quarta-feira, 9 de agosto de 2017

China está preocupada com "rinocerontes cinzentos"

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Depois de prometer derrotar a Disney, o Dalian Wanda Group está vendendo seus parques temáticos e hotéis. (Mark Schiefelbein/Associated Press)  

POR KEITH BRADSHER e SUI-LEE WEE

XANGAI — Enquanto o Ocidente se preocupa com os chamados “cisnes negros”, eventos raros e inesperados que podem conturbar os mercados financeiros, a China está preocupada com os “rinocerontes cinzentos” — grandes e visíveis problemas na economia que costumam ser ignorados até que começam a acelerar.
Os rinocerontes são um bando de magnatas chineses que, graças a uma mistura de conexões políticas e uma ambição feroz, criaram conglomerados globais tentaculares. Companhias como a Anbang Insurance Group, Fosun International, HNA Group e Dalian Wanda Group banquetearam-se com empréstimos baratos fornecidos por bancos estatais, gastando prodigamente para construir seus impérios.
Hoje, estes gigantes atingiram dimensões tão grandes, estão tão endividados e tão entranhados na economia que o governo chinês de repente ordenou que fossem investigados. Recentemente, o presidente Xi Jinping advertiu que a estabilidade financeira é crucial para a segurança nacional, enquanto o “Diário do Povo”, órgão oficial do Partido Comunista, apontou para os perigos dos eventos que envolvem os “rinocerontes cinzentos”.
As agências reguladoras chinesas começaram a se preocupar porque alguns dos maiores conglomerados tomaram tanto dinheiro emprestado que poderiam representar sérios riscos para o sistema financeiro do país. Executivos dos bancos agora realizam exames minuciosos dos balanços destas companhias.
A reviravolta, para a primeira geração de capitalistas chineses pós-Mao, antes considerados exemplares, foi rápida.
No ano passado, Wu Xiaohui, presidente da Anbang, uma seguradora que registrou um crescimento extremamente rápido, e pagou US$ 2 bilhões pelo Waldorf Astoria, em Nova York, e promoveu banquetes magníficos no hotel para empresários norte-americanos. Em junho, ele foi detido pela polícia chinesa por razões não reveladas.
A Fosun, administrada por uma espécie de “Warren Buffett da China”, realizou negócios multibilionários, em dólares, para o Club Med, Cirque du Soleil e outras marcas. Recentemente, a empresa desmentiu que seu presidente, Guo Guangchang, preso por um breve período pela polícia em 2015, tivesse voltado para a cadeia.
Fundada como uma companhia aérea regional, a HNA evoluiu até tornar-se uma poderosa organização com participações em organizações como Hilton Hotels, Deutsche Bank e na companhia Swissport de serviços em terra em aeroportos. As autoridades reguladoras europeias estão investigando o conglomerado. Ao mesmo tempo, um grande banco de Wall Street, o Bank of America, decidiu não mais fazer negócios com o HNA.
A Dalian Wanda equiparava-se às gigantes norte-americanas do entretenimento e prometeu, um ano atrás, derrotar a Disney, na China. Agora, a empresa chinesa está recuando e vendendo seus parques temáticos e hotéis.
“A desvantagem destas novas companhias é que não havia ninguém com poder político ou regulador capaz de controlá-las”, disse Brock Silvers, principal executivo da Kaiyuan Capital, um serviço de assessoria de bancos de investimentos boutique em Xangai.
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O HNA Group, companhia controladora da Hainan Airlines, começou como uma companhia aérea regional e cresceu até se tornar uma potência global. (Agence France-Presse — Getty Images)
Os rinocerontes cinzentos têm uma característica em comum: enormes dívidas e muitos negócios.
Durante anos, os bancos chineses distribuíram generosamente empréstimos, ansiosos por bombear dinheiro na economia. Eles dobraram suas apostas depois da crise financeira global de 2008, a fim de respaldar o crescimento e baixar o valor da moeda.
Os conglomerados, com reputações estelares e enormes lucros, estavam na frente da linha de empréstimos. A HNA garantiu uma linha de crédito de US$ 90 bilhões de bancos controlados pelo Estado. A Anbang gastou mais de US$ 10 bilhões em três anos, negócios que foram financiados na maior parte pela venda dos chamados produtos de gestão de riqueza — investimentos obscuros que prometiam juros elevados e baixo risco.
Com dinheiro do Estado na mão, as companhias decidiram ir além de suas fronteiras, por insistência do governo. Nos últimos cinco anos, Wanda, Anbang, HNA Group e Fosun fizeram pelo menos US$ 41 bilhões de aquisições no exterior, de acordo com a empresa de pesquisa Dealogic.
Os níveis das dívidas no país subiram vertiginosamente. Em 2011, o total do crédito a companhias privadas, não financeiras, era cerca de 120% da produção econômica da China. Hoje, chega a 166%.
“O governo chinês desempenhou o papel de impulsionador indispensável”, disse Minxin Pei, professor da Claremont McKenna College, na Califórnia, que estuda a política chinesa. “E como elas [as empresas] conseguiram se tornar tão grandes? Assumindo dívidas”.
Em dezembro, quatro grandes agências reguladoras chinesas alertaram a respeito de investimentos “irracionais” em imóveis, entretenimento e esportes no exterior, explicando que tais áreas estavam repletas de “riscos e perigos ocultos”. Nos últimos meses, a Fosun quase encerrou suas frenéticas realizações de negócios. As compras da HNA também se reduziram.
As gigantes chinesas agora se parecem mais com rinocerontes cinzentos. O termo não tem nada a ver com a biologia; foi extraído de um livro de negócios de mesmo nome que se tornou popular este ano na China.
O “Diário do Povo” usou o termo em uma enérgica advertência. “Os riscos do setor financeiro são sofisticados”, disse o comentário não assinado. “Portanto, deveriam ser tomadas medidas de precaução para prevenir não só eventos como os ‘cisnes negros’, mas também os ‘rinoceronte cinzentos’”.
Se as agências reguladoras e os bancos tomarem medidas mais decisivas para conter o crédito, os rinocerontes poderão correr o risco de extinção.
Alexandra Stevenson e Brooks Barnes contribuíram para a reportagem, e Ailin Tang e Amy Cheng contribuíram para a pesquisa.

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