quarta-feira, 31 de maio de 2017

Tabagismo causa enorme dano ao meio ambiente, alerta OMS

No Dia Mundial sem Tabaco, organização afirma que componentes tóxicos do cigarro prejudicam não apenas fumantes, mas também a natureza. Dois terços dos 15 bilhões de cigarros vendidos por dia são lançados no solo.
cigarros descartados Entre 340 milhões e 680 milhões de quilos de resíduos de tabaco são gerados a cada ano
O consumo de produtos derivados do tabaco não apenas prejudica a saúde das pessoas, mas também causa um "enorme dano" ao meio ambiente, afirmou a Organização Mundial da Saúde (OMS) por ocasião do Dia Mundial sem Tabaco, comemorado nesta quarta-feira (31/05).
As cifras mais recentes indicam que, apesar dos esforços internacionais para diminuir o tabagismo, este provoca em um ano a morte de 7 milhões de pessoas e gera despesas de 1,4 trilhão de dólares, pelos custos em saúde, perda de produtividade e degradação ambiental – pouco menos de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
Em relatório, a OMS quis evidenciar neste ano o que ocorre depois que o cigarro foi consumido, onde vai parar a bituca e como os seus efeitos funestos persistem até mesmo após ter sido lançado em um cesto de lixo ou nas vias públicas.
"Esta análise é a primeira que relaciona o impacto ambiental com o cultivo, manufatura, uso e resíduos do tabaco, apesar de a informação ser limitada, porque a indústria não reporta dados e os governos não os exigem", disse o coordenador da OMS para o Controle de Tabaco, Vinayak Prased.
Os especialistas determinaram que os resíduos de tabaco contêm mais de 7 mil substâncias químicas tóxicas, que envenenam não só atmosfera, mas também os solos, mares e os rios. Dos 15 bilhões de cigarros vendidos diariamente, 10 bilhões acabam no meio ambiente, contendo uma mistura de nicotina, arsênico e metais pesados.
 
Assistir ao vídeo 03:03

Fumar prejudica espermatozoides e compromete fertilidade

Com dois terços dos cigarros lançados no solo, entre 340 milhões e 680 milhões de quilos de resíduos de tabaco são gerados a cada ano. Nas áreas urbanas e litorâneas, eles representam de 30% a 40% de todos os resíduos que são recolhidos. Mas não só o resíduo do cigarro se transformou numa dor de cabeça para os serviços de limpeza municipal, mas também os plásticos e os maços de cigarros.
O tabaco gera efeitos nocivos ao meio ambiente desde o cultivo da folha de tabaco, que requer o uso de agroquímicos, reguladores de crescimento e novas substâncias e contribui para o desflorestamento, alertou a OMS. O plantio, a produção e distribuição também requerem o uso extensivo de água e energia. Outra forma de contaminação são as emissões de fumo, que representam toneladas de gases cancerígenos, tóxicos e de efeito estufa.
Impacto econômico
A organização também evidenciou o efeito financeiro do tabaco para o fumante e sua família. "Muitos estudos mostram que nos lares mais pobres, a despesa em produtos de tabaco pode representar mais de 10% do investimento familiar, o que significa menos dinheiro para comida, educação e atendimento médico", disse Prased.
Para os governos, o fumo também gera despesas colossais em termos de saúde. As despesas totais ligadas ao tabaco são dez vezes maiores àquelas gastas mundialmente em ajuda humanitária ou de emergência; e 40% do que em 2012 gastavam os governos de todo o mundo em educação.
Para a OMS, a proibição da publicidade de cigarros e de fumar em lugares públicos fechados e locais de trabalho, além de um aumento dos impostos e dos preços de produtos de tabaco, podem ajudar a reduzir o consumo de tabaco.
PV/lusa/efe/rtr

segunda-feira, 29 de maio de 2017

10 motivos para proibir smartphones para crianças menores de 12 anos

Como controlar o uso das novas tecnologias nos bebês e nas crianças

O acesso das crianças às novas tecnologias parece não ter freios. Antes a preocupação se limitava a que as crianças não ficassem tanto tempo em frente à televisão, entretanto hoje existe uma grande preocupação dos pais em relação ao contato que as crianças têm, inclusive os bebês, com os smartphones e tablets. Especialistas no tema alertam sobre o risco do uso desses aparelhos por bebês e crianças. São os telefones móveis e os tablets as novas babás das nossas crianças?

Como e quanto as crianças podem usar os smartphones

10-motivos-para-proibir-smartphones-menores-12-anos A 

Há alguns meses, a Associação Japonesa de Pediatria começou uma campanha para restringir o uso prolongado dos celulares e tablets, sugerindo controle e mais brincadeiras entre pais e filhos. Agora são a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria as que revelam 10 razões pelas quais crianças menores de 12 anos não devem utilizar esses aparelhos sem controle. Eles têm muito claro que os bebês entre 0 e 2 anos não devem ter contato algum com a tecnologia; entre os 3 e 5 anos, deve ser restringido a uma hora por dia; de 6 a 18 anos a restrição deveria ser de duas horas por dia.

Por que limitar o acesso das crianças aos celulares ou tablets 

1 – Desenvolvimento cerebral das crianças 
Um desenvolvimento cerebral causado pela exposição excessiva às tecnologias pode acelerar o crescimento do cérebro dos bebês entre 0 e 2 anos de idade, e juntamente com a função executiva e o déficit de atenção, atrasos cognitivos, problemas na aprendizagem, aumento da impulsividade e da falta de controle (birras).
2 – Atraso no desenvolvimento da criança 
O excessivo uso das tecnologias pode limitar o movimento e consequentemente o rendimento acadêmico, a alfabetização, a atenção e capacidades.
3 – Obesidade infantil 
O sedentarismo que implica o uso das tecnologias é um problema que está aumentando entre as crianças. Obesidade leva a problemas de saúde como o diabetes, problemas vasculares e cardíacos.
4 – Alterações do sono infantil 
Os estudos revelam que a maioria dos pais não supervisiona o uso da tecnologia pelos seus filhos nos seus quartos. Isso faz com que seus filhos tenham mais dificuldades para conciliar o sono. A falta de sono afetará negativamente seu rendimento escolar.
5 – Doença mental 
Alguns estudos comprovam que o uso excessivo das novas tecnologias está aumentando as taxas de depressão e ansiedade infantil, distúrbios do processo de vinculação entre pais e filhos, déficit de atenção, transtorno bipolar, psicose e outros problemas de conduta infantil.
6 – Condutas agressivas na infância 
A exposição das crianças a conteúdos violentos e agressivos pode alterar sua conduta. As crianças imitam tudo e a todos. Assim que os pais devem vigiar o uso de smartphones e tablets pelas crianças.
7 – Falta ou Déficit de Atenção 
O uso excessivo das novas tecnologias pode contribuir para o déficit de atenção, diminuir a concentração e a memória das crianças, graças à grande velocidade dos seus conteúdos.
8 – Vício infantil 
Os estudos demonstram que uma em cada 11 crianças são viciadas às novas tecnologias. Cada vez que as crianças usam os dispositivos móveis, elas se distanciam do seu meio, de amigos e familiares.
9 – Muita radiação
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os celulares como um risco na emissão de radiação. As crianças são mais sensíveis a esses agentes e existe o risco maior de contrair doenças como o câncer.
10 – Superexposição 
A constante e superexposição das crianças à tecnologia as tornam vulneráveis, sujeitas a serem exploradas e expostas a abusos.
Além disso, os especialistas concordam que ficar horas conectadas ao celular ou tablet é prejudicial ao desenvolvimento das crianças. Os estudiosos acreditam que geram crianças mais passivas e que não sabem interagir ou ter contato físico com outras pessoas. E ainda que entendam que as novas tecnologias façam parte da sua vida, eles acreditam que não devem substituir a leitura de um livro ou o tempo de brincadeira com irmãos, pais e amigos.
Vilma Medina
Diretora de Guiainfantil.com

