O meu blog é HOLÍSTICO, ou seja, está aberto a todo tipo de publicação (desde que seja interessante, útil para os leitores). Além disso, trata de divulgar meu trabalho como economista, escritor e compositor. Assim, tem postagens sobre saúde, religião, psicologia, ecologia, astronomia, filosofia, política, sexualidade, economia, música (tanto minhas composições quanto um player que toca músicas de primeira qualidade), comportamento, educação, nutrição, esportes: bom p/ redação Enem
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Irão as máquinas ocupar os nossos lugares?
“Sophia”,
a cara da IA - Criado pela Hanson Robotics, uma empresa de Hong Kong, o
robô Sophia é atualmente o “rosto” da Inteligência Artificial mas,
segundo os especialistas, não é tão inteligente como parece. Foi
programado para responder a perguntas. E é só o que faz, como qualquer
software dotado de IA. A mediatização deste robô humanoide deve-se,
essencialmente, ao facto de ter um corpo parecido com o dos humanos e
ser o primeiro robô a conseguir cidadania num país. Neste caso, na
Arábia Saudita
PATRICIA DE MELO MOREIRA / GettyImages
A Inteligência Artificial é já uma realidade no nosso dia a dia, mas
Ninguém sabe o que nos reserva: Pode ser a melhor ou a pior invenção da
humanidade. Falámos com Especialistas mundiais, que antecipam graves
problemas, como o desemprego e até a criação de uma nova classe social:
os inúteis
A
Inteligência Artificial (IA) é, para muitos de nós, uma coisa do
futuro, algo que apenas irá estar presente na vida dos nossos filhos ou
dos nossos netos. Mas, sem pensarmos nisso, já escrevemos SMS com
escrita inteligente, que não só corrige como sugere as palavras
seguintes, ou no email, com filtros de spam, ou mesmo em outras línguas,
usando o Google Translator. A
IA é hoje uma realidade presente nas nossas vidas em quase tudo o que
fazemos num telemóvel, num computador ou mesmo em alguns
eletrodomésticos já disponíveis no mercado. “As pessoas usam a IA
das mais variadas formas no seu dia a dia. E se falarmos da sua
utilização de um ponto de vista técnico, as grandes empresas também já o
fazem. Não porque seja moda, mas porque é uma nova e fundamental
técnica que permite melhorar os produtos ou fabricar aqueles que, sem
esta ferramenta, eram quase impossíveis de realizar. Temos de olhar para
a Inteligência Artificial como uma tecnologia que é usada no apoio à
produção, tal como a eletricidade ou o email”, diz Greg Corrado,
cientista sénior da Google, especializado em neurociência e Inteligência
Artificial, num encontro realizado por videoconferência em Zurique, na
sede da Google Europa, com um grupo restrito de jornalistas, sendo a
VISÃO o único órgão de comunicação português presente no evento.
O
mundo da finança é aquele que, atualmente, mais tem enveredado esforços
para integrar IA nos seus sistemas. Desde a prevenção de fraude (onde
existe uma empresa portuguesa especialista, a Feedzai) à avaliação de
risco. Mais tarde, a ideia é pôr a máquina a interagir com o cliente.
Ficção? Não. Bem pelo contrário. É no Brasil que os bancos estão mais
entusiasmados com esta ideia. O Bradesco, a maior instituição financeira
daquele país, já adotou o Watson, da IBM, um sistema computorizado
cognitivo, usado para o mundo dos negócios, que permite a interação
entre pessoas e computadores. No início deste ano, a administração do
banco anunciou que planeia usar o Watson para interagir diretamente com
os seus clientes em tarefas como transferências, pagamentos, consultas.
Medida que poderá acabar com muitos empregos de balcão e de call center.
Grandes
consultoras mundiais, como a EY, a PWC ou a Deloitte, estão a usar a IA
para substituir processos que, até há pouco tempo, eram realizados
apenas pelos humanos, como serviços de consultoria estratégica,
aconselhamento fiscal ou auditoria. E a capacidade de digerir
informação é muito superior à dos humanos. Significa isto que a
Inteligência Artificial veio para nos ajudar ou para nos tirar os
empregos?
