Muito tem se desenvolvido na ciência para lutar contra o envelhecimento - e até contra a morte. Mas quais os desafios no caminho?
Diante de tantas opções na estética para parecermos mais jovens, além da pressão nas redes sociais pela perfeição física, parece que vivemos em um medo constante de envelhecer. A ciência tem avançado tanto para melhorar esta fase da vida, curando e prevenindo doenças, mas outras tecnologias pretendem até mesmo tornar os seres humanos imortais.
Existem várias correntes de estudo sobre o envelhecimento. Uma das atuais chama-se Teorias do Envelhecimento Programado e entende o processo como “natural”, causado por mecanismos internos ao nosso próprio organismo. Já outros estudiosos, denominados como wear and tear (desgaste, em tradução livre), entendem o envelhecimento como um acúmulo de danos estruturais na nossa saúde.
Nessa última vertente, o fenômeno não surge de um programa específico do organismo. Em vez disso, resulta de efeitos ambientais e genéticos, como exposição a radiações, toxinas químicas e metais pesados. A teoria entende o envelhecimento como uma doença capaz de ser revertida com uma “reengenharia celular”.
Resveratrol: das uvas para o combate ao envelhecimento
As áreas mais avançadas nesse sentido focam em suplementos, nutrição e elementos comportamentais e de engenharia genética. “A restrição calórica tem sido tratada como um forte elemento comportamental que pode afetar positivamente o processo de envelhecimento”, explica Vanessa Di Lego, pós-doutora em Saúde e Longevidade no Instituto de Demografia de Viena.
O primeiro componente com potencial é o resveratrol, comercializado como suplemento alimentar. O produto reduz as chances da pessoa desenvolver doenças como diabetes e cardiovasculares. Ele ativa um gene específico do corpo chamado SIRT1, que faz parte do grupo de sirtuínas, também chamados de genes da longevidade. Daí o seu potencial rejuvenescedor.
O resveratrol é encontrado em cascas de uvas e outras plantas. “A pessoa com maior registro de longevidade no mundo é Jeanne Calment, uma francesa que viveu até os 122 anos de idade. Os franceses têm o hábito de consumir vinho tinto, com elevada concentração de resveratrol”, argumenta Di Lego.
Outras pesquisas focam numa droga chamada rapamicina, que resolve problemas de rejeição de órgãos transplantados. Ele reduz a atividade de um gene denominado mTOR, o que também leva a retardar o envelhecimento. A droga também é investigada para agir contra doenças como o câncer, mas ainda não teve resultados conclusivos em humanos.
Engenharia genética e trans-humanismo para manter a juventude
A mais controversa linha de pesquisa é a da engenharia genética, que também é mais preliminar. Estudos em camundongos notaram que há substâncias que desencadeiam o envelhecimento. Foram encontradas associações entre a retirada dessas substâncias e o prolongamento da vida dos animais. Houve diminuição também de doenças relacionadas à idade.
“Se esse fenômeno também ocorrer em seres humanos, isso explicaria melhor as causas do envelhecimento e poderia levar a tratamentos antienvelhecimento”, afirma Di Lego.
Outras abordagens mais ousadas se baseiam no uso de edição gênica. Trata-se da modificação ou inserção de genes que conferem vantagens ao corpo. Por exemplo, uma melhor metabolização do colesterol, que por sua vez pode prevenir contra doenças cardíacas.
Além disso, existem as pesquisas mais futuristas, ou chamadas trans-humanistas. Com elas, os pesquisadores têm explorado o uso de células-tronco e terapias genéticas para um “rejuvenescimento biotecnológico”. A mesma área também pesquisa a união de partes humanas e biônicas que melhoram a saúde ou prolongam a vida.
Uma saúde melhor nos tornará imortais?
A maior parte desses estudos ainda precisam ter sua segurança comprovada em humanos. Mesmo a restrição calórica deve ser monitorada e levar em conta características de cada indivíduo, como peso, altura, idade e gênero.
Apesar de o resveratrol ser comercializado, ainda não há evidências de que realmente funciona para essa finalidade. Por isso, Di Lego alerta: “É fundamental ter acompanhamento médico, consultar gerontólogos (especialistas em envelhecimento) e ficar atento às promessas de longevidade mágica”.
Ela frisa que a indústria de medicina anti-idade e tecnologia regenerativa biomédica é estimada atualmente em mais de US$ 50 bilhões (R$ 275 bilhões). Por isso, sugere refletirmos se comportamentos de consumo e definições de bem-estar não influenciam essas correntes e moldam nossas concepções sobre a longevidade.
Sobre retardar o envelhecimento de forma radical por meio de avanços médicos, Cunha também reflete: “Nesse cenário hipotético, talvez não conseguíssemos manter as mesmas memórias ao longo de séculos. Mesmo sem envelhecer, seríamos pessoas com os mesmos genes e aparência de quem começou o tratamento, mas na prática seríamos indivíduos diferentes.”
Os desafios da ciência para envelhecermos mais devagar
Portanto, os principais desafios que a ciência precisa vencer no combate ao envelhecimento, de acordo com Di Lego, são:
- Aprofundar o conhecimento sobre os fatores genéticos, comportamentais, fisiológicos e biológicos do processo de envelhecimento;
- Entender de que forma doenças como Alzheimer, diversas formas de declínio cognitivo e câncer estão associadas ao envelhecimento e mortalidade;
- Identificar qual a velocidade e o ritmo em que as pessoas envelhecem e suas características sociodemográficas.
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