sábado, 27 de maio de 2017

COMPOSIÇÃO 17



QUERO

Quero um sonho em pedaços
Em cada pedacinho de seus braços
Uma andorinha voando no céu azul
Uma frente fria vinda do sul

Uma resposta dada a esmo
Um petisco de torresmo
Um beijo atrevido
Com cara de ultraje removido

Se querer é poder
Eu quero você
Mesmo sem entender
Apenas por merecer
        (Refrão)

Quero um escrito a bico de pena
Um chamego de uma morena
Uma experiência carnal
Junta com um bálsamo espiritual

Uma oração sem sujeito
Um sujeito sem oração
Um concerto sem canção
Uma união sem desrespeito

Se querer é poder
Eu quero você
Mesmo sem entender
Apenas por merecer
        (Refrão)

Quero o núcleo do sujeito
Um sujeito sem núcleo
Uma homenagem sem graça
Como um busto na praça

Vidas dignas para todos
Vidas sem engodos
Vidas muito felizes
Vidas com raízes

 Se querer é poder
Eu quero você
Mesmo sem entender
Apenas por merecer
        (Refrão)

Quero um sonho em pedaços
Em cada pedacinho de seus braços
Uma andorinha voando no céu azul
Uma frente fria vinda do sul

Uma resposta dada a esmo
Um petisco de torresmo
Um beijo atrevido
Com cara de ultraje removido

Se querer é poder
Eu quero você
Mesmo sem entender
Apenas por merecer
        (Refrão)

Quero um escrito a bico de pena
Um chamego de uma morena
Uma experiência carnal
Junta com um bálsamo espiritual

Uma oração sem sujeito
Um sujeito sem oração
Um concerto sem canção
Uma união sem desrespeito

Se querer é poder
Eu quero você
Mesmo sem entender
Apenas por merecer
        (Refrão)

Quero o núcleo do sujeito
Um sujeito sem núcleo
Uma homenagem sem graça
Como um busto na praça

Vidas dignas para todos
Vidas sem engodos
Vidas muito felizes
Vidas com raízes

 Se querer é poder
Eu quero você
Mesmo sem entender
Apenas por merecer
        (Refrão)

Quero apenas brincar com as palavras
Com as palavras sérias
Apenas acabar com as misérias
Com as misérias bravas
      (Refrão final)

A ideia de que 'prender todo mundo' acaba com a corrupção é ingênua, diz cientista político

