de música para o bebê,
isso ajudará nessa adaptação. “O som que o recém-nascido ouvia na
barriga gera uma lembrança da época em que ele estava seguro no útero”,
afirma o professor.
5) Auxilia no aprendizado cognitivo
A música mexe com aspectos emocionais.
Isso significa que quanto mais cedo os pais apresentaram para a criança
essa combinação de sons como uma forma positiva, relaxante e feliz,
maior é a tendência de a criança usar a linguagem musical como forma de
aprendizado e desenvolvimento cognitivo.
O pai também pode conversar com a
barriga. Pode ser algo estranho e até embaraçoso no começo,
especialmente para os pais. Porém, mais importante do que superar a
barreira da vergonha é o pai explicar para a criança que, assim como a
mãe, ele também faz parte da vida dela. “Uma coisa que a gente fala para
os pais é que a mãe está ali o tempo todo, o bebê já nasce ouvindo a
voz e sentindo o cheio dela. Do pai não. Ele precisa fazer a criança
ouvir sua voz, tocar a barriga da mãe para a criança sentir o toque, é
importante que o pai entre em contato com o bebê. Apesar de o feto não
entender o significado das palavras, ele consegue perceber o carinho”,
ensina Mônica Lemos.
Por isso, a dica é deixar qualquer
inibição de lado e conversar com a barriga, sim. Vale tudo, contar como
foi o dia, fazer brincadeiras com o bebê, colocar uma música que você
gosta de ouvir. O importante é vocês, pais e mães, constituírem uma
relação verbal com a criança desde muito cedo e avisá-la de que quando
ela chegar vai encontrar muito amor e carinho por aqui.
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