“Essa é a questão que mais me preocupa. Sobretudo os
empregados relacionados com as atividades cognitivas que atualmente são
feitas pelas pessoas. Assim que conseguirmos pôr as máquinas a fazer
esses trabalhos, muito emprego tornar-se-á economicamente inviável”,
salienta Blaise Aguera y Arcas, um dos mais prestigiados engenheiros de
informática dos EUA, considerado em 2008 pelo MIT como uma das 35
pessoas com menos de 36 anos mais inovadoras do mundo.
Em
conversa com a VISÃO, a partir de Silicon Valley, na Califórnia, Blaise
Aguera y Arcas acrescenta que “com esta mudança podemos criar riqueza,
mas essa tem de ser distribuída, caso contrário arriscamo-nos a criar
desemprego maciço em muitas regiões e a concentrar riqueza em muito
poucos. E já estamos a ver esses efeitos”, afirmou o cientista, que já
participou várias vezes nas conferências Ted Talks – uma das quais com
mais de 5 milhões de visualizações e uma das favoritas de Bill Gates
(atualmente lidera o programa de Inteligência Artificial da Google).
Uma
preocupação que é partilhada por outros. “À medida que a Inteligência
Artificial ultrapassa os humanos em cada vez mais e mais capacidades, é
provável que os venha a substituir em mais e mais empregos. É verdade
que outras profissões poderão aparecer, mas isso não resolverá o
problema”, defende Yuval Noah Harari, professor de História da
Universidade de Jerusalém e autor dos best-sellers Sapiens – uma Breve
História da Humanidade e Homo Deus – Uma Breve História do Futuro.
Para este historiador, a biotecnologia e o crescimento da IA poderá
dividir a espécie humana numa pequena classe social dos super-humanos e
uma enorme dos que não têm utilidade. E assim que as massas percam o seu
poder económico e político, os níveis de desigualdade poderão crescer
de forma alarmante.
“Os humanos têm praticamente duas habilidades
– física e cognitiva –, e se os computadores forem capazes de as fazer
melhor que nós, poderão também substituir-nos nos novos empregos que
serão criados. E milhões de pessoas poderão ficar sem trabalho.
Assistiremos ao nascimento de uma nova classe social: a classe dos que
não têm qualquer utilidade”, avisa Yuval Noah Harari.
Um estudo
recente, da consultora McKinsey, mostra que 30% das tarefas de 60% das
profissões podem ser substituídas por computadores que utilizem IA. O
economista chefe do Banco de Inglaterra foi mais longe e admitiu que 80
milhões de postos de trabalho, nos EUA, e 15 milhões, no Reino Unido,
poderiam ser ocupados por robôs.
Outro estudo, denominado o
Futuro do Emprego, fez um relatório sobre as profissões que estão mais
em risco com a massificação da IA. Os profissionais de telemarketing são
os que estão mais em risco, pois 99% das tarefas que agora desempenham
podem ser automatizadas. O mesmo acontece com os bancários, sobretudo os
que trabalham nos empréstimos e os que estão nas caixas. Este estudo
refere que 98% das suas tarefas, no caso dos primeiros, e 97%, no caso
dos segundos, poderão ser executadas por IA. Em risco estão ainda os que
se dedicam ao aconselhamento legal, os taxistas e os cozinheiros de
fast food.
(IA)pocalipse
O
cenário apocalíptico surge sempre associado à Inteligência Artificial,
com as máquinas a subjugarem ou a erradicarem os seres humanos. Uma
ideia que foi passada pelo filme Exterminador Implacável, no qual o
realizador James Cameron nos dava a ideia de um computador superpotente
que, em agosto de 1997, ganhava autoconsciência e retirava o controlo
humano do sistema de defesa mundial.
Passado 20 anos sobre este
romanceado apocalipse, o prestigiado físico britânico Stephen Hawking
manifesta receios semelhantes em relação à evolução da Inteligência
Artificial. “Não podemos saber se seremos infinitamente ajudados pela IA
ou se ignorados, afastados e até destruídos por ela”, disse o físico na
abertura da Web Summit, através de videoconferência. Defendeu que esta
pode ser a pior invenção da História da nossa civilização, com perigos
associados a poderosas máquinas autónomas ou novas maneiras de poucos
oprimirem todos os outros. “Pode ser a última coisa que faremos enquanto
espécie.”
Por outro lado, o físico admite que a Inteligência
Artificial poderá criar meios para combater a pobreza, erradicar doenças
e restaurar o meio ambiente.
Resumindo, para Stephen Hawking a IA pode ser “a melhor ou a pior coisa que aconteceu à Humanidade”.