Em meio àqueles que comemoram as mais recentes denúncias e prisões da operação Lava Jato, muitos veem nelas um motivo adicional para uma descrença total nos políticos brasileiros.
Foto: BBCBrasil.com
O clima de revolta com os políticos se acirrou ainda mais após a divulgação na semana passada das delações dos executivos da JBS e das conversas mantidas por um dos donos da empresa com o presidente Michel Temer e, em outra ocasião, com o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Nas redes sociais, têm sido comuns manifestações de revolta que vão desde "prendam todos os corruptos" e até a negação quase total da política - "ninguém presta".
Para o economista e cientista político Bruno Pinheiro Wanderley Reis, as duas lógicas são perigosas - e nenhuma delas resolverá a crise política que assola o país desde 2014, porque "prender corruptos não significa extinguir a corrupção".
"A leitura aí é que você prende os corruptos, e então vão ficar só os não-corruptos. Isso é conversa fiada, uma bobagem", afirma.
"É ingenuidade achar que a Lava Jato vai extinguir a corrupção", acrescenta.
Reis compara a corrupção aos vírus de computador - por mais que se criem antivírus, eles não vão ser capazes de extinguir todos os vírus existentes.
  • Reformas são mais importantes para elite econômica do que a preservação de Temer, diz analista
"Você tem que combater corrupção, sim, é uma tarefa permanente do Estado, mas é mais ou menos como empresa de computação criando antivírus. Ela não vai conseguir extinguir os vírus. Ela vai fazer antivírus o tempo todo. Isso não tem um ponto de chegada", exemplifica.
Reis diz ainda que o desafio do Brasil não é descobrir como se livrar de políticos corruptos, mas sim como proteger o político da corrupção ativa praticada pela sociedade.
Para o professor na UFMG e pesquisador do estudo Dinheiro e Política: A Influência do Poder Econômico no Congresso Nacional , no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a corrupção na política brasileira "não é mais fator desviante, e sim comportamento padrão".
E a solução, ele garante, não está em "prender todo mundo", mas em uma boa reforma do atual sistema político - que, em suas palavras, "é corrupto por lei".
Leia os principais trechos da entrevista com Bruno Pinheiro Wanderley Reis.
BBC Brasil: O senhor costuma dizer que a "conduta de corrupção na política brasileira não é mais fator desviante, mas comportamento-padrão". Como e por que se chegou a essa situação?
Bruno P. W. Reis: No Brasil, o dispositivo específico, que só incide aqui, é que o teto de doação (de campanha) tem que ser proporcional ao do doador. Até 2014 (quando doações de empresas eram permitidas), era no máximo 10% do rendimento da pessoa ou 2% do faturamento bruto da empresa. Qual é a lógica que isso cria? O candidato só ia pedir dinheiro às empresas que mais faturam, às pessoas mais ricas. Aí entram bancos, mineradoras, empreiteiras.
Então fica claro que você vai ter um jogo - porque só pouquíssimas empresas podiam doar bilhões dentro dessa regra.Obviamente isso vicia o sistema político e o jogo eleitoral. Vai arrecadar mais o candidato que tiver boas relações e bom fluxo de recursos com as grandes empresas, bancos, empreiteiras, mineradoras. É uma anomalia, essa regra só existe aqui no Brasil.
A gente produz uma competição de centenas de candidaturas individuais disputando dezenas de cadeiras em distritos com milhões de eleitores. E isso é muito difícil de fiscalizar, os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) são admiráveis, mas é impossível governar um sistema em que concorrem mais de mil candidatos na mesma circunscrição.
Enquanto no resto do mundo você tem uma dezena de chapas disputando favores e doações de milhares de doadores, aqui no Brasil a gente faz uma competição em que milhares de candidatos disputam os favores financeiros de uma dúzia de doadores potenciais.
  • Da pujança ao escândalo: a ascensão dos irmãos Batista, pivôs do escândalo que ameaça Temer
Você vai ter uma elite parlamentar, tanto de vereadores quanto de deputados, extremamente dependente de poucos grandes financiadores. Isso é um sistema que dá um poder sem igual a financiadores, a agentes privados que legitimamente têm seus interesses políticos e as suas prioridades próprias. Só que nenhum país deixa seu representante político tão vulnerável a seu financiador.
São as grandes empresas, as doadoras, quem dá as cartas nesse sistema (brasileiro).
BBC Brasil: Em 2014, o senhor fez uma análise sobre a Lava Jato dizendo que a estratégia adotada por ela com as delações premiadas seria "autodestrutiva" para a política e que ela estaria apenas "enxugando gelo". Por que o senhor acredita nisso?
Reis: A delação premiada foi inventada pra pegar máfias, porque máfias têm uma rede de silêncio. Então você pega um cara que esteja encrencado e oferece algo em troca para pegar mais gente. E isso é eficaz. Você puxa um fio e chega até o topo. Mas para mim esse é o pecado crucial da Lava Jato. A gente quer desbaratar a máfia, mas a gente não quer desbaratar o sistema político todo.
Em vez de a gente usar o sistema de controle, que está cada vez melhor, canalizar as investigações para captar os problemas e solucionar mudando a legislação (do sistema eleitoral), a gente está querendo puxar o fio - e isso é extremamente destrutivo.
  • Líder do DEM diz que acusações são graves, mas que partido vai esperar para decidir se sai do governo Temer
Eu não aplicaria a delação premiada. A exposição do (setor do) petróleo, com identificação de diretores que estavam recebendo propinas, já é um mega choque no sistema, que provavelmente mudaria práticas. Agora, o que você tem é uma clara deterioração institucional, está um salve-se quem puder.
A capacidade da Lava Jato de investigar pessoas tão poderosas deriva da estabilidade relativa do sistema político de 1988 para cá. Essa é a parte mais triste. Esse sistema que está aí agora é o sistema menos malsucedido que esse país já foi capaz de por em pé em toda a sua história. A ideia de que o próximo vai ser melhor é só uma esperança.
BBC Brasil: Como o Sr. vê o futuro da Lava Jato?
Reis: Estamos em uma situação em que todo mundo que é preso a gente já começa a pensar, qual será a delação? É uma bola de neve. Isso não vai acabar. Quando vai acabar? Quando o país todo estiver na cadeia, aí você joga a chave fora? Quando vier um "salvador da pátria"?
Nesse momento, ninguém consegue aprovar no Congresso medidas que limitem a atuação das investigações, mas vai acontecer. No momento em que o sistema se reestabilizar, cedo ou tarde isso acontece, algum salvador da pátria que vai ser eleito vai ter que voltar a ter o dispositivo de poder. Para fazê-lo de maneira confiável, crível pelos atores, vai precisar pôr limite na atuação do Judiciário. E é aí que a ambição de limpeza se mostra destrutiva.
BBC Brasil: Mas não seria tarefa do Estado combater a corrupção em operações como a Lava Jato?
Reis: Você tem que combater corrupção, sim, essa é uma tarefa permanente do Estado. Mas é mais ou menos como funciona em uma empresa de computação que cria antivírus. Ela não vai conseguir extinguir os vírus, aboli-los. Ela vai fazer antivírus o tempo todo. Isso não tem um ponto de chegada. Para isso, você tem que ir aperfeiçoando por rotinas burocráticas, administrativas, etc. a capacidade do sistema de controlar a corrupção. A gente vinha fazendo isso.
Nossa capacidade de combater a corrupção hoje é muito maior do que há 30 anos. Agora, do jeito que vai, vai piorar. Porque o sistema está sendo desarticulado na sua teia de interesses, na sua capacidade de autocontrole. A gente está num processo de autodestruição. O que poderia acontecer de pior seria o desmantelamento do sistema partidário, que foi o que aconteceu na Itália, algo catastrófico.
BBC Brasil: Mas se a 'culpa' pela corrupção que toma conta da política hoje em dia é do sistema eleitoral, a Lava Jato não poderia ajudar a "consertá-lo"?
Reis: Não é função da primeira instância, mas o Supremo tem um papel nisso. E nas declarações dos líderes da operação Lava Jato aparece essa intenção também, de "limpar o sistema". E nisso eles são precisamente ingênuos. Não é que você só pode investigar se for fulano, sicrano e beltrano, mas não pode pegar os graúdos. Não, não é isso. Se você está tocando a investigação e caiu no colo uma prova contra o presidente da República, você tem que denunciar. Agora, o que a gente está fazendo aqui é uma busca retórica de incriminação de políticos importantes, que é guiada por uma ambição ingênua de purificação do sistema - algo que eu entendo que é contraproducente.
A leitura da Lava Jato é a de que você prende os corruptos, e então você vai ter somente os não-corruptos. Mas isso é conversa fiada, uma bobagem. É demagogia.
O desafio não é como a gente se livra de político corrupto, mas como a gente protege o político da corrupção ativa praticada pela sociedade.
  • Mecanismo de Antikythera: o objeto mais misterioso da história da tecnologia
Então em vez de a gente reformar a lei, a gente prende os caras. Os representantes votados pelo eleitorado, induzidos por essa grana. Mas aí foi preso porque estava cheio de dinheiro - e quem é o suplente? De onde ele recebeu dinheiro? Estamos enxugando gelo, desestabilizando um sistema que é estruturalmente viciado e mantido vigente. E ninguém fala em mudar a lei. A discussão não vai a lugar nenhum.
BBC Brasil: Como, então, se combate a corrupção?
Reis: O que me preocupa aí é a sustentabilidade desse combate à corrupção. Eu não vejo isso com bons olhos quando tenho a impressão de que o lastro institucional que viabilizou com melhoria nítida o combate à corrupção está em desarranjo. Pode ser que dê certo? Pode ser, por acaso. O normal é ter conflito, o que se espera de processos como o que a gente está metido é uma desorganização profunda do lastro partidário e subsequente comprometimento do controle da corrupção.
  • A mulher que fugiu para salvar dois bebês intersexuais de seus próprios pais
BBC Brasil: Qual seria o sistema político mais viável para o Brasil - e que não "favoreça" a corrupção?
Reis: Como meu diagnóstico está baseado numa interação infeliz entre o sistema eleitoral e as regras de financiamento, eu mudaria essas duas coisas, no que diz respeito ao início do processo. Quer dizer, você tem que ter tetos nominais para doações, e de números razoáveis, da ordem de milhares de reais. Eu manteria empresa e pessoa física, desde que cada um esteja doando (até) R$ 10 mil, R$ 50 mil... Não resolve todos os problemas, mas fica menos ruim.
A primeira solução seria essa: tetos que não permitam que nenhum doador individual seja o dono de uma campanha. Isso já tenta induzir uma fragmentação da fonte de recurso.
  • Redes sociais validam o ódio das pessoas, diz psicanalista
Do outro lado, se o sistema eleitoral produz uma demanda muito alta por recursos fragmentados, eu tenho que tentar concentrá-lo. O que eu faria? Fecharia a lista (voto em lista fechada significa voto em partidos, e não em candidatos a deputados). E diminuindo o número de candidatos, a eleição fica mais controlável, mais fiscalizável. E por fim, eu subiria o quociente eleitoral, que automaticamente diminuiria o número de partidos no plenário.
É simples, não é inventar a roda.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Bactéria do solo amazônico ajuda a ampliar produção agrícola

