sexta-feira, 7 de maio de 2021

'Temo que a inteligência artificial saia do controle', diz pesquisador do MIT

Max Tegmark fala ao ‘Estadão’ sobre os perigos relacionados ao desenvolvimento acelerado da tecnologia

07/05/2021 

 Por Bruno Romani - O Estado de S. Paulo

Tegmark diz que a IA aumenta o desequilíbrio na distribuição global de renda; taxação seria a solução

Uma expressão bastante comum entre pesquisadores e desenvolvedores de inteligência artificial (IA) é “inverno de IA” (do inglês, AI winter). Ela se refere à possibilidade do desenvolvimento da tecnologia desacelerar até ficar “adormecido” por um longo período, dando espaço para outras áreas de pesquisa tecnológica. É uma ideia que passa longe dos pensamentos de Max Tegmark, cosmologista e professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Com diversas áreas de interesse científicas, o sueco costuma explorar os vários cenários nos quais a IA pode se desenvolver aceleradamente. Ao contrário de um inverno, o maior temor do pesquisador é o superaquecimento na evolução das máquinas. Para ele, é necessário que a humanidade não permita a evolução descontrolada da tecnologia. 

Max explorou diferentes cenários da evolução da IA em seu livro “Vida 3.0 – O ser humano na era da inteligência artificial” (ed. Benvirá, R$ 59,90), que ganhou em janeiro passado sua primeira edição em português. Alguns dos cenários são altamente futuristas, como a colonização do universo por sistemas de IA e a fusão entre humanos e máquinas, o que amplia a percepção daquilo que enxergamos como vida. As visões fizeram com que a obra fosse apontada por Barack Obama, ex-presidente dos EUA, como um dos principais livros de 2018. 

Em entrevista exclusiva ao Estadão, Max discutiu problemas mais imediatos relacionados à IA: desigualdade social, temores sobre os líderes do desenvolvimento, incapacidade de governos de lidar com a tecnologia, mudanças no mercado de trabalho e até o papel da tecnologia no combate à covid-19. Em muitos momentos, ele deixa claro que o problema não é a máquina. O ponto fraco somos nós. Confira.  

Grandes empresas, como Google, Facebook e Amazon, estão entre os principais nomes por trás do desenvolvimento de IA. Quais são os problemas desse modelo? 

Primeiro: a IA não é “má”. É apenas uma ferramenta que pode ser usada para fazer coisas boas e ruins. Hoje em dia, ela é cada vez mais usada por grandes empresas e por governos para manipular as pessoas. Gostaria de ver isso sendo usado na direção contrária, permitindo que as pessoas pudessem descobrir quando estão sendo manipuladas. Hoje, quando você lê notícias online, os algoritmos estão tentando manipular você a ficar exposto ao maior número possível de anúncios comerciais - é assim que as empresas ganham dinheiro. A maneira que o algoritmo faz isso é exibir notícias que geram raiva ou notícias trazem pontos de vista com os quais o leitor já concorda. Dessa maneira, ocorre um efeito de bolha.        

Alguns dos homens mais ricos do mundo estão ligados ao desenvolvimento de IA. A IA aumenta a desigualdade? 

Sem dúvidas. Toda vez que um trabalhador humano perde seu emprego para um algoritmo ou um robô, o dinheiro que antes ia para aquele humano permanece com o dono do capital, que fica mais rico. Compare o Facebook com a Ford. O Facebook tem valor de mercado muito mais alto e tem muito menos funcionários. A razão? O Facebook tem uma porção muito maior do trabalho realizado por IA. Cada vez mais, as empresas estão deixando de ser a Ford para se tornar o Facebook, com muitos algoritmos e um pequeno número de programadores. Isso gera desigualdade na renda, com menos dinheiro indo para trabalhadores comuns. O único jeito de ter uma sociedade na qual todos têm uma vida melhor é os governos cobrarem impostos das empresas de tecnologia e distribuírem esse dinheiro para as pessoas. É por isso que os franceses tentaram criar um imposto digital sobre Google e Facebook, mas os americanos ficaram bravos e passaram a ameaçar as exportações francesas. O lobby das grandes empresas americanas é muito poderoso e quer evitar qualquer tipo de taxação e regulação. Não estou dizendo que essas empresas são más, mas, no capitalismo, é preciso garantir que a palavra final seja dos governos e não das empresas.

Quem deveria estar desenvolvendo IA? 

Governos não deveriam permitir que empresas específicas tenham domínio absoluto de IA. O governo brasileiro, por exemplo, não deveria permitir o monopólio de duas empresas que não são brasileiras - vocês deveriam ter controle sobre sua própria mídia. Isso geraria uma oportunidade para startups brasileiras competirem. É importante valorizar também projetos que tentam romper o filtro da bolha. A IA pode dar poder para pessoas comuns, não apenas para as grandes companhias.  

Os governos têm gente capaz de compreender e regular a IA? 

Não posso falar sobre o Brasil, mas nos EUA e na Europa, a maioria dos políticos não têm perfil técnico: eles não são engenheiros ou cientistas. Portanto, eles não entendem a tecnologia tão bem quanto deveriam. Veja o caso da China: a maioria dos políticos é de engenheiros. Provavelmente, isso dá alguma vantagem a eles.

Fake news podem ser um problema para o desenvolvimento de IA?

Notícias falsas e enviesadas são um problema para a democracia, não para a IA. Muitas das ideias por trás da democracia é a de que as pessoas podem fazer escolhas baseadas em fatos. Quando as notícias são enviesadas ao ponto de não sabermos a verdade, a democracia não funciona. Muitas pessoas acham que o maior problema com as notícias são as fake news, mas não é. Fake news significa que aquilo que é dito é falso. O maior problema acontece quando coisas verdadeiras são retiradas de contexto, quando informações relevantes são omitidas. O viés é muito problemático. Existem muitas oportunidades para a IA ajudar as pessoas a perceberem que estão sendo manipuladas. 