Já o cientista Greg Corrado admite que os riscos para a espécie humana não são preocupantes.
“Essa
preocupação é baseada na ideia de que os computadores criarão uma
aprendizagem em massa que rapidamente passará as suas capacidades. Não
há qualquer razão para pensarmos que estamos próximos desse ponto. O
que existe são sistemas que criamos com IA para desenvolver uma
determinada tarefa e apenas essa tarefa. Para monitorizar spam nos
emails, e é só isso que ele faz. Para traduzir, e é só isso que faz. E
faz muito bem. Ainda não estamos nem perto do ponto de criar sistemas
que tenham inteligência global”, afirma.
Para este cientista,
existem centenas de mitos em relação à IA. “Muita gente pensa que a
Inteligência Artificial é uma única máquina centralizada que domina
tudo. Não funciona dessa forma. A IA é um programa de software que
apenas cumpre uma função e que vai sendo cada vez melhor a desempenhar
essa função. E, ao contrário do que muitos pensam, não aprendem
indefinidamente. Vão aprendendo até atingir um padrão quase perfeito
daquilo que foi desenhado para fazer”, esclarece Greg Corrado.
Realidade enviesada
A
ideia de um apocalipse provocado pelas máquinas também não tira o sono a
Blaise Aguera y Arcas. “Para mim, o risco da existência é um dos pontos
menos preocupantes em relação a esta matéria. O que mais me preocupa,
além das questões ligadas ao desemprego, são os possíveis enviesamentos
cognitivos dos sistemas.”
Pode explicar? “A Inteligência
Artificial é basicamente a aprendizagem de processos cognitivos humanos,
que, por definição, são julgamentos rápidos, catalogados, estereótipos,
etc. E sabemos que todos e qualquer sistema que treinamos para fazer
tarefas humanas relevantes incorporam sempre enviesamentos cognitivos
dos humanos. E isso pode ser um problema.”
E dá o exemplo de um
estudo recente que mostrava, através de IA, quais os traços fisionómicos
que se poderiam encontrar num homem ou numa mulher heterossexual e de
um homossexual. “Temos de aferir o que estamos a fazer. Essas são as
nossas tecnologias e temos de ser responsáveis por elas”, diz o
cientista.
E refere ainda outro caso de um algoritmo criado na
China que, com base nos ficheiros de dois mil criminosos, definiu o
retrato do criminoso típico. “Toda a informação que foi dada ao
algoritmo foi com julgamento humano. Havia toneladas de enviesamentos
cognitivos no programa. É esse caminho que verdadeiramente me preocupa
em matéria de Inteligência Artificial.”
Corrida aos técnicos
Por
outro lado, com a introdução generalizada da Inteligência Artificial
nas grandes empresas, existe atualmente uma procura enorme de técnicos
especializados nesta área.
Nos EUA, a escassez de engenheiros
informáticos especializados é tão grande que muitas empresas começaram a
recrutar nas universidades… os professores. Alguns deles com imensos
estudos publicados sobre IA, mas sem qualquer experiência prática.
E acenam-lhes com salários chorudos com sete dígitos por ano, cinco a seis vezes mais do que estes ganham como professores.
Muitas
universidades alertam para o efeito dramático que esta prática poderá
ter no futuro da IA. Se os professores saírem das universidades, não
terão ninguém para formar novos engenheiros de Inteligência Artificial. E
a escassez será ainda maior nos próximos anos.
Sem retorno
Seja
qual for o caminho, ou caminhos, a tomar, a Inteligência Artificial
fará parte das nossas vidas nas próximas décadas. O professor Hani
Hagras, diretor do Centro de Inteligência computorizada da Universidade
de Essex, no Reino Unido, garante que a “Inteligência Artificial vai
dominar a ciência dos computadores nos próximos 20 anos”.
Está presente em quase tudo o que fazemos quando interagimos com um simples telemóvel ou um computador.
Programas
com o email, motores de busca, tradução automática, os assistentes
pessoais, como a Siri da Apple, os aparelhos autónomos para limpar a
casa, entre outros, todos eles usam Inteligência Artificial. E somos nós
que contribuímos para que eles aprendam ainda mais.
Sempre que
usamos a escrita inteligente para enviarmos um email, não só estamos a
recorrer a IA, como estamos a ensinar o programa a ser mais inteligente.