Encontrada junto a raízes de plantas, a bactéria Bacillus sp. RZ2MS9 estimulou o crescimento de milho e de soja
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As culturas do milho e da soja representam mais de 80% da área cultivada com grãos no Brasil – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
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Pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, identificou genes relacionados às características de promoção de crescimento vegetal na Rizobactéria Promotora de Crescimento de Plantas (RPCP) Bacillus sp. RZ2MS9. O estudo mostra que a bactéria, encontrada no solo da região amazônica, produz o fitormônio Ácido Indol Acético (AIA), que tem efeito benéfico no crescimento de diversos cultivos, como os de milho e soja, podendo aumentar a produção agrícola. O trabalho da biotecnóloga Bruna Durante Batista foi orientada pelos professores João Lucio de Azevedo e Maria Carolina Quecine Verdi.
Na camada fina do solo ao redor das raízes das plantas, também chamada de rizosfera, está o foco de significativo número de cientistas em busca de um desafio: alimentar quase 10 bilhões de pessoas em 2050. Uma dessas pesquisadoras é Bruna, que em 2010 cursava o último ano do curso de Biotecnologia na Universidade Federal de Alfenas (Unifal), quando veio fazer seu estágio curricular de fim de curso na Esalq. “Naquela época, ingressei em um projeto que buscava isolar bactérias do guaranazeiro visando especialmente o controle de um fungo nas lavouras da planta, mas também com interesse de busca por micro-organismos com algum potencial biotecnológico.”
Dessa primeira etapa, ainda na iniciação científica, resultou a base do seu mestrado, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas, na Esalq. “Da rizosfera do guaranazeiro separamos um grupo de 100 bactérias com o propósito de avaliar o potencial de crescimento das plantas, mas como o cultivo do guaraná em São Paulo não obteve sucesso devido às condições agroclimáticas, adotamos o milho por apresentar uma composição microbiana relativamente compatível com o guaraná.”
Do grupo inicial, a pesquisa seguiu com a Rizobactéria Promotora de Crescimento de Plantas (RPCP) Bacillus sp. RZ2MS9. “Trata-se de um representante da rica biodiversidade amazônica brasileira e uma forte candidata a bioinoculante por seu efeito benéfico em uma ampla gama de culturas, incluindo milho e soja, e facilidade de formulação e sobrevivência em condições adversas, características bastante buscadas em produtos biológicos”, explica.

Solução biotecnológica

Aplicação de Rizobactéria Promotora do Crescimento RZ2MS9 promoveu crescimento de soja (à esquerda) e milho (à direita) – Foto: Bruna Durante Batista
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Em 2014, parte desse trabalho de mestrado venceu o Prêmio Novos Talentos para Agricultura Sustentável, iniciativa que aproxima jovens universitários da tarefa de aumentar a produção de alimentos e intensificar a sustentabilidade dos sistemas produtivos. A premiação despertou Bruna para a necessidade de encarar um novo desafio, o de levar essa solução biotecnológica, que ainda engatinhava em escala de laboratório, para o campo. “Para alimentar a população mundial crescente é necessário um aumento sustentável na produtividade agrícola. Nesse sentido, RPCPs têm sido continuamente buscadas para formulações inoculantes por sua capacidade de incremento na produção vegetal aliado ao seu potencial de redução e/ou substituição do uso de fertilizantes minerais, insumos que causam grandes impactos ambientais, na saúde humana e econômicos”, avalia a biotecnóloga.
Pesquisa avaliou aplicação da rizobactéria no desenvolvimento e produtividade da soja – Foto: Adauto Rodrigues/Flickr-cc
Da necessidade de refinar os resultados, Bruna dedicou seu doutorado, também realizado na Esalq, à tarefa de entender de forma detalhada os mecanismos de ação dessa rizobactéria, explorando desde seu genoma até seu desempenho em condições de campo. No Laboratório de Genética de Micro-Organismos, sob orientação do professor Azevedo e co-orientação da professora Maria Carolina, identificou genes relacionados às características de promoção de crescimento vegetal a partir do RZ2MS9. “A análise genômica revelou que diversos genes potencialmente contribuem com seu efeito promotor de crescimento vegetal, no entanto pudemos confirmar que a produção do fitormônio Ácido Indol Acético (AIA) por essa bactéria está diretamente envolvido nesse efeito benéfico.”
Na sequência, foi avaliado em condições de campo o efeito sobre o desenvolvimento e produtividade de milho e soja com a aplicação do bacilo. “No milho, o efeito da inoculação bacteriana foi, ainda, associado à adubação nitrogenada para verificar a possibilidade de redução desses insumos”, revela. Segundo a autora do trabalho, bioinoculantes formulados com RPCPs consistem em uma fonte barata e não danosa ao ambiente de suplementação nutricional vegetal. “Por esse motivo, a busca por micro-organismos que possuam a capacidade de manter relações benéficas, especialmente com gramíneas, é cada vez maior.”
E, de fato, os resultados foram animadores. O potencial do Bacillus sp. RZ2MS9 mostrou-se bastante claro pois, com um custo de produção inferior a R$1,00 por hectare, sua aplicação aumentou o desenvolvimento de milho e soja e causou incremento de 16 sacas de milho por hectare com redução de 30% na adubação nitrogenada, assim como um incremento de 11 sacas de soja por hectare, ambos comparados ao controle não inoculado. “As culturas do milho e da soja representam mais de 80% da área cultivada com grãos no Brasil, considerando o tamanho desses mercados, incrementos relativamente modestos de crescimento e produtividade podem gerar riqueza significativa ao País. Portanto, é imprescindível dar continuidade a estudos utilizando o Bacillus sp. RZ2MS9 em diferentes condições para a validação dos resultados”, conclui.
Caio Albuquerque / Assessoria de Comunicação da Esalq