Muita gente já têm consciência no papel de como a IA pode ajudar na distribuição de notícias falsas (e potencialmente do papel corrosivo nas democracias). Isso não pode gerar um movimento de rejeição à tecnologia? 

Há tanto dinheiro investido em IA atualmente, que é impossível que a tecnologia seja banida. A conversa não deve ser sobre como pará-la, mas como liberá-la. É preciso garantir que as pessoas tenham acesso a boas ferramentas gratuitas de IA que estejam fora do monopólio das grandes empresas.     

Qual é o perfil de trabalhador que não será substituído pela IA? 

Os trabalhos que deveríamos evitar são aqueles que serão completamente substituídos pela IA. Isso vale para qualquer trabalho altamente estruturado, no qual o trabalhador passa o dia inteiro fazendo algo altamente previsível e interagindo pouco com outros humanos. Os melhores trabalhos são aqueles com componentes imprevisíveis e com bastante improviso. São trabalhos que as pessoas pagaram a mais para interagir com um humano. Pode ser um padre ou um massagista: mas há sempre uma conexão humana. É preciso lembrar que a maioria dos empregos não será substituída completamente e nem passará livre da tecnologia. Acontecerá algo entre essas duas coisas. A tecnologia será parte do trabalho. Meu conselho é: preste atenção, leia revistas de ciência e tente se informar sobre o que acontece com IA. No caso de um médico, você não deveria se tornar o radiologista que passa o dia inteiro olhando para exames de imagem. Você deve ser o médico que recebe a análise automatizada pela IA e decide pelo tratamento.

Qual foi o papel da IA durante a pandemia? Poderia ter ajudado mais?

Poderia ter ajudado mais, mas não devemos culpar a IA, e sim as pessoas. Se você olhar o que aconteceu nos EUA e no Brasil e comparar com outros países, verá uma grande diferença. A Coreia do Sul teve cerca de 1.800 mortes. E tanto a Coreia do Sul quanto o Brasil têm acesso à IA. Mas a Coreia estava muito preparada e agiu com velocidade. E eles nem precisaram de um lockdown, Eles passaram a usar contact tracing, a realizar testagens massivas etc. No geral, os países asiáticos se saíram bem na pandemia porque estavam preparados e isso inclui a IA. Espero que a covid-19 nos ensine a ser mais humildes para que estejamos preparados para tudo.    

O desenvolvimento de IA pode passar pelo chamado “inverno de IA” (expressão usada para indicar desaceleração no desenvolvimento da tecnologia)?

 Tenho certeza que não atravessaremos um inverno de IA porque há substância no que está sendo feito. Minha preocupação não é que a IA esfrie, mas que ela superaqueça. Há tanta tecnologia desenvolvida com tanta velocidade que temo que possam sair do controle. Na história do homo sapiens, a nossa ciência só melhorou e a tecnologia ficou muito poderosa. Não queremos algo tão poderoso fora de controle - armas nucleares são um exemplo disso. Se as nossas democracias forem abaladas, e as empresas de tecnologia tomarem o comando, a gente pode nunca se recuperar novamente. Certamente não queremos uma IA com a qual um humano pudesse dominar o mundo.

 

De volta à reforma tributária

Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.



Nelson Barbosa

O desenho da reforma técnica existe desde os anos 1990; o apoio político ainda não

Volto à reforma da tributação indireta porque o projeto andou e parou nesta semana. O relator da comissão no Congresso, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), apresentou seu parecer, mas o presidente da Câmara parou o processo.

Independentemente do caminho legislativo adotado, a maioria dos economistas concorda com a direção a ser seguida: tributação no destino (ponto de venda), em vez de na origem (ponto de produção), tributo sobre o valor adicionado (para evitar cobrar imposto sobre imposto), alíquota única sobre todos os produtos e serviços (acabam regimes especiais) e toda compra de insumo gera crédito tributário (o imposto que você paga pode ser abatido do imposto que você deve).

As mudanças acima diminuirão a carga sobre a indústria, mas aumentarão sobre serviços. A carga tributária continuará a mesma, mas alguns setores pagarão mais e outros pagarão menos em relação à situação atual. Por esse motivo a reforma tem oposição ferrenha dos setores hoje desonerados. Reforma tributária nunca é assunto meramente técnico.

 Simplificar tributação indireta requer cobrar imposto sobre tudo, o que é inicialmente regressivo, pois os pobres gastam relativamente mais de sua renda com consumo do que os ricos.

Vários economistas se opõem à alíquota única com base no mantra popular: “Alimento não deve pagar imposto”, “livro não deve pagar imposto”, e assim em diante. A intenção é boa, mas o caminho do inferno... vocês sabem.

Quanto maiores as exceções, mais complicado ficará o sistema tributário e maior será o risco de desvio de função, de desoneração de quem não precisa.

Nos impostos indiretos, tributação boa é tributação simples. Alíquota única no destino para todos os bens e serviços. A regressividade dessa medida pode e deve ser compensada com transferência de renda.

Por exemplo, tributar a cesta básica, mas transferir renda aos mais pobres com base no valor de tributos que incidem sobre a cesta básica. A mesma coisa se aplica a livros, tributar e transferir o recurso para quem mais precisa (exemplo: subsídio para livros escolares). O deputado Ribeiro incluiu essa lógica no seu parecer. A fila anda.

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Outro nó político está na divisão da arrecadação. Alguns colegas querem juntar tributo federal, estadual e municipal para simplificar a vida do contribuinte (correto), mas a iniciativa pode diminuir os fundos que bancam a proteção social feita pela União (errado).

Para não estimular “rouba-monte” entre União, estados e municípios, é melhor manter as coisas legalmente separadas. Contribuição sobre bens e serviços (CBS) para a União, imposto sobre bens e serviços (IBS) para estados e municípios, que, por sua vez, pode ser dividido em duas partes: IBS-E e IBS-M.

