O mundo precisa de profissionais que não estão sendo preparados pela escola tradicional. Esta, repito qual mantra, se preocupa com o "decoreba". Prioriza a capacidade de memorização, como se isso bastasse para formar um indivíduo equilibrado, criativo, empreendedor e adaptável aos desafios que se intensificam, diante de profundas mutações tecnológicas.
O grande perigo que ronda a humanidade é o aquecimento global. Ele resulta da emissão de gases venenosos, causadores do efeito-estufa. Por isso, o foco da sociedade brasileira deve ser a criação de empregos ligados à transição energética. A matriz energética tupiniquim registra quase cinquenta por cento já resultante de energia renovável. Hoje, o Brasil já responde por dez por cento de todos os empregos verdes no mundo. É o segundo maior empregador da indústria de biocombustíveis, solar, hidrelétrica e eólica, só atrás da China.
O programa de transição energética é ambicioso. Espera-se que até 2030, as energias renováveis respondam por quase quarenta milhões de empregos no planeta. O Brasil tem uma vantagem, pois suas Universidades públicas investem na pesquisa do hidrogênio verde, área em que tem condições de se tornar líder mundial.
Esta promissora potência verde, que - se Deus quiser, vai renegar o título recentemente adquirido de "Pária Ambiental" - detém condições especiais para enverdecer sua economia. Isso em virtude do potencial de crescimento das fontes renováveis, ao contrário do que acontece em outras partes do planeta, é ainda muito elevado no Brasil.
O potencial de investimento na economia verde é superior a duzentos bilhões de dólares nos próximos anos. Para exemplificar, só no município de Pecém, no Ceará, três empresas já anunciaram investimentos de catorze bilhões de dólares em planta de hidrogênio verde. Na área do crédito de carbono, a consultoria McKinsey estima que, para cada dólar proveniente dos benefícios da ação climática, a comunidade local recebe um retorno socioambiental líquido de um a quatro dólares, em termos de criação de empregos, desenvolvimento local e serviços de ecossistema.
A juventude precisa estar atenta às possibilidades abertas com essa alternativa muito mais atraente do que as velhas profissões que já não seduzem os nativos digitais e que, além disso, estão em vias de extinção.
Cerca de oitocentos mil empregos líquidos por ano surgirão por força de projetos de restauração, agroflorestas e REDD+ (incentivo para compensar países em desenvolvimento por medidas de redução de emissões).
Tudo isso necessitará de capacitação, algo que ainda não está na oferta das escolas convencionais. É necessário atentar para as possibilidades abertas aos jovens que se interessem por "enverdecer". Como assim? Interessar-se por sustentabilidade. Conhecer mais e procurar um caminho para a preocupação de descarbonizar a economia, em todos os setores que ainda são insustentáveis.
Um bom início é aprender o que significa ESG. É uma sigla que tem condições de transformar o mundo. Não interessa tanto aprender o conceito, que significa tratar simultaneamente o ambiente, o social e a governança corporativa, mas atuar praticamente em favor dessa cultura.
É urgente a mudança de mentalidade e de postura nos negócios, algo que ainda é incipiente, mas tende a crescer, de acordo com o Relatório Anual de Sustentabilidade. Os pequenos empresários são os mais favorecidos com a adoção de uma agenda sustentável. Cinco resultados foram detectados como benéficos a quem se interessa por e efetivamente pratica ESG. O primeiro é o crescimento da receita; depois, a redução de custos. Em terceiro, redução das intervenções regulatórias e legais. Em quarto, vem o aumento de produtividade dos funcionários e, por fim, adotar o ESG otimiza os ativos e investimentos.
Os jovens brasileiros precisam se interessar pelo tema, com vistas ao seu futuro. Algo que os moços americanos já fazem, por iniciativa de grandes Universidades como Harvard. Embora ainda se prestigie a escola de Milton Friedman, o padroeiro dos acionistas, há grande procura pelo novo capitalismo. Espera-se que os empresários reconsiderem suas responsabilidades sociais. As empresas devem exercer algum papel no combate às mais assustadoras ameaças planetárias, dentre as quais o aquecimento do planeta.
O assunto é o mais sério e o mais abrangente. Para já, é procurar empregos verdes ou "enverdecer" profissões tradicionais. Para adiante, comover a sociedade inteira a adotar a agenda ESG e a perseguir a consecução dos ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente do Programa de Pós-graduação da Uninove e autor de Ética Ambiental e outros livros
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