terça-feira, 23 de maio de 2017

5 segredos da felicidade, segundo monge budista

O monge budista Matthieu Ricard é a "pessoa mais feliz do mundo".
Cientistas da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, estudaram o cérebro do monge Ricard e descobriram que produz um nível de ondas cerebrais de gama sem precedentes na literatura científica.
Cientistas da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, estudaram o cérebro do monge Ricard e descobriram que produz um nível de ondas cerebrais de gama sem precedentes na literatura científica.
Foto: BBC
Esse título foi dado por cientistas da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, que estudaram seu cérebro.
Eles descobriram que Ricard produz um nível de ondas cerebrais de gama sem precedentes na literatura científica.
Essas ondas estão ligadas à capacidade de atenção, consciência, aprendizado e memória.
Além disso, Ricard manifesta um nível de atividade no seu córtex pré-frontal esquerdo bem acima do direito, o que reduz sua propensão à negatividade, explicaram os pesquisadores.
"Felicidade não é a busca infinita por uma série de experiências prazerosas. Isso é uma receita para a exaustão", diz o monge tibetano.
Mas qual é, na visão dele, o segredo para tanta felicidade? Aos 70 anos, Ricard dá cinco conselhos.

1. Defina o que é felicidade

"Felicidade é um jeito de ser. É um estado mental ótimo, excepcionalmente saudável, que dá a você os recursos para lidar com os altos e baixos da vida."

2. Seja paciente

"Não seja como uma criança que faz pirraça. 'Eu quero ser feliz agora', isso não funciona. A fruta amadurece com paciência e vira uma fruta e uma geleia deliciosas. Você não pode fazer isso com uma fruta verde. Leva tempo cultivar todas aquelas qualidades humanas fundamentais que geram bem-estar."
“Felicidade não é a busca infinita por uma série de experiências prazerosas. Isso é uma receita para a exaustão”, diz o monge tibetano.
“Felicidade não é a busca infinita por uma série de experiências prazerosas. Isso é uma receita para a exaustão”, diz o monge tibetano.
Foto: BBC

3. Saiba que você pode treinar sua mente

"O que você fizer vai mudar seu cérebro. Se você aprender malabarismo, a mergulhar ou a esquiar, seu cérebro vai mudar. Da mesma forma, se você treinar sua concentração, se você treinar para ter mais compaixão, se você treinar para ser mais altruísta, seu cérebro vai mudar, você será uma pessoa diferente. Todas essas habilidades podem ser aprendidas, assim como tocar piano ou jogar xadrez."

4. Pratique pouco e com frequência

"É como quando você rega as plantas no seu apartamento. Você precisa regar um pouco todos os dias. Se você derramar um balde uma vez por mês, a planta vai morrer. É melhor fazer sessões curtas de meditação com frequência do que uma muito longa de tempos em tempos, porque o processo de neuroplasticidade não será ativado ou mantido."

5. Não deixe o tédio desencorajá-lo

"Devemos perseverar, porque, às vezes, quando está chato é que uma mudança de verdade ocorre. A regularidade é uma das grandes dicas de meditação e treinamento mental para se tornar uma pessoa melhor, mais feliz e mais altruísta."

sábado, 20 de maio de 2017

É O SUBCONSUMO, ESTÚPIDO!

                       Como sabemos, o lucro (positivo ou negativo) se mede pelas receitas menos os custos e, por sua vez, a receita se mede pelas vendas totais. Assim, ampliando-se as receitas e diminuindo-se os custos, maximizam-se os lucros e vice-versa. Mas, então, surge a questão óbvia de como operacionalizar isso num ambiente recheado de SUBCONSUMO (em função da MÁ DISTRIBUIÇÃO GLOBAL DA RENDA). Ora, o capital é teimoso ou ignorante e tenta contornar tal paradoxo sem sucesso, como veremos a seguir (afinal de contas, ele já deveria ter desconfiado que não dá para tirar leite de pedra). Ora, uma forma de ampliar as receitas é via exportação de capital (vendas ao exterior). Mas, isso só funciona durante um certo período, dado que os mercados externos não são ilimitados, mas inelásticos e protegidos. E, também, a renda do consumidor externo não é ilimitada e, uma vez esgotada ou preenchida, não tem como ampliar-se. Portanto, este caminho não representa uma saída consistente a longo prazo. Outra forma de aumentar as vendas é lançar produtos inovadores no mercado. Mas, aqui, a eficácia de tal medida também é passageira pois logo a concorrência lança cópias ou produtos-imitação. Aqui, novamente, a maximização dos lucros encontra barreiras mercadológicas.
                        Mas, se a ampliação das receitas/vendas encontra seus obstáculos naturais para a maximização dos lucros, o outro caminho é a redução dos custos. Uma forma de conseguir isso é incentivar a expansão do exército industrial de reserva ou contingente de desempregados (via, por exemplo, propagandas empresariais que, sutilmente misturam a venda de um produto com uma mensagem disfarçada ou de fundo de incentivo à procriação - e uma empresa de propaganda sabe como fazer isso muito bem), a fim de abaixar os salários. Aqui, também, encontram-se barreiras naturais, como: ampliação problemática dos gastos do governo com o seguro-desemprego, o desgaste político dos partidos que estão no poder e que não querem perdê-lo, os riscos de se estourar revoltas ou revoluções sociais, a diminuição da demanda agregada da economia, o aumento da criminalidade/violência. Outro caminho capitalista tentado para a diminuição dos custos (salariais) é a elevação da composição orgânica do capital ou de tecnificação ou robotização da economia - o que implica substituição de trabalhadores por máquinas, a fim de ampliar a produtividade. Aqui, além do alto custo da tecnificação, constata-se que de nada adianta aumentar a produtividade se o ambiente reinante é de subconsumo em função da concentração global da renda. (No tocante especificamente à robotização, pesquisas mostram que cada robô implantado gera até 6 demissões de trabalhadores e cerca de uns 2 trabalhadores especializados em robôs são admitidos para cuidarem de todos os mesmos robôs, o que evidencia uma perda líquida agregada de consumo no embate entre homem e máquina.) Novamente, percebe-se que o capital encontra obstáculos ou para ampliar as vendas ou para reduzir os custos, num ambiente de subconsumo global. Aliás, uma prova prática de que a Lei da Tendência Decrescente da Taxa de Lucro de Marx é correta e real é que uma das economias mais tecnificadas ou avançadas do mundo, como a japonesa, é simplesmente a mais endividada de todo o mundo - um caso clássico de "eficiência"... FRACASSADA! Concluindo: como mostramos, nenhuma das principais medidas de neutralização da tendência decrescente da taxa de lucro marxista é eficaz a longo prazo num ambiente de SUBCONSUMO OU DE CONCENTRAÇÃO DE RENDA e o futuro da economia mundial será sombrio, por um longo período, se o quadro problemático descrito acima não for revertido.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Previdência: Chile x Brasil