A União pode e deve ir na frente criando a CBS (por lei). Estados e municípios podem ir depois (por emenda constitucional), com opção de aderir ou não ao sistema federal de arrecadação. Alguns estados e municípios aderirão. Outros, de maior arrecadação ou ambição, preferirão manter sua própria burocracia.

E ter CBS, IBS-E e IBS-M não complicará a vida do contribuinte se os sistemas eletrônicos de arrecadação se comunicarem. Há tecnologia de informação para isso. Não devemos confundir competência legal (a quem cabe a receita) com sistema de informática (guia única na internet).

A reforma também deve ser gradual, migrando de várias alíquotas para alíquota única ao longo de quatro a oito anos, a fim de dar tempo às empresas se adaptarem.

O desenho da “reforma técnica” existe desde os anos 1990. O apoio político ainda não.

 

A história secreta da cloroquina

https://youtu.be/c7aYuxFhiac

Click link acima (vídeo)

Força e massa muscular diminuem risco de covid grave, aponta estudo

Pesquisa da USP mostra que infectados com boa saúde muscular tendem a não ficar grave e tempo de internação pode ser menor

  • Saúde | Carla Canteras, do R7

Resumindo a Notícia

  • Pacientes com covid e boa saúde muscular tendem a ficar menos tempo internados
  • Pessoas com força e massa muscular não estão livres de serem infectadas pelo SARS-CoV-2
  • Músculos funcionam como reservatório de energia, usados em momentos de estresse do corpo
  • Atividades físicas aeróbicas e fortalecimento muscular são o que define uma pessoa ativa
Atividades físicas podem evitar que pacientes com covid fiquem mais graves

Atividades físicas podem evitar que pacientes com covid fiquem mais graves

HAYOUNG JEON/EFE/EPA - 21.2.2021

Pesquisadores da USP desenvolveram um estudo para avaliar qual a relação entre força e massa muscular com a evolução da covid-19 nos infectados. Os resultados indicaram que uma pessoa com boa saúde muscular tende a ficar menos tempo internada, no caso de doença moderada ou grave.

O pesquisador Hamilton Roschel, coordenador do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e da FMUSP, explica que foram usadas referências da literatura médica.

“A condição muscular ou condição de vulnerabilidade está relacionada com desfechos desfavoráveis em uma série de situações. Por exemplo, um paciente idoso que vai para cirurgia e tem pouca massa muscular, está muito mais exposto”, conta Roschel.

“Essa lógica se mantém na covid. Conseguimos perceber que aqueles que chegavam com melhor saúde muscular ao hospital, ou seja, com mais força e massa muscular, ficavam menos tempo internados do que aqueles que chegavam com menos força e massa muscular”, completa.

A explicação para essa relação vem das funções exercidas pelos músculos no corpo, que vão muito além do suporte ao movimento. O pesquisador explica que eles funcionam como um reservatório de energia e são usados nos momentos de estresse e maior necessidade.

“O músculo tem um papel no metabolismo e na função imune do indivíduo. Todos os tecidos do nosso corpo passam por etapas de degradação e renovação constantes. Numa situação de estresse, cirugia ou internação, diminui o aporte nutricional ao paciente e o corpo busca nos músculos os aminoácidos para manter o funcionamento do resto do organismo. Você passa 'a se consumir'. Por isso, a perda muscular é tão grande, após longos períodos de internação”, explica Roschel.

A pesquisa foi feita com 186 pacientes internados no Hospital das Clínicas da USP, em São Paulo, que não chegaram ao pronto-socorro com indicação direta de UTI (unidade de terapia intensiva). “Se o paciente ia direto para a emergência, não conseguíamos avaliá-lo antes. Assim que os doentes foram internados na enfermaria, fizemos testes de força para ver como seria a evolução do paciente e verificar a relação entre saúde muscular e a covid”, conta o pesquisador.

A avaliação foi feita com homens e mulheres, com idades de 44 a 74 anos. Os dados de força muscular foram corrigidos por idade, comorbidades e sexo. O ensaio dos pesquisadores brasileiros foi publicado no site MedRxiv, plataforma ligada à Universidade de Yale, nos Estados Unidos, de pré-publicação de artigos científicos sobre ciências da saúde, e ainda precisa ser revisto por outros cientistas.

Hamilton observa que "mesmo com todas as correções necessárias, os pacientes com mais força ficaram menos tempo internados". "Quando juntamos peças da literatura com os resultados da nossa análise, é possível dizermos que estar com saúde muscular boa pode prevenir a covid grave", afirma.

Mas, o pesquisador deixa claro: "Não significa que as pessoas mais fortes não vão pegar covid, mas pode significar que não vão ficar mais graves”, ressalta.

O que é uma pessoa ativa?

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), para ser considerada ativa, uma pessoa deve fazer de 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada (caminhada mais rápida ou andar de bicicleta); ou de 75 a 150 minutos de atividade vigorosa (correr ou pular corda), por semana.

Além disso, são necessárias atividades de fortalecimento muscular, que envolvam todos os grupos musculares dois ou mais dias por semana. 

Só fazer os minutos de exercícios e se manter totalmente parado no restante do dia também não é indicado pela OMS.

“O ideal é atingir os níveis de atividade física e tentar diminuir o tempo contínuo em atividades sedentárias. Por exemplo, quem trabalha muito sentado, de tempos em tempos tem de levantar, beber água. Trabalhar por um tempo em pé. Ajuda a manter a saúde muscular”, garante o coordenador do estudo.

As atividades físicas são importantes não só para se manter saudável, como também para evitar estados graves de doenças.

Em um período em que as vacinas contra a covid-19 ainda são escassas e as medidas de distanciamento social não têm a eficácia necessária, tornar-se uma pessoa ativa pode ajudar também na pandemia.

 

Presidente do BOE diz que comprar criptomoedas é perder dinheiro

Lucy Meakin

(Bloomberg) -- O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, enviou um importante alerta para os que investem em criptomoedas: “Comprem apenas se estiverem preparados para perder todo o dinheiro”.

