Computadores quânticos já passam por testes nos EUA, apesar de inúmeros desafios técnicos
Por Bruno Capelas e Cláudia Tozetto
- O Estado de S. Paulo
Computador quântico ainda está em testes
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“Há uma preocupação de que a computação como conhecemos entre em colapso”, diz o líder do grupo de Computação Quântica do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e fundador da startup StrangeWorks, o americano William Hurley, o “whurley”, em entrevista ao Estado. “Um dia, a forma como desenvolvemos chips não vai mais funcionar.”
A academia e a indústria não estão esperando essa crise chegar de braços cruzados. Na última década, pesquisadores de todo o mundo e gigantes de tecnologia, como a IBM e o Google, têm investido milhões de dólares na criação dos chamados computadores quânticos. Quando estiverem prontas, essas máquinas serão capazes de fazer, mais rápido e com menor consumo de energia, alguns tipos de cálculo que mesmo supercomputadores de hoje não dão conta.
“A computação clássica é ineficiente para processar cálculo molecular, como analisar o comportamento de uma proteína ou desenvolver uma nova droga”, explica o pesquisador do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) Renato Portugal. Outro exemplo está na meteorologia: hoje, só é possível prever com exatidão o clima para os próximos dois dias. “Depois disso, há muita imprecisão, devido às limitações computacionais”, diz.
Fundamentos. A computação quântica funciona melhor para analisar e simular fenômenos naturais, porque se baseia nos conceitos da Mecânica Quântica – ramo da Física que estuda o comportamento de moléculas, átomos, elétrons e outras partículas subatômicas. Na computação clássica, toda e qualquer informação é armazenada ou processada na forma de bits – que podem ser representados por 0 ou 1. Mas, na quântica, os chamados qubits podem assumir inúmeros estados entre 0 e 1, num fenômeno chamado superposição.
Testes. O desenvolvimento dos computadores quânticos se acelerou desde 2016, quando a IBM anunciou uma máquina com processador de 5 qubits e passou a permitir que pesquisadores de todo o mundo a testem por meio de seu site. Em novembro do ano passado, a companhia liberou o acesso a uma segunda máquina, com processador de 20 qubits – já há um terceiro computador, de 50 bits, em testes internos.
“Mais de 3 milhões de experimentos já foram feitos e 75 artigos científicos publicados desde 2016”, diz o diretor do laboratório de pesquisas da IBM Brasil, Ulisses Mello. “As universidades estão usando nossos computadores quânticos por meio da nuvem e agora passamos a permitir o uso também por startups.”
O Google, que começou fazendo experimentos com máquinas de terceiros, anunciou em março deste ano a criação de um processador de 72 qubits. Como o computador ainda não está disponível para testes, o anúncio é visto com ceticismo pela comunidade acadêmica. “Uma coisa é falar e outra é entregar”, afirma Portugal. Procurado pelo Estado, o Google não concedeu entrevista sobre o projeto.
Mesmo as máquinas que já estão operando têm uma série de limitações. Por ora, elas só permitem o processamento de simulações e algoritmos simples e que sejam rápidos de processar, já que é difícil manter o computador quântico estável. “Esses computadores têm de ficar num ambiente onde não haja nenhuma interferência, nenhuma troca de energia”, explica Portugal.
Além disso, para o sistema funcionar, a temperatura tem de ser mantida muito baixa: -272,99ºC (ou 0,01 miliKelvin), temperatura mais baixa que no espaço. “Somente nessa temperatura é que as propriedades quânticas dos materiais se manifestam.”
Por isso, os computadores quânticos, por enquanto, ficam apenas em laboratórios especializados e não há plano de criar uma versão de mesa ou portátil, como um notebook ou smartphone. O plano das companhias que investem na tecnologia é comercializar a capacidade das máquinas como serviço, como é comum atualmente em serviços de computação em nuvem.
A resolução dos desafios técnicos depende, em grande parte, da própria existência da computação quântica. É por meio dela que pesquisadores vão entender melhor como se manifestam os fenômenos quânticos e, em última medida, como controlá-los. “Eles vão propiciar o estudo de novos materiais, que um dia podem permitir a criação de máquinas que façam na temperatura ambiente o que hoje só é feito em baixíssimas temperaturas”, diz Santos.
Procuram-se desenvolvedores. Não são só desafios técnicos que a computação quântica precisa superar para se tornar realidade. Há quem tema um ‘apagão’ de desenvolvedores, quando ela chegar à fase comercial.
É para resolver isso que o empreendedor americano William Hurley, o “whurley”, fundou, em março, a startup StrangeWorks. A empresa, que tem sete funcionários, se dedica a criar ferramentas para facilitar a criação de programas para os desenvolvedores acostumados a programar para computadores clássicos.
“Quero que milhões de pessoas possam ‘brincar’ com essas máquinas”, diz whurley.
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