POR KEITH BRADSHER e SUI-LEE WEE
Agosto 8, 2017
XANGAI — Enquanto o Ocidente se
preocupa com os chamados “cisnes negros”, eventos raros e inesperados
que podem conturbar os mercados financeiros, a China está preocupada com
os “rinocerontes cinzentos” — grandes e visíveis problemas na economia
que costumam ser ignorados até que começam a acelerar.
Os rinocerontes são um bando de magnatas chineses que, graças a uma mistura de conexões políticas e uma ambição feroz, criaram conglomerados globais tentaculares. Companhias como a Anbang Insurance Group, Fosun International, HNA Group e Dalian Wanda Group banquetearam-se com empréstimos baratos fornecidos por bancos estatais, gastando prodigamente para construir seus impérios.
Hoje, estes gigantes atingiram dimensões tão grandes, estão tão endividados e tão entranhados na economia que o governo chinês de repente ordenou que fossem investigados. Recentemente, o presidente Xi Jinping advertiu que a estabilidade financeira é crucial para a segurança nacional, enquanto o “Diário do Povo”, órgão oficial do Partido Comunista, apontou para os perigos dos eventos que envolvem os “rinocerontes cinzentos”.
As agências reguladoras chinesas começaram a se preocupar porque alguns dos maiores conglomerados tomaram tanto dinheiro emprestado que poderiam representar sérios riscos para o sistema financeiro do país. Executivos dos bancos agora realizam exames minuciosos dos balanços destas companhias.
A reviravolta, para a primeira geração de capitalistas chineses pós-Mao, antes considerados exemplares, foi rápida.
No ano passado, Wu Xiaohui, presidente da Anbang, uma seguradora que registrou um crescimento extremamente rápido, e pagou US$ 2 bilhões pelo Waldorf Astoria, em Nova York, e promoveu banquetes magníficos no hotel para empresários norte-americanos. Em junho, ele foi detido pela polícia chinesa por razões não reveladas.
A Fosun, administrada por uma espécie de “Warren Buffett da China”, realizou negócios multibilionários, em dólares, para o Club Med, Cirque du Soleil e outras marcas. Recentemente, a empresa desmentiu que seu presidente, Guo Guangchang, preso por um breve período pela polícia em 2015, tivesse voltado para a cadeia.
Fundada como uma companhia aérea regional, a HNA evoluiu até tornar-se uma poderosa organização com participações em organizações como Hilton Hotels, Deutsche Bank e na companhia Swissport de serviços em terra em aeroportos. As autoridades reguladoras europeias estão investigando o conglomerado. Ao mesmo tempo, um grande banco de Wall Street, o Bank of America, decidiu não mais fazer negócios com o HNA.
A Dalian Wanda equiparava-se às gigantes norte-americanas do entretenimento e prometeu, um ano atrás, derrotar a Disney, na China. Agora, a empresa chinesa está recuando e vendendo seus parques temáticos e hotéis.
“A desvantagem destas novas companhias é que não havia ninguém com poder político ou regulador capaz de controlá-las”, disse Brock Silvers, principal executivo da Kaiyuan Capital, um serviço de assessoria de bancos de investimentos boutique em Xangai.
Os rinocerontes cinzentos têm uma característica em comum: enormes dívidas e muitos negócios.
Durante anos, os bancos chineses distribuíram generosamente empréstimos, ansiosos por bombear dinheiro na economia. Eles dobraram suas apostas depois da crise financeira global de 2008, a fim de respaldar o crescimento e baixar o valor da moeda.
Os conglomerados, com reputações estelares e enormes lucros, estavam na frente da linha de empréstimos. A HNA garantiu uma linha de crédito de US$ 90 bilhões de bancos controlados pelo Estado. A Anbang gastou mais de US$ 10 bilhões em três anos, negócios que foram financiados na maior parte pela venda dos chamados produtos de gestão de riqueza — investimentos obscuros que prometiam juros elevados e baixo risco.
Com dinheiro do Estado na mão, as companhias decidiram ir além de suas fronteiras, por insistência do governo. Nos últimos cinco anos, Wanda, Anbang, HNA Group e Fosun fizeram pelo menos US$ 41 bilhões de aquisições no exterior, de acordo com a empresa de pesquisa Dealogic.
Os níveis das dívidas no país subiram vertiginosamente. Em 2011, o total do crédito a companhias privadas, não financeiras, era cerca de 120% da produção econômica da China. Hoje, chega a 166%.
“O governo chinês desempenhou o papel de impulsionador indispensável”, disse Minxin Pei, professor da Claremont McKenna College, na Califórnia, que estuda a política chinesa. “E como elas [as empresas] conseguiram se tornar tão grandes? Assumindo dívidas”.
Em dezembro, quatro grandes agências reguladoras chinesas alertaram a respeito de investimentos “irracionais” em imóveis, entretenimento e esportes no exterior, explicando que tais áreas estavam repletas de “riscos e perigos ocultos”. Nos últimos meses, a Fosun quase encerrou suas frenéticas realizações de negócios. As compras da HNA também se reduziram.
As gigantes chinesas agora se parecem mais com rinocerontes cinzentos. O termo não tem nada a ver com a biologia; foi extraído de um livro de negócios de mesmo nome que se tornou popular este ano na China.
O “Diário do Povo” usou o termo em uma enérgica advertência. “Os riscos do setor financeiro são sofisticados”, disse o comentário não assinado. “Portanto, deveriam ser tomadas medidas de precaução para prevenir não só eventos como os ‘cisnes negros’, mas também os ‘rinoceronte cinzentos’”.