Em resposta a uma pergunta sobre estabilidade financeira, Bailey disse que o banco central está bem posicionado para responder a quaisquer ameaças que possam surgir. No entanto, ele criticou o termo criptomoeda e aproveitou a oportunidade para minimizar a crescente popularidade do ativo digital.

“Cripto e moeda são duas palavras que não combinam para mim”, disse em conferência de imprensa na quinta-feira. “Não têm valor intrínseco.”

Bailey há muito tempo critica os ativos, e seus comentários seguem mais um período de excessos especulativos em um mercado que Nouriel Roubini descreveu como a “mãe de todas as bolhas”.

Enquanto no passado trilhões de dólares em estímulos de governos e bancos centrais teriam levado os preocupados com a inflação a uma corrida do ouro e os aventureiros rumo a ações arriscadas, a enxurrada de recursos desta vez inunda o mercado de criptomoedas. Até mesmo impulsionou o preço de tokens digitais antes considerados uma piada, como do Dogecoin.

No mês passado, o BOE disse vai trabalhar com o Tesouro do Reino Unido para avaliar a possível criação de uma moeda digital do banco central britânico, em linha com autoridades da China à Suécia que exploram o próximo grande passo no futuro do dinheiro. Se aprovada, a moeda digital do Reino Unido coexistiria com o dinheiro em espécie e depósitos bancários, em vez de substituí-los, disseram.

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©2021 Bloomberg L.P.

 

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Dívida pública faz real despencar

No dia 1º de janeiro de 2020, o dólar fechou a bolsa a R$ 4,28. Hoje, um ano e quatro meses depois, um dólar equivale a R$ 5,44

Foto: Edu Andrade / Ministério da Economia
Credit...Foto: Edu Andrade / Ministério da Economia

Este é um ritmo "muito intenso" de desvalorização da moeda e reflete um cenário que parece não ter solução a curto prazo. É o que afirma Marcel Caparoz, economista e consultor da RC Consultores Associados.

"A desvalorização do real está muito intensa, talvez mais intensa do que o que os fundamentos econômicos sugerem como uma taxa de equilíbrio para a moeda", diz Caparoz em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil nessa segunda-feira (3).

Caparoz explica que há fatores internos e externos para a desvalorização de uma moeda nacional. Os externos – como o ambiente do mercado de negócios, o Banco Central dos EUA (que influencia no dólar) e tensões políticas internacionais – variam independente da atuação do governo brasileiro. É nos fatores internos, no entanto, que o Brasil não tem se saído bem.

Segundo o economista, o principal fator de desequilíbrio do real é a política fiscal brasileira. As contas do governo registraram em 2020 déficit primário recorde de R$ 743,087 bilhões – um valor que representa 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Para efeito de comparação, o déficit de 2020 é 666,5% maior que o registrado em 2019, que foi de R$ 95,065 bilhões.

"Quando fazemos projeções do que serão os próximos anos, se vai ocorrer algum tipo de ajuste, alguma reforma estrutural para conter esta sangria das contas públicas, nós não enxergamos um cenário positivo", avalia o economista.

Reformas e aumento de juros podem ajudar a amenizar a situação

O desequilíbrio nas contas públicas pode ser explicado pela pandemia. Ao mesmo tempo em que demandou muitas despesas públicas, o surto de covid-19 também reduziu a arrecadação tributária, em decorrência da crise. Como consequência, as contas públicas, que já se encontravam em fragilidade, acabaram ainda mais enfraquecidas.

Para se recuperar perante investidores, o Brasil precisa passar a ideia de que tem uma economia sustentável, que tem um governo responsável e que tem capacidade para se recuperar frente ao dólar, mesmo que em ritmo lento. Para isso, segundo Caparoz, é preciso que o Congresso aprove reformas.

"O importante é que o governo tenha capacidade de juntar forças e passar reformas, principalmente a Tributária e a Administrativa, para passar um sinal positivo para o mercado e de confiança para os agentes econômicos", diz Caparoz.

Outra estratégia – que já foi adotada – é a elevação, ainda que discreta, da taxa de juros. Em março, o Banco Central anunciou o aumento da taxa Selic de 2% para 2,75% ao ano. A medida, ainda que tenha como objetivo principal frear a inflação, também pode acabar fazendo o real se valorizar.

"Quando aumentamos a taxa de juros, naturalmente ela acaba atraindo mais atenção de outros agentes, que estão interessados em financiar a dívida do governo. […] A dívida pública brasileira passa a ser mais atrativa. Tende a atrair mais recursos, inclusive recursos externos, e acaba gerando um fluxo maior de mercado, contribuindo para a valorização do real", afirma o especialista.

Vale notar que o ano de 2020 foi o sétimo consecutivo em que as contas públicas do Brasil registraram déficit. O último ano em que o Brasil teve um superávit primário foi em 2013, com as arrecadações superando os gastos em R$ 72,1 bilhões. (com agência Sputnik Brasil)

 

CHARGE

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quarta-feira, 5 de maio de 2021

Receita de bisnaguinha colorida de legumes

5 mai 2021

Guia da Cozinha - Receita de bisnaguinha colorida de legumes
Guia da Cozinha - Receita de bisnaguinha colorida de legumes
Foto: Guia da Cozinha

O lanche da tarde vai ficar mais divertido com essa bisnaguinha colorida de legumes! Uma única receita que tem três apresentações diferentes. Chama a criançada para cozinhar com você e delicie-se com muito sabor! 

