Quando chega a hora de decidir, há que considerar todas as hipóteses - até as menos boas. A VISÃO apresenta alguns dos argumentos que devem merecer uma reflexão antes de se dar o grande passo
Ter
filhos ou não ter filhos: eis a questão. E não é nada fácil de
responder. Se pode ser das coisas mais enriquecedoras do mundo, em nada é
uma decisão para se tomar de ânimo leve.
Estes são apenas alguns exemplos de consequências menos boas quando de escolhe ter um novo membro na família:
Os pais, e sobretudo as mães, são vítimas de preconceitos no local de trabalho
"A
maternidade desencadeia suposições de que as mulheres são menos
competentes e menos empenhadas nas suas carreiras", pode ler-se num relatório conjunto da organização feminista Lean In e da consultora McKinsey & Company, acerca do papel da mulher no local de trabalho, em 2017. "Como resultado, são vistas sob padrões mais elevados e presenteadas com menos oportunidades."
O relatório aponta para esta realidade que, nos dias que correm, ainda parece ser verdade.
Acresce que um estudo da Universidade de Cornell, nos EUA, descobriu que os patrões tendem a discriminar as mães.
Para chegar a esta conclusão, os investigadores enviaram currículos a várias entidades empregadoras. Os currículos eram virtualmente idênticos, mas com uma pequena diferença: alguns indicavam que os candidatos ao cargo faziam parte de uma associação de pais escolar.
Os candidatos masculinos pais foram chamados com mais frequência do que os candidatos "não-pais". Contrariamente, as candidatas femininas que faziam parte da associação de pais foram convocadas apenas metade das vezes comparativamente às candidatas "não-mães".
Os participantes do estudo consideraram também as mães como as candidatas menos desejadas para qualquer posto de trabalho, assim como menos competentes e empenhadas, em contraponto às mulheres sem filhos ou solteiras.
Por
outro lado, os homens com filhos foram avaliados como sendo mais
empenhados no trabalho do que os sem filhos, mesmo chegando atrasados ao
emprego com maior frequência.
Se é mãe, pode ganhar menos dinheiro
"Para a maioria dos homens, ser pai resulta num bónus salarial; para a maioria das mulheres, ser mãe resulta numa desvantagem salarial", comentam Jonathan Cowan e Elaine Kamarck, do grupo de investigação Third Way, acerca de um estudo da organização.
A autora do estudo, Michelle Budig, professora da Universidade de Massachusetts-Amherst, nos EUA, refere que "enquanto a diferença de salários entre géneros tem vindo a diminuir, a diferença salarial relacionada com a paternidade está a aumentar".
Durante os seus 15 anos de observações, a investigadora concluiu que os homens ganham 6% mais quando têm um ou mais filhos, enquanto que as mulheres recebem 4% menos por cada filho que tenham.
Ao que parece, "as mulheres com menos possibilidades pagam a maior pena proporcional pela maternidade", enquanto os homens saem incólumes – e ligeiramente mais ricos – da equação, conclui a autora.
As amizades mudam (às vezes para pior) após o nascimento de uma criança
Além do salário e das oportunidades de trabalho, também as amizades são afetadas pelo aparecimento de uma criança nas nossas vidas.
A revista Child entrevistou cerca de mil pais, e quase metade respondeu que tem hoje menos amigos do que quando não tinha filhos.
E enquanto
69% das mulheres e 67% dos homens se sentiam satisfeitos com as suas
amizades antes de ter filhos, apenas 54% das mulheres e 57% dos homens
sentiam o mesmo depois de terem tido filhos.
O tempo livre pode ter aqui um papel fulcral. Antes dos filhos, as mulheres passavam cerca de 14 horas por semana com amigos, enquanto os homens o faziam numa média de 16 horas por semana. Depois dos filhos, os números caíram para as 5 horas semanais para as mulheres, e as 6 horas semanais no caso dos homens.
Aquilo que se procura nas amizades também se altera. Quase todas as mulheres relataram que, antes de terem filhos e constituírem família,
os amigos seriam a sua principal fonte de diversão. Depois de terem
filhos, apenas metade das mulheres mantiveram essa opinião.
Os casamentos tendem a sofrer com a chegada de uma criança
Numa revisão científica a vários estudos, um grupo de investigadores concluiu que o nascimento de uma criança tende a afetar negativamente os casamentos. Tal provém da necessidade de reorganização dos "recém-pais" e da nova falta de liberdade consequente de ter um novo membro na família.
Mais: quantas mais crianças existem na relação, menos os pais se encontram satisfeitos com o casamento, indica a mesma pesquisa.
Outras
conclusões dos estudos referem que a insatisfação é mais pronunciada
nas mães de crianças pequenas e nos casais de classe social alta, mais novos e que tiveram filhos há pouco tempo.
Os pais tendem a ser menos saudáveis do que os "não-pais"
John Dick, fundador da plataforma CivicScience que analisa os dados e opiniões de consumidores, concluiu que as pessoas sem filhos tendem a ter estilos de vida mais saudáveis do que as pessoas com filhos.
De acordo com as respostas que obteve num estudo da plataforma, os "não-pais" têm uma probabilidade 75% superior de dormir mais de 8 horas por noite, enquanto os pais apresentam uma probabilidade 29% maior de reportar sonos de menos de 6 horas. Em harmonia, as pessoas com filhos tendem mais 28% a beber café todos os dias, ininterruptamente.
Da mesma maneira, os "não-pais" têm maiores probabilidades de não comer fast-food e de praticar exercício físico regularmente. Mais uma vez, o fator "tempo" torna-se cada vez mais escasso.
Quem tem filhos tem ainda maiores probabilidades de não praticar qualquer exercício, de ser obeso e de fumar, revela Dick.
Apesar de tudo isto, foi maior o número de pais que se considerou
"feliz" e "muito feliz" do que o número de "não-pais". Estranho? Nada
disso: é óbvio que há inúmeras compensações, mas não é disso que trata
este artigo.
Ter um filho pode impactar negativamente a felicidade
A investigadora Sonja Lyubomirsky analisou vários estudos existentes e concluiu, entre outras coisas: os pais mais novos e os pais de crianças pequenas tendem a ser particularmente infelizes; os pais homens, os pais casados e os casais cujos filhos já saíram de casa relatam uma elevada satisfação, felicidade e sentido para a vida.
No entanto, alerta a investigadora à revista Time, os
estudos nesta matéria são dissonantes: uns apontam para uma maior
felicidade dos pais em comparação com os "não-pais"; outros indicam o
contrário. Caso caso é um caso.
Na sua análise, Lyubomirsky adianta que "todos os tipos de pais reportaram sentir mais sentido na vida do que as suas contrapartes sem filhos, o que sugere que as recompensas de ser pai possam ser mais inefáveis do que os pontos fortes (ou fracos) diários".
Ter filhos contribui para o aquecimento global
Se
ama mais o planeta do que amaria ter uma família sua, esta é para si.
Ultimamente, a moralidade de ter filhos tem sido discutida, face ao
efeito negativo que "criar uma criança" tem no ambiente.
Um estudo da Universidade Estatal de Oregon, nos EUA, descobriu que uma das melhores coisas que se pode fazer pelo ambiente é ter menos um filho do que o planeado.
Esta medida, só por si, é capaz de reduzir mais as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera do que qualquer outra atividade para esse efeito, seja ela gastar menos energia em casa, comer menos carne ou usar os transportes públicos em vez do carro.
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