Enquanto o Brasil busca mudar a sua Previdência para, segundo o governo Michel Temer, combater um rombo fiscal que está se tornando insustentável para as contas públicas, o Chile, o primeiro país do mundo a privatizar o sistema de previdência, também enfrenta problemas com seu regime.
Sistema previdenciário do Chile foi inovador - mas hoje é alvo de críticas
Sistema previdenciário do Chile foi inovador - mas hoje é alvo de críticas
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
Reformado no início da década de 80, o sistema o país abandonou o modelo parecido com o que o Brasil tem hoje (e continuará tendo caso a proposta em tramitação no Congresso seja aprovada) - sob o qual os trabalhadores de carteira assinada colaboram com um fundo público que garante a aposentadoria, pensão e auxílio a seus cidadãos.
No lugar, o Chile colocou em prática algo que só existia em livros teóricos de economia: cada trabalhador faz a própria poupança, que é depositada em uma conta individual, em vez de ir para um fundo coletivo. Enquanto fica guardado, o dinheiro é administrado por empresas privadas, que podem investir no mercado financeiro.
Trinta e cinco anos depois, porém, o país vive uma situação insustentável, segundo sua própria presidente, Michelle Bachelet. O problema: o baixo valor recebido pelos aposentados.
A experiência chilena evidencia os desafios previdenciários ao redor do mundo e alimenta um debate de difícil resposta: qual é o modelo mais justo de Previdência?

Impopular

Como as reformas previdenciárias são polêmicas, impopulares e politicamente difíceis de fazer, não surpreende que essa mudança profunda - inédita no mundo - tenha sido feita pelo Chile em 1981, durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
De acordo com o economista Kristian Niemietz, pesquisador do Institute of Economic Affairs ( IEA, Instituto de Assuntos Econômicos, em português), o ministro responsável pela mudança, José Piñera, teve a ideia de privatizar a previdência após ler o economista americano Milton Friedman (1912-2006), um dos maiores defensores do liberalismo econômico no século passado.
Hoje, todos os trabalhadores chilenos são obrigados a depositar ao menos 10% do salário por no mínimo 20 anos para se aposentar. A idade mínima para mulheres é 60 e para homens, 65. Não há contribuições dos empregadores ou do Estado.
Agora, quando o novo modelo começa a produzir os seus primeiros aposentados, o baixo valor das aposentadorias chocou: 90,9% recebem menos de 149.435 pesos (cerca de R$ 694,08). Os dados foram divulgados em 2015 pela Fundação Sol, organização independente chilena que analisa economia e trabalho, e fez os cálculos com base em informações da Superintendência de Pensões do governo.
O salário mínimo do Chile é de 264 mil pesos (cerca de R$ 1,226.20).
No ano passado, centenas de milhares de manifestantes foram às ruas da capital, Santiago, para protestar contra o sistema de previdência privado.
Como resposta, Bachelet, que já tinha alterado o sistema em 2008, propôs mudanças mais radicais, que podem fazer com que a Previdência chilena volte a ser mais parecida com a da era pré-Pinochet.

'Exemplo de livro'

De acordo com Niemietz, o modelo tradicional, adotado pela maioria dos países, incluindo o Brasil, é chamado por muitos economistas de "Pay as you go" (Pague ao longo da vida).
Ele foi criado pelo chanceler alemão Otto von Bismarck nos anos 1880, uma época em que os países tinham altas taxas de natalidade e mortalidade.
"Você tinha milhares de pessoas jovens o suficiente para trabalhar e apenas alguns aposentados, então o sistema era fácil de financiar. Mas conforme a expectativa de vida começou a crescer, as pessoas não morriam mais (em média) aos 67 anos, dois anos depois de se aposentar. Chegavam aos 70, 80 ou 90 anos de idade", disse o economista à BBC Brasil.
"Depois, dos anos 1960 em diante, as taxas de natalidade começaram a cair em países ocidentais. Quando isso acontece, você passa a ter uma população com muitos idosos e poucos jovens, e o sistema 'pay as you go' se torna insustentável", acrescentou.
Segundo Niemietz, a mudança implementada pelo Chile em 1981 era apenas um exemplo teórico nos livros de introdução à Economia.
"Em teoria, você teria um sistema em que cada geração economiza para sua própria aposentadoria, então o tamanho da geração seguinte não importa", afirmou ele, que é defensor do modelo.
Para ele, grande parte dos problemas enfrentados pelo Chile estão relacionados ao fato de que muitas pessoas não podem contribuir o suficiente para recolher o benefício depois - e que essa questão, muito atrelada ao trabalho informal, existiria qualquer que fosse o modelo adotado.
No Brasil, a reforma proposta pelo governo Temer mantém o modelo "Pay as you go", em que, segundo economistas como Niemietz, cada geração passa a conta para a geração seguinte.
Manifestantes chilenos protestaram no ano passado contra as AFPs (administradoras de fundos de pensão)
Manifestantes chilenos protestaram no ano passado contra as AFPs (administradoras de fundos de pensão)
Foto: Francisco Osorio/Flickr / BBCBrasil.com
Para reduzir o rombo fiscal, Temer busca convencer o Congresso a aumentar a idade mínima e o tempo mínimo de contribuição para se aposentar.
No parecer do deputado Arthur Maia (PPS-BA), relator da proposta, mulheres precisariam ter ao menos 62 anos e homens, 65 anos. São necessários 25 anos de contribuição para receber aposentadoria. Para pagamento integral, o tempo sobe para 40 anos.