Tempo: 50min (+1h de descanso)

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Rendimento: 45 unidades

Dificuldade: fácil

Ingredientes da bisnaguinha colorida de legumes

  • 2 tabletes de fermento biológico fresco (30g)
  • 2 colheres (sopa) de açúcar
  • 3 gemas
  • 1 ovo
  • 2 colheres (sopa) de manteiga amolecida
  • 1 e 1/2 xícara (chá) de leite morno
  • 6 xícaras (chá) de farinha de trigo (aproximadamente)
  • 1 colher (chá) de sal
  • 1/2 xícara (chá) de beterraba cozida e amassada
  • 1/2 xícara (chá) de cenoura cozida e amassada
  • 1/2 xícara (chá) de espinafre cozido e picado
  • Margarina para untar
  • 1 ovo para pincelar

Modo de preparo

Em uma tigela, dissolva o fermento no açúcar, amassando com um garfo. Adicione as gemas, o ovo, a manteiga, o leite e misture. Acrescente a farinha e o sal, aos poucos, sovando até desgrudar levemente das mãos.

Divida a massa em 3 partes. Em uma delas, misture a beterraba, em outra a cenoura e na outra o espinafre. Sove as massas separadamente e se preciso, acrescente mais farinha até que desgrude das mãos.

Retire porções e modele as bisnaguinhas com cada massa. Organize em uma fôrma grande untada, deixando espaço entre elas.

Cubra e deixe descansar por 1 hora. Pincele com o ovo e leve ao forno médio, preaquecido, por 20 minutos ou até dourar levemente. Retire, deixe esfriar levemente e sirva.

COLABORAÇÃO: Adriana Rocha

 

CHARGE

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segunda-feira, 3 de maio de 2021

CHARGE

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Educação: um alerta

Educação: um alerta

Luiz Henrique Lima*

03 de maio de 2021 

Luiz Henrique Lima. FOTO: DIVULGAÇÃO

Esta semana celebrou-se o Dia Mundial da Educação.

A educação é um dos principais direitos fundamentais do ser humano. A educação liberta o indivíduo e faz evoluir a coletividade. A educação é um dos principais deveres dos pais e a principal política pública de responsabilidade dos governos. De acordo com a nossa Constituição, a educação visa ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Historicamente, a educação tem sido o principal fracasso da sociedade brasileira e deveria ser a máxima prioridade de todo aquele que exerce algum tipo de liderança: política, econômica, cultural, comunitária etc. Durante o primeiro século de nossa independência, sequer tivemos uma única universidade no país e o analfabetismo da imensa maioria dos brasileiros foi poderoso instrumento de exclusão política e econômica. Somente com Getúlio Vargas, em 1930, foi criado o Ministério da Educação, incumbido de promover a educação como política pública nacional. Anísio Teixeira, Paulo Freire e Darcy Ribeiro foram alguns nomes que lutaram pela educação para todos os brasileiros. Todos foram perseguidos e amargaram o exílio por longos anos.

Em 2014, finalmente, foi aprovado o Plano Nacional de Educação – PNE, Lei 13.005/2014, com diretrizes e metas relacionadas a erradicação do analfabetismo; universalização do atendimento escolar; melhoria da qualidade da educação; superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; entre outras. Foi estabelecido o horizonte de uma década para alcançar as metas pactuadas, mediante ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas.

Todavia, decorridos dois terços desse prazo, o Relatório do 3º ciclo de monitoramento das metas do Plano Nacional de Educação 2020, publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP , apontou que a Meta 1, de universalização para a faixa etária de 4 a 5 anos, ainda não foi alcançada; e que a Meta 2 demanda triplicar a velocidade de melhora do indicador para que 95% (noventa e cinco por cento) dos jovens de 16 (dezesseis) anos cheguem ao final do ensino fundamental de nove anos até 2024.

A inação e a inefetividade tiveram efeitos ampliados com a pandemia da Covid-19, que produziu significativo impacto na evasão escolar e na consolidação do aprendizado. Uma urgente iniciativa deve ser a busca ativa de crianças e adolescentes que estão fora da escola ou em risco de evasão.

Impõe-se, portanto, um considerável esforço dos atuais dirigentes e lideranças para que as metas do PNE possam ser alcançadas até 2024, ano que coincide com o final de mandato dos prefeitos e vereadores que assumiram em 2021. De fato, as Metas 1 e 2 se referem ao ensino infantil e fundamental, que competem prioritariamente aos Municípios. Lembre-se que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB determina que os Municípios somente poderão atuar fora da educação infantil e do ensino fundamental após terem cumprido plenamente suas atribuições nessas etapas de ensino;

Conforme o art. 10 da Lei do PNE, o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios serão formulados de maneira a assegurar a consignação de dotações orçamentárias compatíveis com as diretrizes, metas e estratégias do PNE e com os respectivos planos de educação, a fim de viabilizar sua plena execução. Meta sem orçamento e orçamento sem execução são hipocrisia institucional.

Desta forma, no processo de elaboração dos Planos Plurianuais, das Leis de Diretrizes Orçamentárias e das Leis Orçamentárias é necessário que prioridade máxima seja concedida à educação. Tais recursos devem ser aplicados com transparência e ser objeto de efetivo controle social, conforme preconizam as normas do novo Fundeb.

Só assim nos libertaremos dos grilhões que ainda retardam o desenvolvimento brasileiro.

*Luiz Henrique Lima é auditor substituto de conselheiro do TCE-MT

 

Não é cedo para se falar em bolha?

Não é cedo para se falar em bolha?

A despeito dos mercados estarem se mostrando resilientes, parte dos investidores se mostra preocupada e hesita em acelerar mais

Fábio Gallo, O Estado de S.Paulo

03 de maio de 2021 

A maioria dos analistas concorda que não vivemos um momento de bolha financeira. Mas a exuberância dos mercados, que está atingindo novos recordes, e a rapidez da recuperação desde o ano passado têm chamado muito a atenção. As ações no Brasil desde o seu pior momento, em março de 2020, até agora subiram 90,4%, como mostram os dados do Ibovespa. Nos EUA, não foi diferente: o índice Standard & Poor's 500 subiu 90,9% e o índice Nasdaq subiu perto de 58%. Mais impressionante ainda é o preço do Bitcoin, que estava abaixo de US$ 8 mil no final de abril de 2020 e chegou a valer mais de US$ 64 mil um ano depois, o que representa aumento de mais de 630%.