Ao escrever uma palavra, o sistema sugere a palavra seguinte, e, na
maioria das vezes, acerta. E irá acertar cada vez mais quantas mais
mensagens enviarmos. Porquê? Porque o software associado aprende de
acordo com a quantidade de hábitos e de informação que tiver disponível.
Vai construindo padrões dentro dos textos que enviamos e dá-nos a
palavra que mais vezes usámos a seguir à que escreveu anteriormente.
“Acho
que é na medicina e nos cuidados de saúde que a aprendizagem das
máquinas e a Inteligência Artificial pode trazer mais benefícios para a
Humanidade”, diz o neurocientista Greg Corrado.
Revolução na medicina
Um
dos projetos pioneiros da Google na aplicação da IA na área da Saúde
está a realizar-se na Índia, país que tem um défice brutal de
oftalmologistas. A especialista Lily Peng dirige o projeto, que criou
um algoritmo capaz de detetar retinopatia diabética de forma precoce
através do exame a fotos dos olhos dos pacientes. “Este tipo de cegueira
pode ser prevenido, mas como não existem oftalmologistas suficientes
para poderem fazer o exame a toda a gente, metade da população com a
doença acaba por perder a visão antes de o problema ser detetado,
esclareceu, em declarações à VISÃO, Lily Peng, que este ano surgiu na
lista dos 20 visionários da tecnologia da revista Wired.
Com esta
tecnologia, o acesso aos cuidados de saúde poderão ficar muito mais
baratos para populações carenciadas. Existem atualmente 400 milhões de
diabéticos, 70 milhões dos quais na Índia.
No fundo, a
Inteligência Artificial permite ao computador extrair padrões de uma
enorme base de dados. A partir desses padrões faz reconhecimento. Quanto
maior for a informação que recebe, mas fiável é o resultado, como já
vimos. Mas nem sempre.
Perigo da ilusão
Quando
funciona bem, a IA permite que o nosso computador reconheça, a uma
velocidade estonteante, um gato numa foto. E até num desenho, por mais
mal feito que este esteja. Mas se correr mal, pode achar que uma
tartaruga é uma espingarda. Foi isso que os técnicos do laboratório de
Inteligência Artificial do MIT testaram, descobrindo como enganar o
software de reconhecimento de objetos e imagens da Google – criaram um
algoritmo que, subtilmente, modifica uma fotografia de uma tartaruga
fazendo com que o software pense que é uma espingarda. Mais espantoso
foi que, quando esta equipa criou uma imagem 3D da tartaruga, o software
continuou a dizer que era uma espingarda.
Esta confusão veio
lançar a discussão da forma como os criminosos poderiam explorar esta
distorção nas imagens. Nomeadamente nos equipamentos de raios X que
analisam o interior das malas num aeroporto, pois muitos destes
aparelhos já estão a incorporar IA. Segundo os técnicos, a máquina
deteta por vezes aquilo que o olho humano não é capaz. Com o mesmo
processo criado pelos técnicos do MIT, os criminosos podem enganar o
software e passar armas ou bombas para dentro do avião.
Os
computadores desenhados para detetar objetos automaticamente são
baseados em redes neurais, um software que tenta imitar a forma como o
cérebro humano aprende. Se os investigadores encherem o software com
muitas fotos de gatos, por exemplo, o programa aprende a identificar
padrões nessas imagens para identificar qualquer tipo de gato sem a
ajuda humana.
E não é só nos aeroportos que o problema se coloca.
As câmaras de segurança estão, nos dias de hoje, preparadas para se
ligarem apenas quando detetam movimento. Para evitar estarem sempre a
ligar-se com o movimento dos automóveis, estas já têm Inteligência
Artificial para não filmar os carros que passam, mas apenas as pessoas.
Para enganar essa inteligência, os criminosos poderão, por exemplo, usar
t-shirts especialmente desenhadas (tal como a tartaruga) que enganam as
câmaras pensando que estes são carros, o que lhes permite passar
facilmente pelo sistema de segurança.
Estamos a falar de casos hipotéticos, mas que para os investigadores podem tornar-se bem reais nos próximos tempos.
As
máquinas estão inteligentes e estarão cada vez mais. Segundo um estudo
realizado nos EUA, 25% das pessoas acredita que a IA já atingiu o nível
do cérebro humano e está guardada em segredo pelo governo.
O génio já está fora da lâmpada. Mas teremos de ter cuidado com aquilo que desejarmos.
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