Na prática

De acordo com o especialista Kaizô Beltrão, professor da Escola de Administração Pública e de Empresas da FGV Rio, várias vantagens teóricas do sistema chileno não se concretizaram.
Segundo ele, esperava-se que o dinheiro de aposentadorias chilenas poderia ser usado para fazer investimentos produtivos e que a concorrência entre fundos administradores de aposentadoria fariam com que cada pessoa procurasse a melhor opção para si.
Ele explica que, como as administradoras são obrigadas a cobrir taxas de retornos de investimentos que são muito baixas, há uma uniformização do investimentos. "A maior parte dos investimentos é feita em letras do Tesouro", diz.
As administradoras de fundos de pensão do Chile abocanham grande parte do valor da aposentadoria
As administradoras de fundos de pensão do Chile abocanham grande parte do valor da aposentadoria
Foto: Arquivo/Marcelo Camargo/Agência Brasil / BBCBrasil.com
Além disso, segundo Beltrão, "as pessoas não têm educação econômica suficiente" para fiscalizar o que está sendo feito pelas administradoras, chamadas AFPs (administradoras de fundos de pensão).
Essas cinco empresas juntas cuidam de um capital acumulado que corresponde a 69,6% do PIB do país, de acordo com dados de 2015 da OCDE (Organização para Desenvolvimento e Cooperação Econômica), grupo de 35 países mais desenvolvidos do qual o Chile faz parte.
As maiores críticas contra o sistema chileno se devem às AFPs, que abocanham grande parte do valor das aposentadorias das pessoas. De acordo com Beltrão, o valor pago às administradoras não é muito transparente, pois é cobrado junto ao valor de seguro em caso de acidentes.

Justo ou injusto?

A BBC Brasil perguntou ao especialista em desigualdade Marcelo Medeiros, professor da UnB (Universidade de Brasília) e pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e da Universidade Yale, qual modelo de previdência é o mais justo - o brasileiro ou o chileno.
"Justo ou injusto é uma questão mais complicada", disse. "O justo é você receber o que você poupou ou é reduzir a desigualdade? Dependendo da maneira de abordar esse problema, você pode ter respostas distintas."
De acordo com Medeiros, o que existe é uma resposta concreta para qual modelo gera mais desigualdade e qual gera menos desigualdade.
"A previdência privada só reproduz a desigualdade ao longo do tempo", explicou.
Segundo especialista, a Previdência no Brasil tende a replicar os salários anteriores
Segundo especialista, a Previdência no Brasil tende a replicar os salários anteriores
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil / BBCBrasil.com
O sistema "Pay as you go" brasileiro é comumente chamado de "solidário", pois todos os contribuintes do país colocam o dinheiro no mesmo fundo - que depois é redistribuído.
Mas Medeiros alerta para o fato de que a palavra "solidária" pode ser enganosa, pois um fundo comum não é garantia de que haverá redução da desigualdade.
"Esse fundo comum pode ser formado com todo mundo contribuindo a mesma coisa ou ele pode ser formado com os mais ricos contribuindo mais", explicou. "Além disso, tem a maneira como você usa o fundo. Você pode dar mais dinheiro para os mais ricos, você pode dar mais dinheiro para os mais pobres ou pode dar o mesmo valor para todo mundo", acrescentou.
Atualmente, o Brasil possui um fundo comum, mas tende, segundo o professor, a replicar a distribuição de renda anterior. "Ele dá mais mais dinheiro para quem é mais rico e menos para quem é mais pobre", disse.
"Se é justo ou injusto, isso é outra discussão, mas o sistema brasileiro replica a desigualdade passada no presente".

Reformas no Chile e no Brasil

As diferentes maneiras de se formar e gastar um fundo comum deveriam ser, segundo Medeiros, o foco da discussão da reforma no Brasil, cujo projeto de reforma enviado ao Congresso mantém o modelo "solidário", ou "pay as you go".
O pesquisador aponta que há quase um consenso de que o país precisa reformar sua Previdência. "A discussão é qual reforma deve ser feita."
Michelle Bachelet já tinha feito uma alteração da previdência do Chile em 2008
Michelle Bachelet já tinha feito uma alteração da previdência do Chile em 2008
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil / BBCBrasil.com
No Chile, Bachelet já tinha em 2008 dado um passo rumo a um modelo que mistura o privado e o público - criou uma categoria de aposentadoria mínima para trabalhadores de baixa renda financiada com dinheiro de impostos.
Agora, ela propõe aumentar a contribuição de 10% para 15% do salário. Desse adicional de 5%, 3 pontos percentuais iriam diretamente para as contas individuais e os outros 2 pontos percentuais iriam para um seguro de poupança coletiva. De acordo com o plano divulgado pelo governo, a proposta aumentaria as pensões em 20% em média.
Bachelet também propõe maiores regulamentações para as administradoras dos fundos, em sintonia com as demandas dos movimentos que protestaram no ano passado. Um dos grupos, por exemplo, chama-se "No+AFP" (Chega de AFP, em português).

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Debate sobre reforma trabalhista e da previdência

