O objetivo deles é construir em 15 anos uma usina que produza um calor capaz de abastecer uma cidade de 200 mil habitantes de forma contínua e sem produzir poluição.
15 abr 2018
07h09
Produzir energia de fusão nuclear é uma das grandes promessas da
engenharia, tanto que, em tom de piada, dizem que ela é a energia do
futuro... e sempre será.
Mas um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) e da empresa Commonwealth Fusion Systems está
apostando em acabar com a piada: eles estão construindo uma usina
nuclear que poderia produzir energia limpa e praticamente ilimitada.
Seu objetivo é ter, em 15 anos, uma usina que funcione como um
microssol, que produza um calor capaz de gerar 200 megawatts
continuamente e sem produzir poluição. Essa quantidade de energia é
capaz de abastecer uma cidade pequena, de cerca de 200 mil habitantes.
"Se tivermos sucesso, seria a primeira vez que isso aconteceria", diz
Martin Greenwald, um dos líderes do Centro de Ciência e Fusão de Plasma
do MIT, que está desenvolvendo este projeto, batizado de Sparc.
A chave está nos ímãs
O experimento Sparc é baseado na fusão nuclear, um processo no qual
elementos leves, como o hidrogênio, se juntam para formar elementos mais
pesados, como o hélio, que libera imensas quantidades de energia.
De fato, a fusão nuclear é o mesmo processo gerador de energia que ocorre no sol e nas estrelas.
Para alcançar esse processo, a matéria deve ser aquecida a temperaturas
muito altas, que superam as centenas de milhões de graus. A matéria
nesse estado tão quente é chamada plasma.
Mas a fusão nuclear é alcançada apenas se o plasma permanecer aquecido.
Para fazer isso, é necessário isolá-lo da matéria comum, com reatores
em forma de anéis chamados tokamak, que criam um campo magnético que
mantém o plasma "enjaulado".
O sucesso de um tokamak depende da qualidade de seus ímãs. Quanto mais
potentes e de melhor qualidade eles forem, melhor o isolamento térmico
que proporcionam para o plasma. É como um casaco: quanto mais robusto e
de melhor qualidade for o tecido, mais ele manterá o corpo protegido do
frio.
O problema é que o tokamak que existe hoje consome mais energia do que
consegue produzir por meio da fusão. Ou seja, eles funcionam, mas não
seriam lucrativos para serem usados fora de um laboratório.
A esperança de Sparc é que seu tokamak tenha ímãs mais poderosos, de
melhor qualidade, menores e mais rápidos, com os quais ele consiga
otimizar o processo de fusão.
Com esses ímãs, ele espera produzir um campo magnético quatro vezes
mais forte do que qualquer outro que tenha sido usado em um experimento
de fusão.
O objetivo é aumentar em dez vezes a potência gerada por um tokamak.
Se der certo, será a primeira vez que um dispositivo de fusão de plasma produz mais energia do que consome.
Energia segura, limpa e ilimitada
Quando nos falam sobre usinas nucleares, é comum lembrarem de catástrofes como Chernobyl, em 1986, ou Fukushima, em 2011.
"Este é um processo completamente diferente", diz Greenwald.
A energia nuclear comum usa átomos muito pesados, como o urânio ou o
plutônio, que quebram e liberam energia, em um processo chamado de
fissão, semelhante ao usado para construir armas nucleares.
A fusão é o processo oposto, no qual elementos leves, como o hidrogênio, se unem e produzem hélio.
Segundo Greenwald, em um experimento como a Sparc, não há a
possibilidade de gerar uma reação em cadeia como a que ocorreu em
Fukushima. "(Na Sparc), se você quiser parar a reação, basta fechar a
válvula", diz ele.
Os elementos com os quais a Sparc trabalhará são principalmente
hidrogênio, que, segundo os pesquisadores do MIT, "há suficiente na
Terra para atender às necessidades humanas por milhões de anos", com o
qual uma máquina de fusão nuclear tem potencial de gerar energia
praticamente ilimitada.
Além disso, como a fusão não é produzida a partir de combustíveis
fósseis, ela não gera gases de efeito estufa ou outros poluentes como
dióxido de enxofre ou partículas como a fuligem.
Será possível desta vez?
Em meio ao entusiasmo, há vozes céticas.
"Este financiamento para o MIT [neste projeto] é excelente, mas não há
forma de conseguir que o setor privado assuma o controle de todo o
programa de fusão", disse à revista Nature Stewart Prager, ex-diretor do
Laboratório de Física de Plasma de Princeton, em Nova Jersey.
Howard Wilson, professor de física de plasma na Universidade de York,
no Reino Unido, disse ao jornal The Guardian que, embora o projeto
pareça interessante, ele não vê como eles podem alcançar o objetivo de
colocar sua energia na rede em 15 anos.
"É um cronograma agressivo, mas achamos é possível", diz Greenwald.
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