A despeito dos mercados estarem se mostrando resilientes, parte dos investidores se mostra preocupada e hesita em acelerar mais. Afinal, um antigo dito de Wall Street, traduzido literalmente, diz que “ninguém toca um sino no topo”, significando que ninguém sabe que o mercado está no topo e prestes a cair. As bolhas se formam quando a irracionalidade dos investidores empurra os preços para cima, além de qualquer motivo. O valor dos ativos passa a não corresponder a seu valor intrínseco, que se baseia nas expectativas de ganhos futuros. Ocorre a busca de maiores ganhos impulsionados pela especulação, rapidez e adrenalina, em vez dos fundamentos de investimento.

Mercado financeiro
As ações no Brasil desde o seu pior momento, em março de 2020, até agora subiram 90,4% Foto: Daniel Teixeira/ Estadão

A forte liquidez dos mercados e a recuperação econômica de alguns países têm permitido um ambiente mais propício para especulação. O entusiasmo com o ESG, o frenesi do Bitcoin, as bigtechs, os IPOs de empresas de tecnologia têm capturado a imaginação das pessoas e pode ser uma história convincente para permitir bolhas, como aconteceu em meados dos anos 2000, quando se dizia que “os preços dos imóveis nunca caem”.

Embora estes sinais possam ocorrer, ainda não temos uma história que tenha captado mentes e corações e que mostre que estamos no caminho de uma bolha. Outro sinal que se busca é se os preços sobem independentemente das informações de mercado. Mas o que se vê nos mercados é que os preços estão sendo recuperados e a precificação não se mostra irracional. Um outro fator que entra em cena é quando os “novos” trades dizem que os antigos investidores não entendem dos novos mercados.

Mas o fato é que eles chegaram há cinco minutos no mercado e Warren Buffett, por exemplo, está presente há décadas e nunca foi pego de calças curtas.

No nosso mercado, em particular, com as baixas taxas de juros começou a migração para ativos de risco. Embora tenha impactado positivamente o mercado, não há sinais de preços sobreavaliados. Um bom investidor deve obedecer aos preceitos básicos de realizar análises, diversificar e evitar movimentos de manada e cair nas armadilhas comportamentais. Não devemos nos deixar levar pelas emoções: muitas vezes, os preços altos podem levar a preços ainda mais altos. Essa festa continua até que um dia acaba.

* PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV-SP

 

Bolsonaro insultou grande parte do mundo e agora o Brasil precisa de ajuda externa

Dois países em desenvolvimento, enormes em população e em extensão geográfica, são vítimas da devastação do coronavírus. No caso da Índia, o mundo se apressou a responder. No caso do Brasil, a resposta internacional tem sido mais moderada

Terrence McCoy, The Washington Post

03 de maio de 2021 

RIO DE JANEIRO – Dois países em desenvolvimento, enormes em população e em extensão geográfica, são vítimas da devastação do coronavírus. Os hospitais esgotaram seus suprimentos. Pacientes são mandados de volta. Em todo lugar, uma nova variante. Precisa-se desesperadamente de ajuda externa.

No caso da Índia, derrubada por taxas recordes de infecção, o mundo se apressou a responder. Esta semana, a Casa Branca divulgou a entrega de mais de US$ 100 milhões em equipamentos e material hospitalar. Cingapura e Tailândia enviaram oxigênio. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou que o Reino Unido fará “tudo o que puder”.

Jair Bolsonaro
Bolsonaro tornou-se um problema internacional tão grande que ninguém está disposto a ajudá-lo, diz Maurício Santoro, cientista político da UERJ Foto: Marcos Corrêa/ PR

Mas no caso do Brasil, que enterrou 140 mil vítimas nos dois últimos meses, a resposta internacional tem sido mais moderada. Em março, o presidente Jair Bolsonaro solicitou a ajuda das organizações internacionais. Um grupo de governadores pediu à ONU “ajuda humanitária”. Há duas semanas, o embaixador brasileiro na União Europeia implorou por ajuda. “É uma corrida contra o tempo para salvar muitas vidas no Brasil”.

Mas a resposta tem sido em grande parte ou falta de interesse, ou críticas aos erros do Brasil – e muito pouca ação, até o momento.

“O que está acontecendo no Brasil é uma tragédia que poderia ter sido evitada,” afirmou um membro do Parlamento Europeu ao embaixador brasileiro em uma audiência, este mês. “Mas esta tragédia foi baseada em decisões políticas erradas”. 

“Em lugar de declarar guerra ao coronavíurs”, afirmou outro, “Bolsonaro declarou guerra à ciência, à medicina, ao senso comum, à vida”. 

Desde terça-feira, a presidente do Parlamento Europeu, Ursula von der Leyen, tuitou três vezes sobre a ajuda à Índia. No entanto, pouco ela falou sobre o Brasil.

O contraste entre o tratamento dispensado pela comunidade internacional ao enfrentamento da crise na Índia e no Brasil mostra que as crescentes batalhas diplomáticas de Brasília complicaram a resposta do país contra o coronavírus. A imagem internacional que o Brasil passou décadas cultivando - focalizada no respeito do meio ambiente, amistosa, multilateral – foi solapada por um presidente cuja administração insultou grande parte do mundo no momento em que mais necessitava de ajuda. 

Bolsonaro, um nacionalista de extrema direita, que chegou ao poder zombando do globalismo, acusou países europeu inclinados ao respeito do meio ambiente de colonialismo e desmatamento ilegal. Amplificou uma mensagem nas redes sociais usando termos depreciativos contra a aparência da esposa do presidente francês Emmanuel Macron. Reiterou as afirmações infundadas do presidente Donald Trump sobre fraude eleitoral, e foi o último líder do G-20 a reconhecer a vitória do presidente Joe Biden. Durante meses, membros do seu governo e apoiadores dispararam ataques racistas contra a China e zombaram de sua vacina. Na terça-feira, seu ministro da Economia afirmou que a China “inventou o vírus”.