Se as agências reguladoras e os bancos tomarem medidas mais decisivas para conter o crédito, os rinocerontes poderão correr o risco de extinção.
Os rinocerontes são um bando de magnatas chineses que, graças a uma mistura de conexões políticas e uma ambição feroz, criaram conglomerados globais tentaculares. Companhias como a Anbang Insurance Group, Fosun International, HNA Group e Dalian Wanda Group banquetearam-se com empréstimos baratos fornecidos por bancos estatais, gastando prodigamente para construir seus impérios.
Hoje, estes gigantes atingiram dimensões tão grandes, estão tão endividados e tão entranhados na economia que o governo chinês de repente ordenou que fossem investigados. Recentemente, o presidente Xi Jinping advertiu que a estabilidade financeira é crucial para a segurança nacional, enquanto o “Diário do Povo”, órgão oficial do Partido Comunista, apontou para os perigos dos eventos que envolvem os “rinocerontes cinzentos”.
As agências reguladoras chinesas começaram a se preocupar porque alguns dos maiores conglomerados tomaram tanto dinheiro emprestado que poderiam representar sérios riscos para o sistema financeiro do país. Executivos dos bancos agora realizam exames minuciosos dos balanços destas companhias.
A reviravolta, para a primeira geração de capitalistas chineses pós-Mao, antes considerados exemplares, foi rápida.
No ano passado, Wu Xiaohui, presidente da Anbang, uma seguradora que registrou um crescimento extremamente rápido, e pagou US$ 2 bilhões pelo Waldorf Astoria, em Nova York, e promoveu banquetes magníficos no hotel para empresários norte-americanos. Em junho, ele foi detido pela polícia chinesa por razões não reveladas.
A Fosun, administrada por uma espécie de “Warren Buffett da China”, realizou negócios multibilionários, em dólares, para o Club Med, Cirque du Soleil e outras marcas. Recentemente, a empresa desmentiu que seu presidente, Guo Guangchang, preso por um breve período pela polícia em 2015, tivesse voltado para a cadeia.
Fundada como uma companhia aérea regional, a HNA evoluiu até tornar-se uma poderosa organização com participações em organizações como Hilton Hotels, Deutsche Bank e na companhia Swissport de serviços em terra em aeroportos. As autoridades reguladoras europeias estão investigando o conglomerado. Ao mesmo tempo, um grande banco de Wall Street, o Bank of America, decidiu não mais fazer negócios com o HNA.
A Dalian Wanda equiparava-se às gigantes norte-americanas do entretenimento e prometeu, um ano atrás, derrotar a Disney, na China. Agora, a empresa chinesa está recuando e vendendo seus parques temáticos e hotéis.
“A desvantagem destas novas companhias é que não havia ninguém com poder político ou regulador capaz de controlá-las”, disse Brock Silvers, principal executivo da Kaiyuan Capital, um serviço de assessoria de bancos de investimentos boutique em Xangai.
Durante anos, os bancos chineses distribuíram generosamente empréstimos, ansiosos por bombear dinheiro na economia. Eles dobraram suas apostas depois da crise financeira global de 2008, a fim de respaldar o crescimento e baixar o valor da moeda.
Os conglomerados, com reputações estelares e enormes lucros, estavam na frente da linha de empréstimos. A HNA garantiu uma linha de crédito de US$ 90 bilhões de bancos controlados pelo Estado. A Anbang gastou mais de US$ 10 bilhões em três anos, negócios que foram financiados na maior parte pela venda dos chamados produtos de gestão de riqueza — investimentos obscuros que prometiam juros elevados e baixo risco.
Com dinheiro do Estado na mão, as companhias decidiram ir além de suas fronteiras, por insistência do governo. Nos últimos cinco anos, Wanda, Anbang, HNA Group e Fosun fizeram pelo menos US$ 41 bilhões de aquisições no exterior, de acordo com a empresa de pesquisa Dealogic.
Os níveis das dívidas no país subiram vertiginosamente. Em 2011, o total do crédito a companhias privadas, não financeiras, era cerca de 120% da produção econômica da China. Hoje, chega a 166%.
“O governo chinês desempenhou o papel de impulsionador indispensável”, disse Minxin Pei, professor da Claremont McKenna College, na Califórnia, que estuda a política chinesa. “E como elas [as empresas] conseguiram se tornar tão grandes? Assumindo dívidas”.
Em dezembro, quatro grandes agências reguladoras chinesas alertaram a respeito de investimentos “irracionais” em imóveis, entretenimento e esportes no exterior, explicando que tais áreas estavam repletas de “riscos e perigos ocultos”. Nos últimos meses, a Fosun quase encerrou suas frenéticas realizações de negócios. As compras da HNA também se reduziram.
As gigantes chinesas agora se parecem mais com rinocerontes cinzentos. O termo não tem nada a ver com a biologia; foi extraído de um livro de negócios de mesmo nome que se tornou popular este ano na China.
O “Diário do Povo” usou o termo em uma enérgica advertência. “Os riscos do setor financeiro são sofisticados”, disse o comentário não assinado. “Portanto, deveriam ser tomadas medidas de precaução para prevenir não só eventos como os ‘cisnes negros’, mas também os ‘rinoceronte cinzentos’”.
Se as agências reguladoras e os bancos tomarem medidas mais decisivas para conter o crédito, os rinocerontes poderão correr o risco de extinção.
Alexandra Stevenson e Brooks Barnes contribuíram para a reportagem, e Ailin Tang e Amy Cheng contribuíram para a pesquisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário