terça-feira, 13 de outubro de 2020

REINFECÇÃO pelo coronavírus pode ser mais grave, diz estudo

Pesquisadores chamam atenção para caso de americano que contraiu covid-19 pela segunda vez e precisou de ajuda respiratória. Constatação pode mudar não só corrida por vacina, como forma como mundo combate a pandemia.

Médicos com paciente entubado em hospital

Confirmação de reinfecções preocupa pesquisadores

Pacientes que já tiveram covid-19 e se curaram podem enfrentar sintomas mais graves no caso de uma segunda infecção, segundo um estudo publicado nesta terça-feira (13/10) na revista científica The Lancet.

O estudo foca no primeiro caso de reinfecção pelo coronavírus Sars-Cov-2 já registrado nos Estados Unidos: um homem de 25 anos do estado de Nevada, infectado por duas variantes diferentes do vírus, num intervalo de 48 dias.

A segunda infecção foi mais severa que a primeira e resultou na hospitalização do paciente, que precisou receber ajuda respiratória.

O estudo menciona ainda outros quatro casos de reinfecção pelo coronavírus documentados – em Bélgica, Holanda, Hong Kong e Equador.

Pesquisadores dizem que a perspectiva de reinfecção pode ter um impacto profundo na forma como o mundo luta contra a pandemia. Poderia, sobretudo, influenciar a busca por uma vacina.

"A possibilidade de reinfecções poderia ter implicações significativas para nossa compreensão da imunidade da covid-19, especialmente na ausência de uma vacina eficaz", diz Mark Pandori, do Laboratório de Saúde Pública do estado de Nevada e principal autor do estudo.

"Precisamos de mais pesquisas para entender quanto tempo a imunidade pode durar para as pessoas expostas ao Sars-CoV-2 e por que algumas dessas segundas infecções, embora raras, estão sendo mais graves."

Influência sobre vacinação

Os cientistas dizem que, embora os casos conhecidos de reinfecção ainda pareçam raros – o paciente de Nevada já se recuperou – a possibilidade é por si só preocupante.

"Está ficando cada vez mais claro que as reinfecções são possíveis, mas ainda não podemos saber se isso será comum", diz Simon Clarke, especialista em microbiologia da Universidade Reading, no Reino Unido, à agência de notícias Reuters.

"Se as pessoas podem ser reinfectadas facilmente, isso também pode ter implicações para os programas de vacinação, bem como para a nossa compreensão de quando e como a pandemia terminará", complementa.

Os médicos do paciente de Nevada, que relataram o caso pela primeira vez em um estudo inicial, não revisado, em agosto, dizem que testes sofisticados mostraram que as cepas do vírus associadas a cada surto de infecção são geneticamente diferentes.

"Estas descobertas reforçam o ponto de que ainda não sabemos o suficiente sobre a resposta imunológica a essa infecção", diz Paul Hunter, professor de Medicina da Universidade de East Anglia, no Reino Unido.

Real cifra de reinfecções é incógnita

Vacinas funcionam desencadeando a resposta imunológica natural do corpo a um determinado patógeno – ou seja, ela arma o corpo com anticorpos para combater futuras ondas de infecção.

Mas ainda não está claro quanto tempo duram os anticorpos da covid-19.

Para algumas doenças, como o sarampo, a infecção confere imunidade vitalícia. Para outros patógenos, a imunidade pode ser temporária, na melhor das hipóteses.

Os autores do estudo na Lancet dizem que o paciente americano pode ter sido exposto a uma dose muito alta do vírus pela segunda vez, o que provocou uma reação mais grave.

Também é possível que ele tenha sido infectado por uma cepa mais forte do vírus. Outra hipótese é que os anticorpos realmente pioraram a infecção subsequente, algo já registrado em outras doenças. 

Os pesquisadores apontaram que a reinfecção de qualquer tipo permanece rara, com apenas poucos casos confirmados em dezenas de milhões de infecções pelo Sars-Cov-2 em todo o mundo.

No entanto, como muitos casos são assintomáticos e não foram confirmados por teste, pode ser impossível saber se um determinado caso de covid-19 é a primeira ou a segunda infecção.

RPR/afp/rtr

 

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