Desde o começo da pandemia, o governo federal do Brasil menosprezou a gravidade de um vírus que aleijou este país de 210 milhões de habitantes. Bolsonaro conclamou as pessoas a viverem sua vida normalmente. Muitos lhe deram ouvidos – por causa da pobreza, da política ou do cansaço – o suficiente para comprometer medidas de contenção pouco uniformes. Mais de 400 mil brasileiros já morreram de covid-19, o pior desastre humanitário da história da nação, e o segundo maior do mundo, depois dos Estados Unidos.

Agora, ainda mergulhado no período mais mortal de sua pandemia – outros 3.001 morreram na terça-feira, segundo informações – um país que há muito gabava de ser amigo de quase todo mundo, agora se encontra em grande parte sem amigos.

“O mundo inteiro está tentando ajudar a Índia”, disse Maurício Santoro, cientista político da UERJ. “Mas Bolsonaro tornou-se um problema internacional tão grande que ninguém está disposto a ajudá-lo."

“Ninguém fala em dar grande ajuda ao Brasil."

À pergunta da razão pela qual os Estados Unidos não se mexeram para ajudar o Brasil com a urgência demonstrada em relação à Índia, um porta-voz do Departamento de Estado apresentou uma lista de contribuições dos EUA ao Brasil antes da fase pior da pandemia, por um total de mais de US$ 20 milhões em assistência fornecida pelo governo. O porta-voz acrescentou ainda os US$ 75 milhões de “ajuda do setor privado”. A contribuição, grande parte da qual foi enviada durante a administração Trump, incluiu mil ventiladores e 2 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina.

“Continuamos ativamente dispostos a discutir com o governo brasileiro suas necessidades e a encontrar maneiras de continuarmos nossa parceria com o Brasil a fim de ajudar a satisfazer as suas necessidades”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado. 

Outros países também contribuíram. A Alemanha enviou ventiladores depois que o sistema médico da cidade de Manaus fracassou. A Organização Mundial da Saúde começou a enviar vacinas por meio de um programa que visa sanar as de imunizantes. A União Europeia e seus países membros concederam cerca de US$ 28 milhões em doações desde o início da pandemia, segundo um porta-voz. Em resposta a uma solicitação do Brasil em março, o bloco contribuiu para o envio de “80 mil unidades de medicamentos criticamente necessários” ao Brasil. 

Mas a falta de mais assistência internacional – ou mesmo de uma maior expressão de solidariedade – durante os meses de maior desespero no Brasil, confirmou os temores de que o país venha a pagar um preço internacional pela atitude de confronto de Bolsonaro em matéria de política externa e de zombaria em relação às medidas contra o coronavírus aceitas pelos líderes globais.

“O País perdeu influência em inúmeros níveis”, afirmou Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

O Brasil nunca irritou o mundo. Vasto, tranquilo e em desenvolvimento, seguiu tradicionalmente o que Stuenkel descreveu como uma política externa “previsível”, baseada na construção de alianças. Ano após ano, procurou estender o seu corpo diplomático, um dos maiores do mundo em desenvolvimento. 

Voltar-se contra a sua história foi uma jogada que o Brasil não podia se permitir.

“Os EUA conseguiram tirar um Trump porque não precisam tanto do mundo”, disse Stuenkel. “Eles podem produzir suas próprias vacinas. Mas no Brasil, tal comportamento foi particularmente imprudente porque dependia da comunidade internacional. Nós não temos poder forte. Nós precisamos de multilateralismo“.

Em vez disso, o governo Bolsonaro menosprezou a fé na China e em suas vacinas ao mesmo tempo em que o Brasil dependia do país para obter material para as vacinas. Em abril passado, o ex-ministro da Educação de Bolsonaro tuitou uma mensagem racista provocando uma violenta censura da China e da Suprema Corte brasileira. O filho do presidente, membro do Congresso brasileiro, culpou a China pela pandemia, depois a acusou de usar o sistema 5G para espionagem.

O governo chinês advertiu que haveria “consequências negativas” se tal retórica continuasse. Em janeiro, o embarque de material da China para a produção de vacinas sofreu um considerável atraso, provocando uma série de especulações. Para alguns veículos de informação, os insultos do governo tiveram consequências. 

Esta semana, enquanto as autoridades de saúde do país recusavam a vacina Sputnik V da Rússia, alegando falta de transparência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou a vacina chinesa que o Brasil tem.

“Os chineses inventaram o vírus”, afirmou, “e sua vacina é menos eficiente do que a americana”.

O embaixador chinês revidou: “Até este momento, a China é a principal fornecedora de vacinas e de material básico ao Brasil”. 

Os que estão pagando o custo destas disputas diplomáticas são os brasileiros comuns, afirmou Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano sediado em Washington.

“O povo brasileiro está sofrendo e morrendo a taxas absurdas,” ele disse. “E esta é a parte mais trágica”. / Tradução de Anna Capovilla

 

A revolução monetária na Ásia vai virar o mundo pelo avesso

O maior impacto inicial será a redução significativa do dólar nas transações comerciais e financeiras mundiais
Desdobramento natural da digitalização crescente do mundo, o dinheiro virtual facilitará a vida de bilhões de pessoas

Muito mais do que a crise de 2008, a quarta revolução monetária em andamento na Ásia vai virar o mundo pelo avesso, 2.650 anos depois da criação das moedas na Grécia (ou na Turquia), 1.060 anos após o surgimento das cédulas de dinheiro na China, 76 anos após o acordo de Bretton Woods e menos de quatro décadas desde o "boom" das transações eletrônicas. O maior impacto inicial dessa revolução, liderada pela China 5G, será a redução significativa do dólar nas transações comerciais e financeiras mundiais, e não a substituição virtual do dinheiro-papel. O que também explica a postura dos Estados Unidos em relação à China nos últimos anos.