Em conferência em Oxford, Delaíde Arantes faz duras críticas à proposta aprovada pela Câmara. Projeto é defendido por diretor executivo do Banco Mundial. Reforma da Previdência também foi tema do debate.
Juíza Delaíde Arantes (dir.) fala no Brazil Forum Juíza Delaíde Arantes (dir.) fala no Brazil Forum
Durante uma palestra neste domingo (14/05) em Oxford, que abordou as controversas reformas trabalhistas e previdenciárias propostas pelo governo de Michel Temer, a ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Delaíde Arantes criticou duramente a proposta que modifica a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Para Arantes, a reforma trabalhista, aprovada pela Câmara dos Deputados no fim de abril, retira todos os direitos de trabalhadores autônomos e terceirizados, além de, por meio de negociações coletivas, possibilitar essa precarização dos assalariados.
"Na reforma, não está listada como proibida a negociação coletiva para pactuar trabalho escravo, que, portanto, passa a ser permitido", alertou Arantes, ao abrir na conferência Brazil Forum a mesa que também reunia o diretor executivo do Banco Mundial para o Brasil, Otaviano Canuto, o copresidente do conselho de Administração do Itaú-Unibanco, Roberto Setúbal, e a economista da UFRJ e assessora econômica do Senado, Esther Dweck.
A juíza criticou principalmente a falta de debate na realização de uma reforma que altera "profundamente" a CLT, "num momento de vulnerabilidade política e de crise de legitimidade e de representação", e a aceleração nos trâmites do processo.
Arantes destacou, ainda, que o projeto original da reforma que foi debatido era composto de 20 artigos e o substitutivo aprovado na Câmara tem temas e matérias que não foram discutidos, ao propor alterações que abrangem 121 dispositivos da CLT.
A magistrada ressaltou que a mudança, da maneira como ela está sendo realizada, em tramitação de urgência e sem debate amplo, vai contra uma convenção da Organização Internacional de Trabalho (OIT) ratificada pelo Brasil. Por isso o Ministério Público do Trabalho solicitou uma consulta junto ao organismo internacional, ao denunciar o descumprimento do tratado pelo país.
Arantes igualmente criticou a reforma trabalhista que abrange o trabalhador rural, a qual regulamentaria condições análogas à escravidão.
Opiniões contrastantes em Oxford (da esq. para a dir.): Otaviano Canuto, Delaíde Arantes, Roberto Setúbal e Esther Dweck Opiniões contrastantes sobre a reforma trabalhista em Oxford (da esq. para a dir.): Otaviano Canuto, Delaíde Arantes, Roberto Setúbal e Esther Dweck
"Reforma para criar empregos"
Numa visão diferente da magistrada, o copresidente do conselho de Administração do Itaú-Unibanco Roberto Setúbal e o diretor executivo do Banco Mundial para o Brasil, Otaviano Canuto, defenderam as reformas que estão atualmente em trâmite.
Para Setúbal, a CLT impossibilita o aumento da produtividade, o que acaba com as chances de um crescimento econômico sustentável. "Atualmente ela é muito complexa, impossível cumpri-la com todos os detalhes. A atual legislação é muito burocrática e intervencionista ao extremo, e não favorece a criação de emprego", ressaltou.
Setúbal afirmou que o principal ponto da reforma é a flexibilização maior, com a possibilidade de negociação para ajuste da legislação de acordo com as necessidades de cada setor. O banqueiro argumentou que a mudança criará empregos.
"Nunca vamos conseguir resolver os problemas sociais sem uma legislação equilibrada que permita às empresas aumentarem a produção e criarem riquezas", destacou o Setúbal, acrescentando que é impossível cumprir a atual CLT, por ser extremamente complexa.
Argumento semelhante apresentou o diretor executivo do Banco Mundial para o Brasil, Otaviano Canuto, que defendeu também a flexibilização da relação entre empresas e funcionários para a geração de emprego e aumento da produtividade.
Segundo Canuto, a "anemia da produtividade" seria um dos principais males presentes da economia brasileira que contribui em peso para a crise atual no país. O outro problema seria a ausência de distribuição de riquezas. Com remédio para tratar a atual situação econômica do Brasil, o economista citou as duas principais reformas do governo Temer.
A assessora econômica do Senado, Esther Dweck, argumentou, porém, que a geração de emprego não depende das reformas. "Quem gera emprego não são empresários, é a demanda", alertou, afirmando que a atual CLT não é ruim no todo, mas precisa apenas de alguns ajustes.
"A preocupação é que se o remédio for errado, ele pode matar o paciente", comentou Dweck, em referência à palestra de Canuto. A economista argumentou que a produtividade tem que ser vista de maneira mais ampla e não agregada. Assim, teria ocorrido um aumento nos últimos anos.
Dweck destacou ainda que os acordos coletivos nunca ocorrerão de igual para igual, pois o empresário quase sempre tem melhores posições para negociar com trabalhadores que temem pelo emprego.
Reforma da Previdência
Tanto Dweck, quanto Canuto e Setúbal concordaram da necessidade de uma reforma previdenciária no Brasil. Para a economista da UFRJ, no entanto, ela não deveria estar sendo tramitada em caráter de urgência, com impactos a curto prazo, e sem um amplo debate entre a população.
Para a especialista, os principais problemas da reforma proposta por Temer são o tempo mínimo de contribuição de 25 anos, num "país com um mercado extremamente informal para os mais pobres"; os 40 anos para o acesso ao benefício integral; e o cálculo do benefício feito a partir da média de todos os salários e não excluindo os 20% mais baixos.
"A reforma proposta tem um efeito fiscal associado ao teto imposto", ressaltou em referência à proposta do governo, aprovada pelo Congresso, que limita os gastos federais por 20 anos.
Já Canuto afirmou que essa reforma deveria ter sido feita há 20 anos, devido à transição demográfica acelerada que ocorre no país: "O Brasil é muito mais generoso aos aposentados do que outros países avançados."
Setúbal argumenta que a mudança contribuirá para o ajuste de contas necessário para equilibro orçamentário, combatendo dessa maneira a estabilidade econômica do país.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

COMPOSIÇÃO 16



BENEFÍCIO

No limiar propício
Interrompe-se um sacrifício
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um beijo
Acende o desejo
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um querer
Depara-se com um sofrer
Mas depois experimenta-se um prazer
E experimenta-se um crescer

No limiar de um esforço
Faz-se tudo com alvoroço
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um amor
Arrebenta-se um clamor
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um engano
Rasga-se o pano
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício
Com cara de armistício


No limiar de uma prece
Uma bênção carece
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um regozijo
A Deus me dirijo
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de uma canção
Uma profunda devoção
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um encontro
Um aconchego-monstro
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar da felicidade
O respeito à verdade
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar propício
Interrompe-se um sacrifício
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um beijo
Acende o desejo
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um querer
Depara-se com um sofrer
Mas depois experimenta-se um prazer
E experimenta-se um crescer

No limiar de um esforço
Faz-se tudo com alvoroço
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um amor
Arrebenta-se um clamor
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um engano
Rasga-se o pano
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício
Com cara de armistício


No limiar de uma prece
Uma bênção carece
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um regozijo
A Deus me dirijo
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de uma canção
Uma profunda devoção
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar de um encontro
Um aconchego-monstro
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar da felicidade
O respeito à verdade
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício

No limiar propício
Interrompe-se um sacrifício
Arquiteta-se uma arte, um artifício
E experimenta-se um benefício
Bene, bene... benefício