Desdobramento natural da digitalização crescente do mundo, o dinheiro virtual facilitará a vida de bilhões de pessoas, e provavelmente complicará a da parcela de um bilhão de pessoas idosas no mundo – a maioria delas na Ásia, em especial na China, Japão e Índia, coincidentemente os três países que estão saindo na frente na virtualização de suas moedas, com "pilotos" que devem confirmar o esperado: será fácil implantar essa mudança em Shanghai, Beijing, Shenzen, Tóquio, Mumbai e Délhi, nas quais o grau de digitalização da sociedade já é elevadíssimo. E será bem difícil nas cidades do interior e áreas rurais, onde "o tempo anda devagar", é baixo o acesso a computadores e internet, e há percentuais elevados de pessoas idosas e analfabetas digitais.

Ainda é muito cedo para se saber todas as vantagens e desvantagens do dinheiro virtual. Espera-se que com ele acabem o dinheiro falso – um grande problema na China – e o custo da impressão e distribuição nacional das cédulas de papel. Imagina-se que o governo chinês terá total controle sobre as transações, por ser emitido pelo seu Banco Central – com isso, prevê-se maiores dificuldades para atividades ilegais. Também é o Banco Central que comanda no Japão o "piloto" do Yen digital, até março de 2022, quando então avaliarão a continuidade ou não do experimento, e na Índia, do projeto que está sendo elaborado com a mesma finalidade.

 

sábado, 1 de maio de 2021

CHARGE

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Golpes financeiros antigos são replicados com o Pix, alerta o Banco Central

LARISSA GARCIA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Os golpes financeiros normalmente seguem o mesmo roteiro, mas se adaptam à medida que se tornam conhecidos. Nos últimos meses, fraudadores viram no Pix, sistema de pagamentos brasileiro, uma oportunidade de reinventar muitas das armadilhas antigas, que agora são aplicadas com nova roupagem.

Os crimes mais comuns são aqueles que utilizam o Whatsapp da vítima para pedir dinheiro aos seus contatos. Golpistas também podem enviar links falsos para pedir informações sobre o consumidor, inclusive sua senha bancária, ou para simular uma compra.

Para conscientizar o consumidor e alertar sobre golpes que utilizam o Pix, o BC (Banco Central) fez, ao longo desta semana, uma campanha em suas redes sociais. Diversas instituições financeiras participaram da ação.

No encerramento da campanha, nesta sexta-feira (30), a autoridade monetária fez uma live, que está disponível no canal da autarquia no Youtube, para elencar as principais fraudes e dar dicas de como se proteger.

Segundo o BC, os golpes não são fruto de falha de segurança do Pix.

Um exemplo é quando o fraudador se passa por alguma empresa que presta serviços, como de telefonia ou instituição financeira e, por telefone, diz que a pessoa tem um problema de segurança. Em seguida, ele pede que a vítima confirme o código que acabou de enviar por mensagem de texto.

O número, na verdade, é aquele que o Whatsapp envia para autorizar o login do usuário e a vítima acaba dando acesso da sua conta ao golpista. Com isso, ele envia mensagens aos seus contatos pedindo dinheiro pelo Pix.

Para evitar a armadilha, o BC indica que o consumidor ative a verificação em duas etapas, disponível dentro do aplicativo. Assim, o criminoso não poderá acessar a conta apenas com esse código.

"Também é superimportante manter o Whatsapp atualizado. Com a atualização vem novas funcionalidades e também correção de possíveis falhas e de segurança", ressaltou o Caio Moreira, chefe-adjunto do departamento de tecnologia de informação do BC.

Outra forma de aplicar o golpe com o Whatsapp é criar outra conta com a mesma foto de perfil da vítima para abordar seus contatos. Nesse caso, ele diz que teve que mudar de número e pede dinheiro com uma chave Pix.

A autoridade monetária indica que as pessoas habilitem a foto do perfil apenas para os seus contatos para se proteger desse tipo de fraude.

Muitos conseguem enganar consumidores usando links falsos para acessar os dados bancários da vítima ou de compras, que agora utilizam o Pix como pagamento.

Para essas situações, a dica do BC é que a pessoa sempre desconfie de preços muito abaixo do mercado e que não clique em links suspeitos.

Há ainda outros tipos de armadilha, em que o golpista tenta convencer a vítima a transferir dinheiro em troca de ganhos financeiros ou com histórias que mexem com o emocional do consumidor. Novamente, o Pix é utilizado no repasse de recursos.

Quando entram em contato em nome de alguma empresa de telefonia ou banco, mesmo com link falso, golpistas normalmente pedem muitos dados, o que não ocorre quando a empresa de telefonia ou o banco entram em contato.

"É preciso desconfiar se você clica em um link que vai para a página do banco [clonada] e pedem todos os meus dados. Já fiz isso quando abri a conta no banco", afirmou Ricardo Leocadio, representante do grupo de trabalho de segurança do Pix.

"O golpe poderia ser aplicado com outro tipo de transferência ou boleto. Falam no Pix agora porque é a palavra do momento e o sistema mais inovador que temos no sistema financeiro", continuou.

"Indico sempre que a pessoa tenha uma senha forte e indico geradores de senhas, como aplicativos. Navegadores também oferecem essa funcionalidade", disse Alê Borba, analista de segurança do Google, convidado da live.

Carlos Eduardo Brandt, chefe-adjunto do departamento de competição e de estrutura do mercado financeiro do BC, destacou que, caso o consumidor caia no golpe, ele precisa comunicar à polícia e ao banco.

"No Pix temos um mecanismo de segurança que chamamos de marcador antifraude, uma base de dados onde as transações que foram objeto de fraude ficam identificadas e aquela chave fica com essa marcação. Todas as instituições financeiras recebem essa informação. Assim você evita que os golpistas continuem levando outras pessoas", ressaltou.